Capítulo 20

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POV HARLEY

"Por mais complicadas que as coisas pareçam estar, é mais fácil superá-las quando se tem a companhia de pessoas que te amam".


Abri os olhos de manhã e levei alguns segundos pra entender o que tinha acontecido na noite anterior. Automaticamente um sorriso se formou nos meus lábios quando Caleb surgiu na minha mente. Não lembro de tê-lo visto ir embora e nem em que momento aquela tempestade acabou, só sei que nosso tempo juntos me fez muito bem.
Estiquei os braços e alonguei a coluna antes de me levantar. Estava animada pra começar o dia e mesmo estando com um dos pés imobilizados eu fiz alguns alongamentos antes de descer pro café da manhã. Volta e meia eu sentia vontade de chorar e voltar pra cama, mas engolia o caroço toda vez que ele se formava na minha garganta e me obrigava a pensar em coisas como nas conversas que tive com Scott e Caleb.
Scott veio me ver e antes de ir embora nós tivemos uma conversa um pouco desconfortável pra mim. Ele disse que apesar de ter gostado dos nossos momentos juntos ele foi imaturo e não deveria ter deixado acontecer. Me pediu desculpas e disse que vai voltar pra Londres em poucos dias e por isso era melhor deixar tudo resolvido. "Espero poder continuar sendo seu amigo e que o que aconteceu não atrapalhe isso.". Na frente dele eu fiz de conta que estava tudo bem entre a gente e que o que aconteceu não fez meus sentimentos por ele mudarem. Ele ainda teve tempo de defender o irmão e me pediu pra dar uma chance pro Nathan. Disse que eu deveria deixá-lo se explicar porque o Nate se preocupa comigo e ele teve bons motivos pra surtar da última vez.
Eu levei um fora, fingi que estava tudo bem e ainda tive que ouvir ele me pedir pra dar uma chance pro irmão dele. Maldita lei de Murphy.

Com Caleb a conversa não foi muito diferente. Depois deu eu ter contado a minha versão da história sobre minha briga com seu melhor amigo, ele falou que depois que Nathan e eu nos separamos, a agressividade e a raiva dele piorou muito. Chegou até usar termos mecânicos pra descrever nossa amizade. "É como se o Nathan fosse um carro e você o carburador desse carro. O carburador deu problema e o carro começou a soltar fumaça preta, ele só funciona em marchas altas porque se diminuir ele morre.", e acrescentou dizendo que se não consertarmos isso, pode ser que logo o carro só vai prestar pro ferro velho, "Você vai querer que outra pessoa se torne o carburador desse carro?".

_ Onde você estava com a cabeça pra deixar um garoto entrar no seu quarto?_ Dei um pulo na banqueta quando Sarah entrou na cozinha quase aos berros._ Isso foi muito imprudente, mocinha._ Andava de um lado para o outro esfregando os braços com as mãos demonstrando o quanto estava angustiada com o que viu._ Tem ideia do que aconteceria se o seu pai tivesse visto aquele garoto no seu quarto? E ainda mais depois de ter visto aquele vídeo? Ai, ai, ai! Eu não gosto nem de imaginar. Mas eu consigo imaginar o que vai acontecer se ele descobrir que eu encobri você._ Eu permanecia em silêncio olhando pra ela com os olhos arregalados._ Vocês, pelo menos, se cuidaram?_ Não tinha entendido de início e quando entendi eu fiquei com vontade de sair correndo.

_ Eca! Como você pode pensar algo assim de mim?_ Empurrei a tigela de aveia com iogurte sentindo que a qualquer momento o que eu já tinha comido estava prestes a voltar pra tigela._ Sarah, você me conhece melhor do que ninguém. Como foi capaz de pensar que eu faria algo assim? E com vocês ouvindo tudo. Isso é repugnante._ Meu tom de voz deixou bem claro o quanto eu estava chateada com as suas suposições.

_ Me desculpa!_ Se sentou na minha frente depois de soltar os braços e suspirar cansada._ Eu fiquei tão assustada quando vi aquele menino atrás da porta que não soube nem o que pensar._ Coçava a cabeça aflita.

_ Não aconteceu nada, Sarah. Eu juro! Ele só veio ver como eu estava._ Expliquei e ela soltou o corpo na cadeira como se tivesse se livrado de uma âncora.

_ Seu primo, o Peter, ligou. Ele parecia bem preocupado._ Encheu uma xícara com café preto e assim que pôs na boca fez cara feia._ A Juliana voltou das férias?_ Surrou pra mim.

Juliana é a nossa empregada que estava na América do Sul visitando a família. Ela é um amor de pessoa, mesmo não falando muito bem nosso idioma ela consegue se expressar bem. Como da primeira vez que Sarah reclamou do café que estava muito forte e ela explicou gesticulando que no Brasil o café é forte e o café que fazemos no nosso país não é café de verdade, mas ela falando ficou mais ou menos assim:"No Brasil, café forte. Café verdadeiro. Estados unidos, café fraco. Parece água suja.". Já faz muitos anos anos que ela está com a gente e agora ela domina o nosso idioma melhor do que muitos nativos.

_ Não vou reclamar do café dessa vez. Vou tentar me acostumar assim como ela teve que fazer quando se mudou pra cá._ Tomou outro gole da bebida quente ainda fazendo caretas._ Vai falar com o Peter?

_ Não nos falamos desde aquele incidente na casa da vovó. O que ele teria pra falar comigo? Deve ter ficado sabendo do desastre que foi minha apresentação e quer encher meu saco com suas piadinhas ofensivas."O palito de fósforo quebrou"_ Tentei imitá-lo_"É nisso que dá querer dar o passo maior que a perna".

_ Ele não é tão maldoso._ Defendeu o sobrinho favorito.

_ Peter é um santo._ Respondi com sarcasmo._ Ele só encheu minha cama com formigas e misturou rabo de rato com o macarrão pra eu comer.

_ E não foi você que jogou uma colmeia de abelhas dentro do quarto dele enquanto ele dormia?

_ Eu pensei que ela estava vazia._ Me defendi.

_ Ele é alérgico._ Ressaltou a parte que ele teve que passar o natal no hospital por minha causa.

_ Com licença!_ Juliana entrou na cozinha interrompendo nossa discussão._ Bom dia, Sra. Edwards!

_ Bom dia, Juliana. Aproveitou as férias?_ Fiquei aliviada por ela ter mudado o foco. A Sarah e o meu pai adoram o Peter e não importa o quanto eu tente, eles nunca ficam do meu lado.

Minha tarde divertida (vendo Juliana arrumar meu quarto no andar de baixo), foi interrompida pela visita da Srta. Hargrove. Enquanto ela falava que sentia muito e que as meninas desejam que eu melhore logo pra voltar a dançar, pensava no quanto aquilo estava sendo ridículo. Não posso dizer que eram todas, mas a maioria das meninas não viam a hora de se livrarem de mim. Laura nunca disse com palavras, mas eu podia sentir que ela desejava que eu me machucasse toda vez que eu ia apresentar um solo ou que era elogiada. Já Joane, só queria saber do seu próprio sucesso e por isso não prestou atenção no que estava acontecendo naquele dia.

Vendo Kira e Jessie pulando em cima do meu colchão desarrumando tudo enquanto cantavam uma música qualquer (desafinadas diga-se de passagem), eu vejo o quanto tenho sorte por tê-las na minha vida. Leslie não estava pulando com elas, mas também cantava.

_ Brandon e eu..._ Caiu sentada na cama depois de ser questionada sobre sua empolgação exagerada._ Nós fizemos aquilo._ Tapei os ouvidos quando as outras duas começaram a gritar felizes pela nossa amiga.

_ Espera um pouco!_ A gritaria parou e todas se sentaram na cama._ Não é cedo demais pra isso?_ Kira ainda não entendia como os relacionamentos do ocidente funcionavam._ Só estão juntos há alguns dias.

_ É tempo suficiente pra saber que queríamos a mesma coisa._ Ela parecia feliz com isso, mas não estava me convencendo. Sei que o que ela sente por ele não é igual ao que ele sente por ela e saber disso me deixa chateada._ Não está feliz por mim, Harley?_ Me tirou do devaneio.

_ Se isso era algo que vocês dois queriam, então o que importa o que eu penso?

_ Você é minha melhor amiga._ Veio até mim e se ajoelhou na minha frente. Senti uma leve provocação na sua voz. Com isso eu tive certeza de que ela soube sobre o incidente com a toalha e estava me testando._ Quando uma fica feliz, todas ficam, certo?_ Aquelas palavras me fizeram ter um déjà vu. Eu já tinha ouvido aquela frase em algum lugar e em um momento parecido, mas não conseguia me lembrar com clareza onde e nem quem havia dito aquilo.

_ Com certeza._ Concordei intrigada com o que tinha acontecido. Jessie voltou a pular na minha cama e eu forçava minha mente pra tentar lembrar de onde veio aquela lembrança. Pode ser que eu tenha ouvido dela mesma, mas acontece que o sentimento que essa pequena memória me trouxe não era de felicidade.

_ Tyler ainda não me chamou pro baile._ Kira parecia muito triste com isso. Deixei de pensar em mim e fui até minha amiga para confortá-la já que haviam lágrimas nos seus olhos._ Eu já dei várias pistas pra ele, mas parece que ele nem se importa.

_ Você sabe que o que Tyler tem de bonito ele tem de lerdo, não sabe?_ Jessie caiu sentada ao lado dela.

_ Vai ver ele está planejando o pedido._ Leslie tentou acalmá-la.

_ Ou está fazendo suspense pra você achar que ele não vai te convidar e fazer uma grande surpresa._ Eu não acreditava nisso, mas precisava deixá-la mais tranquila.

_ Acham mesmo?_ Soluçava enxugando as lágrimas com um lenço de papel.

Desde que Kira chegou aqui ela sonha em ser convidada pro baile. Ela sempre gostou de ver filmes onde isso acontece com a protagonista e seria a realização de um sonho de infância se acontecesse com ela. Conhecendo Tyler como a gente conhece, sabemos que se não for pressionado, no Sábado a noite Kira só vai ser convidada pra jogar videogame.

_ E você vai mesmo com o Caleb?_ Reparei que ela não tinha tocado no sanduiche que Juliana havia preparado pra gente. Jessie e eu estávamos quase terminando e Kira tinha ido até a cozinha pra pedir mais.

_ Ele ainda não mudou de ideia, então acho que sim._ Dei uma mordida enorme naquele lanche de propósito. Olhei pra Leslie e apontei para o dela que continuava intacto. Percebendo que eu já tinha entendido o que estava acontecendo ela se obrigou a comer um pouco.

_ Voltei!_ Kira entrou no quarto segurando um prato com uma fatia de bolo de chocolate que só a Juliana sabia fazer.

_ Pelo jeito que ele falou do seu beijo pros meninos, ele não vai apenas te levar para o baile. Com certeza ele quer algo mais._ Jessie me deu leves cotoveladas nas costelas insinuando que ele vai tentar alguma coisa comigo.

_ Caleb falou do meu beijo pros meninos?_ Quando ele veio me ver, em nenhum momento tocamos nesse assunto. Acho estranho ele falar sobre isso com outras pessoas._ O que ele falou?

_ Que seus lábios são macios e delicados, e seu beijo é viciante._ Kira respondeu com a boca cheia._ Mas ele também disse pro Nathan..._ Engoliu o bolo pra terminar de falar._ Que nunca mais faria isso.

_ O que o Nathan tem a ver com isso?_ Eu já estava incomodada por ele não querer que os meninos se aproximassem de mim, mas daí ficar monitorando tudo o que eu faço já é demais.

_ Kira está exagerando...

_ Não, ela não está._ Leslie desafiava Jessie com o olhar. Me deu até medo._ Conta pra ela o que aconteceu._ Autorizou Kira a continuar sem tirar o olhar ameaçador da nossa outra amiga.

_ O Jacob contou pro Brandon que contou pro Tyler que contou pra mim que o Nathan perguntou pro Caleb como era o seu beijo e ele disse que, abre aspas, é um beijo incrível, seus lábios são macios e delicados. Beijá-la me fez teleportar para um lugar tranquilo e quentinho. O beijo dela é viciante se quer saber, mas eu garanto que não faria de novo, fecha aspas._ Eram tantas informações que me deixaram com dor de cabeça, mas uma em especial me chamou atenção.

_ Por que o Nathan perguntaria isso pra ele? Qual o interesse dele em saber sobre o meu beijo?_ O suspense que elas estavam fazendo era desagradável._ Meninas, parem de enrolar e me digam o que sabem.

_ O que a gente sabe é o que só você ainda não percebeu._ Leslie parecia ser a única a querer me dizer a verdade._ O Nathan é apaixonado por você, Harley.

Era o que Caleb e Brandon tentaram me dizer. Durante anos eu fantasiei com esse momento e agora que finalmente estava acontecendo eu não sabia se o que eu estava sentindo era felicidade ou confusão mental. Nathan nunca agiu como um garoto apaixonado. Como eu ia saber que aqueles ataques de raiva era um sinal de que ele gostava de mim? Repassei na minha mente todas as nossas brigas e discussões pra tentar achar algo que explicasse as suas atitudes contraditórias. Ele poderia sentir qualquer coisa por mim menos amor.
Leslie pediu pra passar a noite na minha casa já que os pais dela estavam fora da cidade. Conversamos sobre o assunto até tarde tentando encontrar uma resposta pra ele nunca ter demonstrado o que sente e chegávamos sempre a mesma conclusão: O pai dele. Talvez assim como o meu, James tenha proibido o filho de se aproximar de mim já que por culpa minha ele foi parar em Rikers Island.

_ O que você vai fazer?_ Deitadas na cama olhávamos para o teto como se lá estivessem todas as respostas.

_ Eu não sei._ Mas não estavam. Saber que Nathan é apaixonado por mim, não mudou nada._ Sinto medo de me aproximar dele e me machucar. Como você sabe, os últimos anos não foram lá muito bons pra nós dois.

_ Mas você vai conversar com ele, certo?_ Eu não tinha uma resposta. O ditado "Gato escaldado tem medo de água fria", agora estava fazendo sentido pra mim._ Harley, se você não falar com ele depois de saber que o garoto gosta de você, eu te mato.

_ Leslie, não pode me pedir pra fazer isso assim de repente. Eu nem sei direito o que estou sentindo. Talvez eu nem esteja mais apaixonada por ele de tanto que ele me fez chorar. Esquecer isso não é tão fácil. Assim como pra você ainda é difícil se alimentar direito._ Pela forma como olhou pra mim, ela não esperava que eu fosse tocar no assunto._ Eu percebi. E fico triste por estar acontecendo de novo, mas não vou te julgar ou te dar lição de moral. Só quero que você saiba que..._ Segurei sua mão e fiquei de frente pra ela._ Eu não vou sair do seu lado._ Mesmo ela sabendo que podia contar comigo, nunca é demais assegurar._ Eu estou aqui e vou te ajudar a passar por isso.

_ De novo?_ Ela levou as mãos no rosto pra esconder o choro e eu a abracei forte.

_ Quantas vezes forem necessário._ Uma lágrima escorreu pelo meu rosto._ Você vai ficar bem.

Leslie tem anorexia. Descobri há algum tempo quando ela passou mal na escola por não se alimentar direito, ou melhor, por não se alimentar. Os pais dela estavam fora quando aconteceu e os tios (que ficaram responsáveis por ela), não se importavam. Deixaram a menina sozinha no hospital alegando que ela só queria chamar atenção. Eu não saí de perto dela durante dias. Vi ela brigar com as enfermeiras porque não queria comer e quando comia colocava tudo pra fora em poucos minutos. Vi ela tendo que ser alimentada por sonda nasogástrica e ouvi coisas do tipo "Eu desisto!".
Eu era a única que parecia se preocupar com ela. A psicóloga conversou comigo e me disse pra tentar ajudar. Eu não sabia como já que também não era muito amiga da comida na época, mas diferente da Leslie eu sabia que precisava dela pra viver. Não foi uma tarefa fácil, ainda mais porque ela me pediu pra não contar pra ninguém e eu não tinha pra quem pedir ajuda. Os pais dela voltaram da Europa quando ela já conseguia ingerir comidas sólidas.
Eu entendo porquê ela não queria que ninguém além de mim soubesse pelo que ela estava passando. Assim como a Leslie eu sei como é não ser aceita e fazer de tudo pra se encaixar. Sei o quanto é doloroso se sentir culpada mesmo sem ter feito nada pra merecer esse peso. A diferença entre nós duas é que eu sempre tive alguém do meu lado que se importa e sempre fez de tudo pra me ver feliz. Leslie só tem a mim e mesmo que as vezes eu não saiba como, vou dar a ela o melhor que eu tenho pra oferecer, porque eu não saberia viver em um mundo onde minha amiga não existisse.

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⏰ Última atualização: Sep 01, 2023 ⏰

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