Atingindo as Alturas

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Subir em um avião veio mais cedo do que o pequeno Nick esperava. Agora, seus pais concordavam, ele não era mais tão pequeno assim, tendo seis anos completos. Ele cresceu entre duas culturas, um pouco das praias e calor de São Diego, um pouco da comida e língua de São Paulo, o que fazia se sentir um tanto especial, sendo um pouco americano, um pouco brasileiro.

As influências dos seus pais não paravam por aí. Era claro que ele pensava que o pai era um verdadeiro super herói quando o via de uniforme completo, fosse o macacão do dia-a-dia, fosse a farda com o quepe, Bradley parecia invencível para o filho. Ainda mais quando ele se juntava com o Dagger Squad, o que fazia Nick pensar que eles eram um verdadeiro time de super heróis.

No seu aniversário de 6 anos, Nicholas tinha ganhado um modelo de avião para ser montado, o que seus pais o ajudaram a fazer alegremente, passando um delicioso tempo de qualidade em família. Mas o que pegou Rafaela de surpresa foi um outro pedido em meio ao projeto.

-Pai, você voa num desses todos os dias, não é? – ele quis confirmar.

-Ah sim, pode apostar que sim – Bradley respondeu a ele, ostentando um sorriso orgulhoso.

-Você sabe disso, Nick, por que a pergunta? – Rafaela ficou atenta.

-Eu tava pensando se... a gente não podia andar de avião – Nick começou seu pedido.

-Mas a gente sempre anda de avião – sua mãe explicou.

-Não, mãe, não um avião pra viajar, tipo quando vamos daqui visitar o vovô e a vovó e o tio Renato – ele baixou os olhos e então continuou – queria andar em um avião pilotado pelo papai.

-Ah Nick, eu não sei... – sua mãe vacilou.

-Eu sempre tentei te convencer e você nunca quis, talvez agora seja uma oportunidade de irmos em família – Bradley completou, se aproveitando da situação.

-Como assim, tentou convencer? - Nick não sabia sobre essa história e quis entender melhor.

-Bom, o seu pai sempre insistiu comigo pra que a gente voasse, no aeroplano do vovô Mav, mas eu sempre tive medo - Rafaela simplesmente contou ao filho.

-Eu não entendo, eu sei sobre o risco... - aqui, Bradley fez uma pausa, limpando a garganta, se lembrando que o filho era muito novo e ele não queria assustá-lo com toda aquela complicação - bem, eu sou um piloto muito capaz, Rafa, você sabe disso.

-E você também entende o meu receio - ela suspirou - é claro que eu confio em você, meu amor, talvez sou eu que tenha medo de estar só nós dois lá em cima e...

-Vai ser nós três! - gritou Nick de alegria - se for nós três você também não vai sentir medo, certo?

-Ah Nicholas - a mãe dele passou uma mão pelo rosto, um tanto frustrada, um tanto preocupada.

-Nós só vamos fazer isso se você querer - Bradley fez questão de assegurar à esposa, segurando a mão dela de forma reconfortante.

-Por favor, mãe, você tem que querer! - Nicholas insistiu mais um pouco.

-Eu prometo que vai ser seguro - o pai do menino disse com convicção.

-Muito bem, vocês venceram! - Rafaela ergueu as mãos em rendição - nós vamos voar juntos!

-Isso! - Nicholas comemorou e deu à mãe um abraço apertado e inesperado, que fez Rafaela se sobressaltar.

-Tudo bem, garotinho, tudo bem - ela deu tapinhas leves em suas costas.

Bradley sorriu de orgulho ao ver a cena, sabendo que aquele era um grande passo para Rafaela, superar seus medos mais uma vez em sua vida.

Assim, alguns dias depois, a família fez como combinado. Maverick cedeu o avião a pedido do afilhado, o que fez com que Nick ficasse encantado ao ver o aeroplano. Seu pai sentiu o peito se encher de orgulho, chegando até a dar uma gargalhada ao observar a cena. Rafaela estava em lado, lhe dando um tapinha leve no braço, entendendo bem o que ele estava pensando.

-O eu posso fazer? Tá literalmente no sangue dele - ele deu de ombros.

-Tudo bem - Rafaela cedeu, de coração.

Assim, Bradley tomou a frente da família e deu suas instruções para o que eles deviam fazer. Ele ajudou Rafaela e Nick subirem no avião, verificando os equipamentos de segurança e comunicação, antes que ele mesmo tomasse seu posto.

-Muito bem, estão prontos? - ele disse, já sentado na cadeira do piloto, com os controles a postos, dando uma olhada por cima do ombro na esposa e no filho.

-Sim! - Nick gritou animado, o que fez os pais erguerem os ombros um pouco, por causa do som alto.

-Estamos - o suspiro de Rafaela passou pela comunicação dos fones, mantendo a calma.

Em seguida, Bradley checou os controles de forma diligente como um verdadeiro profissional, deu a partida no aeroplano, e aos poucos, o avião foi atingindo o céu. 

Rafaela sentiu o estômago descer, como se alguém a quisesse puxar para baixo, de volta. Ela apenas fechou os olhos, respirou fundo e se concentrou em prestar atenção nas medidas de segurança que a protegiam, mais a habilidade impecável de Bradley. Estava tudo bem e continuaria assim.

Ela então percebeu o sorriso admirado de Nicholas, observando o céu, sua mão quase se esticando para pegá-las. Foi aí que ela mesma conseguiu aproveitar melhor a vista, podendo apreciar a obra perfeita da natureza.

Bradley deixou que a sensação de orgulho e felicidade enchesse seu peito. Não havia momento melhor do que aquele, em que ele estava fazendo o que mais amava na vida, com as pessoas que mais amava na vida.

Ele então fez uma oração silenciosa, agradecendo por poder viver aquele momento, pela oportunidade de estar com uma família, de não se sentir sozinho. Mal sabia Bradley que era esse o pensamento de Rafaela naquele momento. 

A vida que construíram juntas não podia ser mais perfeita. Eles desejavam que Nick tivesse essa felicidade quando fosse mais velho, fosse na terra ou nas alturas.





A/N.: Bom, esse foi o fim dessa história. Foi uma aventura e tanto escrevê-la, muita coisa aconteceu desde que eu comecei, mas aqui chegamos ao fim dela. Muito obrigada a cada um que seguiu e leu até aqui. Até a próxima!

Sutil InsistênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora