CAPÍTULO 54

189 31 13
                                    

Eu saí do refeitório com Brave, ele me sorriu.
"Você foi muito bem, só acho que podia ser mais distante. Talvez parecer mais frio, como você era antes." Eu acenei, mas isso não era possível. Eu não era o mesmo, quando eu senti o calor entrando pelas minhas veias, toda aquela impassividade se dissipou e eu nunca mais fui eu mesmo. Ou voltei a ser quem eu era, eu não sei bem.
"Eu vou dar uma volta, parece que a comemoração dos meus pais me contagiou, você sabe como é." Eu assenti. Brass e Sophia estavam em estado de graça, Brave deve ter dormido ouvindo os suspiros e rosnados deles.
"Continue assim." Brave sorriu, o sorriso travesso de Sophia e correu, eu fiquei no pátio. Minha cabana ficava a muitas horas de caminhada, eu não queria voltar pra lá, então me dirigi ao Laboratório Não Mais Secreto de Candid, afinal minhas digitais abririam a porta. Ele ficava perto do Refeitório eu fui andando devagar, com os ouvidos na conversa sussurrada de Creek e Breeze.
Wide, Broad e Sunny chegaram e levaram Breeze, eu mudei de idéia e corri para o bosque que circundava aquela parte do complexo e subi numa árvore. Dali, eu veria se Creek voltasse para o apartamento ou se ela fosse para alguma casa, ou até, ainda que improvável, se ela fosse para a sala de treinamento.
Ela saiu e ficou parada por um tempo, devia estar pensando, divagando e eu sorri com a confirmação de que ela era complexa, de que Creek tinha vivido muito e que seus muitos anos eram responsáveis por sua escolha de se afastar, de abraçar a solidão. Não era possível você ter oitenta e tantos anos e não se questionar sobre a vida, sobre suas interações com todos a sua volta e sobre quanto tempo mais você viveria. Ela passou a mão sobre seu ventre e meu coração disparou em meu peito, minha semente tinha brotado ali, eu e ela fizemos uma outra vida, isso era tão complexo e ao mesmo tempo tão simples! Humanos o faziam o tempo todo, e algumas vezes sem se dar conta do milagre que aquilo era, mas não para mim ou para ela. Para nós aquilo era um marco, nossa vida nunca mais seria a mesma, na verdade já tinha mudado desde que eu e ela concebemos Pollyana.
Ela foi andando pela estrada, mas logo mudou seus passos e adentrou a mata.
Ela andava devagar, eu desci da árvore e a segui a distância.
Depois de um tempo ela parou, eu fiquei observando-a maravilhado com seu rosto, com sua expressão calma. Acho que foi o que me atraiu nela, essa força por baixo de uma expressão plácida e de um sorriso feito para enganar a todos. Quem não prestava atenção nela via uma fêmea despreocupada, feliz e realizada, tudo por causa do sorriso calmo e dos olhos bonitos. Eu via uma fêmea linda e inteligente que sentia necessidade de conexão com os outros a sua volta. Eu a entendia. Quando deixamos de ver os outros com suas necessidades e mazelas e alegrias e características e complexidades, quando os outros são só os outros, só pessoas que não nos interessam em nada, o que somos? Quem somos? O que nos diferencia? O que nos move?
A busca de Creek por conexão não era diferente da minha e eu me senti próximo dela. E juntando tudo isso ao que eu era, ao que eu tinha feito, Creek me fez querer ser outra pessoa. Eu desejei tanto não ser eu, não ser como eu era!
E tudo o que eu fiz, todo o mal que eu causei se voltou para mim. E havia dias em que eu queria morrer. Eu já tinha morrido, não foi um passeio no parque. Foi a pior experiência que alguém poderia viver, não houve paz no meu fim.
Os últimos dias antes de morrer foram tormento puro e a certeza de que eu merecia me fez abraçar aquele tormento e até que o Nada me abraçou de volta, eu sofri. Em uma escala indeterminada, algo que eu não queria me lembrar, mas as vezes meu coração recordava o terror daqueles dias e eu ficava imóvel, tragado pela agonia profunda daquelas lembranças.
Creek sorriu, ela alisava seu ventre e aquilo me ajudou a sair daquele transe em que eu parava de respirar e a dor me tomava. Eu respirei fundo e fui até ela, eu precisava de seu calor e ela era como um sol, eu me aquecia só de olhá-la. Ela suspirou, estava apoiada numa árvore eu me vi falando antes de pensar no que eu ia dizer:
"Posso tocar também?" Ela olhou na minha direção eu terminei de andar os metros que nos separavam.
"Me seguindo?" Ela perguntou, eu respondi já me abaixando ante ela:
"Sempre." Eu vi que a barriga dela estava maior, que minha filhotinha nasceria grande, forte.
"Como assim?" Creek perguntou, mas eu toquei a pele quente, eu estava envolvido no cheiro e no calor da pele dela, eu não respondi. Afinal, a resposta era que eu praticamente tinha abandonado minha cabana e estava vagando pela área familiar. Eu tinha dormido na casa de Noble na noite anterior.
"Pollyana?" Eu disse o lindo nome da minha filhotinha cheio de reverência, Creek pulou, eu me afastei. Ela não queria o meu toque? Eu já ia me desculpar, eu engoli em seco com aquela rejeição, mas ela sorriu e me abraçou apertado, eu fiquei confuso. Creek não era impulsiva, ela pensava muito em tudo, em cada palavra e ação.
"Ela se mexeu." Eu afastei o rosto, surpreso.
"Tem certeza?" Creek apertou os lábios, ela estava emocionada.
Eu me ajoelhei de novo e a toquei dessa vez tentando sentir minha filhote por baixo da pele.
"Ela se mexeu." Creek disse Eu a encarei, ela me encarou de volta.
"Oi, bebezinha. É o papai." E eu senti um mínimo tremor, era Pollyana, ela me respondeu. Eu me ergui e tomei os lábios de Creek, ela podia me socar depois, mas naquele momento foi como se eu tivesse que beijá-la, eu não tinha como me impedir.
Creek me beijou de volta e por uns segundos compartilhamos a ternura do momento, mas só por uns segundos, pois o calor me tomou e a tomou também, eu lhe mordi o lábio inferior, ela invadiu minha boca com sua língua. O beijo mudou, a urgência nos tomou de uma forma que eu a pressionei com meu corpo contra a árvore, ela me abraçou apertado e logo tirava minha camisa e tocava minhas costas com as unhas, ela cravou uma garra em meu ombro, eu rosnei na boca dela. A calça dela estava desabotoada, eu desci o zíper e a calça caiu, eu me ajoelhei a lambi, o cheiro me excitou de tal forma que eu lhe mordi a parte interna da coxa, Creek rosnou. Ela guiou minha boca de volta para sua buceta, eu chupei seu clitóris, do jeito que eu tinha aprendido que ela gostava. Eu vibrei minha língua sobre aquele feixe de nervos, Creek chiou. Eu continuei naquilo até ela gozar. E foi um senhor gozo. Creek rugiu, eu quase gozei com ela sem nem mesmo tocar em meu pau. Eu me levantei e a beijei, Creek sugou meus lábios, provando seu próprio gosto, eu tirei meu pau das calças e entrei nela. Foi delicioso deslizar por aqueles músculos molhados, quentes e apertados. Ela me encarou, eu mergulhei nos tons de verde, ela estava dentro dos meus olhos também. Eu saí e quando voltei com força, ela abriu a boca, nenhum som saiu, era só a sensação deliciosa da estocada a tomando. Eu fiz de novo e de novo, entrando e saindo com força, nossos olhos travados, as sensações nos sacudindo, foi a glória. Não, é claro que não. A glória veio depois, quando eu enfiava meu pau nela descontrolado, entrando e saindo, entrando e saindo muito rapidamente e com muita força, fazendo a árvore grossa e poderosa balançar com a força em que eu metia nela. A glória nos tomou de uma vez, ao mesmo tempo para mim e para ela, ela rugiu e eu também num gozo que me sacudiu com tanta força que eu morri de novo.
E dessa vez a morte não me machucou, não foi o frio tormento e agonia da outra vez, foi a plenitude de uma sensação tão ímpar que eu poderia sentir aquilo para sempre. Eu senti paz.
Os olhos de Creek continuavam ali, verdes, incríveis. Minha filhotinha estava viva, eu descansei meu rosto em seu pescoço e inspirei o cheiro das duas, a vida me dava outra chance, eu que não merecia, eu que machuquei e torturei. Como podia ser isso?
"Gabriel?" Creek me chamou, eu afastei o rosto para olhar em seus olhos.
"Vamos pro meu apartamento?" Ela perguntou, eu me afastei, subi minha calça, vesti minha camisa, ela ajeitou suas roupas e eu a peguei no colo, como tinha visto Wide fazer com Breeze.
"Que não se diga que eu não carregaria minha fêmea até sua cama."
Ela riu quando eu fiz essa imitação de Candid e eu iniciei a caminhada até seu apartamento. Eu a chamei de minha fêmea e ela não me corrigiu, só isso me deu ânimo para andar mais rápido.

FÊMEAS Onde histórias criam vida. Descubra agora