Aceitação

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Bradley precisou de alguns minutos para ao menos processar o que tinha acabado de acontecer. Primeiro, Rafaela o tinha beijado, sem aviso prévio, apesar do abraço. Ainda assim, esse primeiro gesto não queria nada sobre um beijo a seguir. Segundo, a pobre moça tinha deixado seu acompanhante para trás, o mesmo que o tinha trazido até ali. Terceiro, Bradley tinha sido deixado para trás, perto do teatro, tentando entender o que tinha acontecido.

Deixando a confusão para trás conseguiu se concentrar no que julgava ser mais importante no momento, o bem estar de Rafaela. Mas ao mesmo tempo, pensou se não seria invasivo. Se estivesse correto, e francamente, Bradley acreditava estar, ela estava se sentindo culpada e ele era a última pessoa no mundo que ela gostaria de ver. No entanto, precisavam conversar sobre o que tinha acontecido. Afinal, ela gostava dele também e finalmente tinha criado algum tipo de coragem para manifestar isso? Ele também estava certo que não obteria essa resposta naquela noite.

Antes que voltasse para casa, só restou a Rooster um último recurso, mandar uma mensagem perguntando se ela tinha chegado bem em casa. Não perguntar se ela estava bem, muito menos o que tinha acontecido, essas seriam perguntas assustadoras para Rafaela no momento.

Ele dirigiu para casa e decidiu que sua pobre amiga precisava de um tempo para conciliar o que tinha acontecido com ela, afinal.

Rafaela estava em completo estado de agonia e pânico. A culpa ainda era presente, enquanto se perguntava porque tinha beijado Bradley. Será possível que ela tinha na verdade aprendido a amá-lo todo esse tempo que estavam juntos? E que o sentimento de proteção, cuidado, de desejar que ele estivesse sempre bem e feliz a fez consolá-lo de uma forma ousada demais? Ela aceitou acreditar nessas respostas que seu coração a revelava.

Constatar isso a ajudou a se acalmar. Depois, pensou apenas em pedir desculpas, precisava pedir desculpas pessoalmente para ser mais efetivo e mostrar seu sincero arrependimento. Quanto ao amor que sentia, resolveu ignorá-lo. Bradley era um bom amigo, e ela não queria perdê-lo, muito menos para a ilusão que a provocou a vida toda, a possibilidade de se casar e ter sua própria família um dia. Isso não iria acontecer agora, e pelo jeito, nunca.

Antes que dormisse, Rafaela viu a mensagem de Bradley. Se sentiu culpada pela enésima vez naquela noite, por deixá-lo pra trás preocupado com ela, dessa vez. Decidiu apenas responder que sim, tinha chegado em casa e que falaria com ele depois.

A Bradley, só restou entender e aguardar uma resposta da parte dela. Sabia que ir atrás de Rafaela e pressioná-la a falar só colocaria tudo a perder. Mais uma vez, escolheu a paciência e esperou por ela.

Na base naval, ele procurou ficar o mais calado e concentrado possível, desviando a preocupação com Rafaela com as atividades de líder da equipe. Sua concentração era necessariamente fundamental, e foi assim que ele agiu durante os treinos o tempo todo, no entanto, como sempre e atenta, Natasha percebeu que havia algo de diferente nele. Ele mais tinha ouvido as conversas ao seu redor do que participado delas de fato. Antes que cada um fosse para sua casa, ela fez questão de se despedir apenas com uma declaração.

-Você sabe que pode contar comigo pra qualquer coisa, não sabe? – Phoenix cruzou os braços na frente dele, séria, mas compreensiva.

-Eu sei, e eu também sei que hoje foi um dia que eu agi estranho, foi uma coisa com a Rafaela – ele contou, sem se ater aos detalhes – ela precisa de um tempo e eu estou dando.

-Entendi – Phoenix assentiu lentamente – eu só posso desejar boa sorte.

-É, eu também quero – ele contorceu um pouco o rosto, sem saber muito bem como responder àquilo, como esperar.

-Te vejo amanhã, Roost, procure descansar – ela recomendou.

-Eu vou, prometo – aqui, apesar de tenso, ele ao menos conseguiu sorrir, grato pela amiga ser tão atenciosa.

Depois de um banho e deitar um pouco no sofá, Bradley tentou descansar, realmente precisando disso depois de um dia de trabalho, mas foi interrompido por uma mensagem de Rafaela, pedindo que ele fizesse uma visita assim que pudesse.

Ela estava disposta a conversar e resolver toda a questão de uma vez. Rapidamente, Bradley respondeu com uma mensagem positiva, que iria imediatamente se ela pudesse recebê-lo agora. Com coragem, Rafaela respondeu que sim.

Não demorou muito pra que Bradley chegasse, ao aviso do porteiro de que ele estava procurando por ela, Rafaela autorizou sua subida com um suspiro. Tinha passado os últimos minutos ensaiando o que ia dizer, de modo que fosse sincera, direta e clara, não queria se iludir nem iludi-lo.

Ao bater da porta, ela abriu e o encontrou com expectativa. Era justo com o tenente, ele não tinha muita ideia do que a conversa poderia se tratar, além da maneira com que Rafaela tinha fugido dele.

-Pode entrar, por favor – ela disse baixinho, abrindo o caminho.

-Obrigado – Bradley respondeu com educação, tentando não reparar muito no interior do apartamento, que era um local simples e pequeno.

-Pode se sentar – ela deu uma segunda instrução e seu amigo tentou se acomodar no sofá, ela fez o mesmo logo em seguida.

-Então... – ele tentou dizer alguma coisa que iniciasse a conversa, ainda sem entender muito bem o que estava acontecendo.

-Eu preciso te pedir desculpas pelo que eu fiz – Rafaela foi direta e sincera, conforme sua decisão – eu não deveria ter... meu Deus, eu nem consigo dizer...

-Não deveria ter me beijado? – Bradley deduziu, tentando ajudar, mas se sentindo constrangido assim que as palavras saíram de sua boca.

-É, eu não devia – ela assentiu, continuando, apesar de sentir o rosto quente – você tem sido um bom amigo, e eu acho que confundi as coisas.

-Como assim? – ele precisava de mais esclarecimentos.

-Eu deixei claro que nossas saídas juntos não eram encontros, que não tinha chance nenhuma de eu ter um relacionamento amoroso, e por um momento de fraqueza, porque eu me compadeci da sua situação, achei que podia de consolar daquela forma – Rafaela suspirou, tentou evitar o choro – Bradley, eu mesma me iludi de novo com a sua bondade, você só estava sendo gentil, se... não quiser me ver de novo, eu vou entender.

-Rafaela, calma – ele disse firmemente, fazendo questão de olhar bem nos olhos dela – está tudo bem, sério, eu não me ofendi, se é isso que te preocupa, mas eu preciso discordar de você numa coisa.

-No que? – ela só queria saber o que ele estava pensando.

-Há chance de você ter um relacionamento, porque eu amo você – ele afirmou com todas as letras, não tinha como não confessar depois de ela se achar tão culpada por algo que tinha feito.

-Não, não... não precisa fazer isso... isso é loucura... – aqui, ela não conseguiu mais se conter e deixou as lágrimas rolarem – eu sei que eu não tenho nenhum atrativo, eu sou arredia, fechada, completamente desinteressante, não precisa fazer isso.

Bradley suspirou, buscando alguma paciência dentro do amor que sentia por ela.

-Como eu não amaria você? Você é gentil, tem um grande coração, sempre foi atenciosa comigo, e todos os momentos que passamos juntos foram incríveis, essenciais pra mim, foi por causa deles que me apaixonei por você, e não importa o que outras pessoas te fazem pensar sobre você, eu sei quem você é, Rafaela, e eu amo quem você é, pode acreditar em mim, mais essa vez? – ele abriu seu coração sinceramente, esperando que resolvessem sua situação de uma vez por todas.

Ela o encarou atônita, assustada, surpresa. Nunca ninguém tinha dito palavras como aquelas para elas, e ela tinha deixado de sonhar em ouvir algo como aquilo há muito tempo, mas era um momento bem real. Bradley Bradshaw era um homem bem real, ali na frente dela, abrindo seu coração, o entregando por completo nas mãos instáveis e inseguras dela. Só restava a Rafaela aceitá-lo.

Ela o abraçou de supetão, arrancando um suspiro surpreso do tenente, o segurando com toda força. Bradley deixou que ela chorasse em seu peito, levando o tempo que fosse para se acabar. Suas mãos massagearam as costas dela, em delicados movimentos circulares. Era o conforto que ela estava procurando pela vida toda. Mesmo com suas imperfeições, Bradley era simplesmente perfeito.

-Eu te amo também – Rafaela confessou numa voz abafada, mas o suficiente para ele ouvir.

Bradley sorriu de alívio, longe dos olhos dela. Mesmo assim, ela sentiu o coração dele bater mais forte. Era tudo que precisavam no momento.

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