Capitulo 18

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ZOEEu não consigo entender essa montanha-russa de sentimentos entre mim e o Perseu, principalmente os meus sentimentos – é notório que ele não me deseja em sua vida, mas, ainda assim, fico sedenta por sua presença

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ZOE


Eu não consigo entender essa montanha-russa de sentimentos entre mim e o Perseu, principalmente os meus sentimentos – é notório que ele não me deseja em sua vida, mas, ainda assim, fico sedenta por sua presença. Transamos, e ele não deu a mínima depois de tudo; transamos de novo, e nenhuma palavra, nada sobre o que aconteceu. Parece tão vazio, como as prostitutas que frequentavam sua casa. Contudo, sei que sou adulta e poderia dizer não e pronto, mas eu quis tanto que esqueci quem era ele de verdade.
E a culpa é minha, pois permiti e gostei de cada momento. Agora estamos sob a suspeita de um assassino, estou presa aqui, sem poder sair de casa. Bem, é o que ele diz, saiu de casa hoje para resolver o problema, me deixando preocupada e, quando voltou, foi incapaz de dizer algo sobre o assunto.
Tenho uma vontade insana de meter um soco na cara dele e depois encher de beijos. Sou uma imbecil de marca maior, outra teria arrumado as malas e partido, mas eu continuo aqui, com medo de ultrapassar os muros deste lugar.
Meu celular escolhe esse momento para tocar, olho para casa, para praia e depois olho o visor do aparelho. Maurício? Estranho sua ligação.
— Zoe, preciso de você!
Sua voz é chorosa e, porra, acho que vou tomar uma péssima decisão, mas só depois vou descobrir quando o Perseu notar a minha ausência.



Meia hora depois, estou na praia ao lado de um Maurício derrotado, chorando, e eu sinto tanto dó dele. Não é fácil perder quem se ama, principalmente um pai amoroso, como ele diz que era o dele. O encontrei na praia, sentado na areia, chorando e olhando para o mar. Seu pai teve um infarto fulminante mais cedo.
— Agora não sei como agir, o que dizer a minha mãe — ele diz — Só pensei em estar com você na hora.
Ah, meu Deus, que merda fodida essa.
— Sinto muito quem tenha acontecido isso. — Toco seu ombro com carinho.
— Me abraça, Zoe, me abraça?
E, sem saber o que fazer em um momento como esse, trago seu corpo para perto do meu e o conforto com todo carinho que tenho em mim. Maurício é um cara bom, sempre foi legal comigo e nunca escondeu seu interesse por mim. Por que não me interesso nele e vivo uma relação comum e calma?
Seus soluços me quebram e me envergonham, não chorei com a morte da minha mãe, e até hoje não consigo fazer isso, principalmente porque vejo como alívio e liberdade para mim.
Sou um monstro!
— Obrigado por ter vindo. — Maurício afasta o corpo do meu e tenta sorrir, mas seus olhos estão inchados de tanto chorar e suas pupilas vermelhas e dilatadas. — Eu gosto de você, Zoe! — Ele abaixa a cabeça e toca seus lábios nos meus de leve, mas, antes que eu consiga me afastar, a tempestade desaba sobre nós, não como uma coisa da natureza, é a tempestade chamada Perseu!
— TIRE A PORRA DE SUAS MÃOS DELA, SEU FILHO DA PUTA!
— Perseu! — Levanto-me, assustada, e Maurício o encara sem entender que merda é aquela. — Como me descobriu aqui?
— Eu vou te matar, seu desgraçado! — Ele aponta uma Glock para o meu amigo.
— Quem é você? Zoe, quem é ele?
As perguntas são atordoadas e seus olhos ficam enormes de medo por ter uma arma apontada para sua cabeça, e eu caminho até Perseu, ficando na sua frente, temendo o pior.
— Para com isso, Perseu, abaixa a arma.
— Para com o que? Eu nem atirei nele ainda!
— Que merda é essa? — Maurício dá um passo para trás.
— Eu vou arrancar seu pau e fazer descer na sua garganta sem anestesia e depois vou enterrar seu corpo ainda com vida e você vai morrer entalado com seu próprio pau.
O pior que eu sei que ele tem coragem de fazer isso; pela raiva no olhar, Perseu está a ponto de cometer um assassinato, e eu nunca o vi com tanta raiva.
— Para agora! — Seguro seu braço, Maurício começa a correr para longe de nós dois.
— Aquele merdinha deve estar todo mijado!
Seus olhos estão flamejantes, focados nos meus, mas eu também estou com muita raiva dele, como pode vir até aqui fazer um papelão desses.
— Como você se atreve? — indago com a mão na cintura.
— Você saiu de casa sem avisar para se encontrar com um amante! Acha isso pouca coisa?
— Amante?
— Vamos para casa antes que o babaca chame a polícia.
Se vira, começa andar pela areia até a margem do calçamento da praia e fica me esperando. Eu não estou acreditando em suas palavras, amante? De onde ele tirou que tenho um amante?
Chego ao calçamento atrás dele, pronta para discutir, mas ele entra no jipe que veio e abre a porta do seu lado. Lógico que não vou com ele, e entro no carro que eu vim, dando a partida.
Ele me segue de perto até em casa e tenho certeza de que vai rolar um temporal entre nós dois, pois não vou permitir que se meta em minha vida desse jeito. E com total certeza de que vou pedir demissão no fim, penso, desligando o veículo, já dentro da garagem.
O seu para logo atrás e ele praticamente pula de dentro, acho que sua perna finalmente está melhor.
— Que porra você estava pensando? Não consegue se manter longe daquele idiota? Estava morrendo de saudades? É isso? — já vai me cobrando quando chega à minha frente e cruza os braços — Está em perigo e corre para ver seu amante? Que desgraça, Zoe, transamos, e você já está atrás de outro?
Ele termina e minha mão encontra o meio da sua cara, bato com toda minha força e raiva. Ele não tem direito de cobrar nada de mim.
— Não se atreva!
Ele me encara, segurando o local que eu bati.
— VOCÊ O BEIJOU! — cospe as palavras com dificuldade. — DEPOIS DE ME BEIJAR, VOCÊ O DEIXOU TE BEIJAR, DEIXOU AQUELE IDIOTA TOCAR SUA BOCA.
— ISSO É LOUCURA! O QUE ESTÁ ME COBRANDO, PERSEU? ME DIZ QUE PORRA DESEJA DE MIM? — Soco seu peito com raiva, e ele segura minha mão. — VOCÊ NEM SE IMPORTA, SAIU SORRATEIRO DA MINHA CAMA, FOI MEU PRIMEIRO E DEPOIS FOI EMBORA COMO SEU FOSSE A DROGA DE UMA PROSTITUTA BARATA, E AGORA DÁ ESSA CRISE COMO SE IMPORTASSE COM ALGUMA COISA.
Não pretendo me quebrar em sua frente ou me importar com suas palavras, não vou dar essa força a ele, Perseu precisa entender seu lugar em minha vida, e eu preciso manter distância dele.
— Zoe...
— Zoe, Zoe, o gato comeu sua língua? Estou cansada do seu silêncio conveniente, chega, eu não sou sua puta, eu posso fazer o que eu quiser, meu amigo perdeu o pai hoje, e eu fui lá consolá-lo.
— Eu disse para não sair de casa. — Seu tom é duro.
— Foda-se! VOCÊ NÃO É MEU DONO, E AGORA NEM MEU CHEFE, EU ME DEMITO!
— O quê?
— Isso que você ouviu!
Marcho para dentro da casa e vou direto para minha, passando pela cozinha, quero distância desse ogro insensível.
Ouço seus passos atrás de mim, firmes e rápidos, o que faço? Corro para casa, pronta para esconder lá e não o ver até minhas malas estiverem prontas. Antecipando o que pretendia fazer, Perseu me alcança na porta e iça meu corpo para cima do seu ombro, como um saco de batatas.
— Para, seu idiota!
Sua mão bate na minha bunda com firmeza.
— Você não vai para porra de lugar nenhum!
Me debato, sem êxito nenhum, ele só me solta na cozinha, apressadamente olho para o balcão, que tem dois pratos de comida.
— Você fez isso? — Olho para ele por cima do ombro, Perseu se encontra de braços cruzados na porta, para que eu não tente fugir.
— Fiz nosso jantar para pedir desculpas por mais cedo, mas aí você já tinha ido se encontrar com seu amante.
Ódio desse termo idiota que ele usa para se referir ao Maurício. Nem estou acreditando que ele fez o jantar para mim. Na realidade, esquentou a comida congelada. Mas, vindo dele, é um sinal enorme, Perseu se importa muito pouco com as pessoas para tentar, pelo menos, ensaiar uma desculpa. É tudo tão sem sentido, uma hora, ele não se importa, em seguida, passa a se importar do nada, seus sinais são confusos.
— Estou com raiva, Zoe, estou fervendo de raiva — diz com convicção, ficando atrás de mim, e não me viro. — Estou com muito ciúmes no momento, eu sou a porra de um homem possessivo e egoísta.
Algo esquenta em mim, ouvindo sua confissão direta. Sua mão alisa meu pescoço, e eu engulo em seco.
— Não divido nada, Zoe, não dou nada a ninguém, sou a merda de uma cara fodido. — Continua com a mão firme no meu pescoço e sussurrando em meu ouvido, minha pele está arrepiada. — Eu estou muito chateado, você foi uma menina muito má comigo hoje.
— Perseu!
— Sinto o cheiro dele em você, e isso me deixa com vontade de voltar lá e dar três tiro em sua testa, odeio que tenha outro cheiro que não seja o meu. — Arquejo com sua confissão fodida. — Se você não tomasse à frente, eu teria o matado hoje e, Zoe — alisa mais forte meu pescoço e sussurra com mais ênfase no meu ouvido —, não brinca comigo, eu descobri hoje que sou um amante passional. — Me solta e se afasta, sinto um vazio com sua ausência e a falta da sua mão em mim. — Vamos jantar! — Sua voz parece calma — E conversar —diz, vai para o balcão e se senta, me aguardando fazer o mesmo. Somos dois fodidos, recebi uma merda de ameaça dele e estou molhada com isso. E ele parece sereno depois que soltou o que sentia, mas sei que é só uma máscara, logo a guerra volta entre nós.
Faço o que me pede e me sento no banco alto que dá para a bancada, seguro o talher, não tenho certeza se vou conseguir comer depois de tudo, no entanto, tenho várias perguntas para ele e talvez esse seja o momento.
— Não precisa se preocupar mais com o nosso visitante curioso — menciona antes que eu pergunte alguma coisa.
— Quem era ele? — indago, pois sei que o cara, no mínimo, deve estar morto uma hora dessas. — Por que veio?
Perseu suspira e solta o garfo no prato, olhando para o lado, e acho que não vai me responder, como sempre.
— Alguém que conheci no meu passado — diz, cruzando os dedos — O nome dele era Padre João.
— Um padre? Como assim?
— De padre, aquele lá não tem nada, é só mais um que usa a religião e o fanatismo das pessoas para seu próprio bem, não tem a ver com Deus, mas com interesse, poder e dinheiro — resmunga, enfadado. — Desde que mundo é mundo, os homens usam a religião para doutrinar e obterem riquezas, e aqueles que realmente praticam a fé e o amor ao próximo ficam cada vez mais pobres ou desacreditados. Infelizmente a religião se tornou o entretenimento mais lucrativo, o que é um dos piores pecados, se apropriar da fé alheia para o próprio enriquecimento, pessoas, assim, deveriam arder no inferno, elas vão, mas eu, com toda certeza, tenho vontade de mandá-las antes do previsto.
— Infelizmente, e o pior que Jesus era pobre e amoroso, nunca fez nada por moedas, mas algumas pessoas querem tanto acreditar em algo e se tornam presas fáceis e caem na armadilha dos gananciosos.
— Não tenho dó de nenhuma delas por serem imbecis e mais gananciosas que eles, pois a maioria quer estar no mesmo lugar, com dinheiro, poder, fama, nenhuma se importa com a porra de salvação e nem quer ajudar o próximo, elas são tão ruins quantos os falsos profetas! — comenta com ênfase. — Onde estava esses religiosos ou esse Deus que eles cultuam quando minha mãe foi estrupada? E quando aquele bispo a engravidou?
— Perseu!
Estou impactada com suas palavras cruas e seu rancor, e por isso entendo sua raiva sobre os religiosos.
— Pois é, Zoe, sou o filho do demônio, segundo eles, filho de dois religiosos, uma freira e um bispo.
Sua voz é puro rancor e deboche, sua cabeça está baixa, e sinto uma vontade gritante de ir até ele e o abraçar, mas sei que não é isso que ele deseja no momento. Queria saber muito mais sobre sua história, porém, creio que esse não seja o momento para isso.
— Não sabia...
— Como poderia saber? Sou quase dez anos mais velho que você? — Ri sem humor e volta a comer.
— Conheceu o padre onde? — Mudo o foco dos pais dele.
— No orfanato, depois de voltar pela quinta vez do reformatório. — Dá de ombro, sem emoção. — Ele tinha um projeto para ajudar as crianças que ninguém mais queria, os proscritos, os marginais, e, no fim, era só sua quadrilha pessoal, todos juravam lealdade ao Padre João para ter um cobertor e um mísero prato de comida, e o governo ainda bancava, por fora, algumas empresas privadas.
— Que monstruoso!
— Resumiu bem, mas foi uma fase boa para mim, pelo menos eu sabia que ele não valia nada, porque eu era espancado, maltratado, quem realmente eu era, não tinha ninguém fingindo bondade ou que me queria. Ali, de verdade, ninguém se importava se eu morresse ou não.
Meu coração se quebrou pela infância difícil que ele teve, nenhuma criança merecia passar por nada disso. Minha mãe era desligada e interesseira, tinha sonhos grandiosos, mas, pelo menos, dizia me amar e cuidou de mim para nenhum homem me tocasse. Mesmo à beira da morte, tentou me salvar do seu jeito e morreu por isso.
— Eu roubei, matei, menti, tudo em nome do Padre João.
Seus olhos estão esperando uma reação de repulsa minha, sinto, em todos meus poros, Perseu tentando me chocar com sua história de vida. Porém, não sou ninguém para julgá-lo, também tenho sangue nas minhas mãos. E, por cima da mesa, seguro sua mão.
— Sinto muito que tenha passado por tudo isso tão jovem, eu sinto de verdade, nenhuma criança merece carregar fardos tão pesados, e ninguém merece ser fruto de um abuso.
Seus olhos percorrem as nossas mãos unidas e o meu rosto, e tem emoção em seu olhar. No silêncio, sinto que ele se emociona com meu toque.
— Zoe, não sinta pena de mim. — Nossos dedos cruzam como uma corrente forte e insolúvel. — Não mereço e nem quero.
— Perseu, não se engane, não é pena que eu sinto. — Puxo a minha mão. — Por que foi tentar matar o meu amigo?
Ele bufa e revira os olhos, se encostando na parede.
— Porque ele mereceu por tocar você. — Ele bebe o suco do copo. — Você não comeu nada.
— Perseu, que merda, sabe o risco que colocou todos nós hoje? — Bato na mesa.
— Foi você que fez isso quando saiu de casa sem avisar, pondo a sua vida em risco. — Aponta o garfo para mim. — E ainda beijou o maldito.
— Eu não beijei ninguém! — me defendo, e nem sei o porquê, mas ele tem razão, não deveria ter ido até o Maurício com o perigo pairando sobre nós. — Ele é meu amigo.
— Amigo, jura? Vou beijar minhas amigas também — debocha.
— Você não tem amigas! — lembro em meio à nossa discussão infantil, recordando de seu passado complicado, sem querer saber, apesar da minha curiosidade de saber um pouco mais.
Ele fica parado, analisando o que eu disse.
— Tenho, Emma!
— Eu não vou te beijar! Eca! E nem sou sua amiga.
Nós dois viramos para uma Emma de pijama de seda e com desenhos de gatinhos, de braços cruzados. E nós dois ficamos sem graça em sermos pegos em meio a uma discussão tão idiota.

NOITE MENINAS!
E O CIÚME DO PERSEU ESTOUROU , A GENTE JÁ ESPERAVA ISSO!
BEIJOKAS

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora