Capítulo 08

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PERSEU

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PERSEU

O segurança olha para mim com a caixa na mão, pede para verificar o conteúdo, abro com naturalidade, mostrando o que tem dentro, ele mexe nos produtos e o seu interfone toca neste momento. O homem é metido a poderoso por ali, segundo algumas conversas que ouvi, ele tinha mania de deixar as moças da equipe desconfortáveis, estilo o tio chato das piadas sem graça de almoço de domingo. Não sei o que isso quer dizer, mesmo porque nunca tive tios e nem almoços de família nos domingos, mas essa é a descrição usada por elas para falar dele.

— Você é forte, aguenta empilhar todas essas caixas. — Ri da própria piada sem graça e faz sinal para que eu pudesse passar com as caixas, não dou risada, sigo em frente e sou chamado de volta. — Você que limpa os banheiros, né?

— Sim, senhor — admito, contido.

— Então deve ver muita funcionária gostosa no banheiro feminino. — Solta um riso, e não faço o mesmo, não conseguiria fingir graça numa coisa desta. — É brincadeira, mas, se descobrir como ver a menina no banho, conta para a gente.

Realmente ele é um doente, um escroto, acho que posso utilizá-lo no meu plano, dois idiotas a menos no mundo, decretei naquele momento que o tiozão ia morrer.

— Não sei como pode acontecer isso, mas, se souber, conto sim — respondo com cara de idiota, e ele bate em meu ombro, feliz com minha resposta.

— Vá logo levar as caixas.

Assinto com calma e sigo para os fundos, vontade de destravar minha doze na testa daquele imbecil. Mas sou calmo, tudo em seu tempo, estou com raiva, pois há muitos anos que não faço um serviço deste, odeio essa coisa de ficar pisando em ovos.

Além de odiar estupradores, ninguém merecia passar por isso e as consequências que vinham de situações como essa – tipo um filho indesejado – e nenhuma criança merece esse carma, de ser filho de um estupro.

É passado, convivo bem com ele, mas alguns gatilhos não ajudam esse esquecimento, são estopins para lembrar a forma que vim ao mundo e como é meio bosta a minha existência.

Ponho as caixas na pilha e batuco na tampa de uma delas, pensativo.

— Júlio Cesar?

Me viro e dou de cara com uma das meninas da outra noite e fico em silêncio, não voltei a encontrá-la depois do que aconteceu, mesmo porque não tinha explicação para dar ao meu comportamento. Se fosse em outro local, sairia andando e ligaria o foda-se, mas estou interpretando um papel ali e não posso fazer isso. Então volto a fazer cara de bobo e sorrio para ela, puxando a aba do boné para baixo em um jeito retraído, como se fosse tímido.

— Quero dizer que seu segredo está guardado com a gente. — Torce as mãos nervosa, e fico sem saber que tipo de segredo ela pretende guardar. — Não vou contar a ninguém, e Laila não pretende falar também.

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora