Breve Caminho

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Conforme o combinado, Rafaela não demorou em enviar seu endereço para Bradley, e por volta das 9:30 da manhã, no domingo, ela esperou pela carona em frente ao seu prédio. Ficou pensando que não queria dar a ele o trabalho de subir até seu andar. 

Quanto a Bradley, ele ficou preocupado em se atrasar, devido a um pequeno problema de figurino. Ele não sabia exatamente o quão formal tinha que ir, se era melhor usar gravata e paletó, ou paletó sem gravata ou nenhum dos dois. Por via das dúvidas, e já se sentindo com calor, deixou a gravata e o paletó no carro. Tiraria a dúvida diretamente com quem poderia responder.

Ele passou lentamente com o Bronco pela rua indicada, procurando o prédio. O GPS dizia que ele estava no lugar certo, porém não encontrou ninguém por ali além de uma única moça. Se precisasse, entraria no prédio e perguntaria por Rafaela. Teve que olhar mais de uma vez para a pessoa ali para reconhecer a moça que estava se tornando sua amiga. Com certeza, para a mente de Bradley, o que mais se destacava ali e a deixava inconfundível eram os óculos quadrados, de cor azul escura. No entanto, era a única característica dela que ele conhecia até então que tinha se mantido ali.

Seu cabelo cheio, cacheado e volumoso emoldurava seu rosto, ela usava um casaco simples branco por cima do vestido azul escuro que ia abaixo dos joelhos. Seus sapatos eram bege, com saltos não tão altos, de forma que eram confortáveis e que dava para andar tranquilamente usando eles.

Toda aquela aparência provocou um susto em Bradley, ela era uma moça muito mais bonita do que o uniforme verde água de recepcionista e o cabelo preso permitiam. Ele engoliu em seco, apenas processando o fato de que achava Rafaela bonita. Ainda assim, a parte racional dele o impediu de usar qualquer elogio do tipo, talvez ela ficasse constrangida, pelo que conhecia dela até agora.

Ao ver o carro se aproximando, Rafaela se abaixou um pouco para conferir se era Bradley mesmo.  Ela apenas acenou e ele assentiu, um cumprimento silencioso, mas que foi entendido. 

-Eu posso entrar? - ela perguntou.

-Claro - ele respondeu prontamente - deixa só eu destravar as portas.

Rafaela assentiu de novo, deu a volta e se sentou no banco do passageiro.

-Bom dia - ela desejou de forma cortez.

-Bom dia - ele respondeu no mesmo tom - então, você pode ir me guiando durante o caminho ou prefere que eu use o GPS?

-O que você preferir - Rafaela replicou, um tanto constrangida, era uma decisão simples que tinha caído nas mãos dela e, pelo que ela chamava de falta de tato com pessoas, ela simplesmente não sabia o que responder. Bradley notou seu nervosismo e então decidiu pelo GPS. Achou que se Rafaela não precisasse falar, ficaria mais à vontade.

-É só digitar e eu sigo o caminho - ele instruiu antes de começar a dirigir outra vez.

Bradley passou o celular para ela e era difícil não notar as fotos de bloqueio e papel de parede, uma foto tirada com alguns rapazes e a mesma moça que Rafaela tinha visto no hotel conversando com ele. Depois,  tinha um casal parecidos com ele, o que certamente significava que eram os pais dele, mas porque era uma foto claramente antiga, Rafaela não tinha ideia. Ela parou de bisbilhotar sem querer e apenas digitou o endereço, devolvendo o celular logo em seguida.

Eram uns vinte minutos de trajeto relativamente tranquilo, afinal, era final de semana e cedo, não havia muita gente na rua naquele momento. No meio do trajeto, Bradley então se lembrou do seu dilema e fez sua pergunta.

-Rafaela, eu tenho uma dúvida sobre sua igreja - ele disse e ela apenas o olhou em resposta, esperando ele prosseguir - eu não sei se é obrigatório usar paletó e gravata, eu trouxe de precaução de qualquer forma, então... eu preciso usar?

-Não, não se preocupe - Rafaela acabou sorrindo de forma bondosa enquanto falava - alguns homens preferem, mas não é obrigatório, mas foi uma boa escolha você usar uma roupa mais social.

-Obrigado - ele acabou rindo, o que fez quebrar o gelo um pouco.

Um pouco mais à frente, Bradley virou à direita no meio de um bairro aconchegante, começando a ver a torre da igreja despontar no fim da rua. Era uma construção que parecia imitar algo mais antigo, uma capela construída com pedras, parecia quase tirada de algum romance de Jane Austen. Simplesmente um lugar acolhedor, ainda mais com as árvores ao redor dela. 

Ele localizou rapidamente o estacionamento e então parou, saindo do carro e deixando que Rafaela guiasse o caminho. Algumas pessoas ali na entrada falaram com ela, e a moça pareceu mudar completamente, ela perdeu a rigidez, trocada por uma simpatia mais genuína e sorrisos acolhedores enquanto trocava palavras gentis com quem estava falando. Em dado momento, uma senhora lhe deu um abraço caloroso, o que deixou Bradley um pouco comovido. Era como se ele sentisse que aquilo era justamente do que Rafaela precisava, que ele não tinha o direito ou a quantidade de intimidade suficiente para dar, nem sabia se era isso mesmo que queria.

Tirando-o do meio de suas próprias reflexões, a senhora que abraçou Rafaela se voltou para Bradley.

-Quem é seu amigo? - ela quis saber, de forma doce.

-Ah esse é o Bradley, Bradley Bradshaw, sra. Rivera - Rafaela acabou tomando a frente, o que a fez se arrepender logo em seguida - quero dizer, desculpa, ele pode se apresentar por ele mesmo, eu não sei o que me deu.

-Está tudo bem, mesmo - ele tranquilizou as duas - é um prazer conhecê-la, sra. Rivera.

-Igualmente, sr. Bradshaw - ela sorriu - seja bem vindo e fique à vontade.

-Obrigado - ele agradeceu e então Rafaela e ele terminaram de chegar.

Ela indicou um banco, mas o fato de ela não se sentar o deixou levemente desconfiado.

-O culto está prestes a começar - ela avisou - eu não vou poder ficar aqui, porque eu tenho uma coisa pra fazer, mas assim que terminar, encontro com você de novo.

-Tudo bem - ele respondeu brevemente, imaginando do que se tratava mais aquele aspecto diferente.

Se queria conhecer Rafaela melhor, estava realmente funcionando.

Por curiosidade, ele observou o caminho que ela fez, indo se sentar diretamente ao piano que estava no altar. Entender o que aquilo significava fez Bradley sorrir sozinho. Ficou contente por eles terem algo em comum.

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