10

10 4 46
                                    

AYLA

Fico mais tranquila agora que sei que a menina está bem e salva no conforto de sua casa.

Eu nunca me perdoaria se alguma coisa acontecesse a ela, a forma como o rei falava... como se ela fosse nos passar uma doença.

É bizarro.

Ao menos eu posso respirar agora.

- Ayla - a voz de Henry a minhas costas me faz congelar.

Ainda não me virei mas sei que está vindo na minha direção. Quando ele chega e para atrás de mim me viro lentamente.

Sua cara perfeitamente amassada delata que estava dormindo.

- Henry.

Ficamos em silêncio por uns minutos sem saber o que falar

- Fui ao seu quarto mais cedo mas estava se aprontando para dormir.

- Eu ainda vou, demorei demais no banho e não pude esperar para saber se a menina que eu salvei estava bem. Então fui atrás do seu irmão...

- Espera - ele me interrompe - você foi atrás do meu irmão?

- Fui - enrugo a testa mediante ao som de desprezo que sai da sua voz - aquele que eu não fui apresentada formalmente.

Seu rosto que a pouco demonstrava o começo de uma raiva alivia por uns instantes.

- É complicado, ele é complicado.

- Isso eu ja percebi.

Ele me olha atentamente.

- Vocês estavam sozinhos? - ele hesita antes de perguntar.

Não acho que dizer ao meu noivo que me encontrei, mesmo que tenha sido acidental, sozinha com seu irmão em uma biblioteca mal iluminada seja uma boa ideia.

Principalmente se contarmos com o fato dele ser um prepotente e não tem freio na língua ao dizer coisas inapropriadas para damas da sociedade.

Nem o ponto de que talvez seu jeito presunçoso te deixou eriçada.

- Sua vó estava com a gente.

Alívio ultrapassa seu rosto.

- Conheceu minha vó - ele solta um sorriso, lindo por sinal - ela não te acertou com a bengala né?

- Felizmente escapei de seus golpes.

Ele solta uma gargalhada olhando para o chão.

- Henry - ele me olha - porque não fez nada sobre a menina mais cedo?

Ele assente como se presumisse que eu fosse perguntar isso cedo ou tarde.

Ele segura na minha cintura e eu tive que me segurar para não escorregar pelos seus braços. Ele me puxa para um canto e começa a susurrar.

- Eu não devia estar lhe dizendo isso mas - ele olha para os lados - andam acontecendo coisas no reino nos últimos anos, que andam se agravando cada vez mais. Foi proibida a entrada de plebeus no palácio por receios de haver espiões.

- Espiões...oque? - minha cabeça está muito confusa agora - ela é só uma criança.

- Todos somos.

- O que está havendo Henry?

- Ja disse o bastante Querida Ayla, melhor não se envolver nisso - ele beija a minha testa e se vai me deixando mais confusa que antes.

- Ja disse o bastante Querida Ayla, melhor não se envolver nisso - ele beija a minha testa e se vai me deixando mais confusa que antes

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


Entro no meu quarto e Jules está enxugando o chão que eu mesma molhei.

Em cima da cama ainda continha a camisola e ao lado uma bandeija com um lanche caprichado.

Praticamente pulo em cima da bandeija e dou uma grande mordida no sanduíche de geleia.

- Estava mesmo com fome senhorita.

Jules chama minha atenção me lembrando que ainda estava ali.

- Me desculpe pelo chão - digo com a boca cheia.

- Tudo bem - ela se levanta com o pano na mão jogando no balde e enxuga as mãos no vestido cinza horrível.

Seu corpo é até bem bonito.

Tem uma cintura perfeita, nem todos os dedos que eu enfio na garganta me dariam uma cintura dessa. O vestido horrendo cobre muita coisa mas da para ver que tem um colo bem robusto, seu olhos são negros e intensos e se soltasse o cabelo diria que ficaria deslumbrante.

- Damas de compania limpam o chão? -pergunto agora comendo as uvas.

- Digamos que eu sou uma faz tudo - ela solta uma risada ácida.

- Eu tive uma dama de compania em Londres e ela não fazia tudo - me mantenho séria - e era em Londres!

- Bom, estamos na Escócia não é mesmo? -ela tenta rir mas percebe cenho franzido analisando-a enquanto como as uvas lentamente.

- O que você fez Jules Boyde?

Ela se mantém em silêncio e é a primeira vez que vejo seu olhar vacilar.

- Presumo que eu não possa dizer isso para milady - ela me encara - principalmente para milady.

Essa última parte me fez sentir novamente em Londres onde falavamos sem parar sobre a vida dos outros. Fofocas é o meu esporte favorito.

Levanto da cama indo em sua direção, a pego pela mão e sento-a na beira da cama.

Pego uma uva e ponho na sua boca e ela apenas fica sem reação.

- Me conte tudo agora!

Ela tenta mastigar a uva o mais rápido possível e quando finalmente consegue falar tira todo meu ânimo dizendo que não deve.

- Eu sou sua Lady e eu estou dizendo que deve me contar!

Ela me olha com desdém.

- Nunca deu ordens assim antes né? - ela pergunta.

- Não, todos fazem o que eu mando na hora - olho para minhas unhas

ela começa rir e diz algo como "essas ladys"

- Bom, eu e o príncipe quando éramos crianças nós... - olho ainda esperando ela dizer - nós... sabe?

E só então percebo.

Henry e Jules Boyde.

Meu deus.

Fico surpresa comigo mesmo ao sentir um pouco de ciúmes.

Todos esses anos eu nunca parei para pensar se Henry tinha tido outros amores ou aventuras. Nunca o tinha visto dessa forma.

Será que ele já foi um Terrence DeLuca?

Ele parece ser romântico de mais para isso.

- Então vocês...

- Sim.

Um "oh" instantâneo sai da minha boca.

- Espera, oque? Não, não - ela levanta as mãos - beijo, foram beijos. Éramos só crianças.

Um alivio passa pelo meu corpo.

- Então você foi castigada por causa de um beijo de criança?

- O rei descobriu e não gostou nada do seu herdeiro estar beijando a filha da dama de compania da rainha que por sinal é três anos mais velha.

- Uau!

- Pois é, eu fui banida do Palácio por anos e voltei dois anos atrás como a "faz tudo" de Taylor Campbell, a filha do Duque - ela trinca os dentes - garota infernal.

- E como acabou aqui? comigo?

- Henry viu como eu sofria na mão dela - ela da uma risada - apesar de ama-la ele sabia que ela era uma diaba.

Por um instante eu me senti afundando no coxão, parecia que tinham colocado um pedaço de concreto bastante pesado no meu peito.

ama-la

ama-la

"apesar dele ama-la"

- O que você disse - interrompo ela que ainda falava sobre todas as coisas que Taylor Campbell obrigava-a fazer.

Ela me olha e posso ver nos seus olhos o arrependimento do que ela viu nos meus.

- Merda!

AYLA (Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora