Pensamento insistente

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-Você sabe que eu passei um tempo num hotel antes de encontrar o apartamento - Rooster começou sua história - e bem, eu acho que eu fiz amizade com a recepcionista.

-Ah... - Phoenix começou a entender do que se tratava, mas um segundo depois ficou confusa - como assim acha?

-Primeiro, não é o que você tá pensando - ele citou, contando nos dedos - e segundo, eu não tenho certeza se somos amigos porque aconteceu uma espécie de confusão.

-Espécie de confusão? Eu é que estou confusa com essa história, não dá pra entender o que você quer dizer ou o que aconteceu - ela interrompeu o relato com sua própria indignação.

-Calma, eu vou chegar onde faz mais sentido - aqui, Bradley conseguiu rir - eu achei que essa moça é uma pessoa solitária, sabe? Ela fica ali na frente do hotel atendendo todo mundo, mas é como se ela não tivesse uma companhia real ou coisa parecida.

-Você conversou com ela pra ter certeza disso? - Phoenix quis averiguar.

-Aí é que está, ela não me contou nada disso, eu deduzi isso por causa da confusão que aconteceu - ele continuou - eu só perguntei se ela era de San Diego e a pergunta deixou ela super ofendida e eu fiquei me perguntando o que é que eu tinha feito de tão grave.

-Tem certeza que você não tava flertando? - ela perguntou, brincando um pouco dessa vez.

-O que? Não, você sabe que eu não faço isso desde a academia, enfim, eu fiquei muito constrangido, ela disse que a pergunta tinha sido pessoal demais - Bradley acrescentou.

-E foi por isso que você acha que ela é solitária? Por ter reagido mal a uma simples pergunta? - ela concluiu.

-É, mas então, no outro dia, ela contou que falar das origens dela é difícil e ela se desculpou por ter feito tanto caso, aí nós conversamos um pouco mais e ela me deu um chocolate como desculpas - ele terminou a história.

-Ah, no fim das contas ela até foi fofa... - Phoenix comentou - sabe o que eu acho? Você tocou numa ferida profunda dela sem querer, por isso ela ficou tão chateada.

-Foi o que eu pensei, e aí por achar que ela é uma pessoa muito ferida, por achar que ela pode precisar de alguém, acabei dando meu telefone pra ela - ele confessou, um tanto envergonhado por isso, tanto que chegou até a corar.

-Você o que? Rooster, sabe o que isso parece? - Natasha se exaltou um pouco.

-Eu sei, que eu estava flertando - ele revirou os olhos - mas não foi, eu só queria que ela pudesse me contatar se precisasse.

-Tá, e o que vem depois disso? - ela perguntou, querendo saber mais, sabendo que deveria ter mais.

-Eu continuo pensando em como ela pode estar, eu... - ele confessou, se sentindo mais envergonhado ainda, quase como um adolescente, não poderia estar se apaixonando por uma estranha, não fazia sentido - penso em procurar ela, pra conversar...

-Conversar? Como só vocês dois em um lugar específico? Isso soa como um encontro - não havia deboche em Natasha aqui, apenas demonstrando o fato.

-Não é um encontro, é só alguém que eu queria visitar pra ver como está, eu... - ele suspirou - não é isso que eu tenho em mente agora, você sabe, eu fui nomeado líder da equipe, tem muita coisa pra eu aprender e me preocupar agora.

-Eu sei, e eu estou aqui por você, todos nós - ela assentiu seriamente - só que tem uma coisa que você não pode ignorar.

-O que? - Bradley pediu por uma explicação.

-Que você se preocupa com essa moça, e não vai sossegar enquanto não se certificar de que ela está bem - Natasha trouxe outro fato à conversa.

-O que eu faço então? Chamo ela pra um '' encontro''? - ele fez as aspas com os dedos, um tanto irritado.

-Não um encontro, você sabe onde encontrá-la, não sabe? - sua amiga apontou, ele assentiu - então vá até lá e pergunte como ela está, mas com jeitinho, pode ser que ela se ofenda de novo achando que é muito pessoal outra vez.

-Entendi - Bradley deu um suspiro mais longo dessa vez - eu queria que essas coisas fossem muito mais simples...

-Eu também, mas seres humanos nunca são - ela concluiu, rindo dessa vez - quer que eu te pague uma bebida?

-Seria um grande favor - ele respondeu, dando de ombros, ela sorriu, indo até o balcão.

Mesmo sendo uma conversa mais complicada do que parecia ser a princípio, Rooster era grato por ter alguém para ouvi-lo e aconselhá-lo. Phoenix podia ser mais nova que ele, mas com certeza era muito mais centrada, sem muitas complicações para lidar com sentimentos.

Ele se deixou aproveitar a noite na companhia dos amigos, deixando Rafaela um pouco de lado por alguns momentos. Era como se as coisas se invertessem agora, Bradley deixou de pensar em Rafaela, para ela continuar pensando nele.

O expediente tinha acabado às 6, quando ela trocava o turno com o recepcionista da noite. Pegou o ônibus de volta para casa, e ao chegar lá, encontrou o apartamento como havia deixado.

A cama estava levemente bagunçada, com os lençóis não tão dobrados assim, a mesa da cozinha estava vazia, já que só ela morava ali e não teria ninguém para usá-la antes dela.

Colocando água para ferver no fogão, percebeu que um macarrão para a noite era uma boa pedida. Era seu prato preferido, o que melhor sabia cozinhar e era um dos poucos pratos que se dava para fazer longe de seu país que ficava mais parecido com o original.

Comendo ali sozinha, depois de se dar ao trabalho prazeroso de cozinhar, um dos seus poucos hobbies, Rafaela pôs uma mão no queixo e imaginou o que Bradley poderia estar fazendo no momento. Será que ser piloto era algo cansativo demais ou nunca se perdia a emoção? Será que ele estava gostando da sua casa nova? Tinha entendido que ele tinha se mudado para San Diego para morar lá.

Fazendo uma pausa nisso tudo, ela deu um longo suspiro. Era tolice ficar com alguém que mal conhecia tão gravado na memória, mas ela não podia evitar. Não queria criar exoectativas ou esperanças de uma amizade, não queria se machucar de novo pelo mesmo motivo. A tentação de ligar para ele era um tanto persistente, mas Rafaela decidiu que não faria isso, ao menos por hoje.

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