3. O cara chato

63 13 13
                                    

     O apartamento de Mingi era extremamente simples: havia uma beliche, uma mesa de trabalho com alguns livros e computadores, e uma cortina cheia de dinossauros que cobria a janela.

      Mingi ficou parado na frente da cortina, como se tentasse esconde-la. Ele engoliu a seco quando viu Yeosang analisar o local.

       -Faz pouco tempo que você tá aqui?- O Kang perguntou. Julgando o fato de que Iansã explicou sobre todas as almas serem remuneradas pelo seu trabalho, Mingi tinha poucas coisas e estas já pareciam velhas.

       -200 anos. -O dono do apartamento se apoiou com as mãos para trás, se segurando na borda da janela.

      Yeosang arregalou os olhos. -Dá pra...ficar aqui tanto tempo assim?

      Mingi assentiu. -O quanto precisar. Sua alma que diz quando tem que parar...a não ser que você esteja pagando uma dívida aqui.

      Yeosang olhou ao redor de novo.

       -Eu fico com a cama de cima então?- Ele apontou. Se ergueu um pouco e agarrou a proteção que tinha ao redor da cama. Tomou um impulso e se puxou para cima. Flutuou um pouco e conseguiu subir. Mingi o olhou, sua testa franziu e ele balançou a cabeça.

-Não, você não vai morar aqui. Só vai trabalhar comigo.

-Iansã disse que eu ia ser seu colega de quarto.

-Ela fala demais!- Mingi mordeu o lábio, irritado para um caramba. -Você não tem onde ficar?

Yeosang revirou os olhos. -Ela me trouxe até aqui, eu acabei de chegar! Quer que eu vá morar aonde? Na casa da sua mãe?

Mingi fechou a cara.

-Não gosto de gente como você.

Yeosang arregalou os olhos e ergueu as sobrancelhas, indignado. Ele colocou a mão no peito e riu.

-Você tratou uma deusa como se fosse uma ninguém!

-Iansã não é uma deusa, é uma orixá. A Deusa das Almas é uma deusa, Iansã não. Aprenda a diferenciar.

Yeosang revirou os olhos. Nem depois de morto ele ia ter paz.

-Não vai sair da minha casa não?

Kang se deitou na cama, cruzando os braços irritado. Que chatice do caramba...

-Não, Iansã me mandou ficar aqui. Se minha presença te irrita tanto...vou trabalhar até conseguir dinheiro para comprar outro apê.

Mingi revirou os olhos. -Ridículo, totalmente ridículo. -Ele foi até sua mesa e se sentou. Começou a mexer no computador em silêncio. Yeosang se sentiu desconfortável, ouvir o barulho chato daquelas teclas era em si...chato.

-Que barulho irritante...- Ele tapou os ouvidos e se sentou na cama. -Não vai ouvir uma música enquanto faz isso não?

-Não gosto de música. Se for ouvir, por favor coloque um fone, eu não quero barulho aqui. As coisas sempre foram silenciosas nesse apartamento, e vão continuar sendo.

        Yeosang estreitou os olhos. Mingi era chato, e parecia muito entediante também.

      -O que tem de bom nessa cidade? -Perguntou, se jogando na cama de novo.

      -Não sei, eu não costumo sair daqui...- Mingi continuou digitando.

      -O que tá digitando aí?

      -É do trabalho. Estou procurando atividades paranormais. -Mingi se virou para ele e estendeu a mão, chamando. -Vem.

      Yeosang o olhou como um cachorrinho curioso. Se ele tivesse orelhas elas com certeza estariam de pé. Ele desceu da cama flutuando e foi até Mingi, se apoiando na cadeira que ele estava sentado.

Quando Eu Morrer Onde histórias criam vida. Descubra agora