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AYLA

Tento me concentrar no sabor de cada guloseima que comi no baile da noite passada.

Tento me concentrar em tudo que comi no café da manhã.

Tento me concentrar na cesta de bolinhos em cima da escrivaninha do meu pai.

Tento pensar em todo tipo de comida possível, porque comida me acalma.

E eu preciso me acalmar o suficiente para quando meu pai adentrar por aquela porta eu ficar o mais plena possível quando o mesmo anunciar que vamos marcar meu casamento com o príncipe Henry da Escócia.

- Para de balançar essa perna - diz minha mãe que tenta não demontrar que está mais nervosa que eu.

Paro de balançar a perna mas não olho para ela e sim mantenho meus olhos fixos na mesa de bolinhos.

- Ah tenha dó! - minha mãe se levanta da cadeira que fica em frente a enorme mesa de madeira fina do escritório do meu pai.

Ela pega um bolinho da cesta e põe na minha mão e eu quis abraça-la nesse momento.

- Eu te amo tanto - devoro o bolinho sem cerimônia nenhuma.

Minha mãe é uma mulher bem intensa, meu pai chama ela de furacão porque todo mundo se encolhe onde quer que ela chegue. Sem contar sua beleza italina de tirar o fôlego.

Pelo que eu sei minha mãe fez um grande sucesso ao pisar em solo inglês, era cortejada a cada esquina e sua casa tinta tantas flores que parecia um memorial.

Mas quem conquistou seu coração mesmo foi o meu pai, com sua baixa estatura, piadas que minha mãe diz ser ridícula com um sorriso no rosto e sua barriga patética que a própria finge odiar.

- Você vai ficar enorme, espero que caiba em algum vestido de casamento - ela senta novamente.

A palavra casamento me chama atenção e a olho com a boca cheia de bolinho enquanto meu coração trabalha num ritmo acelerado.

Meu pai irrompe pela porta e para ao me ver.

- Quem mandou comer meu bolinho?

- Simon! - minha mãe chama atenção dele.

Ele reage parecendo se lembrar porque estava ali, atravessa a sala e senta em sua cadeira de detalhes verde e dourado atrás da mesa.

- Edward mandou uma carta.

Minha mãe prende a respiração.

Edward é o secretário do Rei Lechar, pai de Henry.

- Ele solicita nossa presença imediatamente para o jantar de noivado.

O bolinho que eu ja havia engolido quase voltou, eu acho que vou começar a ter um treco.

Minha mãe pula de alegria não acreditando que esse dia tão importante esteja finalmente acontecendo. Sua querida filha vai ser uma princesa!

princesa.

Eu vou ter um treco.

Eu mal o conheço...quer dizer, não totalmente.

Ao longo dos anos eu e Henry trocamos muitas cartas, não do tipo românticas, mas temos certo tipo de intimidade.

Ja faz um bom tempo que ele deixou de ser Príncipe Henry e se tornou apenas "Caro, Henry"

Eu acho que ele sabe todos os meus segredos. Isso não é estranho?

Eu nem sei como é o seu rosto, pelo menos não hoje em dia.

A última vez que o vi ele era um menino magricela com óculos fundo de garrafa que mal podia ver seus olhos mas lembro que ele me fazia rir.

Eu também ja não sou a mesma desde a última vez.

Aquela menina insegura, tímida e gordinha ja não existe mais.

Ai que droga!

É essa visão que Henry tem de mim até hoje?

Solto o último pedaço de bolinho que ainda estava na minha mão e saio correndo imediatamente do escritório do meu pai.

Antes de virar o corredor ainda consigo ouvir ele dizer a minha mãe pra deixar sozinha.

Tento entrar no banheiro mais próximo que consigo, me debruço sobre o sanitário.

com o dedo próximo a garganta seguida de um som grotesco vindo de mim, ponho tudo que comi essa manhã para fora.

O cheiro do líquido invade o banheiro mas não me impede de fazer mais uma vez.

__________♡__________

Após o ocorrido no banheiro, acabei ficando fraca e decidi me deitar.

Estou olhando para esse teto azul com corações a mais ou menos 30 minutos.

Não consigo acreditar que voltei a comer compulsivamente depois de tantos anos.

Essa fase foi a pior da minha vida, eu vivi um verdadeiro inferno até encontra Sue.

Uma das minhas melhores amigas que meu deu todo apoio e suporte que eu precisava.

Eu era insegura e medrosa, a comida sempre me ajudou a suportar tudo mas ai entrei na mocidade e ja não me envaixava no padrão da sociedade.

"Ela tem sorte de estar prometida a um príncipe, nunca arrumaria um marido nessa forma"

Era o que diziam a minha mãe.

Sue me deu outros olhos, Sue me deu confiança, Sue me deu a Dria. Minha outra melhor amiga.

Elas me salvaram.

E eu tinha Henry...

Henry.

A ansiedade tenta me tomar novamente.

Fecho os olhos e respiro fundo.

Fui preparado pra isso a vida toda, eu não tenho mais 14 anos.

Sou uma mulher agora e serei princesa em breve.

AYLA (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora