Só mais essa noite

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Estou sendo egoísta novamente, eu o disse que não queria mais o que tínhamos, eu o disse para ir e não voltar, o dispensei sem sequer hesitar, o magoei evitando me magoar. E agora estou indo no seu apartamento às duas da manhã, não porque sinto sua falta, não porque amo ele, mas porque meu corpo precisa de algo que só o corpo dele oferece. Talvez ele sequer abra a porta, talvez me bata até que eu pare de ser como eu sou, mas isso não importa quando se está bêbado, não importa as palavras que li em sua redação, não importa se foram o motivo de eu estar nessa situação, embriagado, ferrado e provavelmente cometendo um erro. É tarde demais para voltar atrás, já estou em sua porta batendo meu punho contra o local que sei que se olhar para o lado vou ver um interfone.

— PUTA QUE PARIU, TÔ INDO. 

Já comecei o deixando puto, quais são as chances de o que quer que eu esteja fazendo dê certo? Não tenho resposta, pois antes que eu sequer possa me arrepender a porta se abre, e a feição de raiva de Boun se torna uma de surpresa, e depois magoada.

— Prem? O que faz aqui?

— Não sei, eu só…

— Você só?

— Precisava te ver.

Ele suspira, e sei que está se esforçando para não gritar comigo, me mandar embora, talvez socar a minha cara. Eu aceitaria qualquer coisa, mesmo bêbado, tenho noção de que mereceria, eu me manteria parado, não revidaria ou resistiria. No fundo desejo que ele faça isso, por mais um motivo egoísta, livrar minha mente da culpa.

— Prem...achei que você não quisesse mais fazer isso, você mesmo disse.

— Eu sei o que eu disse.

— Então por que você está aqui?

— Já disse…senti a sua falta, mesmo que eu não tenha o direito de me sentir assim ou de estar aqui.

— Você tem o direito de sentir o que quiser.

— Tenho direito de entrar também?

— Prem…

— Por favor, só mais essa noite.

— Você sempre diz isso.

— Eu sei, mas eu só vou ficar com você mais essa noite.

E então ele cede, abre espaço para que eu possa entrar, me permite ir cegamente para o seu quarto, me deitar no espaço vazio de sua cama, aquele local que no fundo eu desejo ser o único a ocupar. Depois de alguns segundos ele se deita ao meu lado, e mesmo tão perto, o sinto muito distante. Eu o encaro, tentando o ler como costumava, mas tudo que vejo é seu olhar vago, e desesperado para enxergar algo, eu me aproximo.

— O que você está fazendo?

— Eu não sei. — sussurro enquanto passo minhas mãos por seu braço e coloco nossos corpos lado a lado. — Eu só sei que preciso de você, do seu toque.

— Ainda vai precisar disso de manhã?

— Não sei.

— Não gosto de pessoas confusas.

— Você não pode gostar só hoje?

— Não sei.

— Não gosto de pessoas confusas.

Ele ri, e então me encara, cedendo aos poucos, me desejando em segredo, traindo sua mente, quebrando suas promessas, quebrando seu coração. Ele toca o meu rosto com receio, ele encara meus lábios com medo, porque ele sabe que isso é um erro, nós dois sabemos. Mas quero tanto cometê-lo, quero tanto tê-lo, só mais hoje, apenas por mais um tempo, um segundo, um minuto, uma hora, talvez o tempo inteiro.

One more night Onde histórias criam vida. Descubra agora