Doce Estranheza

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Mais uma vez, Rafaela se levantava da cama buscando forças para combater a constante sensação de solidão que sentia. Ela tentava ignorá-la, mas ela estava lá, junto com a ironia. Ironia porque estar em um país que não conhecia antes, que não era sua terra natal, tinha sido completamente ideia dela. Quando pensava assim, combatia essa conclusão com outra de suas desculpas, as circunstâncias ao seu redor tinham a obrigado a agir assim.

Encarando o dia, pensando que tinha muita coisa pela frente ainda, ela se levantou. Colocou o uniforme de recepcionista rapidamente e se dirigiu até o local de trabalho. O Hotel não era um resort em meio aos vários outros que o cercavam, que tinham mais a cara de San Diego como uma cidade litorânea e turística, mas servia seu mais simples propósito, um local onde pessoas se hospedavam, pessoas de todo tipo, incluindo o ocasional turista, mesmo não sendo esse seu foco.

Rafaela lavou o rosto antes de chegar ao seu posto, procurando se refrescar, tentar se sentir melhor. Ali, por trás do balcão, colocou seu sorriso mais corajoso no rosto e começou o trabalho, orientando os clientes, fazendo seus check-ins, desejando uma boa estadia.

Quando ainda era uma novata, ouvia muito o comentário de não ser muito bem entendida pelo seu sotaque, o que a fazia perder a paciência por dentro, porém, respirar fundo, e falar novamente mais devagar. Não era todos que a tratavam assim, mas ainda assim, ficava com a sensação de que pensavam que ela era incapaz por não falar direito, o que não era verdade. Uma palavra ou outra podia soar carregada, mas ela tinha conseguido neutralizar seu sotaque depois de 3 anos ali.

Quando o tempo de movimento passou, e tudo ficou mais tranquilo, Rafaela se pôs a observar seus arredores. Era um hábito que ela tinha criado ao longo dos anos, era o que conseguia fazer para se precaver de qualquer gafe que poderia surgir, tentar não passar vergonha depois de ter passado tantas vezes, não importasse o país onde estava.

E agora, seus olhos atentos tinham capturado uma figura inusitada. Era um rapaz ali no hall, mais precisamente, no restaurante do hotel, sentado, pensativo, com o olhar voltado pela janela em direção ao mar. Rafaela notou o singelo, quase imperceptível sorriso que ele deu naquele momento, logo voltando a ficar mais sério, quase emburrado, mas não tanto.

Além de todos esses detalhes humanos, um detalhe físico chamou sua atenção, um distinto bigode sobre seus lábios. Barbas nos rapazes e homens ela até poderia compreender, eram comuns ali, o que se classificava como moda, mas um bigode, não era comum assim, talvez fosse uma escolha do rapaz de ter estilo próprio e ser diferente. Rafaela mal sabia que tinha um motivo mais profundo que isso para ele escolher se barbear daquele jeito.

Depois de todo esse conjunto de observações, outra coisa chamou a atenção dela, ele não era um hóspede, se fosse, se lembraria dele. Geralmente se lembrava de todo mundo, mas ele não tinha passado por ela em nenhum momento, talvez, no fim das contas, estivesse esperando por alguém que o encontraria ali.

Como que lendo os pensamentos dela e dando a resposta pela qual Rafaela tinha começado a ansiar, o homem do bigode se aproximou do balcão. Ela simplesmente deixou seus devaneios e deduções de lado e se preparou para fazer seu check-in.

-Seja bem vindo - ela disse seu treinado cumprimento - o que posso fazer por você?

-Ah oi, eu quero um quarto, por três dias - ele respondeu, esclarecendo o que estava fazendo ali.

-Claro, seria só para o senhor? - ela continuou, apenas checando as informações.

-Sim, isso mesmo - ele confirmou.

-Seu nome, por favor - Rafaela agora tinha os olhos na tela, esperando pelas informações.

-Bradshaw, Bradley Bradshaw - ele respondeu e a recepcionista apenas computou tudo.

-Muito bem, quarto 247, vou buscar a chave e o senhor pode assinar aqui pra mim, por favor - ela indicou o tablet e a caneta, enquanto se abaixou para pegar a chave.

Rafaela observou a caligrafia dele, fazia isso com todos os clientes, mas algo na maneira como ele segurou a caneta e escreveu seu nome, deixando a escrita ali, chamou a atenção dela.

-Aqui está sr. Bradshaw, aproveite sua estadia no Golden Rays - ela sorriu da forma condicionada de sempre, mas o estranho, ou melhor o cliente do hotel chamado Bradley, sorriu genuinamente.

-Obrigado - ele agradeceu e se foi, com certeza desfrutando do seu próprio quarto.

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Se tinha uma coisa que Bradley tinha que admitir sobre si mesmo, sobre como se sentia antes de ser convocado a Top Gun e reencontrar Maverick, era o quanto ele se sentia perdido. Em sua cabeça e talvez em seu coração, sua vocação sempre seria os ares, um piloto de caça como seu pai, como seu tio Pete. De alguma forma, os dois o tinham influenciado nisso e depois ele foi impedido de entrar para a Marinha, não tinha como Bradley compreender por completo o que Maverick queria dele.

Depois de toda missão que passaram juntos, conseguiram ao menos arranhar a superfície desse iceberg de sentimentos mal resolvidos e conseguiram se reaproximar. Essa parte da vida de Bradley tinha encontrado um rumo, já a outra, parecia um longo caminho pela frente com um milhão de possibilidades, o que realmente era.

Ele tinha sido convocado à base de San Diego e ficaria ali pelo menos durante um ano. Enquanto não achava um apartamento, resolveu se hospedar no Golden Rays. Sentado ali sozinho, apreciando a janela, deixou ser tocado pela solidão que o circundava. A saudade de seus pais bateu mais uma vez, ele apenas suspirou e fechou os olhos. Esperava que, não importasse onde eles estivessem agora, estivessem orgulhosos dele. Esse pensamento o fez sorrir por um breve momento.

Com sua decisão tomada, ele então se levantou, acertando sua estadia no local. Não dava para não notar as características discretas da recepcionista. Usava óculos, o cabelo todo estava preso firmemente em um coque com alguns fios cacheados teimando em escapar perto de sua orelha, ela era simpática, mas dava para notar algumas expressões forçadas no canto de seu sorriso, provavelmente fazia isso o dia todo, toda vez que falava com um estranho. Mesmo assim, Bradley sentiu sinceridade em sua empatia. Ele leu rapidamente o crachá no bolso esquerdo do uniforme, Rafaela, mas não chegou usá-lo ao cumprimentá-la.

Depois de tanto pensar, resolveu que um cochilo em seu novo quarto era mais que merecido. Apenas descansou, deixando as responsabilidades do próximo dia para quando ele chegasse.



A/N.: Então... (pra quem já lê minhas história há um tempo, já sabe que agora vem meu textão explicativo sobre os motivos que me levaram a escrever essa história kkkkkk)

Eu estou super atrasada para o hype de Top Gun Maverick, mas antes tarde do que nunca eu acho. Bem, eu assisti o filme recentemente motivada  por todo burburinho do Oscar e o Miles Teller que é um crush antigo e enfim, temos essa história aqui. Outra coisa que me motivou a escrever com esses temas foi eu estar passando por várias mudanças na minha vida. Algumas delas, super boas, de verdade, mas como são coisas novas, eles me causam um pouco de medo e receio. Escrever sempre foi minha terapia pra me ajudar com os percalços da vida, então vocês vão ver muito esse tipo de sentimento na nossa protagonista. Espero que decolem (entenderam? kkkkk) nessa jornada comigo e aproveitem a viagem. Até o próximo capítulo.

Sutil InsistênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora