6. Almas gêmeas

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Yeosang aprendeu a conviver com o jeito de Mingi. Ele não ficava tanto em casa e só conversava com o Song quando precisava, sem interromper seu silêncio. Com o acúmulo de alguns salários, ele comprou um fone para usar enquanto ouvia músicas ou via algum videozinho em seu relógio de bolso, assim não atrapalhava o sossego de Mingi.

Ele estava quase com dinheiro suficiente para se mudar. Assim ele teria uma casa só para si e não precisaria viver sobre as regras de Mingi sem parar.

-Não vai comer nada?- Yeosang perguntou, encarando Mingi no computador. O outro fantasma apenas encarava os pontos amarelos pequenos no radar, com baixa energia e que logo sumiam, sendo levados pelas três mortes.

-Não, obrigado.

Yeosang ficou parado. O silêncio era quase doloroso. Kang começou a assobiar uma canção, distraído demais até para perceber que estava fazendo aquilo.

-Será...- Mingi se virou e levantou. -Será que da pra calar a boca?!

Yeosang fez uma careta. -Por que você gosta tanto de silêncio?! É ruim se for demais!

-Eu não gosto de ouvir música, me lembra coisas felizes, e eu não tô feliz. -Ele apontou para Yeosang. -Então se você puder me ajudar a não ficar irritado e surtar com você-

-Por que não tá feliz? Aqui não tem sofrimento, não tem fome, nem abuso nenhum, aqui é...é o paraíso, Mingi, não tem nada ruim. -Os ombros de Yeosang foram segurados e ele viu Mingi aproximar seu rosto dele.

-Porque a minha felicidade não tá aqui. As pessoas que eu amo tão perdidas em algum lugar e eu não posso viver com elas...eu tenho que pagar minha dívida.

Yeosang não quis perguntar mais nada. Ele se encolheu no lugar e se sentou na cama de Mingi.

-Eu sinto muito-

-Dizer isso não muda nada, Yeosang. Se você puder me deixar sofrer sozinho...eu agradeço. -Mingi se sentou em sua cadeira de novo e voltou a mexer no computador.

-Você não devia sofrer sozinho...a gente ajuda fantasmas com rancores, eu queria te ajudar também.

Mingi fechou os punhos. Ele levantou de novo e se virou para Yeosang. Caminhou até ele e ficou bem no meio de suas pernas. Ele ergueu o rosto de Yeosang com a ponta dos dedos e seus olhos se encontraram.

-Eu não preciso da sua ajuda.

-É claro que você precisa. Eu vou te dar um abraço. -Yeosang se ergueu e rodeou os braços no pescoço de Mingi, o puxando para perto. Mingi já estava inclinado o suficiente quando Yeosang o abraçou. Os dois desequilibraram e caíram juntos na cama de Mingi, um por cima do outro.

Seus rostos ficaram tão próximos que seus narizes se tocaram. Yeosang ficou tão tenso que corou. Ele apertou uma perna contra a outra e começou a tremer.

-Não se mexe. -Mingi pediu. Yeosang jurou que sentiu os lábios dele roçarem os seus, bem de leve. -Eu vou me levantar e-

Yeosang tentou se erguer com cuidado, mas bateu em um dos braços de Mingi apoiados ao lado de seu corpo. Ele perdeu o equilíbrio e caiu por cima dele. Os corpos se pressionando e os lábios também.

Kang arregalou os olhos. Aquele era seu primeiro beijo, tão inesperado e estranho, como se não devesse ter sido daquele jeito.

Era diferente. Mingi tinha lábios grossos e inchados, era bom de sentir contra os seus, era quente e ele sentiu um pouco o estômago revirar.

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