Aulas

4K 305 294
                                    


No dia seguinte, Severus acordou cedo, como costume, pela manhã. O menino espreguiçou-se, sendo recebido por Calliope que miou para ele. O menino sorriu, acariciando a pelagem suave do seu familiar, que se esfregou nele.

A criança elevou o seu olhar, notando que Zayn e Bryan ainda dormiam nas suas camas.

Severus fez um movimento com a mão, realizando o feitiço tempus sem varinha e sem dizer uma palavra.

Ao notar que ainda faltava algum tempo para o pequeno-almoço ser servido, o menino decidiu tomar banho e aproveitar o silêncio da manhã. Severus levantou-se da cama e abriu o seu baú após selecionar a secção da higiene e depois foi para a roupa.

Após isto, a criança abriu a porta da casa de banho, deparando-se com azulejos de um azul claro, com algumas águias a bronze a voarem, tanto pelo céu como pelas paredes. Como os quartos abrigavam quatro alunos cada, a casa de banho aprensatava quatro cabines espaçosas para cada aluno, provavelmente para a privacidade de cada um. Severus entrou, fechando a porta atrás de si e pousando os produtos de higiene nos suportes, para então iniciar o seu banho.

No fim, o rapaz saiu da casa de banho apenas com uma toalha enrolada na cintura. Calliope miou para ele e Severus sorriu fazendo mais uma festinha na cabeça da sua menina.

Contudo, Snape ouviu duas pessoas arfarem e o menino girou o seu corpo, deparando-se com os gémeos, que o olhavam com os seus olhos arregalados.

Severus franziu os lábios, olhando para o outro lado enquanto passava as suas mãos nas suas cicatrizes.

Infelizmente, todas as cicatrizes que ele recebeu até os seus oitos anos não desapareceram, como também aquelas que surgiram depois disso. Severus suspirou derrotado quando as suas mãos tocaram uma cicatriz no seu braço da autoria do seu pai há três meses atrás, uns dias antes de ele receber a sua carta para Hogwarts.

Tobias foi honesto com Severus na noite de natal, quando Charlotte era viva, sobre ele não conseguir mudar os seus hábitos. Já era, praticamente, tarde demais, os hábitos do homem não mudavam e o adulto já tinha tentado ser melhor, mas voltava, em algum momento, à estaca zero. Tobias nunca lhe deu esperanças de uma mudança, o homem disse com todas as letras que não conseguia, por mais que tentasse.

Na verdade, a forma como Severus ganhou aquela cicatriz não foi, totalmente, culpa do mais velho. Tobias estava bêbado e não conseguia diferenciar o chão de um ser vivo. Basicamente, quando ele viu o chão mover-se, Tobias assustou-se. Contudo, o que, realmente, se movia era Hamtaro, que estava a dar um passeio pela casa. Logo, o adulto levantou a sua garrafa de cerveja para bater no "chão", a ver se tudo voltava ao normal. Claramente, Severus não podia permitir que Hamtaro se magoasse, então ele atirou-se para proteger o pequeno animal e o seu braço acabou por ser cortado no fim.

Severus voltou a olhar os gémeos, que desviavam agora o olhar para não deixar o outro menino desconfortável. Não era a primeira vez que eles viam as cicatrizes do outro rapaz, no início, pela sua inocência infantil, eles acharam as cicatrizes incríveis e comparavam-nas com as dos heróis da televisão. Claramente, eles aperceberam-se, com o passar dos anos, o que significava e, inclusive, quiseram fazer queixa ao pai deles, Christopher, já que o mesmo era polícia.

Mas Severus impediu-os.

Não é que Severus não quisesse denunciar o pai, mas ele não conseguia parar de pensar que se o adulto fosse preso ele teria que viver sozinho com a sua mãe e Eileen não era a pessoa mais estável de sempre. A mulher aproveitava, quando o seu marido discutia com ela e lhe batia, para libertar a sua raiva e frustração, uma vez que ela também dava luta.

Nunca foi um caso de o marido abusar a mulher e o filho, mas sim o caso de dois abusadores que descontavam um no outro os seus sentimentos reprimidos.

Algo terrível.

RedençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora