Eu estava inquieta de novo, mas dessa vez eu não iria atrás dele. Não iria mesmo!
Ainda mais depois dele me mostrar o trabalho que ele estava fazendo e de ter falado por tanto tempo sobre nós, sobre nossos dons! Eu fiquei encantada!
Eu abri a janela esperando que a brisa fria me ajudasse a esfriar minha alma, meu corpo. Mas eu só conseguia me lembrar da voz calma dele contando a história de Sophia e de Bells, do criador deles. Eu em primeira mão entendi que Gift era mesmo furtivo, ele me seguia pra todos os lados e eu não o percebia.
Porque eu sempre fui observadora, eu sempre me admirei das pequenas coisas, eu sempre procurei padrões nos filhotes. E aí, ele me mostra um monte de anotações naquela letra perfeita dele. E com desenhos! Desenhos de John.
Eu estava impressionante no retrato em aquarela que John fez.
E eu ainda pude contribuir com detalhes sobre as fêmeas. Como os olhos azuis e dourados de Christmas e de Tiger. Irmãos? Gabriel conhecia Tiger só de nome, ele era o diretor da segurança de Homeland agora e ia pouco na Reserva.
Ou o fato de que realmente alguns machos eram estéreis. Justice era, Jessie provou da salada de frutas e nem assim ela pôde dar uma irmãzinha ou um irmãozinho para Virtue.
Ele admitiu que tinha feito Justice e Jericho engravidarem suas fêmeas em troca de ficar os dias que lhe restavam preso naquela cabana. Ele iria morrer, Justice aceitou e eu acho que ele estava certo.
Gabriel tinha me perguntado sobre Virtue, eu disse que era o filhote mais doce que eu conhecia. Lindo, com os olhos azuis bem escuros com pintas azuis claras, os cabelos eram negros e o sorriso era calmo.
Ele seria o sucessor de Justice e todos concordavam com isso, eu sabia de antemão que ele seria um ótimo líder para todos nós.
Eu inspirei o cheiro da noite, duas semanas haviam passado desde que Chimes tinha perdido seu filhotinho. A minha barriga já apontava, era maravilhoso vestir calças jeans e não abotoar, deixar a barriga de fora.
Breeze preferia vestidos, ela ficou incrível com uns modelos indianos que Jessie comprou para ela, mas eu gostava de exibir minha barriga. Eu deixava tocarem, eu ria e estava ansiosa para que Pollyana nascesse. Sim, eu li a história e me apaixonei pela linda menina humana que mesmo passando por muitas adversidades ainda conservava em seu coração a doçura e a gentileza.
Eu engoli em seco me lembrando do rosto de Gabriel quando eu disse o nome que escolhi. Ele deixou escapar uma lágrima, estávamos na cama, eu o tinha procurado semana passada, ele se levantou, foi ao banheiro e depois voltou refeito. Ele só assentiu e depois não falou mais na nossa filhotinha.
Eu queria muito ir vê-lo, mas eu sabia que era uma má idéia.
Ele não tinha mudado, não sua essência pelo menos, suas anotações demonstraram isso. Ele continuava obcecado pelo que nós éramos. Isso poderia ser perigoso.
Eu suspirei e fui me deitar, o calor tomava meu corpo, mas eu não tive forças para me masturbar. Por que fazer isso aumentava a porra da vontade!
Eu tirei o pijama, não diziam que deitar nua ajudava a dormir melhor? Mas não ajudou, eu acabei me tocando. Eu fechei os olhos com força e abri as pernas, imaginando que eram os dedos dele que...
Eu pulei e dei de cara com os olhos azuis, ele me lambeu de novo, eu fechei as pernas e rastejei de costas me apoiando na cabeceira da cama.
"Saia daqui." Ele se levantou, eu olhei em volta, apurei os ouvidos. Ele estava usando valeriana!
Ele se esticou, eu rosnei para ele.
"Quer mesmo que eu vá?" Ele perguntou, seu rosto sério, seus olhos estavam frios.
Eu fechei os olhos, ele estava em meu apartamento! Ele não saía da cabana dele.
"Eu deduzi que você pudesse estar se acostumando ao aumento de desejo e que foi por isso que você não apareceu, mas parece que não." Ele disse olhando para meus seios. Estavam crescendo e doloridos, os mamilos estavam duros.
"Eu não quero você em meu apartamento." Eu disse, ele cruzou os braços e sorriu.
"Por causa do que vão pensar? Pensei que você estivesse acima dessas mesquinharias." Ele disse, eu balancei a cabeça.
"Não é isso." Eu disse, ele fechou a cara. É claro que era! Ele abusou de Kit! Não era possível esquecer.
Ele vestia só uma calça de moletom, eu nunca o tinha visto vestido assim, eu tinha até perguntado de onde vinham as roupas que ele usava, ele tinha dito que essas roupas eram as roupas que ele tinha abandonado na Reserva na primeira vez que fugiu. Elas ficaram na sala de doações, intocadas, e então, quando ele voltou, no resgate de Sunny e Emma, alguém lhe tinha devolvido.
"O que é, então?" Os olhos dele me queimavam e a droga do vulto de seu pênis apontando na calça estava atraindo os meus olhos e me excitando. Ele tocou seu pênis por cima da calça, tentando ajeitá-lo, mas não era possível.
"Eu não quero me envolver com você, é isso." Eu disse a verdade. Ou uma meia verdade, por que havia uma parte de mim que queria. Eu não iria cair na bobeira de procurar saber o tamanho dessa parte, é claro.
"Mas eu pensei que não havia envolvimento, bela Creek. Não é por isso que eu era ideal? Você disse que nunca desenvolveria qualquer sentimento por mim. O que mudou?" Ele perguntou e seus olhos estavam estranhos. Eu me esqueci de tapar os seios e me levantei da cama, ele continuou me olhando nos olhos.
"Você quer que saibam?" Eu perguntei, ele assentiu. Ele não mentia.
"Sim. Eu sou apenas o ressuscitador de vocês. Eu quero ser mais." Ele disse, a voz um pouco fria.
"E..."
"E o que mais poderia me fazer ser aceito do que acasalar com uma de vocês?" Ele disse, eu abri a boca. Tinha sido tudo um plano!
"Você está dizendo que me dar uma filhote, ser... Ser agradável comigo, tudo era parte de um plano?" Eu perguntei, ele sorriu. Um sorriso sem alma, eu dei um passo para trás, puxei um lençol da cama e me cobri.
"E você e Candid? Não foi um plano também? Candid não pediu para que você exalasse instinto materno? Ele sabe a deficiência materna que eu sempre tive. Eu me lembro de seus olhos doces, Creek." Ele disse eu estreitei meus olhos.
Candid tinha falado sobre isso, mas eu não fingi nada.
"Lembra o que Candid disse? Que sua vontade de ser mãe era maior que o asco por mim. Mas você continua com asco, não é?" Ele perguntou, eu engoli em seco. Eu não fui falsa. Tudo o que eu disse era verdade.
"Mas é claro que nada importa agora, Bela Creek. Se não for você será outra." Ele disse e pulou a janela. Eu quase não ouvi o barulho dele pousando no chão, o que mostrava mais uma vez que ele era poderoso.
Eu fui tomar um banho, precisava da água fria para me acalmar. Mas não acalmou. Ele tinha me usado? Mas...
Eu vesti uma camisola e fiz algo que há muito tempo eu não fazia que foi subir no telhado. Eu tive medo, eu estava grávida! Na hora de saltar o medo me tomou, mas eu era felina, saltos eram calculados em segundos por minha mente, deu tudo certo, embora eu me achei irresponsável quando me sentei na beirada do teto do prédio.
Gabriel acasalando com alguém. Essa era nova. Eu, porém, não tive muito tempo de pensar nisso, uma sombra pousou no telhado e eu vi que era Gift.
"Pensei que não tivesse de te vigiar mais. E te proteger de você mesma não estava na minha lista de tarefas de hoje." Ele disse se sentando ao meu lado com sua carranca de sempre.
Ele cheirava a sabonete e sexo, sexo com...
"Rusty?" Eu perguntei, ele assentiu.
"Temos um acordo." Ele disse de forma displicente.
"Eu nunca imaginaria você e Rusty." Eu disse, ele olhou para a frente, para a noite.
"Não existe eu e Rusty." Ele disse, eu acenei. Não era da minha conta.
"Mas existe você e Gabriel?" Ele perguntou, como se estivesse dizendo a mim que poderíamos conversar se eu quisesse.
"Você ouviu?" Eu perguntei.
"Eu estava tomando banho." Ele deu de ombros. Outros teriam ouvido também?
"Acha que mais alguém..." Eu perguntei, ele negou com a cabeça.
"As paredes são bem isoladas. Eu só ouvi por ele ser quem é." Ele respondeu.
"Ele tinha um plano." Eu disse e Gift sorriu. Ele ficava ainda mais parecido com Brass quando sorria.
"Era de se esperar. Eu acho que é um plano ruim, acasalar só pra ser mais aceito, mas ele e você devem se dar bem na cama, não é?" Ele me olhou enquanto falava. Minhas pernas estavam expostas, ele não me olhou com luxúria, mas os olhares de Gift tinham sempre algo encoberto em suas íris de bronze.
"Eu prefiro não falar disso." Eu disse.
"Sim, mas temos de falar de alguma coisa, ou eu vou pular daqui com você, não posso te deixar aqui." Ele disse, eu sorri.
"Sou muito capaz de pular daqui, Gift. Eu já fazia isso muito tempo antes de você nascer."
"Você não estava grávida. E eu não perguntei se eu poderia saltar com você. Eu vou fazer isso, depois de conversarmos, ou agora se você não quer conversar." Ele disse e eu não consegui refutá-lo, por que ele saltar comigo seria seguro e eu não devia colocar minha gravidez em risco.
"Não há muito o que dizer, eu não quero envolvimento com ele." Eu disse.
"Só sexo, então?" Eu balancei a cabeça, nem sexo na verdade, mas não era fácil resistir a ele.
"Eu não falo muito, Creek, mas eu acho que um filhote não deveria crescer sem o pai e a mãe, então..." Ele suspirou. Eu sorri, ele era calado por opção. A maioria das pessoas eram caladas por timidez, ou por não saberem o que dizer, ou retórica ruim, mas Gift não gostava de falar. Ele via tudo e tinha uma impressão das coisas, mas guardava para si. Como eu sabia disso? Ele me fascinava, seu jeito calado, mas atento era incomum no meio dos outros.
"Por que acha isso? Humanas fazem isso o tempo todo." Eu perguntei.
"Exatamente, humanas fazem, mas não somos humanos, não é? E mesmo entre os humanos, o ideal sempre será o pai e a mãe próximos dos filhotes, ainda que para muitos não seja assim. Mas no meu caso, por exemplo, ter a doçura e o cuidado de minha mãe e ter meu pai como modelo a ser seguido, foram cruciais para que eu fosse quem eu sou hoje. Então, meu conselho é que não importa se for Gabriel ou não, mas Pollyana precisa de uma figura masculina." Ele disse. Eu fiquei um tempo pensando.
"Eu não quero acasalar." Eu disse, mas no momento em que as palavras saíram, algo dentro de mim se agitou.
"E não precisa. Mas não prive ela de conviver com ele." Ele disse.
"O que você acha do que ele fez com Kit?" Eu disse, ele assentiu.
"Esse é problema? Você tem medo de que ele faça de novo? Não é possível. Eu pessoalmente mostraria a ele o quanto sou diferente dos outros caninos." Ele disse e me mostrou suas garras. Do nada, elas cresceram. Eu arregalei os olhos, só alguns felinos faziam aquilo.
"Bastaria que você morasse na área familiar." Ele concluiu.
"Mas é exatamente isso, Gift. Não existe confiança, não existe amor e ele fez mau a uma de nós. Você não acha que eu devia me afastar? Por Kit?"
Gift balançou a cabeça.
"Ou ele é digno de morar aqui ou não é, Creek. Eu faço parte dos que pensam que deviam ter quebrado o pescoço dele quando Sunny nasceu, mas ele estava morrendo e tinha recursos para conseguir passar os dias que lhe restavam em paz. E ele realmente morreu, foi enterrado e tudo. Se me perguntar, acho que meu tio sabia e por isso correu para enterrá-lo. Se tivessem cremado ele, ele não estaria aqui." Eu me lembrei dele dizendo que realmente morreu.
"Você acha que ele morreu mesmo?" Eu perguntei, Gift assentiu.
"John chorou sobre o corpo dele, papai também. E foram eles e meu tio que o enterraram. Ele realmente morreu, por algum tempo pelo menos."
"Eu não sei o que pensar." Eu disse por que não sabia mesmo.
"John diz que temos uma dívida com ele, uma grande dívida e que isso nos deixa com o dever de pelo menos aceitá-lo, ainda que não temos de conviver com ele. Eu, como nunca seria amigo dele, não me importo se ele mora aqui, na área familiar, ou na cabana antiga de Thorment."
"Por que nunca seria amigo dele?" Eu perguntei, ele me olhou com os olhos frios.
"Por Bronzy. Ele nos privou de crescermos com ela. E pode não ser culpa dele, afinal Lennisworth nunca entrou em contato com ele, mas foi por ele tirá-la de nós que ela é como é. Eu não consigo esquecer que se ela tivesse crescido aqui, seria como eu, ou Brave. Ela não teria que usar aquelas luvas ridículas, ou não choraria por causa de..." Ele engoliu em seco. Eu nunca pensei em Bronzy, eu estava tão atormentada com o dever que acreditava que tinha com Kit que eu acabei por não considerar tudo o que Gabriel já tinha feito.
"Viu? Por onde se olhe há alguém que ele prejudicou. Como eu poderia me acasalar com ele?" Eu perguntei, Gift sorriu.
"No caso de Bronzy é fácil. Ela o perdoou." Eu o encarei, ele fez uma careta.
"Se ela souber que você está em dúvida, é capaz de ir no seu apartamento e interceder por ele."
"Ela faria isso?" Ele balançou a cabeça.
"Com toda a certeza. É como minha mãe diz, só podemos consertar o que nós fizemos, o que fizeram a nós, só nos cabe perdoar." Eu apertei os lábios. Não era possível. Bronzy não podia tocar em ninguém, e ela ainda corria perigo de morrer se não lhe ministrassem uma fórmula.
"E com essa, eu acho que nossa conversa acabou." Gift disse, me pegou nos braços e pulou até minha sacada. Eu quase nem senti o impacto da queda.
Ele entrou em meu apartamento, me levou para o quarto e me depositou na cama. Eu me ajeitei, mas segurei a mão dele.
"Me conta uma história? Uma bem louca, uma que acalme meus pensamentos." Eu não sei porque pedi aquilo, ele era só um filhotinho, ainda que seu tamanho, força e olhar lhe conferissem uma aparência de um macho adulto.
Ele se sentou na cama e segurou minha mão.
"Era uma vez um macho que tinha um irmão perfeito. Seu irmão era o mais bonito, mais inteligente, mais forte e ainda tinha muitos dons, cada um mais admirável que o outro." Eu sorri, ele sorriu de volta.
"E o macho cresceu sempre ouvindo o quanto seu irmão era perfeito, tão perfeito que ninguém prestava muita atenção naquele macho, todas as atenções iam sempre para seu irmão e o macho era feliz, muito feliz com isso." Eu o olhei com dúvida nos olhos.
Gift continuou:
"Afinal, toda a admiração gera cobrança e o irmão do macho desde muito cedo teve que seguir o padrão de perfeição que todos colocaram nele e o macho de nossa história não tinha de se preocupar com isso, ele podia fazer o que quisesse, que o máximo que acontecia era ouvir um 'por que você não é como seu irmão?' e ele se acostumou muito cedo a fazer o que lhe desse na telha. Era uma vida ótima, até um dia em que ele quase matou outro macho. E quando eu digo quase, estou realmente dizendo quase, o coração do filho da puta parou algumas vezes. E aí, esse macho ficou nas mãos do outro macho. E o outro macho era um demônio. E a vida perfeita do nosso macho mudou, o demônio achou que poderiam ser amigos e contou para o macho que estava atraído pela fêmea que o macho gostava." Ele parou, eu fiquei pensando em tudo o que ele disse.
Eu sabia quem era o demônio, é claro. Mas a fêmea eu não sabia.
"E agora, ainda que o nosso macho da história nunca teria coragem de se declarar para a fêmea, posto que ela nunca gostou dele, não como ele queria que ela gostasse, esse macho tem de ajudar o demônio a conquistar a fêmea. Então, quando pensar que a sua vida é uma droga, pense em nosso pobre macho da história que está entre sua honra e o desejo de realmente matar o demônio." Ele abriu um lindo sorriso e eu comecei a rir.
"Que bom que eu divirto você." Ele disse voltando a fechar a cara.
"Desculpe, é só que você foi engraçado." Ele assentiu.
"A vida não é ideal, Creek. Você não tem de se privar de ser feliz por causa do que aconteceu com Kit. Você só precisa ter certeza do que você quer. Se o quiser, vá em frente. Se não, quando ele aparecer, grite e eu acabo com ele." Ele me beijou nos lábios e se foi.
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FÊMEAS
FanfictionDepois de muitos anos vivendo em liberdade, Breeze e suas amigas resolveram acasalar. E quem seriam os machos escolhidos? Elas não sabem! Nenhuma das três está num relacionamento, mas isso não é empecilho para uma fêmea empoderada! Mesmo que elas te...