Eu me sentia cada vez mais nervosa enquanto Candid dirigia. Eu estava traindo minhas irmãs! Eu só conseguia reviver o horror que eu senti quando Christmas veio me contar aos prantos que Kit não estava doente como pensávamos, mas que ela estava presa em seu corpo, sendo abusada e humilhada pelo doutor. E agora eu estava indo até ele.
Será que um filhote valia isso? Candid estava nessa pela vitória, ele não se importava com os desdobramentos que viriam se a teoria dele estivesse certa.
Eu estava conhecendo um outro Candid, alguém totalmente sem limites quando queria alguma coisa e eu não sei se concordava com aquilo. Ele disse que eu não me importava com o mundo ao meu redor e que eu precisava me conectar, que eu precisava da dádiva de ser mãe, e eu concordei. Aí, ele disse que minha condição Nova Espécie me deixava num dilema moral e que eu teria de decidir.
Dilema moral! Não era só um dilema moral! Era o fato de que poderia ter sido qualquer uma de nós. Kit atacou Sophia e a ameaçou, isso era algo que eu não faria nunca, mas ele não fez isso só para castigá-la, ele fez por que podia. Ele fez por não ter empatia nenhuma, por não ser capaz de se colocar no lugar dela. E ele gostou.
Candid dirigia, seu rosto parecia muito satisfeito por eu ter aceitado. E ele disse que não iria fazer nada. Ele disse que se desse certo, ele não teria de fazer nada e venceria.
"Candid, eu não entendi uma coisa." Eu disse, ele não desviou os olhos da estrada.
"Uma só?" Ele perguntou, me chamando de burra. Nada de piadas com palavrões, aquele filhote era totalmente diferente do filhote amável e divertido que todo mundo amava.
"Se você não vai fazer nada, se você acredita que ele vai me engravidar, como Bree e Chimes ficam nessa história?"
"Breeze e Chimes não são problema meu. Eu quero ganhar e é só por isso que, se eu estiver certo, daqui a pouco você estará ninando um bebezinho. Se quer pular fora, diga e eu paro o jipe." Ele continuou dirigindo, eu não respondi, é claro.
"Mas tem de ser ele? Por quê?" Eu repeti a pergunta que já tinha feito, a resposta dele que foi apenas um 'confie em mim', não dava pra engolir.
Candid parou o jipe.
"Eu sei que o problema não é o macho, Creek. O problema não é o que ele fez, é como você vai ser vista pelas outras. Me surpreende isso, uma vez que você disse estar seca por dentro, estar cansada de tudo, querer estar cada vez mais sozinha, se sentir cada vez mais vazia." Eu pensei nas palavras dele e mesmo sabendo o manipulador que ele era, eu não pude evitar dar razão a ele.
Eu seria vista como uma traidora, como alguém que passou por cima da monstruosidade que ele fez apenas para ter um filhote. E eu seria uma pária entre minhas irmãs.
"Vivemos em sociedade. Eu não sei o que eu faria se tivesse que me enfiar em uma caverna com meu filhote, por ele ter o estigma de ser filhote de um abusador."
"Vocês ainda teriam um ao outro, é muito mais do que muitos aqui têm. Embora eu não acho que desprezariam seu filhote." Ele disse, eu respirei fundo.
"Tem certeza de que não há um jeito?"
"Há um jeito, Creek. Mas até então ele é o único que sabe como fazer isso. Pelo tempo que temos, é a melhor alternativa."
Eu acenei, ele colocou o jipe em movimento. Quando ele passou pela entrada da cabana de Thorment e continuou eu o encarei ele sorriu travesso.
"Cheire o ar, Creek, seu faro não é tão ruim, é?" Ele disse sem me olhar, eu inspirei e senti cheiro de...
"Sangue?" Eu perguntei a ele, ele assentiu.
"Um parto de cabra. Você já viu um?" Eu balancei a cabeça, ele sorriu.
Candid continuou dirigindo passando pela casa bonita de Lash e depois de alguns metros chegamos num estábulo. Eu desci do carro e tive que parar, pois Gabriel e um dos filhotes de Lash se lavavam com uma mangueira, os dois nus.
"Veja, Chimes, o pau dele até que é legal." Candid riu. Eu não respondi, não podia.
Ele era bonito, eu sempre achei isso, eu e todas as fêmeas, todas. Ele era alto e era muito magro antes, agora estava tão forte quanto o filhote de Lash que tomava banho com ele, tirando o sangue da cabra de seu corpo. Musculoso e bem dotado, como um Nova Espécie.
O filhote olhou para mim, se virou e pegou uma toalha, Gabriel continuou se esfregando. Ele colocou a mangueira no rosto deixando a água jorrar por seu rosto e cabelo, um comprido cabelo dourado que chegava ao meio de suas costas. Ele desligou a água, pegou uma toalha, se secou e depois a amarrou na cintura.
"Bom dia." Ele sorriu quando chegou até onde eu e Candid estávamos, eu dei um passo para trás.
"Creek. Quanto tempo, não é?" Ele disse a guisa de cumprimento, eu acenei.
"Ajudando Dagger?" Candid perguntou, ele sorriu para Dagger, que agora lavava o sangue do chão.
"Aprendendo com Dagger. Agora posso dizer que já fiz um parto de cabra." Ele sorriu, aquilo me incomodou, ele parecia um humano comum. Ele não estava preso, estava fazendo partos e se divertindo com isso.
"E o que posso fazer por vocês?" Ele perguntou olhando para mim com aqueles olhos lindos, eu baixei minha cabeça.
"Vamos para a sua cabana?" Candid apontou o jipe, ele sorriu e fomos até o veículo.
"Dagger, foi muito... Válido. Se precisar de ajuda de novo, é só chamar." Ele disse para o filhote de Lash se despedindo, o filhote acenou.
Candid virou o jipe e uns poucos minutos depois estávamos parados à porta da cabana dele.
Descemos, ele abriu a porta e me esperou passar, eu entrei. Era uma cabana como as outras, muito limpa e organizada. Eu fui até uma cadeira a arrastei da mesa e me sentei. Ele foi até uma cômoda, tirou roupas de lá e vestiu ante o meu olhar e o de Candid. Uma cueca, calça jeans e uma camisa pólo. Ele passou um pente pelos cabelos loiros e os penteou bem para trás, seu rosto de anjo ficou ainda mais bonito. Ou não, talvez quando os cabelos secassem e emoldurassem seu rosto, aí sim, ele ficaria ainda mais bonito.
"Agora que já estou apresentável, acho que podem me dizer o que precisam." Ele disse se sentando numa cadeira. Eu segurei o ódio, ele tinha abusado de minha amiga! Eu lembrei de Kit contando dele cortando os mamilos dela e ficando observando eles se curarem. De todas as vezes que ele entrou por trás nela a rasgando. Eu engoli em seco, não podia fazer aquilo, não podia deixá-lo me tocar.
"Creek quer um filhote." Candid disse com um sorriso, ele me encarou.
"De todas que eu pensei que poderiam vir aqui com esse pedido, eu não pensei em você, Creek. Por que mudou de idéia?" Gabriel me perguntou olhando para mim com aqueles olhos, ele parecia mesmo interessado na resposta.
"Mudou de idéia? O que você não me contou, Creek?" Eu não olhei para Candid, não devia explicações a ele.
"Essa idéia não foi minha, Candid é que quer passar a perna nos irmãos. Por mim eu nunca colocaria meus olhos..." Candid se levantou e se ajoelhou ante mim e rosnou:
"Você não me fez vir aqui a toa, fez, Creek?" Ele perguntou, eu me calei.
"Uma vez, quando eu era..." Ele começou, Candid, voltando a sua cadeira, completou por ele:
"Um vampiro zumbi." Ele sorriu e continuou:
"É, quando eu era algo assim, uma das fêmeas, quem era mesmo, Creek?" Ele me perguntou, ele sabia que era Rusty, mas me perguntou, isso era uma forma de me colocar no assunto.
"Rusty." Eu disse.
"Sim, a bela Rusty. Ela se machucou feio e vocês estavam próximas da minha cabana, não foi?" Ele me encarou, mostrando que sabia que eu e Rusty tínhamos ido a cabana dele por pura curiosidade.
"Sim." Eu disse, sem olhar para ele, sentindo os olhos dourados de Candid me queimando.
"Eu costurei os arranhões do braço de Rusty e ofereci chá. Creek aparentemente não confiou em tomar e ainda disse que tinha nojo de mim." Ele disse mostrando que se lembrava do episódio.
"Creek?" Candid me incitou a falar, eu o encarei com a cara fechada, mas ele me olhou com uma cara implacável. Ele não era um macho o qual se podia brincar, não era mesmo, então eu dei de ombros.
"Já faz muito tempo. Eu nunca gostei muito de você." Eu disse, ele sorriu.
Quando ele chegou, todas nós nos oferecemos para compartilhar sexo com ele, ele era bonito e inteligente e não sabíamos que ele era um monstro. Eu fui uma das que mais tentou, até ele ser bem claro e dizer que não estava interessado. Eu me lembro de ter sofrido um pouco com a rejeição, nenhum humano tinha me rejeitado antes, mas foi só isso.
"Certo. Eu sempre te achei linda, Creek. Alegre, comunicativa, extrovertida. E sim, eu vi que você era mais do que deixava a vista. Mas eu tinha um objetivo e tudo o que eu amava, eu destruía. Eu nunca soube amar. Não ter me deitado com nenhuma de vocês, foi um ato sensato de minha parte, um dos poucos naquela época." Eu dei de ombros de novo, eu não me importava.
"O que você pensou, Candid? Numa fórmula?" Ele voltou os olhos para Candid, o demônio sorriu.
"Estamos lutando contra o tempo, eu dei a fórmula de Sim para ela, seus óvulos não se multiplicaram." Ele passou um papel para Gabriel, Gabriel leu e devolveu para ele.
"Simple desenvolveu isso?" Ele perguntou, Candid torceu a boca.
"Eu desenvolvi de brincadeira, ele só aperfeiçoou." Gabriel ergueu as sobrancelhas, eu segurei um sorriso, ele sabia lidar com Candid. Esfregar a genialidade de Simple na cara dele o deixava bravo, mas ele tentava esconder. Eu o entendia, afinal, ele estudou vários anos uma coisa e o irmão sem nunca ter pisado numa faculdade de medicina aperfeiçoou uma fórmula dele. Era pra ficar muito puto mesmo. Ainda mais quando essa fórmula fez várias fêmeas engravidarem.
"Está faltando um componente." Ele adicionou alguma coisa ao papel com uma caneta que eu não vi de onde ele tirou.
Candid ficou um tempo pensativo, totalmente absorto com o papel, Gabriel olhou para mim. Eu ergui o queixo, ele sorriu.
"Não. Não acho que daria certo." Candid disse.
"Mas é uma tentativa." Gabriel insistiu.
"Eu não sou de tentar, Gabriel, eu sou de conseguir. E tenho pouco tempo, uma única ovulação natural ou uma forçada." Ele disse, Gabriel o encarou.
"O que realmente quer, Candid?" Gabriel perguntou, Candid se levantou e tirou um botão do bolso. Eu não sabia o que era aquilo, mas era importante, pelo olhar o Gabriel.
"Que você engravide Creek. E seja o pai, é claro, eu não sou um casamenteiro, não estou nessa para que ela acasale." Ele olhou para mim, eu o encarei.
"Mas e o nojo que sente por mim?" Era a última coisa que eu pensei que ele fosse perguntar. Parecia que me dar um filhote dele, fosse só uma coisa banal, que se eu não tivesse nojo dele, que ele faria. Eu abri a boca, mas não tive palavras.
"É menor que o desejo de ser mãe, não é, Creek?" Candid respondeu por mim, eu fechei os olhos, olhar para o rosto perfeito dele me incomodava.
"Acha que meu esperma é diferente de um esperma humano normal?" Ele perguntou para Candid.
"Você é forte, rápido e ágil. Muito mais que um humano normal. Seu esperma pode ser diferente." Candid disse, ele baixou os olhos e ficou mexendo os lábios.
"É pode ser, mas você tem pouco tempo. E se não der certo?" Ele perguntou para Candid, Candid sorriu.
"Vou usar a fórmula. Vamos atacar duas frentes. Mas eu acho que vai dar certo."
"Eu não tenho quase nada para fazer, estou em suas capazes mãos, Leãozinho. Vencer Simple deve ser muito bom." Ele sorriu, Candid sorriu também.
"Ele vai arrancar os cabelos. Ah, eles raspam a cabeça dele toda semana, não vai ter cabelo para arrancar." Candid disse e os dois começaram a gargalhar.
Eu nunca o vi gargalhando, ou mesmo rindo, era uma bonita visão.
"Eu vou buscar o componente que você sugeriu, Gabriel, enquanto isso, você e Creek ficam mais a vontade. Mas só vou te dar isso se tivermos êxito." Candid fechou a cara e mostrou o botão para ele. Gabriel assentiu em silêncio, seus olhos no botão.
Candid fechou a porta, ele cravou seus olhos azuis em mim.

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FÊMEAS
FanfictionDepois de muitos anos vivendo em liberdade, Breeze e suas amigas resolveram acasalar. E quem seriam os machos escolhidos? Elas não sabem! Nenhuma das três está num relacionamento, mas isso não é empecilho para uma fêmea empoderada! Mesmo que elas te...