Agradável Companhia

90 8 0
                                    

Depois de alguns momentos juntos e, depois de algumas confissões pessoais, tanto Bradley como Rafaela concordavam que o gelo tinha sido quebrado entre os dois. Consideravam-se igualmente amigos, mesmo com o piloto ainda tendo sentimentos conflitantes em relação à recepcionista.

Estava nutrindo uma real afeição por ela, que gostaria de levar para um próximo nível, porém tanto as reservas de Rafaela em sua vida, como as próprias preocupações dele segundo sua profissão, eram freios para suas ações. Por ora, resolveu apenas desfrutar da companhia dela, enquanto pudesse, pelo tempo que guardasse seu segredo.

Alheia a tudo isso, mas também disposta a valorizar essa amizade, Rafaela se dispôs a vencer seus medos, suas amarras e manter Bradley por perto, afinal, eles precisavam mesmo um do outro.

Ela o convidou para mais alguns eventos, um debute de 15 anos de uma adolescente, outro casamento e até mesmo uma formatura. Acabaram se divertindo outra vez, com Rafaela dando cada vez mais espaço para Bradley tocar com ela.

No momento oportuno, segundo o julgamento dele, Bradley apresentou sua icônica versão de "Great Balls of Fire", acabou que os pais dos formandos se empolgaram mais do que os próprios homenageados da festa.

-Que música é essa? - Rafaela perguntou logo depois que ele terminou de cantar e tocar.

-O que? Como assim você não conhece essa? É um clássico! - ele se surpreendeu, um pouco indignado.

-Desculpe, eu cresci no Brasil com os clássicos de lá, só fui ter certo contato com música internacional aqui - ela se explicou, dando de ombros.

-Certo, eu perdoo sua falta de conhecimento - ele brincou de volta, relevando a situação - era uma das favoritas do meu pai, eu costumava cantar com ele e tio Mav.

-Entendi, tem um valor sentimental - ela assentiu, compreensiva.

-É - ele respondeu quietamente, se lembrando de Nick outra vez.

Rafaela entendeu a situação e lhe deu um pouco de tempo. Ele deixou que ela voltasse a tocar, embalando um pouco mais a festa dos formandos. Ao fim da noite, Bradley a deixou em casa, mas antes que ela descesse, foi surpreendido por algumas mensagens no grupo do Dagger Squad.

Bob- Sentimos sua falta hoje no bar.

Fanboy-Está tudo bem?

Hangman- Está trocando a gente por outra equipe, eu sabia!

Coyote- Não liga pra ele!

Phoenix- Se cuida, Roo...

Payback- Até segunda!

Hangman-Segunda a gente conversa!

-Está tudo bem? - Rafaela perguntou, um tanto preocupada, vendo meia dúzia de expressões em Rooster ao olhar para o celular.

-Sim, não é nada - ele respondeu prontamente - são só os meus amigos pegando no meu pé, como sempre, dizem estarem sentindo minha falta.

-Ah eu não quero tirar você do convívio deles, aliás, me desculpe se estou causando problemas, eu deveria ter pensado nisso antes, você já tem seus amigos, uma namorada, eu não deveria tirar seu tempo deles - Rafaela se desculpou, se achando culpada pela situação.

-O que? Não, não, eu gosto de passar um tempo com você, eu tenho tempo pra você e pra eles e não tem namorada nenhuma na história - ele esclareceu.

-Mas eu achei que você tivesse, digo, a moça que te visitava no hotel - ela trouxe sua própria evidência equivocada à conversa.

-O que? Ah não, você não é a primeira a nos confundir com outra coisa - Bradley se segurou para não rir - a Phoenix, Natasha, é minha melhor amiga, ela é piloto do time.

-Entendi - Rafaela baixou a cabeça, um tanto envergonhada.

-Ela tá mais pra uma irmã do que qualquer outra coisa, aliás, eu nunca tive sorte com relacionamentos mesmo - ele acabou deixando escapulir a nova informação.

-Mesmo? - Rafaela não estava muito convencida daquilo, apenas se censurou outra vez por achar que Bradley estava mentindo de novo - acho que temos isso em comum.

-Por que? - ele devolveu a questão para ela.

-Eu... - ela suspirou profundamente, chegando até a fechar os olhos - tive alguns crushes ao longo do caminho, completamente obcecada por desconhecidos gentis, colega de turma, amigo do trabalho, mas eu nunca tinha coragem de falar o que sentia, fora isso, eu nunca fui correspondida, eu não acredito que alguém tenha se apaixonado por mim durante todos esses anos.

O tamanho da sinceridade da declaração fez Bradley se sentir estupefato, em completo silêncio, absorvendo o que Rafaela acreditava ser verdade. Queria provar que ela estava errada, mas se conteve pelo próprio bem dela. Deixou se levar pelas memórias das suas próprias aventuras amorosas.

-Eu nunca tive um relacionamento sério - Bradley confessou - eu tive alguns flertes na época da faculdade e da academia, mas eu acho que no fundo estava só me divertindo, eu não queria me apegar a ninguém, já tinha perdido meus pais, não queria perder ninguém mais que fosse importante.

-Entendi, só dá pra imaginar a dor da sua perda, eu sinto muito, por tudo - ela chegou a tocar o braço dele de forma reconfortante.

-Obrigado - ele apenas sorriu, tentando espantar o clima pesado que tinha surgido de repente - bom, eu adorei o dia, é sempre bom tocar com você.

-Eu acho a mesma coisa - Rafaela concordou, contente.

-A gente podia repetir a dose no Hard Deck uma hora dessas, sabe? Eu podia te apresentar pros meus amigos, claro, se você quiser - ele sugeriu com boa vontade.

-Hã, não me leve a mal, Bradley, é só que... por mais irônico que possa parecer, lugares cheios me deixam claustrofóbica, não é a mesma coisa de me apresentar em público em festas e na igreja - ela deu suas próprias desculpas, lamentando o fato de tirar a alegria dele por causa do convite.

-Entendi, é que nesses outros lugares você está trabalhando, fazendo algo que gosta - ele respondeu suas próprias deduções, não deixando de estar um pouco chateado.

-Mas eu pensei que... - ela suspirou profundamente e o olhou com coragem - você tem sido um anjo por me acompanhar em todo evento, e acho que seria justo eu ir até um dos lugares que você gosta com você, eu só... preciso de tempo, pra me acostumar com a ideia e lidar melhor com isso, entende?

-Entendo - ele assentiu e conseguiu sorrir de forma compreensiva - imaginei que poderia se sentir assim, eu só quis arriscar a tentativa.

-É, você não estava errado, já me conhece muito bem - ela assentiu, um pouco envergonhada, chegando a corar - bom, isso não é um não para o seu convite, apenas um adiamento de um sim.

-Já é um sim de alguma forma - ele deu a Rafaela um sorriso maior dessa vez, mostrando que estava tudo bem apesar da pequena recusa dela.

-Obrigada de verdade, Brad - ela respondeu com alívio.

-Não tem de que, de verdade - ele repetiu a mesma palavra dela, sentindo-se melhor.

Ela então desceu do carro, desejando uma boa noite, mal acreditando na sorte que tinha de conhecê-lo.

Sutil InsistênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora