POV HARLEY
Dentro da ambulância indo pro hospital eu não conseguia escutar nada além das interjeições de susto das pessoas no Teatro. A dor que sentia não era dor física. Dentro de mim estava tudo em pedaços. Os momentos antes de eu subir ao palco e a queda que eu levei passavam na minha mente como se estivessem em um looping infinito e aquilo doía cada vez mais. Sarah ficou do meu lado o tempo todo tentando me acalmar, mas eu só conseguia chorar. Sabia que meu sonho de ser dançarina tinha chegado ao fim.
Eu desmaiei de dor quando o ortopedista colocou meu pé no lugar. Acho que foi um alivio pra Sarah porque assim eu parei de chorar. Acordei no quarto com a tala no pé. Scott estava do meu lado segurando minha mão e Sarah escorada na parede com os braços cruzados.
_ Oi, minha pequena!_ Se aproximou e acariciou meu rosto.
_ Como se sente?_ Scott parecia bem preocupado. Lembrei do que havia acontecido e as lágrimas tornaram a surgir nos meus olhos.
_ Harley, por favor, se acalme._ Eu podia me ver caindo através dos olhos dela. Nem todos os abraços do mundo seriam capazes de acalmar o que eu estava sentindo. Nem mesmo ter Scott do meu lado fez diferença.
É difícil aceitar que de repente a coisa que você mais ama fazer no mundo todo, é a única que você nunca mais vai poder fazer. É difícil pensar no que vai acontecer dali pra frente. Eu havia planejado todo o meu futuro como bailarina e pensar que eu nunca mais vou subir em um palco é devastador.
Recebi alta antes do amanhecer e foi Scott quem nos levou pra casa, mas só porque meu pai ainda não tinha chegado de viagem. Sarah disse que ele viu minha apresentação pela internet e pegou a estrada na mesma hora.
_ Nathan foi ao hospital._ Sarah contou sentada do meu lado na cama enquanto acariciava minhas costas. Senti meu coração dar uma leve acelerada._ Ele queria saber como estava._ Em outro momento aquilo me faria pular de felicidade.
_ E porquê eu não vi ele?
_ Eu não deixei._ Me virei pra ela incrédula. Se tem alguém no mundo que me entendia naquele momento, esse alguém era o Nathan. Eu precisava dele mais do que de qualquer outra pessoa._ Pensei que não fosse uma boa ideia já que...
_ Você ao menos me perguntou?_ Ela não podia ter tomado essa decisão por mim._ Não imaginou que talvez fosse dele que eu estivesse precisando e...
_ Harley, foi você quem disse que não queria vê-lo._ Eu não tinha lembranças dessa parte._ Dentro da ambulância você ficou dizendo que era culpa dele e que o odiava por isso. Você não se lembra?_ Ela estava tão confusa quanto eu.
A campainha tocou e enquanto Sarah atendia a porta eu tentava entender porquê disse aquilo. Talvez fosse por causa do vídeo que publicaram. Ouvir aquelas coisas de novo, minutos antes da minha apresentação, foi demais pra mim. Talvez no fundo eu saiba que ele tem mesmo culpa pelo que aconteceu e eu só não quero aceitar.
Leslie entrou correndo no quarto e me abraçou depois de sentar na cama. Estranhei ela ter vindo sozinha. Jessie que estava no teatro nem mesmo me ligou pra saber como eu estava, me preocupo se Brandon contou alguma coisa sobre aquela noite. Não quis tocar no assunto e aproveitei cada segundo com minha amiga. Ela passou o dia comigo, fazendo tudo pra mim e me ajudando em cada passo que eu dava. Jessie e Kira apareceram ao entardecer. Acho que o meu medo de que Jessie soubesse de alguma coisa me deixou meio desligada e elas não ficaram muito tempo. Esse tipo de coisa me deixa chateada. Me pergunto se ainda existe amizade entre a gente ou só estamos juntas pra ter companhia. Sei que com a Leslie eu posso contar, mas não tenho tanta certeza em relação as outras duas. Um tempo atrás eu contaria pra Jessie o que aconteceu sem ter medo do que ela iria pensar, mas agora é como se estivéssemos esperando alguém cometer um erro pra ter um motivo pra se afastar. Sinceramente eu não trocaria uma amiga por um garoto, mas tenho dúvidas sobre a Jessie. Tenho vontade de contar a ela o que aconteceu comigo e Brandon pra ver até onde a amizade dela é capaz de ir.Me assustei com o barulho estrondoso do trovão que fez tremer as paredes. Precisava me levantar pra fechar a janela antes que começasse a chover e tive meu primeiro contato com as muletas. Teria achado divertido se elas não me fizessem lembrar do que eu perdi. Fechei a janela e me sentei na poltrona pra me livrar logo delas. Meu mundo desaba toda vez que eu me lembro que não vou mais poder dançar, pelo menos não como antes. Não é coisa da minha cabeça ou drama. O ortopedista disse que se eu insistir no balé, pode acontecer de eu sofrer outras lesões e acabar arrebentando os tendões. Então eu tenho que pegar leve depois da minha recuperação, caso contrário os ligamentos podem arrebentar e aí sim eu vou ter que dizer adeus a dança.
Os galhos da árvore batiam ferozmente contra os vidros da janela. Pensei que seria melhor sair de perto antes que eles quebrassem e acabassem me machucando. Antes de voltar pra cama eu quis olhar para fora e ver se o vento estava forte mesmo ou era só aquele tubérculo gigante querendo chamar atenção. O vento estava mesmo muito forte, mas o que me chamou atenção foi a pessoa agarrada nos galhos com os olhos esbugalhados e acenando pra mim. Depois do susto eu percebi que já tinha visto aquela jaqueta vermelha e branca em algum lugar. Abri a janela pra ver melhor quem era o meliante. Fiquei surpresa ao ver quem era.
_ Você ficou maluco?_ Tentei falar o mais baixo possível pro meu pai não ouvir._ Desce logo daí e vai embora.
_ Que ideia brilhante! Mas sabe que eu prefiro ficar pendurado aqui, de baixo dessa tempestade e correndo o risco de um raio cair na minha cabeça? Me parece muito mais agradável._ Respondeu irônico.
_Então boa sorte._ Coloquei minha cabeça para dentro e ia fechar a janela quando ele implorou que não o fizesse._ O que você quer?
_ Me deixa entrar e sair pela porta. Eu não consigo mesmo descer daqui._ Levei alguns segundos pra decidir se deveria mesmo ajudá-lo.
_ Eu vou me arrepender disso._ Fui contra a minha vontade e o ajudei entrar pela janela. Foi uma tarefa quase impossível fazê-lo largar o galho, mas deu tudo certo._ Quem diria que o garanhão da cidade tem medo de altura._ Debochei fechando a janela enquanto Caleb se deitava no chão se recuperando do susto.
_ Quem diria que um dia a bailarina ficaria sem o pé._ Desfiz meu sorriso e ele percebeu que havia falado besteira._ Me desculpe! Eu não quis...
_ Tanto faz!_ O interrompi me sentindo mal com o que ele havia dito._ Levanta._ Peguei as muletas que eu tinha jogado no chão._ Vou te mostrar onde é a saída._ Quando abri a porta vi meu pai no corredor e voltei rapidamente._ Se esconde, se esconde._ Sussurrei e ele se escondeu dentro do closet. Ouvi batidas.
_ Filha! Está tudo bem?
_ Estou bem, pai. Obrigada!_ Respondi temendo que ele abrisse a porta. Não saberia explicar como o garoto que me beijou na escola foi parar dentro do meu closet.
_ Quer que eu te traga alguma coisa da cozinha?
_ Não.
_ Água._ Caleb colocou a cabeça pra fora e sussurrou.
_ Pode trazer um copo de água pra pra mim?_ Caleb mostrou dois dedos._ Dois copos de água, por favor!
_ Dois copos de água?_ Repetiu achando estranho o meu pedido.
_ Estou me sentindo desidratada._ Outra mentira, e sem gaguejar. Superei minhas expectativas.
_ Eu vou trazer água pra você então._ Ouvi seus passos cada vez mais longe do meu quarto.
_ O que você veio fazer aqui?_ Perguntei finalmente.
_ Eu vim ver como você está._ Saiu do closet e tirou a jaqueta.
_ O que aconteceu com seu rosto?_ Toquei levemente a mancha roxa no canto do seu olho.
_ Isso foi só uma discussão boba entre eu e meu pai._ Começou andar pelo quarto analisando tudo.
_ O seu pai fez isso em você?_ Sempre achei que Caleb fosse um garoto mimado. Pelo visto eu não sabia nada sobre ele.
_ Ele é bem temperamental e hoje eu não o peguei num dia bom._ Soltou um suspiro pesado descansando os ombros._ Mas não tem problema, isso vai sarar e ninguém vai lembrar do que aconteceu.
_ Eu vou lembrar._ Estava inconformada com aquela informação._ Sabe que ele pode ser preso, não sabe?
_ E seu pai aceitaria ser meu advogado pro bono?_ Voltou pra perto de mim.
_ Não depois do video que ele recebeu hoje mais cedo.
_ Depois que ele me conhecer, não vai achar tão ruim._ Brincou abrindo um sorriso largo que fez suas covinhas aparecerem. Senti minha perna fraquejar e uma onda de calor percorrer pelo meu corpo. Desviei o olhar e sai de perto dele.
_ Ele já tem uma opinião formada sobre você e eu duvido que..._ Ouvi batidas na porta e desta vez meu pai não esperou que eu respondesse, simplesmente entrou segurando uma jarra com água. Prendi minha respiração e congelei. Por sorte Caleb ficou atrás da porta quando ela abriu e e meu pai não o viu.
_ Está aqui a sua água._ Colocou em cima da escrivaninha._ E... O que aconteceu? Você está pálida. É a tempestade?_ Não sabia o que responder, então movimentei a cabeça concordando._ Não se preocupe, ela não vai durar muito.
_ Ah! Você está aqui. Eu ouvi no noticiário que..._ Sarah entrou no quarto e ia fechando a porta, mas viu a estátua do Caleb atrás dela e deixou aberta.
_ O que você ouviu?
_ A tempestade..._ Sarah franziu a testa pra mim reprovando tudo aquilo._ Pode durar a noite toda. Eles emitiram um alerta pra não sairmos na rua porque pode haver quedas de árvores e postes._ Eu entendi nas entrelinhas o que ela estava dizendo.
_ Que bom que eu estou em casa. Assim eu posso cuidar das duas mulheres da minha vida._ Puxou Sarah para um abraço, mas eu ainda estava apreensiva. Sendo pressionada contra o peito do meu pai, Sarah fazia gestos e caretas me repreendendo por ter um garoto no meu quarto.
Consegui respirar aliviada só depois que eles saíram do meu quarto.
_ Eu mato você, Caleb!
Me sentei na cama preocupada com o que faríamos até a chuva passar e ele poder ir embora. Ele caiu sentado do meu lado me fazendo quase saltar pra fora da cama.
_ Essa cama é fantástica._ Continuou brincando e só parou quando o olhei séria o suficiente pra ele ficar com medo._ Me desculpe. O que a gente vai fazer?
_ A gente? Você quem veio sem ser convidado, agora descobre como você vai embora.
_ Sem chance de eu sair nessa chuva, então vamos fazer o que até a chuva passar?
_ Sentar e esperar._ Ficamos ambos em silêncio apenas ouvindo o barulho da chuva acompanhada de ventos e trovões. A cada minuto que passava eu soltava um suspiro pesado. Nunca achei que a decoração do meu quarto fosse tão princesinha, mas desta vez eu tive tempo de analisar cada detalhe dentro dele. Quando olhei para o tapete eu vi uma sacola de papel caída quase debaixo da escrivaninha._ O que é aquilo?
_ Caramba, eu tinha esquecido disso._ Pegou a sacola e voltou a sentar do meu lado._ Eu trouxe umas coisas pra te alegrar um pouco._ Assim que ele abriu a sacola eu senti o cheiro de gordura saturada invadir o cômodo inteiro._ Tem batata frita e também trouxe um filme pra você ver._ Me mostrou a capa do filme e se eu não estivesse com o tornozelo machucado eu jogaria ele pela janela.
_ De todas as coisas que existem no mundo você trouxe justamente as duas que eu..._ Olhei pra cara dele e me lembrei da briga que ele teve com pai, então não tive coragem de ser mal educada._ Eu agradeço a sua preocupação, mas eu não como batata frita.
_ Não come batata frita?_ Pelas suas sobrancelhas levantadas e olhos esbugalhados, era a primeira vez que ele ouvia alguém dizer aquilo._ Por quê?
_ Eu danço..._ Fiz uma pausa ao lembrar que aquele era um verbo que eu teria que conjugar apenas como pretérito imperfeito._ Enfim... Minha dieta é bem seleta._ Justifiquei virando o rosto para o outro lado pra ele não me ver com os olhos cheios de lágrimas.
_ Quem é Peter?_ Me voltei pra ele curiosa._ Ele tá ligando._ Apontou para o notebook atrás de nós.
_ Não é ninguém._ Ignorei a chamada e fechei o aparelho.
_ Você silenciou a chamada dele porque ele não é ninguém ou porque te incomoda o fato dele ser alguém que você não quer que seja?_ Encheu a boca com aqueles palitos amarelos.
_ O quê?_ Eu não tinha entendido o que ele estava querendo dizer._ Não que seja da sua conta, mas ele é filho do marido da minha tia.
_ Não podia dizer que ele é seu primo?_ Perguntou com a boca cheia.
_ Ele não é meu primo. É o filho do marido da minha tia._ Repeti num tom mais áspero.
_ Ah! Entendi._ Engoliu o que estava mastigando._ Vocês ficaram._ Senti meu rosto corar e desviei o olhar._ Nããão!_ Por alguma razão ele estava surpreso._ Vocês transaram?
_ O QUÊ?_ Sem querer eu soltei um berro._ Você ficou maluco?_ Sussurrei preocupada que meu pai pudesse ter me ouvido._ Peter é só mais um garoto idiota que eu tive a infelicidade de conhecer e que por ironia do destino agora faz parte da família.
_ Eu acho que vocês transaram._ Continuou debochando da minha cara. Virei os olhos impaciente e cruzei os braços._ Então se ele não é ninguém, atende a vídeo chamada.
_ Não vou fazer isso.
_ No fim das contas, a menina perfeitinha não é tão perfeitinha._ Continuou me provocando enquanto se empanturrava com as batatas.
_ Tá legal._ Peguei o notebook e o coloquei sobre as minhas pernas._ Vou te mostrar que não é nada disso._ Assim que levantei a tela Peter me ligou outra vez. Fiquei olhando pra foto de contato dele sem coragem pra atender.
_ Você não precisa me provar nada, Harley._ Caleb colocou sua mão sobre a minha e abaixou a tela outra vez._ Seja lá o que esse garoto fez com você, eu já não gosto dele._ Colocou o notebook onde estava.
_ Ele não fez nada de errado se quer saber. Eu é que estraguei tudo.
_ Me conta. Alguma coisa me diz que temos muito tempo pra fazer nada._ Os relâmpagos seguidos das trovoadas indicavam que aquela tempestade estava longe de acabar._ Nada melhor do que ouvir uma historinha.
_ Você pode não vai gostar do que vai ouvir.
_ Está com medo que eu te julgue? Ninguém sabe o que é isso melhor do que eu, então eu te garanto que isso não vai acontecer._ Soltei um suspiro pesado pensando se deveria mesmo contar aquela história pra ele e olhando nos seus olhos eu senti confiança.
_ Tá legal!_ Nos ajeitamos na cama antes de eu começar a contar o que aconteceu._ Foi há 4 anos. Eu fui passar as férias de verão na Califórnia. Uma das minhas tias tem uma casa de praia em Santa Cruz e esse se tornou o ponto de encontro dos primos no verão. Enfim... Minha tia Dorothy estava conhecendo o pai do Peter e decidiu que seria uma boa ideia convidá-los pra um final de semana com a gente. Eu odiei o Peter desde o primeiro contato visual._ A imagem daquele garoto esquisito e sorridente me veio a memória._ Conhece o Sméagol?
_ "Meu precioso!"_ Imitou o personagem me fazendo rir timidamente.
_ Esse mesmo! Por causa dos grandes olhos azuis, o sorriso gigante, dentes tortos e porque ele era magrelo demais pra um garoto de 12 anos, eu achava ele muito parecido com o Sméagol. Não era por isso que eu o odiava, mas porque ele não parava de sorrir pra mim e aquilo me deixava com medo.
_ Ah, eu também teria medo._ Comentou com a boca cheia de batata frita._ Continua.
_ Ele tinha um amigo chamado Jason e eu me apaixonei por ele a primeira vista durante um passeio que fizemos ao parque aquático, mas só porque ele era bonito, pois cada vez que abria a boca só saía palavrões. Eu tinha apenas 11 anos e não me importava muito com a capacidade mental dos garotos._ Fiz ele rir._ Uma noite antes do Peter voltar pra São Francisco com o pai dele, Minha prima Heather me levou pra festa de aniversário de uma amiga dela e foi lá onde tudo aconteceu._ Fiz uma pausa lembrando detalhadamente daquele dia._ Era a minha primeira vez em uma festa sem a supervisão de adultos e foi a primeira vez que eu joguei "Sete minutos no Paraíso"._ Senti o olhar curioso dele sobre mim e decidi parar com a história antes que eu falasse demais._ A partir daí eu acho que você já sabe o que acontece. Sorteiam os nomes, entram no armário e acontece o que tem que acontecer. Fim da história.
_ Fim? Não mesmo._ Protestou inconformado._ Eu tenho um monstrinho curioso dentro de mim que precisa ser alimentado com detalhes. Você não pode deixar o monstrinho com fome._ Ignorei e peguei meu celular pra não dar atenção a ele._ Harley, você precisa alimentar o monstrinho curioso. Alimente o monstrinho._ Disse isso mais umas três vezes enquanto cutucava meu braço com a ponta do dedo.
_ Pára com isso! Está incomodando._ Já irritada dei um tapa de leve na mão dele pra que parasse de me perturbar.
_ Vai alimentar o monstrinho?
_ Ele já não esta cheio de batata frita?
_ Isso aqui é para o hospedeiro._ Me fez rir outra vez.
_ Não é engraçado? Há alguns dias eu nunca imaginaria nem ficar perto de você e agora estamos deitados na minha cama e eu estou prestes a te contar um dos meus piores segredos. Nem minhas melhores amigas sabem dessa história.
_ Então eu acho que, fora o fato de você ter enfiado a língua na minha boca, isso me torna seu melhor amigo também. Ou o beijo faz parte da seleção?
_ Você não sabia? Todos os meus amigos precisam passar por um processo rigoroso de seleção, inclusive precisa saber beijar pra caso ocorra uma emergência._ Resolvi continuar com a brincadeira.
_ Sua idiota!_ Me empurrou de leve._ Para de enrolar e termina de contar a história. Em detalhes._ Enfatizou a forma como queria ouvir.
_ Tá bom!_ Soltei um suspiro pesado antes de continuar._ Estávamos todos sentados no chão em volta de duas cartolas. Em uma estavam os papéis com os nomes das meninas e na outra com o nome dos meninos. O meu nome foi o primeiro a ser sorteado e me mandaram entrar no armário antes que sorteassem o nome do garoto. Fiquei um pouco receosa, mas confiei na minha prima e fui, mas antes de eu entrar eu ouvi quando falaram o nome do Jason e fiquei feliz. Não tinha luz no armário, então eu fechei a porta e confiei que ia dar tudo certo. Ouvi ele entrar e minhas pernas ficaram trêmulas na hora. Não se se você já reparou, mas eu tenho aquela mania de falar descontroladamente quando fico nervosa. Foi o que eu fiz quando senti as mãos, que eu pensava ser de Jason, segurando as minhas.
_ E o que foi que você disse?
_ Eu disse: "Você sabia que o primeiro beijo visto no cinema foi em um curta de 26 segundos protagonizado por John Rice e May Irwin, e foi filmado por Thomas Edison? Dá pra acreditar? O mesmo cara que as pessoas acreditam que inventou a lâmpada, foi o mesmo que filmou o primeiro beijo da história do cinema. Caso você esteja se perguntando quem inventou a lâmpada se não foi Thomas Edison, embora ainda haja muita discordância sobre esse fato em particular, eu acredito que Nikola Tesla teve um papel fundamental nesta invenção, assim como em muitas outras que vieram depois.".
_ Com 11 anos você já era inteligente assim?_ Parecia surpreso.
_ Eu passava bastante tempo no escritório do meu pai e pra não atrapalhar eu ficava em silêncio lendo.
_ Crianças normais se enchem de doces pra ficarem quietas.
_ Minha mãe não me deixava comer doces._ Minha mãe não me deixava comer muitas coisas pra ser sincera. Balancei a cabeça afastando os pensamentos aleatórios._ Voltando a história... Pra me fazer parar de falar, ou me acalmar, ele me beijou. E quando abriram a porta e eu vi que era o Peter, eu surtei. Disse coisas horríveis pra ele.
_ Que tipo de coisas?
_ Eu disse que ele era nojento, e que se fizessem outro filme baseado nos livros do Tolkien, ele seria chamado pra fazer parte do exército de Orcs e saí correndo chamando ele de Golum._ O Olhar de Caleb pra mim mudou._ Você disse que não ia me julgar._ Abracei a almofada como se ela fosse meu escudo.
_ Não estou te julgando, só acho que... Coitado do garoto._ Virei os olhos me sentindo ainda mais culpada._ Claro que eu acho que você teve razão de ficar irritada. Ser enganada logo no primeiro beijo não deve ser nada legal._ O pior de tudo é que eu quis fazer aquilo. Eu tive escolha e tempo de pensar antes de insultar ele, mas eu queria magoá-lo da mesma forma que fizeram comigo. Eu fui pro Peter o tipo de pessoa que sempre desejei que não existisse._ Dei um tempo pra ele se recuperar._ E é por isso que eu não gosto de festas e odeio "Sete minutos no paraíso".
_ Mas agora está tudo resolvido, certo?_ O monstrinho curioso dentro dele deveria estar faminto.
_ No ano seguinte eu fiquei sabendo que minha tia havia se casado com o pai dele. Tentei me desculpar pra que pudéssemos conviver em paz, mas ele rejeitou minhas desculpas e a partir daí sempre que a gente se encontra é uma guerra. Não conseguimos ficar perto nem por um minuto sem ofender um ao outro. No último verão nós tivemos uma briga tão feia que nossos pais decidiram que íamos tirar férias em lugares diferentes só pra evitar confusão.
_ Isso me lembra outra história..._ Se referia ao que acontece entre eu e Nathan.
_ Espera aí! Eu não odeio o Nathan._ Justifiquei._ O que aconteceu entre a gente foi completamente diferente.
_ Explique. Eu amo histórias!
Parece que uma nova amizade nasceu naquela noite. Caleb me fez esquecer das minhas dores e eu contei coisas pra ele que nem minhas melhores amigas sabem sobre mim. Nós rimos juntos e contamos nossas histórias um pro outro como se fossemos amigos há anos. Ter deixado ele entrar pela janela do meu quarto foi a melhor decisão que eu podia ter tomado. Isso me faz perceber que coisas boas acontecem mesmo nas piores tempestades.
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Te Amo no Meu Ritmo
Fiksi RemajaEm um mundo repleto de passos delicados e sentimentos emaranhados, adentramos a história cativante de uma jovem bailarina de cabelos ruivos, cuja dança é uma expressão de sua alma apaixonada. Em meio a sapatilhas desgastadas e sonhos cintilantes...