POV NATHAN
Como eu disse, é exaustivo odiar a Harley.
Eu lembro do quanto a gente se divertia juntos e como o tempo passava rápido quando estava com ela. Queria que nada disso tivesse acontecido. Que meu pai não estivesse preso e que Harley e eu não tivéssemos brigado. Queria voltar a dançar com ela pela casa, ver filmes até tarde e inventar palavras durante as aulas chatas de inglês da senhora Jenner. Queria ter tido coragem de dizer a ela o que eu sinto e ser menos orgulhoso pra fazer isso agora.
Meu coração acelera quando vejo Harley descer do ônibus. O capuz na cabeça, indicava que ela não estava em um dia bom. Lembro de quando meu motorista ia buscar ela em casa pra virmos pra escola e eu a via saindo com a cabeça coberta om o capuz. Era só ela entrar no carro que as lágrimas começavam a cair. Sempre tinha um chocolate no porta luvas pra esses momentos. Eu sabia que isso a animava, mas agora mesmo eu tendo um chocolate na mochila, eu não posso dar pra ela.
Me sinto mal por vê-la assim e sei que tenho uma parcela de culpa nisso. Uma amizade de anos acabar do jeito que acabou não é fácil de aceitar.
Assim que ela subiu as escadas, tropeçou e caiu direto nos meus braços. Era como se os deuses estivessem querendo que eu tomasse alguma atitude. Fiquei segurando ela os braços pensando no que dizer, mas como sempre, é só eu abrir a boca que meu cérebro dá um jeito de dizer algo grosseiro fazendo ela fugir de mim.
_ Por que você não fala com ela?_ Jacob perguntou com a boca cheia de chips de batata como almoço.
_ Não tenho nada pra dizer!_ Resmunguei me inclinando pra frente com os braços em cima da mesa.
_ Não é o que esse olhar apaixonado e essa baba no canto da sua boca estão dizendo._ Brandon passou o dedo indicador no canto da minha boca e eu bati na mão dele incomodado.
_ Deixa de ser idiota!_ O repreendi.
_ Essa briga de vocês já está ridícula._ Tyler sentou do meu lado e deu uma mordida na maçã que segurava.
_ Até o Ty, que não é nem um expert em sentimentos, sabe que isto está indo longe demais._ Jacob bagunçou os cabelos do nosso amigo que não se importou com aqueles dedos engordurados sendo esfregados nos seus cabelos super-hidratados.
_ Não foi uma briga qualquer. Vocês sabem o que aconteceu. Não é tão fácil esquecer esse tipo de coisa.
_ Ela te chamou de lixo, e daí?_ Olhei pro Caleb em pé ao lado da árvore._ Ela disse que você não passava de um playboyzinho metido a besta, mas e daí?_ Continuou se divertindo as minhas custas._ Disse que você merecia o pai desprezível que tem e pediu que não se aproximasse dela nunca mais, e o que isso importa?_ Caminhou lentamente até mim e descansou a mão sobre meu ombro._ Meu amigo, o amor supera tudo.
_ E você é um otário!_ Jake tirou as palavras da minha boca.
_ Mas é verdade! Você também foi cruel com ela e mesmo assim ela tenta falar com você._ Caleb concluiu me jogando um balde de água fria.
_ Nisso nós temos que concordar com Caleb._ Brandon se virou contra mim._ Nate, você precisa tomar uma decisão. O que você não pode é amar e odiar essa garota ao mesmo tempo. Isso está te consumindo.
_ Obrigado, Brandon! Mas eu acho que preciso descobrir sozinho o que tenho que fazer.
_ Que seja, então._ Desistiram.
Se eles soubessem do que eu tento fugir, não me encorajariam a ficar perto dela,mas sim a manter a maior distancia possível dela.
As últimas aulas foram entediantes e eu só conseguia pensar em encontrar com Harley na biblioteca. Talvez, passando mais tempo com ela, eu consiga entender melhor o que eu sinto e descubro se eu posso ou não ficar perto dela sem perder o controle.
Entrei na biblioteca esperando encontrá-la em algum lugar, mas ela não estava. Impaciente, fiquei ali mais alguns minutos e concluí que minha parceira de trabalho havia esquecido. Saí da sala desejando que ela ainda estivesse na escola. A vi no estacionamento ainda com o capuz na cabeça e as mãos nos bolsos da blusa.
_ Harley!_ Ela se virou pra mim._ Você não apareceu na biblioteca. Esqueceu do nosso trabalho?_ Não entendo como consegui dizer todas aquelas palavras sem demonstrar que eu estava nervoso por estar perto dela.
_ Não esqueci!_ Respondeu sem enrolação.
_ Ah! Eu entendo._ Engoli em seco percebendo que ela não queria ficar perto de mim. Pensei em algo rápido pra parecer indiferente também._ O que acha de dividirmos o trabalho e cada um faz sua parte?_ Sua falta de respostas e seu olhar fixo em mim me fez pensar que talvez estivesse indecisa sobre o que fazer e decidi ajudar._ Eu mando uma mensagem pra você, pra combinarmos o que cada um vai fazer._ Eu deixei o número dela na minha agenda porque não não tive coragem de apagá-lo.
Um sorriso ia se formando nos seus lábios fazendo uma chama se acender no meu coração, mas de repente aquele momento mágico desapareceu como se o Thanos tivesse estalado os dedos transformando-o em poeira.
_ Que seja!_ Suspirou desapontada e foi embora sem se despedir.
_ Oi!_ Fui surpreendido com o abraço de Ashley e entendi o porquê da Harley ter agido daquela forma._ Me leva pra casa?_ Tirei seus braços que estavam envoltos em mim e fiquei de frente pra ela.
_ Ashley, pra mim já deu!_ Tive a ligeira sensação de que ela está afastando a Harley de mim e eu tinha que fazer alguma coisa.
_ O que quer dizer?_ O olhar sedutor e cheio de segundas intenções de Ashley ficou confuso.
_ Você foi uma ótima amiga nesses últimos anos. Ficou do meu lado quando Harley e eu brigamos e agradeço por isso. Mas está na hora da gente dar um tempo.
_ Um tempo? Está querendo dizer que não gosta mais de mim?
_ Não! Eu gosto de você, mas eu gosto apenas como amigo._ Dei-lhe um tempo para assimilar o que eu havia dito.
_ Quer dizer então que..._ Deu dois passos para trás me olhando desconfiada.
_ Você precisa parar de achar que somos algo mais além de amigos. Esses abraços e beijos surpresa precisam acabar.
_ Eu pensei que você gostasse._ Disse começando a ficar irritada. Sei que a estava magoando, mas precisei ser sincero.
_ Não gosto! Me desculpa..._ Tentei me aproximar, mas ela se afastou._ Eu poderia ser um babaca e me aproveitar disso, mas não é o que eu quero. Não seria justo com você e nem com meus sentimentos, então, por favor, vamos continuar sendo apenas amigos.
_ Você tem razão._ Descruzou os braços irritada._ Eu me enganei mesmo._ Me deu as costas e saiu batendo os pés.
_ Ashley, espera...
_ VAI PRO INFERNO, NATHAN!_ Gritou e sumiu entre os carros no estacionamento.
Fiquei mal por ter magoado a Ash, mas mesmo que eu quisesse ir atrás dela pra me desculpar, ela não iria me ouvir e certamente não iria me perdoar. Ashley não é o tipo de garota que guarda mágoas, então o melhor que eu podia fazer era dar um tempo a ela e esperar que logo ela mesma vai vir atrás de mim pra conversar.
Entrei no meu carro e liguei o rádio pra escutar uma música enquanto dirijo de volta para casa. Senti um frio na barriga quando ouvi a música "Give Your Heart a Break" de Demi Lovatto tocando. Harley e eu cantávamos essa música sempre que ela dormia na minha casa. Sabia que ela gostava e era uma forma de tentar dizer o que eu sentia, mas ela nunca entendeu. Imaginei o que poderia ter acontecido se Ashley não tivesse chegado naquele momento. Foi bom ter sido sincero com ela. Quem sabe assim eu possa ter mais chances de me aproximar de Harley.
Desliguei o rádio e fui pra casa. Apesar de eu gostar muito daquela musica, não ia me fazer bem ficar me torturando com lembranças e preposições.
Assim que passei pelo portão vi o carro do meu pai fora da garagem. Achei estranho, pois minha avó tem o seu próprio sedã e aquele SUV estacionado na frente de casa não estava sendo usado havia anos. Foi a única coisa que os federais não tiraram do meu pai e na época eu quis que minha vó o deixasse guardado pra quando ele saísse da prisão. Senti um arrepio quando lembrei que íamos receber uma visita.
_ Scott!_ Apertei o volante com força liberando minha raiva antes de sair do carro.
Entrei em casa e lá estava ele jogado no sofá vendo televisão. Os sapatos no meio da sala e as almofadas no chão. Se levantou quando me viu e abriu os braços.
_ Maninho!_ Veio na minha direção pra me abraçar e eu desviei._ Não vai dar nem um abraço no seu irmão?
_ O que veio fazer aqui?_ Joguei a mochila em cima do sofá.
_ Como assim? Eu vim ver vocês. Não está feliz?
_ Quer que eu seja sincero?_ Desafiei.
_ Qual é, Nathan! Já faz tanto tempo que a gente não se vê._ Fingiu se importar._ Além do mais, hoje é meu aniversário, não acha que eu mereço ao menos um parabéns?
_ O que acha de eu tentar te afogar na piscina?_ Me olhou confuso como se não lembrasse do que fez comigo.
_ Nathan, que bom que chegou!_ Minha avó entrou na sala sorridente e desfiz o punho cerrado onde minha força estava concentrada._ O jantar está quase pronto.
_ Eu estou sem fome, vó!_ Peguei minha mochila e fui pro meu quarto.
Começo a ter uma crise nervosa e tento me acalmar respirando fundo. Meu irmão é muito dissimulado e eu vou ter que tomar cuidado com isso. Sei que ele vai ficar só por alguns dias, mas pra ele é o suficiente pra virar todos contra mim, que é o que ele mais gosta de fazer.
Muitas vezes ele já estragou as coisas em casa e tentou colocar a culpa em mim por causa das minhas crises, mas meu pai conhecia o filho que tinha e sempre ficou do meu lado. Por causa disso ele tem ciumes de mim e tenta roubar tudo o que eu tenho como a atenção das pessoas, amigos e até a Harley. Não vou deixar que isso aconteça.
_ Parece que alguém andou malhando!_ Scott estava na porta do meu quarto. Fechei meus olhos e desejei que ele evaporasse._ Como estão as coisas por aqui? Além é claro, do papai ter sido preso.
_ Estavam bem antes de você chegar._ Me sentei na cama e coloquei a camiseta que havia tirado por causa do calor que estava sentindo.
_ Olha só, Nathan..._ Ouvi ele suspirar pesado._ Pelo bem da vovó, e pelo seu próprio bem, eu sugiro que você comece a me respeitar como seu irmão mais velho._ Ele andava pelo quarto tocando em tudo e me deixando ainda mais irritado._ Com James fora dos negócios, alguém precisa ser responsável e cuidar disso._ Ele nem ao menos o chama de pai._ E é por isso que eu estou aqui._ Me sentei na cama e o vi olhando minhas fotos na mesa do computador.
_ Por isso está vestido assim? Estava cuidando dos negócios?
_ Fico bem, não é?!_ Deu uma volta se achando o máximo por estar vestindo roupa social._ Preciso mostrar que sou responsável pela família agora.
_ Por que ainda acha que faz parte da família?_ Scott me lançou um olhar raivoso e eu percebi que havia ido longe demais. Colocou as mãos nos bolsos da calça pra esconder as mãos tremulas. É o que eu faço quando não quero perder o controle.
_ Você é que não faz!_ Tornou a olhar para as fotos_ A vadia da sua mãe tirou isso de mim quando engravidou.
Em uma fração de segundos eu fiquei completamente cego e parti pra cima dele derrubando tudo que estava em cima da mesa.
_ Não fale da minha mãe!_ Vociferei entredentes pressionando o pescoço dele com o antebraço.
_ Acho melhor você se afastar._ Disse quase sem voz.
_ Porque não tenta?
Senti a dor das cotoveladas que ele me deu nas costelas e me vi obrigado a soltá-lo. Não deixei por menos e novamente o ataquei segurando-o pela cintura e nos joguei no chão. Consegui acertar alguns socos no rosto dele antes dele segurar meu punho e me imobilizar com uma chave de braço. Sentindo que ele arrancaria meu membro fora eu tive que desistir.
_ Eu disse pra se afastar._ Esbravejou saindo de cima de mim._ Você não mudou nada._ O vi limpando o sangue no canto da boca. Eu estava recuperando o fôlego e não conseguia ficar em pé.
_ Vi que se preparou pro nosso encontro._ Me referia ao golpe de judô que ele usou pra se livrar de mim._ Você me pegou de surpresa._ Me levantei massageando o ombro dolorido por causa daquele golpe._ Mas não importa o quanto se esforce, você nunca vai ganhar de mim._ Ele parou na porta fazendo uma pausa dramática.
_ Aquela sua amiga, a Harley..._ Meus batimentos desaceleraram e eu prendi a respiração._ Eu a vi na escola hoje e..._ Se virou me olhando com um sorriso no canto dos lábios._ Sabe se ela está saindo com alguém?
_ Fique longe dela!_ Lancei-lhe um olhar raivoso me aproximando de vagar.
_ E quem vai me impedir? Você?
Em um salto eu o acertei no peito com os dois pés fazendo-o dar alguns passos para trás e cair no meio do corredor. Sem esperar que ele se recuperasse, fui pra cima dele acertando socos no seu rosto. Scott usou os braços como escudo e em um momento de descuido meu, ele me acertou com tanta força que eu cai do seu lado vendo tudo girar ao meu redor. Sem esperar eu me recuperar, ele me levantou me segurando pela camisa. Eu tinha esquecido das aulas de boxe que ele teve, pela potência dos seus socos, ele nunca parou de treinar e eu me arrependi de tê-lo provocado. Pra evitar que eu revidasse, Scott me prendeu de frente contra a parede e torceu meu braço para trás.
_ Falar da ruivinha te deixou irritado, não é?! Quer saber de uma coisa? Eu não pretendia chegar perto dela, mas agora..._ Aproximou seu rosto do meu meu, o suficiente pra eu sentir sua respiração._ Estou ansioso por um reencontro.
Juntei o pouco de força que me restava e me inclinei para trás conseguindo espaço para colocar os pés na parede e o empurrar. Estávamos próximo da escada e descemos rolando um por cima do outro. Cheguei lá embaixo sentindo dores no corpo todo e nós dois nos contorcíamos no chão.
_ Você desiste?_ Scott perguntou forçando a voz.
_ Nunca!_ Respondi sem forças.
Nos levantamos pra continuar a briga, mesmo nós dois estando detonados.
_ MAS QUE DIABOS ESTÁ ACONTECENDO AQUI?_ Fomos interrompidos pela vovó.
Agradeci internamente e me sentei na escada com a mão no abdômen.
_ Agora sim eu me sinto em casa._ Scott se sentou do meu lado e estendeu a mão para mim._ Você ainda não me parabenizou.
_ Feliz aniversário, babaca!_ Empurrei sua mão com violência e voltei para o meu quarto.
Minha relação com meu irmão nunca foi melhor.
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Te Amo no Meu Ritmo
Teen FictionEm um mundo repleto de passos delicados e sentimentos emaranhados, adentramos a história cativante de uma jovem bailarina de cabelos ruivos, cuja dança é uma expressão de sua alma apaixonada. Em meio a sapatilhas desgastadas e sonhos cintilantes...