Capítulo 10

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POV HARLEY

Lembro de quando era fácil conversar com Nathan. Eu podia falar qualquer coisa pra ele que continuava sendo meu amigo. Era pra ele que eu contava meus segredos, e dava meus conselhos mesmo que não pedisse. Nos entendíamos apenas com o olhar. Ele sabia quando eu não estava em um dia bom para conversar e eu sabia os dias dele. Mas agora, eu já não sei quem ele é. Está sempre irritado, pronto pra brigar com qualquer um que atravesse seu caminho. Aquele brilho que sempre me cativou não existe mais. Eu ainda o entendo apenas pelo olhar, mas o ruim disso é que o que ele me diz não é nada bom.

Acordei com Jessie e Kira pulando na minha cama. Senti vontade de jogar as duas pela janela. Como elas se atreveram a ir na minha casa depois de terem sido péssimas amigas no dia anterior? Eu queria esganar elas por não terem me dado cobertura quando falaram com meu pai.
_ Acorda sua preguiçosa!_ Jessie batia em mim com o travesseiro.
Abri os olhos de vagar porque a luz estava fazendo-os doer.
_ Onde você estava ontem a noite?_ Kira subiu em cima de mim me defendendo das pancada fofas do objeto.
_ Por que querem saber? Vocês me abandonaram na festa da Bethany e eu tentei falar com vocês o dia todo ontem._ Empurrei Kira pra fora da cama._ Além do mais, não me deram cobertura quando meu pai falou com vocês, então eu não devo satisfação da minha vida pra duas traidoras._ Peguei o edredom e me escondi debaixo dele pra não olhar pra elas.
_ A culpa foi minha! Não desconta no meu bebê._ Jessie defendeu Kira enquanto arrancava o edredom de cima de mim._ Agora levanta daí e para de agir como criança.
_ Vão se ferrar!_ Fui para o banheiro de cara fechada.
Estava mesmo chateada com as duas. Não era a primeira vez que eu era completamente ignorada por elas. Como amiga eu tento entender que não sou o centro das atenções e elas tem mais o que fazer, mas não quer dizer que isso não me machuca.
Saí e dei de cara com elas segurando minhas roupas.
_ Vamos sair!_ Continuei com a cara emburrada e voltei para a cama ignorando o pedido da morena de cabelos cacheados e piercing no nariz._ Vai ficar assim por mais quanto tempo?
_ Até eu achar que vocês merecem o meu perdão._ Me cobri com o edredom outra vez. Estava determinada a ignorá-las por quanto tempo fosse necessário.
_ Então não me resta outra alternativa._ Veio na minha direção com expressão ameaçadora. A encarei de volta, mas desisti quando percebi suas intenções.
_ Tá legal! Eu vou._ Saltei da cama antes que ela tocasse em mim._Eu odeio cócegas!_ Resmunguei voltando para o banheiro. Precisava tomar um banho daqueles que limpa até a alma.
Fomos para o shopping passar um tempo juntas. Elas sempre reclamam por estarem sendo seguidas, mas se não fosse assim eu não colocaria o pé para fora de casa. Pensei que Leslie nos encontraria no shopping, mas ela não estava lá e seu celular ainda estava desligado ou fora de área. Ela me fez muita falta. Jessie e Kira estão apaixonadas e só sabem falar no quanto seus namorados são incríveis.
_ Falando no Brandon, ele me ligou pra saber de você ontem._ Jessie parou de sorrir e me olhou preocupada._ Duas vezes.
_ Deve ter sido na hora em que eu fui a igreja com meus pais. Sabe como eles são, eu não posso usar o celular enquanto estou na igreja._ Não entendi porquê ela estava mentindo pra mim. Somos amigas há anos eu nunca dei motivos pra que ela não confiasse na minha amizade.
_ Eu disse que você tinha ido pras montanhas por isso seu celular estava fora de área._ Não quis questioná-la, isso poderia dar discussão e eu nunca ganho uma discussão com a Jessie._ Mas da próxima vez que você for sumir, me avisa antes pra eu saber o que dizer a ele.
_ Tem razão! Eu deveria ter te avisado onde eu ia estar, afinal de contas é você quem cuida da minha vida, não é mesmo?_ Ficou nervosa por ter sido pega na mentira.
_ Eu não quero brigar com você, Jessie. Só não acho certo você mentir pro seu namorado. Se não quer ficar com ele, então...
_ MENINAS!_ Kira deu um grito chamando a atenção de todos na praça de alimentação._ Parem com essa discussão. Vocês são amigas, devem se defender e não se atacar. Se desculpem._ Jessie cruzou os braços e virou o rosto pra não olhar pra mim._ Eu sou mais velha, portanto me obedeçam._ A sul-coreana estava ficando com as bochechas vermelhas de raiva.
_ Não estamos na Coreia, então isso não...
_ AGORA!_ Cortou Jessie com outro berro e com medo, nós duas nos abraçamos e pedimos desculpas uma a outra._ Obrigada!_ Se sentou e resmungou alguma coisa em coreano.
Cinco minutos depois era como se nada tivesse acontecido. Kira continuava mastigando seu hambúrguer e a batata frita, Jessie continuou falando pelos cotovelos sobre qualquer coisa e eu me perdi em pensamentos, por isso não ouvi o que Jessie estava falando. Estava pensando no Scott e esperando ele retornar minha ligação ou responder minhas mensagens. Me preocupava o fato de eu ter tido um crise na frente dele e isso ser a razão do gelo que ele estava me dando. Descartei a possibilidade porque ele foi muito atencioso comigo e até nos despedimos com um beijo.
_ Você falou com o Nathan?_ Jessie me tirou do transe ao dizer o nome dele. Eu fiquei tão distraída com Scott que nem lembrei do Nathan.
Franzi o cenho sem entender porquê Jessie me fez a pergunta.
_ O que eu teria pra falar com ele?_ Bebi um gole do suco de manga.
_ Ele não falou com você?_ Retribuiu o olhar confuso.
_ Não sei do que está falando, Jessie._ Voltei a dar atenção ao sanduíche natural a minha frente.
_ Se você não falou com Nathan, porque você está com as bochechas coradas, olhos brilhantes e esse sorrisinho bobo nos lábios?_ Kira me fez ficar ainda mais corada e eu não consegui me segurar.
_ Acho que... Eu e Scott estamos ficando!_ Senti meu corpo vibrar por falar aquilo em voz alta._ Ele me beijou na festa da Bethany e passamos o dia juntos ontem, fomos pra festa da Violet e depois ele me levou pra um churrasco na casa de um amigo. Isso quer dizer que estamos ficando, certo?!_ As duas me olhavam surpresas. Eu esperava que elas fossem ficar mais empolgadas por eu finalmente estar superando o Nathan, mas não foi o que aconteceu._ Porque estão me olhando assim? Vocês estão me deixando preocupada. Pensei que fossem ficar felizes por mim.
_ E estamos...
_ Não estamos não._ Jessie corrigiu a amiga que fechou a boca._ Harley você está cometendo um erro. Por que está deixando o irmão do garoto que você gosta se aproximar de você? Não acha que isso pode fazer com que Nathan se afaste mais?
_ Como se ele quisesse uma aproximação._ Me recostei na cadeira e cruzei os braços chateada. Olhei pra Jessie com o canto dos olhos e flagrei ela cochichando alguma coisa para Kira._ Por que estão cochichando?_ Continuaram olhando uma pra outra sem me responder._ O que vocês estão me escondendo?
Jessie contou que durante a festa ele foi me procurar pra conversar. Depois disso Brandon viu ele saindo com alguém que parecia ser eu. Desde então ninguém mais o viu ou falou com ele, e como também não conseguiram falar comigo, pensaram que estivéssemos juntos. Fiquei me perguntando o que ele tinha pra me falar que já não tivesse sido dito, e nos possíveis porquês dele não tê-lo feito.
Sem paciência pra ficar me torturando com as perguntas, fui atrás das respostas. Mesmo sabendo que Nathan não me atenderia peguei meu celular e liguei pra ele. A chamada ter caído na caixa de mensagens era algo esperado.
_ Liga pro Scott._ Sugeriu Jessie._ Como irmão, ele deve saber onde Nathan está.
_ Eu não vou ligar pra ele pra perguntar do irmão._ Me recusei e Jessie tomou o celular da minha mão.
_ Então eu ligo!_ Tentei fazer ela me devolver o celular antes de ligar pra ele, mas não consegui. Scott atendeu na terceira chamada. Aquilo foi estranho. Eu já tinha ligado pra ele várias vezes e ele não tinha me atendido, agora que eu não queria que me atendesse, foi exatamente o que ele fez.
_ Pensei que não fosse ligar._ Senti um arrepio percorrer meu corpo ao ouvir sua voz.
_ Oi, Scott..._ Minha voz falhou. Pigarreei tirando o nervosismo da minha garganta._ Então..._ Não conseguia concluir a frase. Não queria ser inconveniente de ligar para ele para perguntar sobre o seu irmão. Se ao menos tivesse me atendido antes eu poderia achar uma desculpa descente.
_ Harley? Está tudo bem?_Jessie tomou o celular da minha mão outra vez.
_ Oi, bundão!_ Fechei os olhos e respirei fundo pra não perder a paciência e brigar com ela de novo._ É a Jessie. E a gente só quer saber se o seu irmão, o Nathan, está em casa..._ Fiquei esperando pela resposta apreensiva._ Ele desligou._ Me devolveu o celular e mostrou o dedo do meio pro aparelho como se o mostrasse para alguém.
_ Claro que ele desligou, Jessie. Precisava falar daquele jeito com ele?_ Questionei irritada.
_ E porquê não? Scott é um escroto.
_ Não, ele não é!_ Defendi.
_ Por que você está defendendo ele? É com Nathan que você deveria estar preocupada.
_ Eu estou..._ Meu celular vibrou na minha mão.
Era uma mensagem de Scott. Uma foto de Nathan com a boca cheia e com a legenda "Nathan são, salvo e bem alimentado!". Soltei um riso abafado.
_ O que foi?_ Jessie quis saber o motivo do meu riso.
_ Ele está em casa._ Mostrei a foto a elas.
_ Você confia no Scott?_ Jessie insistia em ofendê-lo.
_ Por que ele mentiria sobre o irmão?
_ Porque eles se odeiam._ Era uma boa justificativa.
_ Concordo com a Jessie!_ Kira fez-se presente novamente com a boca cheia._ Ele pode ter enviado uma foto antiga só pra você ficar tranquila.
_ Scott não mentiria pra mim!_ Levei um susto quando Jessie soltou uma gargalhada debochada._ O que Scott fez pra você? Mal o conhece._ Ela parou de rir e me encarou como se eu tivesse dito algo errado.
_ Eu acho que Scott só está atrás de você pra provocar o Nathan...
_ Jessie!_ Kira deu um tapa no braço da garota ao seu lado repreendendo-a pelo que disse.
_ É verdade!_ Ignorou a repreensão._ Todos nós sabemos do histórico dos dois e já ouvi dizerem que Scott não é nenhum santo._ Senti como se Jessie tivesse cravado uma faca no meu peito.
Não era a primeira vez que eu ouvia alguém falar aquilo sobre Scott, mas não quero acreditar que ele só esteja fazendo isso pra me afastar de Nathan. Tudo bem que eu não sou atraente e não causo o efeito que Jessie causa nos homens que ficam babando quando ela passa, eu já aceitei isso. Mas me fazer acreditar que ele sente algo por mim apenas porque quer provocar o irmão sem se importar com meus sentimentos, é muita covardia.
Espero, do fundo do meu coração, que Jessie esteja enganada e o que Scott demonstra seja sincero, mas isso eu só vou saber se perguntar, ou deixar que o tempo me mostre.

No dia seguinte cheguei na escola decidida em ter uma conversa definitiva com ele. Talvez fosse disso que estávamos precisando. Que um de nós tomasse a iniciativa pra resolver o que tivesse pra ser resolvido.
Se eu tivesse sido inteligente o suficiente pra saber que não ia dar certo, eu nem teria passado perto. Agi por impulso e não dei ouvidos ao meu racional me dizendo pra ser cuidadosa.
Nathan estava trocando os livros e pra ele estar sozinho algo tinha acontecido. Ignorei meus pensamentos com ûm sinal de exclamação dentro de um triângulo bem grande na minha frente e me aproximei. Seu rosto estava ainda mais machucado do que da última vez que o vi.
_ Oi, Nathan! Como vai?_ O cumprimentei sorrindo por fora e entrando em pânico por dentro. Apertei as alças da mochila tentando esconder o nervosismo. Fui ignorada, mas eu já esperava por isso, ainda assim eu insisti._ Soube que queria falar comigo na festa da Bethany. Fiquei feliz por saber disso. Eu também quero falar com você. Na verdade já tem um tempo e..._ Ele parou de fazer o que estava fazendo, olhou pra mim com os olhos vermelhos.
Durante os segundos que ficou me olhando eu pude sentir o quanto ele estava magoado. A ideia de que ele pudesse ter me visto com Scott passou pela minha cabeça. Mais uma vez eu senti que deveria ter ido embora.
Ele voltou a mexer nos papéis dentro do armário.
_ E então? Vamos conversar?_ Ele fechou a porta com tanta força que deu uma leve amassada no metal. Me assustei com a violência, mais ainda com o ódio que emanava do seu olhar.
_ Eu não quero que você fale comigo._ Se aproximou ficando de frente pra mim me fazendo dar um passo pra trás e encostar nos armários. Arregalei os olhos, prendi minha respiração e só o que eu sentia era o meu coração batendo rapidamente._ Eu não quero que tente entrar na minha mente outra vez. Eu não quero ver você. Não quero ouvir falar de você._ Ele parou tão próximo que eu podia sentir o seu hálito quente no meu rosto e o cheiro de chiclete de melancia. Apertei as alças da mochila com mais força._ Me deixa em paz. Não aparece mais na minha frente. Só o que eu quero é que você me deixe em paz..._ Sua respiração estava ofegante e uma lágrima escorreu pelo seu rosto. Engoliu em seco antes de continuar._ Você é medíocre, egoísta, e eu odeio você..._ Levantou as mãos na altura do meu rosto e por um breve momento eu achei que ele fosse tocar em mim. Virei o rosto fechando os olhos e uma lágrima escapou._ Eu odeio você._ Abri meus olhos e tornei a olhar pra ele sem acreditar no que eu estava ouvindo._ Eu odeio ver você, odeio ouvir sua voz, odeio quando você está por perto e te odeio ainda mais porque..._ Nathan aproximava mais seu rosto do meu em cada frase que dizia. Me olhava com expressão carregada e tinha sangue nos olhos. Por um momento eu achei que ele fosse bater em mim.
_ NATE?_ Brandon apareceu impedindo-o de se aproximar mais._ Já chega!_ Olhou pra mim parecendo confuso e saiu empurrando os que estavam trancando seu caminho.
_ Você está bem?_ Não consegui responder a pergunta de Brandon que não sabia se tocava em mim ou não.
Minha respiração estava ofegante e minhas mãos trêmulas. Comecei a chorar descontroladamente e quase não conseguia ficar em pé.
_ Vamos pro banheiro!_ Leslie me segurou e me levou pra longe de todos.
_ Ele me odeia, Leslie._ As palavras saíram quase incompreensíveis por causa do meu desespero. Estava apoiada na pia e as lágrimas jorravam dos meus olhos.
_ Calma, amiga!_ Acariciava minhas costas me dando apoio. Nisto Kira e Jessie entram ofegantes.
_ Viemos assim que a gente soube._ Jessie se aproximou e me abraçou._ Nathan é um idiota. Não merece que chore por ele.
_ Se acalma! Vai ficar tudo bem._ Fui envolvida pelas três e aos poucos eu consegui me recompor.
Fiquei mal o dia todo. Não queria vê-lo e nem fiz questão de procurá-lo com o olhar com era de costume. Não conseguia esquecer daquele olhar raivoso e das palavras duras que ele me disse e toda vez meus olhos se enchiam de lágrimas. As meninas até tentaram me animar, mas nada do que elas me diziam conseguia me fazer parar de pensar naquilo. Só o que eu precisava naquele momento era de um abraço que só Scott seria capaz de me dar. De alguma forma ele me entendia mais do que qualquer outra pessoa e estar perto dele me fazia bem. Pensei em fugir da escola pra encontrar com ele, mas descartei a opção quando lembrei do meu pai.

O barulho estridente do sinal me fez acordar. Saí da sala arrastando os pés. Não tinha a menor vontade de me mexer. Encontrei Scott me esperando do lado de fora. Fiquei feliz em vê-lo, mas também me fez lembrar do seu irmão e meu sorriso desapareceu. Ele me olhava com ternura. Sem dizer nada ele se aproximou e me segurou em seus braços. Scott sabia do que eu estava precisando e ficou ali até eu parar de chorar.
_ Deixa eu te tirar daqui.
Passou o braço por cima dos meus ombros e quando chegamos na escada vimos Nathan desviar o caminho só pra não passar pela gente. Lamentei internamente por ele ter nos visto juntos. Eu queria muito conseguir não me importar.
Scott queria me levar pra um lugar divertido pra não ficar pensando no que aconteceu. Expliquei que não podia faltar ao balé por causa da competição, mas que iria com ele quando a aula acabasse. Deveria ter aceitado o convite
Não foi uma aula produtiva. Errei em ter me distraído no fim de semana e mandei mal na coreografia. A Srta. Hargrove chamou minha atenção na frente de todas e eu não gostei. Discutimos e fui embora sem nem tirar as sapatilhas.
_ O que aconteceu lá dentro?_ Scott ficou me esperando do lado de fora e ele percebeu o clima tenso.
_ O que deveria ter acontecido há muito tempo._ Me sentei no banco em frente ao estúdio para tirar a sapatilha.
_ Quer que eu te leve pra casa?_ Chegar em casa e me trancar no quarto enquanto deixava toda aquela tristeza sair, era tentador.
_ Eu..._ Levantei meus olhos encontrando os seus e senti vontade de chorar.
De repente tudo veio a tona e não consegui mais segurar as lágrimas. Senti minhas costas pesadas e meu peito apertado. Tudo aquilo era muito ridículo. Eu fiz tanto por todos e nunca recebi nada em troca. Eu me doei durante anos pela senhorita Hargrove e o que ela fez foi me dar as costas e colocar outra no meu lugar. Eu aguentei calada tudo o que Nathan disse pra mim e só o que eu queria era que ele percebesse que eu não sou o monstro que ele pintou.
_ Nada do que faça vai ser bom o suficiente para os outros._ Senti Scott pegar meu pé e tirar minha sapatilha com cuidado._ Você precisa fazer por si mesma. A pessoa mais importante da sua vida, precisa ser você. Ninguém está vivendo na sua pele pra sentir o que você sente. Então levante a cabeça e comece a fazer por você e por mais ninguém.
_ Não sei como fazer isso._ Disse soluçando._ Não quero magoar mais ninguém.
_ Então tudo bem se te magoarem? Eles não pensam como você, Harley._ Pegou os tênis da mochila._ O que você sentiu quando enfrentou a professora de balé?
_ Eu não sei! Estava com muita raiva pra sentir remorso ou me importar com ela. Eu só queria tirar aquele peso dos meus ombros, mas eu sou muito fraca e agora eu me sinto pior do que antes._ Colocou meus pés no chão.
_ Você não é fraca. Só não descobriu quem você é ainda. Tem muita gente a sua volta te dizendo o que fazer e como agir, e por amar essas pessoas você acaba sendo o que elas querem que você seja.
_ E o que você acha que eu devo fazer?_ Riu da minha pergunta.
_ O que você quer fazer?_ Foi uma pergunta muito vaga e não soube responder._ Quer ir pra casa? Pra uma lanchonete? Quer ver um filme, fazer uma coisa que você nunca fez, mas tem vontade?
_ Estou com muita raiva agora pra saber o que eu quero._ Sequei meu rosto já que não tinha mais lágrimas pra chorar.
_ Então eu quero que você se concentre nessa raiva e me diga pra onde você quer ir._ Fechei meus olhos e respirei fundo uma fez.
_ O que acha da gente lutar?_ Pela sua expressão de surpresa, ele nunca pensou que eu dirira aquilo._ Você acha que não?_ Outra vez me preocupando com o que os outros pensam.
_ Eu acho ótimo!
Scott me levou para uma academia, mas só tinha vaga para a turma de judô. Claro que ele tinha que se mostrar um pouco e fez uma demonstração junto com o professor. Eu estava na turma pra iniciantes e pela primeira vez eu soube como é ver o topo da cabeça de alguém, pois estava cercada de crianças. Quando ficávamos em pé eu, discretamente me media com eles e minha autoestima ia nas alturas, mas só até eu ser chamada pelo professor pra ele ensinar alguns golpes na prática, neste momento eu quis voltar a ser a mais baixinha. Aposto que ele só me chamou porque eu era a mais alta da turma.
Fiquei com medo que ele me machucasse, mas deu tudo certo e saí ilesa. O problema foi quando ele pediu pro Scott fazer o mesmo comigo. Mesmo como professor dando as instruções eu fiquei com medo e na hora que Scott foi aplicar o golpe, eu tentei voltar atrás e acabei machucando meu braço. Todos ficaram preocupados e tivemos que tranquilizar o professor que achou que a culpa tivesse sido dele. Queriam me levar ao hospital, mas eu me recusei porque eles teriam que chamar um responsável e eu não queria que nem meu pai, nem Sarah, soubessem do que aconteceu. Movimentei o braço pra mostrar que estava tudo bem e continuamos com a aula.
_ Seu pai vai ficar muito bravo, não vai?_ Indagou parando o carro na frente da minha casa.
_ Ele não precisa saber._ Mais uma vez ele me olhou surpreso.
_ Quando eu disse que você precisa de um pouco de rock n' roll na sua vida, eu não quis dizer pra você começar a mentir pro seu pai.
_ Você não reclamou quando eu fugi pela janela pra encontrar com você._ Repliquei irritada.
_ Aquilo foi diferente. Você está machucada e precisa de cuidados. Além do mais, não consegue mentir pro seu pai._ Desafivelei o cinto sentindo a dor ficar mais intensa.
_ Ele não me quer perto de você._ Doeu mais ouvir aquilo em voz alta do que só em pensamento._ Se ele souber que eu me machuquei estando com você, eu não sei se vou poder te ver de novo.
_ Amm..._ Engoliu em seco, soltou um suspiro triste e olhou par o outro lado._ Então eu acho que é o que deve fazer.
_ O que disse?_ Questionei confusa._ Acha que eu devo fazer o que ele me pede e parar de te ver? Não foi você quem disse que eu deveria começar a fazer as coisas por mim mesma? Por que está dizendo o contrário agora?_ Meu peito começou a doer e meus olhos ficaram embaçados por causa das lágrimas._ É o que você quer?_ Virou o rosto para mim. Lembrei do que Jessie havia dito sobre ele não querer nada comigo._ Foi por isso que você foi tão atencioso hoje? Porque ia me dizer não podemos mais nos ver? O que aconteceu entre a gente foi..._ Engoli em seco sentindo medo de continuar com a pergunta._ Adeus, Scott._ Abri a porta do carro imaginando que ele fosse me impedir de sair e me beijar, como acontece nesses filmes de romance, mas não aconteceu.
Entrei em casa com um nó gigantesco preso na minha garganta. Todos estavam certos e eu me enganei e fui enganada.
Scott é o garoto mais lindo e gentil que eu conheço. Não sei o que me deu na cabeça de pensar que ele pudesse sentir algo por mim. Pra ele eu ainda devo ser aquela menina tagarela e esquisita que ele conheceu. Eu não deveria ter sido tão carente a ponte de não me dar conta de que não existe a menor possibilidade dele se sentir atraído por mim quando Nova York inteira está de olho no "Herdeiro de James Gray" que "Voltou para Nova York recentemente e já está dando o que falar nas festas da alta sociedade." como disseram no jornal.
No fim das contas meu pai conseguiu o que queria.

Te Amo no Meu RitmoOnde histórias criam vida. Descubra agora