POV NATHAN
Sinto saudades da minha mãe. Tenho poucas lembranças bem nítidas dela e algumas um pouco confusas que não sei se são mesmo lembranças ou sonhos. Uma das lembranças que eu tenho é de como ela conseguia me acalmar quando eu tinha uma crise. Ela me sentava no seu colo, segurava meus braços e me abraçava com tanta força que eu era obrigado a desacelerar minha respiração. Enquanto isso, ela colocava seu rosto bem próximo do meu e cantava uma música de ninar. Não era por causa da sua letra ou melodia que eu me acalmava, mas pelo som suave e tranquilizante da voz dela no meu ouvido.
Quando minha mãe morreu, vovó passou a ser tudo pra mim. Perdemos a casa depois que meu pai foi preso e eu vim morar com ela, mas já cuidava de mim antes disso mesmo sem saber direito como fazê-lo, mas sempre deu o seu melhor. Sei que ela seria capaz de dar a vida por mim e eu daria a minha por ela. E foi por isso que eu decidi não brigar mais com Scott. O que aconteceu entre a gente foi uma tremenda falta de respeito com ela e me sinto envergonhado por isso. Estou me controlando há meses pra não perder a calma e não me meter em confusão pra não envergonhá-la mais, mas é só o meu irmão chegar que no primeiro dia dele de volta alguém quase vai parar no hospital. Eu sei que não vai ser fácil ter sangue frio com ele por perto, mas pela vovó eu vou ter que fazer um esforço.
Cheguei na casa do Brandon e ele já veio rindo da minha cara arrebentada.
_ Tinha outro guaxinim na sua lixeira?
_ Ha ha! Muito engraçado.
Uma vez eu fui tirar um guaxinim da lata de lixo lá de casa e ele me atacou com os comparsas dele. Resultado: fiquei destruído, quase quebrei o braço ao escorregar na grama molhada quando fui correr, e o bando de guaxinim voltou pra lixeira depois de me expulsarem de lá. É difícil de acreditar, eu sei, e é por isso que ele pega no meu pé sempre que apareço com hematomas.
_ Deu as boas vindas pro seu irmão?
_ Ele é um merda! Teria acabado com ele se não fosse pela vovó.
_ Você precisa controlar essa sua raiva, meu amigo. Não vai resolver nada sair no soco com alguém cada vez que é provocado.
_ Ele falou da Harley._ Sequei o sangue que escorreu da minha sobrancelha._
_ Okay!_ Soltou um suspiro longo._ Vamos indo? As meninas estão prontas._ Deu a volta no carro e abriu a porta.
_ Meninas?_ Me olhou por cima do veículo como se tivesse feito algo errado._ Achei que fôssemos sair com os meninos.
_ Íamos, mas eu tô ficando o com uma garota e ela quer ir na festa da Bethany._ Balancei a cabeça negativamente e suspirei pesado.
_ Você dirige! Não tô com cabeça pra isso._ Joguei as chaves pra ele e trocamos de lado.
Brandon não é o melhor motorista que eu conheço e fiquei um pouco arrependido de ter pedido pra ele dirigir quando passou por dois quebra-molas sem reduzir a velocidade. Meu amigo já entregou jornais na cidade toda, conhece as ruas de olhos fechados, mas, das duas uma, ou ele estava realmente perdido, ou as meninas das quais ele falou, moram no mesmo bairro que a Harley.
_ Posso saber quem é a garota que você disse que está ficando?
_ É a Jessie._ Prendeu a respiração percebendo a burrada._ Nathan, por favor não me mata._ Meu melhor amigo saindo com a melhor amiga da Harley. Eu poderia matá-lo ali mesmo e ninguém saberia.
Ele parou o carro na frente da casa dela. "Que ela não vá com a gente" desejei contradizendo o que eu realmente queria. Desci do carro e esperei apoiado no capô com os braços cruzados.
_ Nathan, eu...
_ Não fala nada, Brandon! Isso vai ter volta.
Olhei pro lado e vi Harley saindo de dentro da casa. Ela estava linda. Não muito diferente do que é todos os dias, mas estava mais. Meu corpo todo estremeceu ao vê-la. Pensei que, só por aquela noite, as coisas poderiam ser diferentes. Sem brigas, olhares raivosos ou ofensas. Poderíamos conversar como nos velhos tempos, eu diria que senti a sua falta, ela diria que sentiu a minha, eu confessaria meus sentimentos por ela e tudo seria perfeito. Então eu vi Kira insistindo pra ela vir e percebi que eu era o único que pensava daquela forma. Foi devastador.
Eu não sabia onde ficar naquela casa, um cômodo estava pior do que o outro e pra variar meus amigos haviam desaparecido. Eu não conseguia encontrar nem mesmo a Harley. Ela é pequena, sumir entre a multidão não é uma tarefa difícil pra ela.
Voltei para o quintal com um copo cheio de algo que parecia Coca Cola, mas assim que coloquei na boca eu descobri que não era. Joguei o liquido fora e me sentei no banco ao lado de um casal que deveria estar em um quarto. Dei a ideia para eles e franziram a testa para mim por eu ter atrapalhado o momento. Qualquer lugar seria melhor do que ali.
Assim que cheguei na cozinha vi Scott falando com a Harley. Estava com a mão sobre a dela e isso fez meu coração doer. Ele olhou pra mim, abriu aquele sorriso maléfico e o que eu temia aconteceu. Pela primeira vez eu fiquei sem reação diante de uma situação estressante, apenas sentindo meu coração parar de bater aos poucos enquanto via meu irmão tomar o meu lugar. E o pior foi que a Harley aceitou o beijo. Meu peito doía e estava difícil de respirar. Engoli o caroço que se formou na minha garganta e saí dali sem olhar pra trás.
A imagem de Scott e Harley juntos não saía da minha cabeça. Dirigi por horas sem saber ao certo onde chegaria, só queria ficar o mais longe possível dos dois.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Te Amo no Meu Ritmo
Teen FictionEm um mundo repleto de passos delicados e sentimentos emaranhados, adentramos a história cativante de uma jovem bailarina de cabelos ruivos, cuja dança é uma expressão de sua alma apaixonada. Em meio a sapatilhas desgastadas e sonhos cintilantes...