Capítulo 09

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ZOE

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ZOE

Estou cansada, o estágio está sendo pesado, fui encaminhada para ala geriátrica, nessa parte, os pacientes dependem muito de nós. Eu amo a profissão que escolhi, acho que a doença da minha mãe me levou a esse caminho, não quero ver outras pessoas morrerem sem assistência. Seria legal cursar medicina, mas era um sonho para mais para frente, no momento, estou grata pela oportunidade que a vida está me dando.

Estou responsável por cinco pacientes entre sessenta e oitenta anos, todos velhinhos simpáticos, nem tanto, mas sei que a idade e a doença deixam as pessoas arredias. Sem contar que muitos deles, a família quase não aparece para saber de suas evoluções, são praticamente abandonados no hospital.

— Zoe? — a dona Célia me chama com voz doce.

— Oi. — Arrumo seu travesseiro para que fique mais confortável.

É uma senhora de 72 anos, tem câncer de estômago, estágio cinco, não tem mais volta, a família a levou para hospital para poder ter mais conforto em sua passagem. Mas acho que ela ia preferir morrer em casa, perto dos seus amados familiares.

— Como está? — ela sempre pergunta isso quando me encontra. — Parece cansada, menina.

— Estou bem, e você?

— Quase morta! — Tenta rir, mas a tosse sacode seu corpo frágil de 36 quilos.

— Estou achando suas bochechas mais rosadas — brinco.

— Meu neto veio mais cedo me ver, era para você está aqui, ele é solteiro — diz baixo, como se fosse um segredo. — Ele merece uma moça doce e educada como você.

— Obrigada pela preferência. — Ela ri, e eu aplico seu medicamento no soro, para ela não sentir muita dor. — Que bom que ele veio vê-la.

— Sim, veio com a minha filha, eles querem me levar para casa, não acham certo de que eu fiquei aqui. — Concordo com eles, ela tem cincos filhos, fora os oitos netos que podem se revezar e cuidar dela, mas não digo nada e arrumo seu cobertor. — Zoe, você é uma moça de olhos tristes, mas existe um fogo em você, espero que tudo fique bem.

— Fogo em mim? — disfarço, mas suas palavras tocam meu coração.

— Sim, é uma águia pronta para o mundo, porém, ainda tem medo dele.

Segura minha mão com fragilidade e meu coração se enche de ternura com suas palavras.

— Se permita, minha menina, a vida é muito curta.

Pisca e começa a tossir em seguida. Fico olhando seus dedos frágeis nos meus, e realmente ela tem razão, até quando vou ficar escondida? Vivendo com medo de ser descoberta?

Tem mais de três meses que não tenho notícias dele, simplesmente ele não se importa comigo – o que ele nunca negou –, eu que sou uma boba emocionada, mas parei para analisar e se ele morrer em uma dessas viagens? E se acontecer algo com ele sozinho? O que vai acontecer comigo? Somos dois solitários neste mundo, mas e o que será de mim? Mesmo porque ele não esconde que não deseja a minha presença perto dele.

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora