Epílogo

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PERSEU

Que porra de pai sou eu que não sei fazer a merda de uma casa na árvore? Tem que ser mais fácil que isso? Todos os vizinhos têm a porcaria de uma casa na árvore. Lógico que minha filha vai ter a droga de uma casa na árvore, nem que para isso eu tenha que perder um dedo, e preciso segurar minha boca suja.

Zoe vive reclamando dos meus modos, que preciso controlar meu gênio ruim, mas ela também sabia que eu era cheio de defeitos quando aceitou se casar comigo. Agora vive resmungando por que não sou um bom anfitrião, que xingo na frente das visitas. Mas eu não os convidei para minha casa, continuo odiando pessoas e suas mania de se meter onde não são chamadas. Por que, merda, escolhemos uma casa numa rua cheia de pessoas?

Nossa filha vai crescer traumatizada por morar com tanta gente chata. Poderia matar metade da vizinhança só por prazer, nem cobraria pelo serviço. Nos mudamos há um mês. Assim que nos casamos na França, voltamos para o Brasil e compramos essa maldita casa, que estou odiando. Tem dois anos que estamos viajando o mundo, indo de um lugar a outro. Descobri que Zoe não precisa de muito para sobreviver, que tudo é uma festa para ela e que nem tem noção que tenho bastante grana guardada e que investi uma parte, com isso, podemos ter uma vida tranquila durante muitos anos.

Também me apaixonei mais por ela todos os dias, a cada momento, eu tinha a Zoe em todos meus poros, em toda minha pele, eu respirava por conta dela. Foda-se se isso parece loucura, nunca fui normal, e não me importo muito com isso, só em fazer a minha mulher sorrir.

O que vou fazer para matar o tempo no futuro? Não pensei, não tenho planos concretos, agora só desejo viver a normalidade de ter uma família, meu nome fora do banco de dados da agência e longe do radar a justiça. O resto, vou pensar no futuro, vivendo um dia de cada vez.

— Vai arrancar o dedo assim. — Ela se aproxima, linda, está radiante.

— Minha filha vai ter uma casa na árvore — digo com convicção.

— Perseu, sua filha só vai nascer daqui a sete meses.

— Não importa, estou me precavendo.

Levanto-me e balanço a cintura para movimentar a coluna, que está travada por ficar muito tempo agachado. Em seguida, trago a Zoe para meus braços, depois que soubemos que estamos grávidos, vivo para mimar minhas duas mulheres. Tem dois dias que o sexo do bebê foi revelado em um exame, Zoe não queria saber o sexo logo, mas sou ansioso e quase implorei para fazer o teste. Ela cedeu e agora já sabemos que logo teremos uma menina linda, igual à mãe, correndo pela casa.

— Eu te amo, princesa — reafirmo isso o tempo todo para que ela nunca esqueça. — E amo você também, pequena. — Toco a barriga dela e sinto a conexão com o pequeno ser que tem lá dentro, e foi eu que fiz.

— Nós te amamos. — Traz meu rosto para baixo e eu recebo seu beijo, tudo normal e feliz, coisa que nunca imaginei que conseguiria ou tinha direito. — Falei com Xandy mais cedo, ele ficou feliz pelo bebê, disse que o Gustavo fica feliz também.

Reviro os olhos, não sei por que a Zoe insiste em ter amizade com aquele traidor sem-vergonha, sorte dele que o deixei viver e nem contei a Emma onde ele se esconde, e o safado ainda se casou com a ex-chefe da Zoe e tem um filho de alguns meses, que com certeza não quero perto da minha filha. Não confio em um filho do Xandy, de jeito nenhum.

— E, amor, jura que não vai se chatear?

— Hum, por que iria me chatear? — Solto ela, que caminha de costas, e acho bem estranho. — O que você fez?

— Sabe a casa do lado? — indaga com mais passos para trás. — A que estava à venda?

— Lembro que foi vendida, segundo o vizinho fofoqueiro da frente.

Não sei por qual motivo ele conta essas coisas, que interesse eu tenho de saber quem vai morar na minha rua? Odeio a vida dos outros, cada um cuida da sua, era meu lema.

— Bem, quem comprou foi a...

— Vamos ser vizinhos, chefe!

Emma? Ela e dois meninos, que sei que são os demônios em forma de gente, e estão no meu quintal, sorrindo e eu estou à beira de um colapso por descobrir isso.

— Por que comprou a porra de uma casa perto de mim?

— Porque somos amigos e podemos nos apoiar em nossa nova vida. — Ela tem a ousadia de dizer isso, como se eu quisesse viver perto dela. — Não é o máximo?

— Não é! E eu não sou seu amigo!

Entro em casa já sofrendo por antecipação, por que tenho que conviver com Emma perto de mim pelo resto da minha vida?

— Perseu, calma! — Zoe pede, me acompanhando escadas acima.

— Você sabia que essa pilantra vai morar ao lado? Ainda com esses dois meninos que parecem mais um furacão? Eu não tenho estrutura para viver ao lado da Emma — resmungo, entrando em nosso quarto.

— Amor, vocês são irmãos e nem se tocam.

Ela começa a rir, e acabo rindo com ela, me sento na poltrona verde-oliva e bato no meu joelho para que ela venha se sentar no meu colo. Zoe faz o que peço. Beijo seu rosto e o seu cheiro é inebriante.

— Ela é nossa família, assim como somos a dela, vai ser legal ter um rosto amigo por perto.

— Okay, você venceu, prometo fingir que tolero a família da Emma, e não vou matá-la e esconder o corpo no quintal, mas não a quero no almoço de domingo.

Zoe balança a cabeça rindo, ela sabe que me tem em suas mãos e tudo seria como ela deseja, e logo a Emma vai estar trocando figurinhas com a Zoe na mesa da cozinha, eu vou me resignar a aceitar para que a mulher da minha vida tenha uma amiga, e uma amiga que é de confiança, mesmo que seja uma pilantra.

Quem diria que Perseu, o filho do fogo, seria um homem de família? Pois é, as Moiras têm mesmo um jeito estranho de traçar a linha do destino.

Fim, mas antes...

E eles foram felizes para sempre, com brigas, discussões e problemas, mas felizes da forma deles. 


Agradeço a todas as energias que regem esse enorme universo, obrigada, está complicado, mas um dia de cada vez...

E a você, que porventura viveu uma dor semelhante à de Perseu ou Zoe, procure ajuda, não sofra sozinha, a culpa não foi sua. 

0brigada por acompanhar o livro será retirado em 24 horas. 

PERSEU: FILHO DO FOGOOnde histórias criam vida. Descubra agora