POV NATHAN
Dirigi por horas e parei o carro na beira da praia. Fiquei lá até o sol começar a despontar no horizonte. Eu nunca imaginei que me sentiria assim por uma garota. Não queria sentir ciúmes da Harley. Não queria que ela significasse algo pra mim. Estava melhor sem esses sentimentos que me machucam o tempo todo.
"Harley disse que não quer mais ficar perto de você". A lembrança de Ashley me falando sobre a Harley invadiu minha mente como se tivesse acontecendo de novo. "E que lamenta por você ser tão mal caráter quanto o seu pai".
Flashes da nossa briga invadiram a minha mente.
Me lembro de esperar por ela na frente dos armários naquele dia. Queria saber se o que Ashley disse era verdade. Eu sentia muita mágoa por ela ter contado pro pai dela sobre o meu, mas aceitei porque ele era culpado e precisava pagar pelo crime que cometeu, e também porque eu não queria me afastar dela. Harley era a única coisa boa que eu ainda tinha, não podia acabar com nossa amizade só porque ela tinha feito o que deveria fazer.
A vi se aproximando rápido e estava chorando. Me perguntei o que teria acontecido pra ela estar daquele jeito. Quando ela chegou perto eu nem tive tempo de perguntar. Fui empurrado com força contra os armários o que causou um barulho alto e todos pararam pra ver.
"Seu playboyzinho metido a besta. Você é um idiota, Nathan. Não sei onde estava com a cabeça quando fiz amizade com você.". Essas palavras me atormentam todos os dias desde que foram ditas. Sem entender o porquê daquele escândalo eu a questionei e a resposta me fez acreditar que o que Ashley disse era verdade.
"Não se faça de desentendido! Não é culpa minha que seu pai não vale nada. Ele é um criminoso que merece passar o resto da vida atrás das grades."
Eu tentei pedir pra ela parar de falar, mas o ódio que ela sentia a deixou surda e só conseguia ouvir a si mesma. A raiva que eu não sentia havia muito tempo, começou a incendiar meu corpo e fiquei com medo de perder o controle com ela.
"Harley, eu acho mesmo que você deveria calar a sua boca!"
Foi aí que ela me falou algo que me atingiu com tanta força que me fez parar até de respirar. "Ou o quê? Vai bater em mim como seu pai fazia com a sua mãe? Vai em frente. Mostre pra todo mundo quem você realmente é. Mostre que você que é desprezível e merece o pai que tem"
Por mais raiva que eu estivesse tendo dela naquele momento, não pude deixar de notar o quanto ela estava magoada. Tinha algo muito estranho naquilo tudo porque eu sabia que ela jamais diria aquelas coisas pra mim a toa. As lágrimas jorravam dos seus olhos e eu deveria ter feito algo para acalmá-la, mas em vez disso aquelas palavras começaram a penetrar na minha mente e eu não consegui manter a calma.
"Você é que é medíocre. É um garoto detestável, mimado e carente."
"CALE-SE." Então eu não consegui mais me importar com ela. Se ela estava falando aquelas coisas era porque pensava aquilo de mim.
"CALE A PORRA DA SUA BOCA!". Eu nunca pensei que faria Harley sentir tanto medo. Quando eu gritei, ela se afastou até bater as costas nos armários atrás dela e mesmo vendo ela assustada eu não parei. "Que direito você acha que tem pra falar do meu pai? Não sabe nada sobre ele ou sobre a minha mãe, então cale a sua boca. Eu te odeio! Você é uma traidora e eu quero que fique longe de mim." Disse que a odiava porque era o que eu estava sentindo naquele momento, mas nunca foi verdade. Eu jamais conseguiria odiá-la.
Me pergunto até hoje de onde ela tirou aquela ideia de que meu pai era violento com a minha mãe. Ela poderia dizer o que quisesse sobre ele ter sido preso e ser uma pessoa desprezível, mau caráter e todas ofensas que pudesse achar para descrevê-lo pelo que fez, mas não podia falar sobre o que não sabia, muito menos sobre minha mãe.
Todos na escola viram a nossa briga e foi assunto por dias. Eu fiquei mal. Não conseguia comer, não tinha vontade de fazer nada. Não saía com os amigos e não queria mais voltar pra escola. Minha avó foi quem me ajudou. Ela me deu conselhos e me fez perceber que não deveria parar minha vida por causa de uma garota. Muitas coisas iriam acontecer e algumas delas piores do que isso. Mas o que ela não sabia era que Harley não era apenas uma garota.
Harley era A garota.
A garota que me fazia rir nos piores momentos, que cantava desafinado só pra não me deixar passar vergonha sozinho no karaokê. Que tem o sorriso mais lindo que eu já vi e que, por mais irritado que eu estivesse, só de ver aquele sorriso eu me sentia melhor. E ela ainda é essa garota.
Eu ainda fico esperando por ela na porta da escola só pra vê-la passar. Eu penso nela o tempo todo e não vejo a hora de acordar e ir pra escola só pra ver aqueles cabelos cor de fogo e aquele sorriso mágico. Eu amo quando ela fica com as bochechas coradas quando passa por mim. Adoro vê-la desconcertada ao falar comigo e o som da sua voz é melodia para os meus ouvidos.
Harley não é, nem nunca vai ser uma garota qualquer.
Chego em casa e não vejo o carro de Scott na garagem. Tento evitar pensar que ele pudesse ainda estar com ela porque imaginá-la nos braços dele era suicídio.
Entro em casa e encontro minha avó dormindo no sofá. Fecho os olhos me dando conta do que fiz. Não liguei pra ela avisando que ia demorar e a deixei preocupada.
_ Vovó?_ Acaricio seu rosto tentando fazê-la acordar._ Vovó, estou em casa!_ Ela abre os olhos e assim que se dá conta de que sou eu me puxa pra um abraço.
_ Você chegou! Graças a Deus._ Se sentiu aliviada. Afastou-se e logo a expressão de alívio deu lugar a um olhar furioso._ Você disse que ia ligar._ Bateu com força no meu braço.
_ Ai!_ Me levantei massageando o braço e me afastando da sua fúria._ Me desculpa! Eu me esqueci.
_ Neto ingrato!_ Resmungou se levantando enrolada no cobertor._ Eu vou dormir antes que você me deixe louca.
_ Boa noite, vó!_ Disse antes que ela sumisse no corredor.
_ Bom dia, você quer dizer._ Corrigiu me fazendo rir da sua capacidade de ficar brava e ainda assim parecer fofa.
Fui pro quarto tentar descansar e aquela cena do Scott com a Harley não me deixava pregar os olhos. Quem me dera estar no lugar dele. Não deixaria ela se afastar de mim nunca mais.
O sol já estava alto e sem conseguir pregar os olhos decido fazer alguns exercícios para descarregar toda aquela energia que me consumia por causa do que aconteceu.
Abri a garagem e fiz um aquecimento antes de começar a treinar. Eu costumava ir na academia por indicação da terapeuta, mas acabava deixando a raiva me dominar e sempre machucava alguém. Então comecei a treinar em casa, assim eu consigo diminuir a intensidade dos meus sentimentos e evito machucar outras pessoas.
Por mais que eu tente focar meus pensamentos em coisas que não me façam ficar com raiva, Harley sempre da um jeito de penetrar em minha mente. Começo a lembrar das coisas que aconteceram, os sentimentos ruins voltam e eu me descontrolo.
Brandon e Tyler estavam procurando por mim, pois desde que saí da festa da Bethany eu não falei mais com eles e nem estava com cabeça para isso. Apesar de precisar conversar com alguém, eles namoram as melhores amigas de Harley e com certeza contariam pra elas qualquer coisa que eu dissesse. Jacob também estava me ligando e mandando mensagens querendo saber onde eu estava. Ele é o mais experiente de nós todos e tenho certeza que saberia como me ajudar, mas não sabe guardar segredo. Caleb era o único que não estava enchendo meu celular com mensagens de voz e de texto e também era em quem eu podia confiar naquele momento.
_ O que você pretende fazer agora?_ Estávamos sentados no sofá jogando a bola de basebol um pro outro enquanto contava a ele tudo o que tinha acontecido.
_ Eu não sei!_ Segurei a bola._ Eu sou louco pela Harley._ Meu coração batia descompassado apenas por dizer o seu nome._ O que eu mais quero é poder conquistá-la, mas tenho medo de não conseguir me controlar e... Você sabe.
_ E eu preciso te dizer que esses sentimentos ficam muito mais intensos pessoalmente.
_ O que eu faço, Caleb?_ Aquilo estava me deixando tonto.
_ Até você achar um jeito de controlar suas emoções, acho que o melhor que você pode fazer é ficar longe dela._ Senti meu peito doer com a possibilidade.
_ Eu já fiquei longe dela por muito tempo. Não quero mais fazer isso.
_ Mas precisa, meu amigo!_ Repousou a mão sobre meu ombro._ Além do mais, ela está com seu irmão, não está?_ Aquilo era muito pior do que ficar longe dela.
_ Espero que não...
De repente a porta se abre e Scott entra por ela todo encharcado e com um sorriso de orelha a orelha.
_ Que chuva!_ Exclamou parando ao lado do sofá e chacoalhou a cabeça fazendo saltar água em cima de mim e do meu amigo._ A vovó está em casa?_ Agiu como se nada tivesse acontecido.
_ Não!_ Sequei as gotas de água que respingaram no meu rosto._ É sábado, ela foi a igreja e depois ia pra casa de uma amiga. Por quê?
_ Eu preciso de um smoking! Queria saber se ela poderia me ajudar com o meu._ Tirou de dentro da sacola as peças de roupas molhadas.
_ Eu acho que deve ter alguma coisa no quarto do papai que sirva em você._ Dei a ideia sem perguntar antes pra que ele precisava de uma roupa tão formal._ Mas pra quê você precisa de um?
_ Eu vou acompanhar a Harley em um baile de máscaras._ Senti meu mundo parar de girar.
Por um instante eu pensei que Scott tivesse a intenção de me ajudar com a Harley pelo que ele me falou na garagem, mas percebi que ele só está tentando me manter longe dela pra conseguir o que quer. Scott nunca demonstrou nenhum tipo de interesse nela e de repente ele chega e gruda na garota como se fosse um carrapato. Conheço meu irmão e ele nunca se aproximou de uma menina se não fosse com a intenção de levá-la para cama.
_ Você está bem?_ Voltei a mim quando Caleb entrou no meu campo de visão.
_ Onde está o Scott?_ Ele não estava mais na sala.
_ Subiu pra tirar a roupa molhada e procurar outro smoking.
Subi as escadas correndo e só conseguia pensar em impedi-lo de sair com ela. Seja lá quais fossem as intenções dele, eu não ia esperar para ver.
Chutei a porta do seu quarto e o encontrei apenas de cueca na frente do espelho secando os cabelos com a toalha.
_ O que pensa que está fazendo?_ Me olhou espantado.
_ Me diga o que você quer com ela?_ Vociferei bufando como um touro.
_ O que eu quero com quem?
A única coisa que eu me lembro depois disso foi de saltar sobre a cama para chegar até ele. Não sei o que aconteceu nem como aconteceu, mas eu fiquei em pânico quando voltei a mim e vi Caleb ajoelhado ao lado de Scott inconsciente. Meu amigo estava com a sobrancelha sangrando, o espelho estava em pedaços e eu não fazia a menor ideia do porquê.
_ Vai ficar aí parado ou vai ajudar?_ Caleb tentava levantar Scott, mas não tinha força o suficiente.
_ O que aconteceu?_ Me aproximei para ajudá-lo e ele me olhou assustado._ O que foi?
_ Nada!_ Atordoado ele se levantou e foi até o guarda roupas._ Me ajuda colocar uma roupa nele. Vou levá-lo pro hospital.
_ Eu vou com você..
_ Não!_ Me olhou como se estivesse com medo._ Você já fez demais.
O ajudei a colocar Scott no carro e voltei para dentro de casa.
Enquanto aguardava notícias eu tentava me lembrar do que tinha feito. Repassei o que aconteceu várias e várias vezes na minha mente. Scott entrou em casa todo molhado, disse que ia sair com a Harley, eu subi as escadas furioso, entrei no quarto dele, pulei sobre a cama e deste momento até quando o vi no chão desmaiado, eu não lembro de nada e isso me assustava. Eu já não tinha controle sobre meu corpo, não ter controle também sobre a mente era aterrorizante.
Andava de um lado ao outro tentando me acalmar quando Caleb me liga para dar notícias de Scott.
_ Ele está bem! Foi só um desmaio por falta de oxigenação no cérebro.
_ Graças a Deus!_ Relaxei meu corpo no sofá mais aliviado.
_ Graças a Deus? Nathan você quase matou o seu irmão e me atacou quando eu tentei te impedir._ Nisto a minha memória voltou eu lembrei de tudo.
Vergonha era pouco pra descrever o que eu estava sentindo. Me pergunto se isso aconteceu outras vezes, mas por mais que eu tente, nunca vou descobrir a resposta.Caleb chegou em casa com Scott e me apressei em recebê-los. Estava arrependido do que fiz e precisava consertar.
_ Como você está?_ Scott passou direto por mim e eu o segui._ Scott..._ Segurei seu braço pra que ele parasse para me ouvir.
_ Não encosta em mim!_ Se virou bruscamente puxando seu braço com violência.
_ Eu só quero me desculpar...
_ Pelo quê? Por quase ter me matado?_ Seus olhos estavam vermelhos e cheios de lágrimas._ Acha que um simples pedido de desculpas pode me fazer esquecer isso?
_ Fala como se você nunca tivesse tentado fazer o mesmo._ Lembrei de quando ele quase me afogou na piscina.
_ Do que você está falando? Se um dia eu quisesse ter feito isso, pode ter certeza de que não estaríamos tendo essa conversa._ Pela primeira vez eu me senti intimidado pelo meu irmão._ Agora, se você me dá licença, eu preciso me arrumar pra me encontrar com a Harley._ Me deu as costas e foi pro seu quarto.Caleb me convenceu a sair com ele pra não correr o risco de eu perder a cabeça outra vez, mas não consegui ficar fora de casa por muito tempo. A ideia de que Harley naquele momento poderia estar nos braços do meu irmão me tirou totalmente a vontade de me divertir. Queria poder dizer com certeza que Harley não se entregaria a ele, mas eu não sei se ela continuava sendo a mesma pessoa que eu conheci. Muita coisa aconteceu nesses dois anos que me fizeram mudar, certamente ela também havia mudado.
A cada minuto que passava e Scott não chegava em casa, mais pensamentos relacionados a eles dois pairavam sobre minha cabeça me tirando o sono e a paz. Enquanto eu olhava para a tela do celular contando os minutos, a foto do contato de Harley apareceu na tela. Franzi a testa pensando ser algum tipo de brincadeira que meu irmão estava fazendo e desliguei.
_ Ainda acordado?_ Vovó entrou na cozinha com seu hobby de florzinha rosa e uma pantufa de coelho.
_ Não consigo dormir!_ Estava sentado na banqueta olhando para o relógio de mesa na minha frente contando os segundos pra ele chegar em casa.
_ Eu também não!_ Foi até o fogão, pegou a chaleira e colocou água para esquentar._ Quer tomar um chá comigo?
_ Eu aceito!_ Ela pegou duas xícaras e colocou sobre o mármore da pia.
Ouvi alguém abrir a porta e fui até a sala.
_ Esperou por mim, mas quanta gentileza._ Sorriu sendo sarcástico quando me viu.
_ Como foi a festa?_ Perguntei mantendo meu tom de voz neutro.
_ Em uma palavra? Excitante._ Sentir a raiva tomando conta dos meus sentidos por causa de Scott já não era novidade._ Ela estava linda._ Segurou o paleto por cima do ombro e veio na minha direção com o celular na mão.
Scott estava radiante. Seus olhos possuíam um brilho que eu nunca tinha visto, estava com as maçãs do rosto coradas e sustentava um meio sorriso que começava a me incomodar por eu não ter certeza do motivo.
Ouvi, vindo da cozinha, o som de notificação do meu celular.
_ Não vai ver do que se trata?_ Seu tom de voz era sugestivo.
Fui até a lá onde a vovó bebia o seu chá tranquilamente. Scott beijou o topo da sua cabeça e repousou a mão sobre seu ombro.
_ Desculpe por não me levantar pra te dar um abraço, querido. Sinto minhas pernas tão pesadas ultimamente.
_ Então o que acha de eu te carregar até o quarto depois?_ Brincou fazendo minha avó rir.
Abri a mensagem que Scott me enviou e fiquei paralisado quando o video dele dançando tango com a Harley começou a rodar. A forma como os dois estavam se comportando era quase obscena. A tensão entre os dois era perceptível. Parecia que estavam prestes a rasgar as roupas um do outro e qualquer um que esteve presente diria o mesmo.
As mãos dele tocando o corpo dela me causava palpitações. A forma como se olhavam, a proximidade exagerada dos seus rostos e as mãos de Scott deslizando pela coxa dela era totalmente desnecessária.
_ Nathan, está tudo bem?_ Saí do transe ao ouvir a voz da minha vó e só então eu percebi o quanto aquilo estava mexendo comigo.
Os batimentos cardíacos descompassados, a dificuldade para respirar e meus olhos cheios de lágrimas que escorreram misturando-se com o suor, eram alguns dos efeitos que o ódio que estava sentindo do meu irmão me causava. Eu segurava o celular com força como se ele fosse o culpado por aquilo estar acontecendo.
Levantei meus olhos pro Scott que sorria vitorioso. Eu não estava aguentando toda aquela energia. Precisava deixá-la sair e instintivamente eu peguei o que estava mais próximo da minha mão e lancei o objeto na direção dele fazendo água quente espalhar pra todo lado. Ele desviou da chaleira para proteger a vovó com o paletó e com seu corpo.
Fiquei imóvel vendo ele se contorcer de dor enquanto a vovó o ajudava a tirar a camisa. Minha cabeça começou a girar e só que eu ouvia era um barulho agudo. Vi eles saindo da cozinha e eu continuei no mesmo lugar repetindo mentalmente a mesma pergunta: "O que está acontecendo comigo?".
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Te Amo no Meu Ritmo
Teen FictionEm um mundo repleto de passos delicados e sentimentos emaranhados, adentramos a história cativante de uma jovem bailarina de cabelos ruivos, cuja dança é uma expressão de sua alma apaixonada. Em meio a sapatilhas desgastadas e sonhos cintilantes...