Capítulo 1

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POV HARLEY

A vida, pra mim, é uma caixinha de surpresas. Principalmente em se tratando de amizades.
Sabe aqueles filmes onde os personagens se conhecem no jardim de infância e nunca mais se separam não importa o quê? Eu pensava que com Nathan, Ashley e eu seria igual, mas eu não podia estar mais enganada. Naquela época eu seria capaz de dar minha vida por eles, ainda mais quando Nathan é o garoto por quem meu coração escolheu bater mais rápido.
Nathan Alexander Gray não é o tipo de garoto por quem todas as garotas da escola se apaixonam. Pra ser sincera eu nem sei quando e nem como foi que eu me apaixonei por ele. Um certo dia ele sorriu e aquele sentimento estava lá. No início foi sutil e eu tentava me convencer de que era apenas admiração. Então a gente se afastou e parece que uma bomba atômica explodiu dentro de mim. Aquele sentimento ficou tão forte que era quase impossível respirar quando eu lembrava que não o tinha mais por perto. Nossa amizade acabou quando o pai dele foi preso.
E a culpa foi minha.
Estávamos no auge do verão e como de costume, eu estava passando o sábado na casa do Nate. A nossa brincadeira favorita era guerra com pistolas d'água. Eu me escondi atrás da cortina da sala e acabei ouvindo uma conversa do Sr. Gray com um dos sócios da sua empresa. Eles falavam sobre contas fantasmas e empresas onde faziam lavagem de dinheiro. Na hora eu fiquei confusa e nem dei muita importância. Já tinha ouvido meu pai falar sobre o assunto e não me interessava nem um pouco. Continuei brincando e rindo como se eu não tivesse ouvido nada.
Em casa, durante o jantar, algo na conversa entre meu pai e Sarah (minha madrasta), me chamou a atenção. "Contas fantasmas" e "lavagem de dinheiro" agora estava entre os processos em que meu pai estava trabalhando. Lembrei imediatamente do Sr. Gray falando ao telefone e senti um calafrio ao pensar que ele pudesse estar envolvido nesses crimes. Fiquei imóvel apenas ouvindo a conversa pra ver se meu pai diria o nome dele, mas não aconteceu.
Mantive segredo do que eu havia escutado e tive uma conversa com Nathan sobre o assunto que confirmou minhas suspeitas. Ele me pediu pra não contar o que eu sabia pro meu pai e foi o que eu fiz.
Consegui ficar em silêncio durante alguns dias. O problema é que eu não aprendi mentir e o fato do meu pai ser um excelente advogado, faz com que ele consiga ler meus pensamentos de alguma forma. Ou foi minha mudança brusca de atitude que o fez desconfiar que que estava escondendo alguma coisa, e depois de um sermão sobre honestidade, ele conseguiu me fazer falar.
James Oswald Gray foi preso na semana seguinte a minha denúncia. Virou assunto nacional e minha amizade com Nathan acabou. Ashley decidiu ficar do lado dele e se afastou também.
Foi quando o verão acabou que eu tive minha primeira decepção com quem se dizia minha amiga. Ashley não se afastou de mim porque eu traí o Nathan, mas porque ela também gostava dele e nossa briga não poderia ter vindo em hora melhor. E agora fazem dois anos que eu vejo os dois juntos como se eu nunca tivesse feito parte da vida deles.
Por sorte eu tenho outras três amigas maravilhosas que estão comigo haja o que houver e me ajudaram a superar tudo aquilo. Menos o Nathan... Ele eu não supero nem com exorcismo.

Voltamos de férias há poucos dias e já no primeiro dia de aula eu não tive bons pressentimentos. Tudo parece mais fora do lugar do que de costume e o ar pesa quando coloco os pés pra fora de casa. É como se eu estivesse recebendo um aviso constantemente. Sempre que abro os olhos de manhã eu ouço uma voz suave no meu ouvido me dizendo pra tomar cuidado. O único problema é que seja lá de quem seja essa voz, nunca diz com o que eu devo tomar cuidado. A mesma coisa acontece quando compramos comida japonesa e os biscoitos da sorte vem com a mesma mensagem. Chega a ser irritante.
Chego na escola de cara amarrada e sem querer sair do carro. Meu pai atrasou sua viagem só pra passar mais tempo comigo já que vai ficar alguns dias fora em um simpósio de advogados que vão discutir sobre "Direito Constitucional". Eu não faço ideia do que significa isso.
Procuro com os olhos por minhas amigas enquanto ele fala alguma coisa que eu não entendo. Só quem eu encontro é Nathan na entrada do prédio acompanhado dos amigos. Coração acelerado, pernas bambas, mãos suadas e frio no estômago são alguns dos efeitos que ele causa em mim desde que eu tinha 12 anos. Antes era com o irmão dele que eu fantasiava.
Eu tinha uma gaveta cheia de cartas que eu nunca entreguei e papéis com corações e nossos nomes escritos no centro. Harley e Scott durou alguns meses. Na minha cabeça nós éramos felizes, mas por causa da diferença de idade nosso amor era impossível, então nós concordamos em terminar enquanto éramos amigos antes que viessem os filhos e ficasse tudo mais difícil.
_ Do que está rindo?_ Saí do devaneio e senti minhas bochechas esquentarem.
_ Lembrei de uma piada!_ Coloquei as mãos frias no rosto pra diminuir o calor.
_ Aquele é o Nathan?_ Meu pai olhava na direção dele e eu fiz o mesmo.
_ É!_ Respondi melancólica desafivelando o cinto.
_ Faz tanto tempo que eu não o vejo! Pensei que tivesse ido embora.
_ Scott é quem foi embora! O irmão do Nathan.
_Vocês ainda se falam?_ Meu pai sempre detestou nossa amizade porque quando Nate não estava na minha casa eu estava na dele.
_ Não mais!_ Senti um nó se formar na minha garganta. De repente, minhas amigas surgem do além batendo no vidro do carro.
_ Eu acho que você deveria sair antes que elas arrebentem a porta._ Brincou vendo a animação delas ao me verem.
_ Tchau, pai!_ Depositei um beijo no rosto dele e saí do carro depois de ouvi-lo dizer "Eu te amo".
Cumprimentei as meninas e cruzei os braços. Respirei fundo me preparando pra passar por Nathan e me sentir odiada. Talvez minha intuição esteja me avisando de que é com ele que eu devo tomar cuidado. A julgar pela maneira como ele me olha, em breve eu terei minha cabeça arrancada do meu pescoço apenas com a força do seu pensamento.
_ Oi, Harley!_ Brian, o popular, quarterback do time de football, o desejado de todas as meninas da escola, parou na minha frente com o peito estufado e alguns fios de barba no queijo que estavam implorando pra serem raspadas._ Posso conversar com você?_ Aquilo foi surpreendente pra todos que estavam em volta.
Nesses anos todos que eu estudo nesta escola, ele nem se quer me disse nem um "Oi!". Ou eu ainda estava na minha cama tendo um sonho muito bom, ou ele havia levado uma bolada na cabeça com muita força e estava me confundindo com outra pessoa.
_ Nós te esperamos lá dentro._ As meninas me deixaram pra trás e eu continuava em silêncio. Ter o olhar de Nathan me julgando me deixava ainda mais nervosa.
_ Você quer ir ao baile comigo?_ Fiquei surpresa com o pedido. Brian é o tipo de garoto que sai com líderes de torcida e eu, definitivamente, não sou uma líder de torcida. Sou baixinha, tenho sardas no rosto e cabelo ruivo cacheado. Ele é o quarterback do time de futebol e é lindo, não mais que o Nathan é claro, mas isso não vem ao caso.
_ Eu sinto muito, mas não vai dar._ Respondi meio sem jeito apertando a alça da mochila.
No fundo eu queria dizer que sim, afinal não é todo dia que eu sou notada por alguém como Brian. Mas Nathan estava bem na minha frente e eu não pensava em outra coisa além de querer que ele sentisse ciumes e me convidasse.
_ Não? Você ouviu minha pergunta?_ Ele parecia não acreditar na minha rejeição e o garoto lindo que estava na minha frente perdeu toda beleza por seu tom arrogante.
_ Em alto e bom som, Brian. E creio que minha resposta também tenha sido ouvida e não só por você._ Olhei em volta e havia gente filmando aquele momento histórico.
Mantive minha postura, mas a verdade é que eu queria sair correndo pra que ninguém me visse discutindo com ele. Chamar atenção não é algo que eu goste de fazer.
_ Vai ser sua única oportunidade de ir ao baile comigo, ou melhor, de não ir ao baile sozinha._Sussurrou como se fosse um segredo._ Eu sei que ninguém te convidou, então, pensa direito e me responde depois._ Me deu as costas com o peito estufado se achando superior.
_ Eu já pensei!_ Se voltou para mim sorrindo convencido._ Minha resposta é não agora e vai ser não depois._ Reforcei sendo bem clara na minha dicção.
_ Qual é, Harley?! Sou eu quem está te convidando. Vai mesmo deixar passar a oportunidade de ter a minha incrível companhia?_ Eu não podia acreditar que de uma boca tão bonita podia sair tanta besteira.
_ Abaixa a bola, Brian! Eu consigo ver uns 10 mais incríveis que você só nesta escada._ Seu sorriso largo desapareceu instantaneamente._ Pelo jeito você não sabia como era a sensação de ser rejeitado, não é?! Bem vindo ao clube._ Ouvi os risos e sussurros dos que estavam nos assistindo._ Agora, se você me dá licença, eu tenho que ir falar com outras três pessoas mais incríveis do que o poderoso Brian._ Debochei da sua autoconfiança. Quando desviei dele pra entrar no prédio, ele segurou meu braço com força me fazendo dar meia volta. Sua atitude me deixou assustada.
_ Sua última chance._ Furioso comprimiu os lábios por ter levado um fora. Senti meu corpo congelar com medo do que ele poderia fazer.
_ Você não ouviu? Ela disse que não. _ Nathan e seus amigos intervieram e Brian se afastou de mim.
Não quis ficar pra que não me vissem chorar. Não faz muito tempo que eu terminei meu tratamento com o psicólogo por coisas que aconteceram comigo durante minha infância. Brian me fez lembrar de algumas dessas coisas e não foi uma boa experiência.
Antes de encontrar as meninas eu me concentrei em não demonstrar meu nervosismo.
_ Como foi?_ Jessie perguntou interessada.
_ Ele me chamou pro baile._ Respondi sem olhar pra ela. Meus olhos ainda estavam com lágrimas.
_ Você disse sim, certo?_ Leslie segurou meus ombros e me virou para ela.
_ Eu disse não._ Me soltei rapidamente e abri o meu armário pra trocar alguns livros. Assim que o fechei me deparei com dois par de olhos furiosos e outro que não estava nem aí pra situação._ Combinamos de irmos juntas, lembram?
_ Sim, mas isso não era regra. Se um deus grego como o Brian, chega na sua frente e te convida pro baile, você...
_ Ele é um idiota._ Corrigi lembrando da maneira como me tratou.
Notei que elas olhavam pra trás de mim com um sorriso bobo nos lábios. Me virei e dei de cara com um Brian diferente daquele que me abordou na escada. Esse não estava mais tão confiante, parecia com medo e estava acompanhado de Brandon. Esse sim eu chamaria de deus grego, pois além de bonito é educado.
_ Eu..._ Pigarreou e seu rosto ficou com uma cor semelhante a um rosa choque._ Vim me desculpar por ter agido daquela maneira com você._ Franzi a testa achando aquela atitude muito estranha.
_ Olhe nos olhos dela._ Brandon ordenou sorrindo passando o braço por cima dos ombros do garoto._ Não seja tímido Sr. Incrível._  Brian olhou nos meus olhos e seu rosto mudou de rosa pra um quase vermelho sangue. Ele estava sentindo muita raiva naquele momento.
_ Me desculpa, Harley!_ Minha expressão mudou de confusa para surpresa.
_ E o que mais?_ Brandon continuava pressionando-o.
_ Eu sou um idiota que merece servir de tapete pra você passar por cima e nunca mais vou encostar em você._ Se eu não tivesse uma boa audição não teria ouvido.
_ Você consegue fazer melhor do que isso! Tenta de novo._ Aquilo estava sendo ridículo.
_ Eu sou um...
_ Para, para, para. Já chega._ Pedi sentindo pena dele._ Está desculpado.
_ Sai daqui._ Brian saiu quase chorando quando Brandon mandou e deu um chute de leve no seu traseiro._ O seu braço está bem?_ Perguntou segurando meu braço delicadamente. Eu olhei e estava vermelho no local da pressão._ Seria bom colocar gelo..._ Sugeriu e eu puxei meu braço me afastando dele.
_ O que aconteceu?_ O encarei desgostosa com o que acabara de presenciar._ Vocês viraram os defensores dos fracos e oprimidos dessa escola?_ Brandon abriu aquele sorriso cheio de dentes bem alinhados e brancos que hipnotiza qualquer um que o vê. Olhou pra Jessie atrás de mim, piscou um olho e voltou para junto de seus amigos que haviam acabado de virar o corredor.
Eu não entendo quem foi que deu ao Brian o posto de garoto mais bonito da escola. Nathan tem os amigos mais lindos da cidade inteira e ninguém deu a eles um título pra ressaltar sua beleza. Quem sabe é porque quem colocou ele num pedestal, foram as meninas com quem ele já dormiu. Assim fica fácil ganhar popularidade.

Nos intervalos eu e as meninas sempre vamos para o mesmo lugar, para o gramado atrás do refeitório. Nós reivindicamos a mesa em baixo de uma árvore enorme. Não que a gente tenha algum poder pra isso. Não somos as populares da escola, pelo menos eu não acho que a gente tenha esse potencial. Kira, nossa Sul Coreana, é tímida e tem medo até de olhar pras pessoas. Jessie, é extrovertida, barulhenta e briguenta, mas ela não briga se não tiver um motivo muito bom pra isso (a razão pela qual ninguém tenta roubar nosso lugar). Leslie é a que não suporta a escola, mas ama os garotos ( é a única que poderia ser a popular, mas ela é do meu time). E tem eu, baixinha, sardenta, magrela e que chama atenção só pelo cabelo cacheado volumoso e cor de fogo. Meu primo Peter até me deu o apelido de "Palito de fósforo aceso". Pra minha sorte ele mora na Califórnia e isso fica só entre família.
Estava sentada na mesa olhando para o grupo de dança, que me encantava com seus passos de Street Dance, enquanto ouvia as meninas falarem sobre a festa da Bethany.
_ Você vai, não é?_ Jessie tocou meu braço pra garantir que eu estava ouvindo.
_ Não!_ Respondi sem pensar duas vezes._ Preciso ensaiar. A competição vai ser em três semanas.
_ Você vai ensaiar a noite também?_ Kira questiona com seu sotaque fofo. Nos últimos dias eu tenho ensaiado direto e acabo não tendo tempo pras minhas amigas.
_ Ela fala!_ Brinquei fingindo surpresa e Kira tornou a abaixar a cabeça e continuar comendo os chips de batata.
_ Você precisa ir._ Jessie insiste._Vai estar todo mundo lá, inclusive o Nathan._ Citou achando que eu fosse me interessar por essa festa, mas eu nem dei importância._ O que foi que deu em você?
_ Ele foi um grosso com ela, de novo._ Leslie respondeu por mim.
_ Mais um motivo pra você ir. Vai ter um monte de garotos lindos por lá e você vai poder usar um deles pra esquecer o Nate._ Me fez pensar na hipótese.
_ Eu vou pensar até lá._ Olhei pra onde Nathan estava e nisto Ashley se aproximou dele o abraçando por trás. Meu rosto ferveu de raiva ao ver aquilo.
_ Ela pintou o cabelo!_ Leslie observou surpresa.
_ De ruivo._ Jessie concluiu a frase.
_ Acho que ela está tentando ser uma cópia exata sua, Harley._ Olhei pra Leslie com o canto do olho rapidamente desaprovando o comentário e continuei a olhar praquela cena deplorável.
De longe eu tentava fazer leitura labial pra descobrir o que estavam falando, mas as expressões de desgosto que ela fazia cada vez que um dos meninos dizia alguma coisa, era mais do que suficiente pra eu saber que ela estava um fora deles todos. Ela passou por nós me encarando e pisando firme, como se a culpa dos meninos não gostarem dela fosse minha.
Não pudemos deixar de notar que estava com um par de tênis igualzinho ao que eu comprei na semana passada. Poderia ser coincidência? Poderia se não fosse o histórico dela. Desde a quinta série ela faz isso. Eu compro uma calça, ela aparece com uma igual no dia seguinte. Eu compro uma mochila, ela compra uma igual, sempre que eu apareço com algo novo ela da um jeito de conseguir um igual. Eu achava legal no começo, éramos amigas então tudo bem, mas agora virou perseguição.
_ Parece que eu tenho uma irmã gêmea._ Resmunguei vendo ela ir em direção ao refeitório.
Eu tenho pena dela e as vezes não ligo de parecer que eu tô olhando pro espelho. Ashley se esforçou muito pra conseguir uma bolsa de estudos na nossa escola. Ha alguns anos, o seu pai abandonou ela e a mãe que estava grávida. Não sei como estão agora, mas lembro que meu pai estava tentando achar o pai dela. Parei de perguntar quando ela escolheu ficar do lado de Nathan.
Ele é a única coisa que ela tem e eu não.

Te Amo no Meu RitmoOnde histórias criam vida. Descubra agora