É a primeira vez que acordamos juntos em um lugar além do meu quarto, a primeira vez que acordo primeiro, que sou eu quem aprecia a imagem dele dormindo próximo a mim, se agarrando ao meu corpo como se não quisesse que eu me fosse. Não quero ir. Às vezes quando acordo em meu quarto, Prem já não está mais ao meu lado, ele sai silenciosamente, pega cada coisa que o pertence, limpa a cena do crime, me faz acreditar que o ontem nunca existiu, e então além de sozinho, acordo com uma parte de meu coração partido. Acho que ele gostaria de acordar sozinho, acho que a bebida é o único motivo de eu ser permitido de estar aqui, como se ir ao seu apartamento fosse cruzar algum limite que ele queria veemente deixar intacto, como abrir uma porta que ele deixava trancada com um cadeado. Ele quer que eu limpe a cena, pegue minhas coisas, limpe o sangue que cairia de meu corpo, porque no fundo ele sabe que uma parte íntima do meu ser sangra quando ele sai de fininho, que sangraria se eu tivesse que fazer o mesmo, como se fossemos estranhos, como se não fossemos nada. Ele quer que eu vá, talvez se odeie ao acordar e me ver, mas não consigo me levantar, me mexer, estou cansado de sangrar por ele, quero ser egoísta dessa vez.
Antes que meu dilema cesse e eu faça a escolha de Sofia, ele se ajeita ao meu lado, respira calmo e abre seus olhos, me encara com olhos que não sei ler, que ele não me permite aprender o fazer. Talvez eu deva me desculpar, dizer que eu estava planejando ir embora sem o acordar, mas não saiu sequer um suspiro de meus lábios, me sinto paralisado sob o seu olhar.
— Você está me encarando estranho. — Ele diz baixo, confuso.
— Não estou não.
— Está sim, parece até que fez algo errado, tem aquela feição de cão arrependido.
Não estou arrependido pois não sei se deveria estar. Me diga Prem, eu fiz algo errado?
— Você ainda está meio dormindo, está vendo coisas onde não tem!
Ele suspira e logo depois se afasta, tira suas mãos de mim, sua cabeça não descansa em meu peito, nossas pernas sequer se tocam.
Eu deveria ter ido.
— Se você quer ir embora, é só ir Boun.
Não quero ir, mas não sei se quero mais ficar.
— Do que você tá falando?
Ele odeia quando sou cínico, eu odeio quando ele vai embora, quando quer que eu vá.
— De você e essa sua feição, você acha que eu não aprendi a ler você? — Ele me encara com raiva, não sei o porquê, mas o encaro de volta, confuso, magoado. Sempre o encaro magoado.
— E o que você tá lendo Prem? Me fala porque eu não consigo ler você.
— Por que você só não diz que quer ir embora? Porque você sempre tem que ficar tentando me agradar? É exaustante ter sempre que interpretar o papel do cara mal.
— Então para! É só você parar com toda a atuação e me dizer o que você pensa, o que você quer! Porque também é cansativo para mim.
— O que eu quero é que você faça o que você quer ao invés do que você acha que eu quero! Eu quero que ao invés de me olhar com esses olhos tristes, você faça algo, que fale algo!
— Você quer que eu fale? Tudo bem. Eu passei minutos aqui deitado pensando que é a primeira vez que vejo o seu apartamento, minutos pensando se eu deveria sair de fininho como você faz às vezes ou se deveria ficar!
— E o que você quer? Você quer ficar ou ir?
Eu quero ficar, eu quero tanto ficar…
— Agora? Eu quero ir embora.
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One more night
RomanceEu não consigo tirar meus olhos dele, mesmo que minha cabeça diga não, meu corpo teima em o dizer sim, ele tem controle sobre mim. E eu não deveria ver um aluno da forma que eu o vejo, mas quando suas mãos estão em meu corpo, não penso direito, apen...