Eu me levantei de madrugada e fui até a varanda, Adam ainda dormia. Eu ergui meu rosto para a brisa fria que soprava e suspirei.
Nesses momentos, em que eu estava sozinha eu me sentia tão triste que parecia que o ar me sufocava, eu tinha de respirar bem devagar, sorver o ar com força fazia minha cabeça doer. Eu olhei para o horizonte, dali a uns poucos minutos haveria um pontinho de luz e daí a luz aumentaria até que a bola de luz ficasse visível e o dia começaria. As trevas iriam embora e haveria luz e calor.
Para alguns, não para mim. A luz agora não queria dizer nada. Eu fiquei olhando para a luz quando acordei e meu bebê não existia mais. Naquele momento eu quis estar nas trevas, eu quis esquecer.
Será que algum dia deixaria de doer?
Teria valido a pena ter engravidado, o carregado dentro de mim só para que ele morresse?
Perguntas, perguntas. Eu sempre odiei perguntas sem respostas, mas eu estava aprendendo que as perguntas eram importantes. Algumas vezes eram mais importantes que as respostas. Eu sorri quando Lunna me disse isso, mas depois eu entendi.
Perguntar me incitava a entender, não só como ou porque aconteceu, mas me ajudava a ver o mundo a minha volta. Perceber o mundo demandava perguntas, conhecer a mim mesma também. Era um aprendizado, algo que perduraria por toda a minha vida. Eu respirei bem fundo e vi o sol começar a nascer, ele sempre nasceria não importava se eu estivesse triste ou feliz.
E eu estava me resignando que a tristeza existia e que talvez eu nunca mais fosse me ver livre dela, talvez eu e essa tristeza por meu filhotinho perdido iríamos passar o resto de minha vida juntas e no fim, eu veria que foi uma boa convivência.
No fim, e eu esperava que esse fim ainda estivesse bem longe, no fim eu iria fechar meus olhos certa de que eu e a tristeza nos tornamos boas amigas e que valeu a pena chorar por Enoch.
Que ele e eu fomos muito felizes no pouco tempo em que vivemos juntos dividindo o meu corpo. E que ele tinha um lugar cativo em meu coração.
Adam me abraçou por trás e eu fechei os olhos, a ereção dele pressionando minha bunda me tirando daquela onda contemplativa e me excitando.
"Você não sabe que eu gosto de dormir até mais tarde?" Ele perguntou beijando meu pescoço, eu sorri.
"E o que eu tenho a ver com o seu sono? Eu sou uma madrugadora, seu dorminhoco!" Eu disse, ele me virou e me beijou.
Eu o beijei e ele começou a me empurrar na direção do quarto, na direção da cama, mas eu tive de parar o beijo delicioso.
"Temos de..." Eu disse, ele me agarrou e voltou a me beijar com mais sede, chupando minha boca com força, do jeito que ele sabia que eu gostava.
"Não 'temos' nada. 'Eu' tenho de possuir você." Ele me jogou na cama e veio por cima de mim, dessa vez passou um bom tempo em meu pescoço e ombros. Se ele chegasse aos meus seios eu não teria forças para pará-lo, então eu o empurrei.
"Adam!" Ele me encarou, havia um traço de medo em seus olhos.
"Precisamos de proteção." Ele juntou as sobrancelhas negras.
"Camisinha." Eu disse, ele ergueu as sobrancelhas.
"Sério?" Ele se encostou na cabeceira e me puxou para seu colo.
"Na verdade, eu não sei, mas..." Candid não tinha dito nada sobre aquilo, ele só me recomendou ficar pelo menos uma semana sem sexo.
Mas eu estava ovulando, eu senti e por isso me levantei. Eu nunca liguei muito para esse período do mês, eu menstruava, mas não como as humanas, elas tinham um período bem definido de no mínimo vinte e oito dias com a ovulação no décimo quarto dia. Mas não eu ou as outras. Nós ficávamos até dois meses sem menstruar e durava apenas um dia.
"Eu estou ovulando. Você pode sentir?" Eu disse, ele fechou os olhos e inspirou.
Quando ele os abriu, um brilho totalmente excitante tomava suas íris geladas. Ele abriu as narinas.
E do nada, Adam voltou a estar sobre mim, dessa vez me beijando com loucura, com fome, mordendo meus lábios, chupando a minha língua, eu reagi o prendendo entre as minhas pernas e enfiando meus dedos nos fios macios e negros.
Ele rosnou na minha boca, mas eu tinha de acabar com aquilo.
"Adam! Adam, espere só um momento, por favor." Ele rosnou dessa vez de frustração e saltou da cama.
"Onde estão as malditas camisinhas? No banheiro?" Ele disse já entrando no banheiro e remexendo nas gavetas.
"Eu não tenho nenhuma aqui. Eu nunca precisei..." Ele rosnou mais alto.
Eu me levantei da cama, Adam saiu do banheiro, seu rosto mostrava o esforço que ele fazia para se controlar.
"Vou na minha casa, Rom deve ter." Ele vestiu uma calça de qualquer jeito e pulou a janela.
Eu suspirei, talvez devêssemos ter conversado mais, mas ele passou a última semana apenas dormindo comigo, me abraçando e me consolando. Nós não compartilhamos sexo até a noite passada.
Eu teria de ir ao hospital. Tinha de arranjar uma PDS. E ver a doutora Mônica.
Por que eu não queria um filhote agora, eu não estava pronta para outra gravidez.
Eu me vesti bem rápido, pois ele não demoraria, escrevi um bilhete, preguei na geladeira e corri para o hospital.
Estava meio vazio lá, eu fui até a sala da enfermagem, Destiny lia um livro sentado numa cadeira.
Ele se levantou com um olhar de alerta, eu sorri para tranquilizá-lo.
"Tudo bem?" Eu me aproximei, ele deu um passo para trás.
"Ele verá se me tocar." Eu parei. Sim, era verdade, Adam via tudo o que eu fazia longe dele, era estranho, ele sabia até o que eu falava com as pessoas. Candid disse que era o vínculo, aquele capeta riu e me disse que eu estava fodida.
Eu assenti.
"Candid está aqui?" Eu não sentia o cheiro dele, mas meu faro não era grande coisa, não em comparação às caninas, e Candid às vezes usava valeriana. Porquê, eu não sei.
"O plantão dele acabou ontem a noite." Destiny me informou.
"E a doutora Mônica? Acha que ela demora para chegar?" Eu perguntei.
A doutora Mônica não passava as noites no hospital, Bestial não permitia. Ela então fazia turnos diários.
"Ela chega bem cedo, mas ainda não chegou." Eu olhei no relógio, eram seis da manhã.
"Não há ninguém então?" Ele sorriu quando eu disse isso, eu sorri também. Muitas vezes os moradores nos fizeram essa mesma pergunta, se referindo aos médicos, como se nós enfermeiros não pudéssemos ajudá-los, quando na maioria das vezes éramos nós que fazíamos o maior trabalho.
"Honest está aí." Ele disse, eu fiquei intrigada. Honest continuava com a dupla personalidade, ele ficou fora um tempo, mas não conseguiram resolver o problema dele. Mas eu engravidei mesmo com ele passando por essa dupla personalidade, talvez ele fosse o mais indicado para falar comigo.
Eu fui até a sala dele, bati de leve e abri a porta, ele estava sentado, sua cabeça entre os braços sobre a mesa.
"Honest?" Eu chamei, ele ressonava.
"Honest?" Eu chamei um pouco mais alto, ele dormia pesadamente. Eu fiquei em dúvida se o deixava dormir ou o acordava, mas se outra pessoa entrasse ali poderia dar problema, então, eu toquei na cabeça dele, ele se ergueu e saltou da cadeira muito rapidamente, eu guinchei assustada.
"Primata gostosa? Algum problema?" Eu fechei a cara. Como ele ousava me chamar assim? Ele afastou os cabelos brancos do rosto. Suspirou e disse:
"Me desculpe, Chimes. Não deveria ter falado assim com você." Ele sorriu, eu acenei.
Não era Honest, ainda que Doze estivesse fazendo sua imitação de Honest. Mas já que eu estava ali, não custava nada perguntar a ele.
"Honest, eu estou ovulando. Eu sinto e bom, eu nunca prestei muita atenção ao meu ciclo, então, eu não sei se isso é normal, ou se é por causa do seu tratamento. E estou com medo de engravidar." Eu disse tudo de uma vez, ele piscou seus olhos azuis. Acho que o que sempre me incomodou nessa história de 'troca de corpos' entre Honest e Doze eram os olhos. Por que os olhos de Honest eram dourados, quentes e um pouco travessos. Ele era menos travesso que os outros dois, ele era o responsável, o líder, mas ele era divertido. O que não combinava nada com os olhos azuis e frios de Doze. Eram olhos sofridos, afinal ele viveu toda a sua vida no inferno, sendo caçado como um animal. E eu via claramente que não era Honest ali. Será que todos viam?
"Temos de fazer alguns exames, vou pegar um..." Ele disse, eu completei:
"Kit de coleta?" Ele sorriu e olhou em volta, eu mesmo abri o armário peguei o kit e me sentei a frente dele estendendo o braço. Ele ergueu as sobrancelhas.
"Vou chamar o Destiny." Ele se levantou e apertou o botão, eu deixei essa passar. Não era Honest, não havia por que confrontá-lo.
Destiny veio, colheu meu sangue e perguntou se era para enviar para a análise, Doze disse que sim, Destiny pediu o encaminhamento, Doze disse que era para analisar. Destiny suspirou e saiu, eu vi a inutilidade de estar ali. E que tinha de falar mesmo era com Candid. Era uma irresponsabilidade o que estavam fazendo.
"Eu volto depois então." Eu me levantei da cadeira e me virei para a porta no momento em que Adam entrava.
"Dezesseis! Que honra vir me ver no trabalho." Doze se levantou, Dezesseis abriu um lindo sorriso.
"Eu vim ver se você quer tomar café comigo. Sei que está cedo, mas você está aqui desde ontem, então..." Ela sorriu, Doze retribuiu o sorriso.
"Vamos." Ele se levantou, Adam limpou a garganta.
"Quem vai ficar no seu lugar?" Doze fez um gesto de pouco caso com a mão.
"Não tem nada para fazer aqui. Vem, Dezesseis." Ele deu a mão para a fêmea e saiu da sala. Adam suspirou.
"Noah estava encarregado dele, mas Noah está meio aéreo esses dias."
"Encarregado?" Eu perguntei, Adam me abraçou e encheu seu peito com o meu cheiro, eu me senti bem com ele fazendo isso.
"Desde que James apertou o chip avulso e causou um curto no chip dele, estávamos o vigiando. Eu, Noah, Candid e Jonathan. No dia em que você o visitou na cabana, era o meu turno." Ele sorriu, eu o beijei.
"Quando tudo começou." Ele me beijou com mais vontade.
"Sim, quando minha vida toda mudou." Ele concordou comigo e me beijou.
"O que veio fazer aqui?"
"Eu preciso de uma PDS. E queria tirar uma dúvida." Ele se afastou.
"Que dúvida?" Ele perguntou, eu suspirei.
"Ele foi quem me fez engravidar, eu queria saber se realmente é possível. Mas ele não é Honest."
Ele assentiu.
"É, não é." Os olhos dele ficaram tristes, eu também senti uma onda de pesar.
"Ele adorava isso aqui." Eu disse.
Adam escondeu o rosto em meu pescoço, eu o abracei.
"Eu o vejo bem mais novinho trocando uns frascos com uma carinha muito travessa." Ele disse, eu ri.
"Ele vivia pregando peças em Destiny." Eu disse, ele riu.
"Vamos pra casa? Seu cheiro está delicioso demais. Veja." Ele pegou uma sacola plástica que tinha colocado no chão quando chegou. Estava repleta de camisinhas. Eu comecei a rir.
Ele me pegou nos braços mas quando íamos saindo demos de cara com Leaf.
"Estou procurando um médico." Ele disse. Adam me colocou no chão. Eu o encarei, seus olhos ficaram distantes por uns segundos.
"Precisamos de Florest." Ele disse e me beijou.
"É uma emergência." Eu fiquei olhando ele sair correndo com Leaf e quando eles saíram, eu fui até a sala de enfermagem. Eu já estava bem, poderia ajudar Destiny em alguma coisa.
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FÊMEAS
FanfictionDepois de muitos anos vivendo em liberdade, Breeze e suas amigas resolveram acasalar. E quem seriam os machos escolhidos? Elas não sabem! Nenhuma das três está num relacionamento, mas isso não é empecilho para uma fêmea empoderada! Mesmo que elas te...