3

11 7 49
                                    

HENRY

- A previsão da chegada dela é de 5 dias mas ela pode chegar aqui a qualquer momento, então estejam prontos e preparados para a recepção - o rei ordena.

- Sim, senhor - um dos oficiais faz uma referência e se retira.

Ainda estou parado em frente a enorme vista que tem do escritório do meu pai para o jardim.

Lá posso ver minha mãe, minha tediante irmã e suas amigas histéricas.

E ela.

Está linda, com o sol batendo no rosto. Seus cabelos loiros estão um pouco desgrenhado, certamente alguma coisa a encomoda porque seus cabelos de anjo estão sempre impecável.

Será o meu noivado que a incomoda? Ela ainda sente alguma coisa por mim?

Eu não julgaria, toda essa palhaçada é ridícula.

- Então, preparado para conhecer sua bela futura noiva? - me viro para ele  que ja estava sentado em sua cadeira. Olho-o  sem expressão - ah vamos lá filho, feia sabemos que ela não é, impossível qualquer ser humano ser feio sendo filho de Nora Vicenza. Aquela ali tem o porte.

Contorço o rosto demonstrando desprezo pelo comentário asqueroso vindo do meu pai, o rei, para minha futura sogra.

Na verdade tudo me enoja nesse homem.

As piadas de mau gosto, os comentários nojentos, seu olhar duro, sua postura horrenda, o jeito que trata minha mãe e principalmente o modo como governa o reino que está a um passo de ir por água abaixo.

- Muitas coisas me encomodam nesse noivado mas definitivamente não é sobre ela ser bela ou não - Paro em frente a sua mesa com as mãos para trás - por exemplo, organizar uma recepção gigante e luxuosa para uma só dama enquanto tem crianças passando fome pelas cidades do reino...

Meu pai se recosta mais na cadeira dando um grande bocejo em sinal deboche o que me faz ficar com ainda mais raiva.

- Papo furado - ele se levanta da cadeira - e ela não é só uma dama - ele se aproxima ainda mais de mim - é a futura rainha da Escócia, sua esposa - ele susurra a palavra esposa fazendo meu estômago embrulhar com o enorme cheiro de álcool.

- Ainda não noivamos - digo baixinho como se isso não fosse acontecer imediatamente.

O rei põe seus braços grossos em meus ombros e olha no fundo dos meus olhos como se realmente tivessemos alguma ligação de pai e filho como ele tem com meu irmão, Alisson.

- Não vamos fingir que você está relutante assim por conta da moça que você seguia igual um cachorrinho - tranco o maxilar me controlando para não derruba-lo nesse chão aqui e agora. Ele não vai falar dela comigo, ele não tem o direito! - a alguns anos você vivia saltitando igual uma gazela por esses corredores toda vez que chegava uma carta da sua noiva - ele aponta o indicador - eu não criei filho nenhum pra ser cachorrinho de mulher nenhuma, sendo ela princesa ou não. Mas... - ele se afasta finalmente porque eu estava a ponto de cuspir na cara do rei - se for pra ser cachorrinho de alguém - ele continua - que seja de Ayla Vicenza, futura noiva, futura esposa, futura mãe dos futuros herdeiros e acima de tudo - ele levanta as mãos dramaticamente - futura rainha da Escócia!

__________◇__________

Eu sei o que está pensando, eu preciso aceitar o meu destino, tenho que encarar o meu dever.

Eu eu estou!

Mas é extremamente frustrante saber que vou passar a vida toda com alguém que não amo. Desenvolvi um carinho imenso por Ayla com todos esses anos trocando cartas mas não a amo. Meu coração pertence a outra pessoa, que me ama também e está bem ali do lado.

E não posso nem abraça-la.

Ando por esses corredores cabisbaixo porque minha mente está somente nela.

Lembro do que meu pai falou sobre a minha genuína felicidade toda vez que recebia uma carta de Ayla.

Eu esperava dias, semanas, meses no porto por uma carta dela. Era tão divertido, sentia uma emoção muito grande em ler cada verso daquela carta com sua letra perfeitamente irritante.

Com o tempo foi se tornando mais uma rotina.

Apesar de todos os retratos enviados por sua empenhada mãe, eu não lembro como é o seu rosto, nem quando éramos crianças. Lembro apenas de como era gordinha e fofa.

Tinha vezes que sonhava com seus olhos apenas.

ele era como o azul celeste do oceano.

AYLA (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora