A última penúltima noite

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O sol irritante, insensível, me acorda com seu calor, com sua luz iluminando meu rosto, e meu primeiro instinto é olhar para o lado, para ver o que já esperava, um espaço vazio, tão vazio quanto me sinto agora. Com um sopro de coragem me levanto, evitando passar mais tempo em minha cama, caminho para cozinha sem olhar para trás, e me surpreendo a ser comprimentado com o cheiro deliciosa de café e a imagem de Prem com as mesmas vestes de ontem, sentado no balcão com uma expressão que reconheço, uma expressão que diz "Eu não te amo, mas eu fiz café hoje e queria fazer amanhã" mas não tem amanhã, não tem hoje, esse era o acordo.

— O que tá fazendo aqui ainda? — Ele se assusta e imediatamente me encara. Surpreso, talvez um pouco magoado.

— Não pareceu certo sair sem dizer nada.

— Parecia certo quando a gente transava, já que era o que você sempre fazia. — Silêncio.

Não me incomodo em pedir desculpas, em mudar meu comportamento, ser mais caloroso e compreensivo. A noite passada foi um deslize, uma recaída, e isso faz parte do processo.

— Eu li a sua redação. — Rio soprado enquanto me dirijo até a cafeteira para me servir café.

— E o que achou, professor?

— Achei que parecia uma facada no peito.

— Escrevi com caneta, todas as facas estavam para lavar.

— Você anda cheio de metáforas.

— E você cheio de papo furado.

— Uau, você realmente não me quer na sua vida mais, hein?

— Você sabe que não é isso.

— E o que seria? Você me trata como uma pedra no seu sapato!

— E você me tratou como Prem? Eu juro que nunca esperei muito, pedi muito, mas eu vivia de migalhas! Me parecia o bastante, Deus se você não tivesse dito que não queria mais continuaria sendo o suficiente para mim, mas esse tempo longe mudou a minha cabeça. Eu mereço mais!

— E eu mereço menos? Eu mereço frieza? Essa sua atitude seca e quase cruel?

— Não Prem, a verdade é que você não merece, mas é tudo que eu posso oferecer se não puder dar amor.

— Isso não é justo, você sabe disso. A vida não é oito ou oitenta!

— A vida também não é meio termo, água morna não esquenta no inverno.

Ele suspira, desvia seu olhar e encarou a porta, ansiando correr, porque se as coisas saem de seu controle ele foge.

— Se quiser ir eu não vou te impedir.

— Esse é o problema.

— O que você quer de mim Prem?

— Não é isso que eu tenho agora.

— É tudo o que vai ter.

— Não foi o que eu tive ontem.

— Ontem foi um erro. — Ele ri sem humor enquanto concorda com a cabeça.

— Talvez sim. Eu só queria dizer antes de ir embora, que eu entendo que o que eu fiz foi errado, que eu poderia ter lidado melhor com a situação, ter sido mais empático, menos egoísta. Eu sei que fui um babaca, e eu estou arrependido disso, eu estou aberto para fazer as coisas diferentes.

— Você me ama? — Ele abre e fecha a boca, incapaz de responder. — Quando você puder me responder isso você volta, porque eu mereço mais do que um "Eu gosto de você".

— Por que você não pode esperar? Levar as coisas devagar? Eu gosto de você, de verdade.

— Não Prem, você gosta de não estar sozinho, você gosta de alguém se arrastando até você, você gosta de ser fudido, mas você não gosta de mim, e isso deixa as coisas tão simples para você.

— Isso não é verdade…

— Claro que é! Eu amo você, mesmo que eu tente sair e ficar com outras pessoas eu não consigo, porque você se infiltrou na minha cabeça, mas se você sair? Se você sair é diferente, porque eu não sou a única pessoa que pode satisfazer o que você quer.

— Você está errado, eu não conseguiria.

— Então, prove.

— O que?

— Prova! Vamos a uma boate, você escolhe um cara legal, faz o que fez comigo, joga charme, provoca, e se não conseguir ficar com ele eu acredito e tento o que quer que você queira tentar comigo.  Mas você precisa realmente tentar ficar com esse cara.

— E se eu conseguir ficar com ele?

— Você me deixa em paz.

— Você tem ideia do quanto tudo isso soa estúpido?

— Não tanto quanto fuder com seu aluno.

Não é como se eu esperasse que depois de tudo o que passamos até chegar até esse momento, ele fosse de repente sentir o peito mais pesado na minha ausência, acelerado na minha presença, ou que sua pele queimasse ao pensar no meu toque, fervesse com o anseio de me ter. Ou talvez fosse exatamente isso que eu esperasse, um olhar que pede perdão, palavras que acalmam, um toque que me diga eu te amo quando sua boca não consegue formular palavras, droga, me enchi de expectativa porque ele me procurou em uma noite solitária como as outras, porque seu corpo fez uso do meu, um orgasmo e achei que poderia tê-lo, mesmo quando disse que não, mesmo que o trate com frieza, criei expectativas, e tudo o que me conforta é saber que ele também, porque Prem sempre me viu como o fraco que sede a ele facilmente, e talvez por pouco, hoje não teria sido diferente, mas foi, porque parte de mim não aguentaria voltar para aquele rotina. Então o olhando agora, totalmente estático com minha fala, talvez até magoado, de uma forma egoísta e beirando a crueldade, eu me sinto satisfeito em fazê-lo sentir um ponta da dor que me assola sempre que o vejo.

— Certo, vamos fazer isso.

É tudo o que ele diz antes de se levantar e sair batendo minha porta. Enquanto permaneço na cozinha, me convencendo de que funcionando ou não, eu tentei de tudo, e mereço seja qual for o resultado disso.

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(1) Notificação de Prem

Prem
Me encontre na boate Candy às 23:00h.

Vou te provar o que você quer e acabar com isso logo.

Responder                                     Ignorar

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