Quando tudo mudou

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Isso é íntimo demais, o ver assim. Já o vi nu outras vezes, já toquei cada canto de sua pele, com as mãos, com a boca. Mas isso é diferente, estou em sua frente, tocando seu corpo com delicadeza, não porque o quero suspirando contra mim, apenas porque ele me pediu para lavar seu corpo, para o tocar gentilmente. Não estou aqui pelo sexo, ele também não, mesmo que inicialmente sim. Isso muda algo para mim, será que muda para ele? Ou apenas eu me sinto diferente agora, na verdade, me sinto diferente a algum tempo, sempre querendo sua aprovação, sua atenção, fazendo o meu melhor para ser o aluno perfeito, entre quatro paredes, o parceiro perfeito.

— Você está pensando demais, apenas tome banho Boun. — Ele resmunga baixo, e então percebo que estou parado, apenas olhando.

— Desculpe.

— Tudo bem — Suas mãos tocaram meus ombros com leveza, quase que com…carinho. — apenas relaxe, está bem?

— Certo…

Ele não parece tão bêbado agora, talvez a água o tenha acordado, trago sua consciência de volta, e por alguns segundos temo que ele me tire do banheiro, que perceba que foi tudo um erro, porque ele também sente que estamos cruzando uma linha, desrespeitando algum limite. Mas ele agora está me ensaboando, cantarolando uma música que não conheço, me tocando como se eu pudesse quebrar a qualquer momento. Sinto que com ele posso quebrar a qualquer momento.

— Pronto, podemos sair e dormir agora, me sinto tão cansado.

Ele coça os olhos sonolentos, e eu me aproximo para fechar a válvula do chuveiro que se encontra atrás dele. Eu poderia ter o dito para fechar, mas aqui estou eu a centímetros de sua boca, o encarando enquanto a água aos poucos para de cair sobre nós. Sinto e escuto a respiração dele, e antes que eu me afaste, seus lábios estão nos meus, mas isso também parece diferente. O beijo é lento, gentil e caloroso, pela primeira vez nos beijamos pelo simples fato de querer sentir a boca um do outro, e não porque isso levará a sexo. É um momento calmo, mas dentro de meu peito o coração pulsa um sangue coberto de raiva, ódio por eu gostar mais de como seu corpo se cola ao meu apenas porque quer calor, porque quer carinho do que quando quer ser devorado. Por gostar de seu toque gentil, as carícias em meu cabelo. Por me derreter com um toque de lábios tão sutil, que com a língua lentamente me guia em um beijo que significa tantas coisas, e ao mesmo tempo nada, nada além de um beijo. Meu coração bombeia um sangue repleto de raiva, mas o que corre nas minhas veias é a eletricidade, a simplicidade e felicidade, de ser beijado de forma tão doce.

— Isso foi legal, não é? — Ele questiona quando se afasta, me olhando sereno, como se não estivesse afetado, como se não sentisse nada.

— Foi diferente. — Ele sorri.

— Sim, diferente, mas legal.

Legal. Há tantas outras palavras, tantas coisas a serem elaboradas, tantos verbos, sentimentos, frases a serem usadas como complemento, mas isso é tudo o que recebo. Legal. O que isso realmente quer dizer? O que todas as perguntas estão tentando me dizer? Como posso exigir clareza dele, quando sequer consigo isso de mim mesmo?
Legal. Tudo ainda é o que era antes? Tudo continua…igual?

Quando ele me olha agora, tão vulnerável à minha frente, confiando em mim, quando nem sequer consigo confiar em mim mesmo. Quando ele me olha agora, me sinto tão vulnerável à sua frente, tão exposto quanto ele, como se pela primeira vez eu estivesse sendo realmente visto, como se meus sentimentos se materializasse a minha frente, em frente a ele. Tenho medo de que ele não goste do que vê. Tenho medo do que posso ver.

— Você é realmente bonito, sabia? — Sua mão se estendeu alcançando meu rosto, o alisando, e me vejo fechando os olhos, entregue ao toque…a ele.

One more night Onde histórias criam vida. Descubra agora