POV. NATHAN
Não entendo com um sentimento pode machucar tanto. Até onde eu sei o amor deveria ser algo lindo, mas pra mim ele está sendo um tormento. Eu não consigo achar uma forma de me declarar pra Harley e parece que todos a minha volta estão fazendo isso no meu lugar.
Só pode ser carma.
Eu estou com tanto medo de perdê-la que isso de fato está acontecendo. Mas como eu posso perder algo que eu não tenho?
Cheguei em casa e a primeira coisa que vejo quando abro a porta é Scott vindo na minha direção. Estava usando um suéter de gola alta e como eu sei que ele odeia gola alta, me dei conta de que era por causa do que eu fiz no outro dia. Pegou as chaves do carro dele e passou por mim me encarando, mas sem dizer nem mesmo um "Oi!". Aquilo foi doloroso. Minha consciência estava pesando muito e não sabia como poderia mudar isso.
_ Scott!_ Fez de conta que não me ouviu e entrou no carro.
Eu vacilei... E talvez tenha perdido o meu irmão pra sempre desta vez.
Acordei no dia seguinte cheio de energia e me sentindo feliz por alguma razão. Quem sabe por causa de um sonho ou por eu ter passado um tempo relembrando de quando eu dançava e arrisquei uns passos na garagem. Seja lá o que tenha ajudado na minha mudança de humor, valeu muito a pena.
Entrei na cozinha pra tomar o café da manhã antes de ir pra escola e encontrei com Scott. Com cara de sono e mastigando lentamente a torrada com geleia, ele parecia perdido nos próprios pensamentos. Não arrisquei puxar conversa, sabia que ele estava chateado com o que eu fiz e precisava de tempo. Em silêncio eu peguei uma tigela do armário e enchi com cereal de frutas e leite.
_ Você pode se sentar aqui, eu não vou te morder!_ Assegurou com voz rouca.
Depois de alguns segundos analisando a proposta me sentei na sua frente. Continuamos com nosso desjejum em silêncio. Volta e meia eu levantava o olhar rapidamente pra ver se ele estava olhando pra mim e se eu achava uma brecha pra puxar um assunto. Eu não o conheço muito bem, então não fazia ideia do que conversar. Quando ele levantou a cabeça pra tomar seu café eu pude ver os hematomas que ele tentava esconder. Senti calafrios por saber que eu tinha feito aquilo._ Me desculpa!_ Pensei alto demais conseguindo fazer ele olhar pra mim._ Eu pensei que não...
_ Eu não estou mais vendo a Harley._ Aquela notícia teria me feito muito feliz em outra ocasião. Eu estava me sentindo muito culpado pra demonstrar qualquer tipo de emoção positiva naquele momento._ Se foi por isso que você quase me matou pela... Já perdi as contas de quantas vezes isso aconteceu._ Soltou um riso nervoso antes de tomar mais um gole do seu café._ Espero que saiba o que está fazendo jogando seu amigo em cima dela como se não se importasse._ Franzi a testa me perguntando como ele sabia daquilo._ Talvez por serem amigos você não consiga ver o que está bem na sua frente, mas eu tomaria mais cuidado se fosse você.
_ Do que está falando?_ Fiquei irritado com a forma dele se referir ao Caleb._ Você não sabe nada sobre ele.
_ Porque eu já conheci pessoas como ele, posso dizer a você que ele não é uma boa companhia pra Harley._ Minha respiração ficou pesada e segurei a colher com força.
_ Caleb é um bom amigo e uma ótima pessoa._ Defendi meu amigo como se ele estivesse ali._ Não pode falar sobre o que você não sabe...
_ Bom dia!_ Ouvi a minha avó entrando na cozinha e soltei a colher dentro da tigela. Ela deu um beijo em mim e depois em Scott que quebrou nosso contato visual mortal.
Não sei o motivo que Scott teve pra dizer aquilo sobre Caleb, mas eu conheço o amigo que tenho e confio nele.
Depois de um dia incômodo na escola, chego em casa e o clima não estava muito diferente. A vovó questionou Scott sobre os hematomas no pescoço e ele não quis dizer a verdade. Sei que fez isso pra não magoá-la. Gosto de como ele a considera mesmo ela não sendo sua avó de sangue. Faz parecer fácil gostar dele quando não o vê de dentro. Já passamos muitas coisas juntos antes dele ir embora, não acredito que tudo foi coisa da minha cabeça. Sei que por trás do seu sorriso inocente, palavras doces e atitudes gentis, se escondem pensamentos perversos. Ele é o tipo de pessoa que depois de te conquistar leva tudo o que você tem sem nem um pingo de remorso. Eu me sinto muito mal por ter feito o que fiz com ele, mas quando me lembro de quem ele realmente é, o arrependimento passa.
Terminei o jantar e fui pro meu quarto. Precisava continuar com o trabalho de química mesmo sem a ajuda da minha dupla. Peguei o celular varias vezes pra falar com ela sobre o assunto e desisti. Estava com medo de como ela reagiria, mas ao mesmo tempo eu tinha esperanças de que ela fosse me atender e me ouvir. Enchi meus pulmões de ar e liguei pra ela. O que eu imaginava aconteceu e desisti de vez. Não queria cansar a garota com minha insistência, ela já deveria estava cansada demais de mim.
A estequiometria nada mais é do que a área da química que determina a quantidade de reagentes que deve ser usada e a quantidade de produtos que será obtida nas reações químicas com base em leis e a ajuda de cálculos. Isso quer dizer que além de eu pesquisar sobre os reagentes, eu ia ter que escrever sobre eles, fazer os cálculos e colocar no trabalho. Já estava quase desistindo quando me lembrei de um kit de química que ganhei do meu pai depois que minha mãe morreu. Ele pensou que fosse me manter ocupado, mas nunca tirei ele da caixa. Talvez agora ele tivesse alguma utilidade.
_ Vó!_ Entrei na cozinha e ela e Scott estavam tomando chá. Senti uma pontinha de ciumes, mas me forcei a ignorar._ Lembra daqueles brinquedos que a gente tinha guardado na antiga casa da piscina? Ainda estão lá?
_ Eu doei pra igreja. Mas não sei se foram todos. Você está precisando de algum em específico? Posso ir comprar amanhã._ Ouvi Scott rindo baixinho.
_ É um kit de química._ Respondi incomodado com a impressão que deixei._ Preciso dele pra um trabalho da escola.
_ Não me lembro de ter doado um desse. Eu vou até lá dar uma olhada.
_ Eu vou!_ Disse antes dela se levantar._ Assim eu aproveito pra ver se tem mais alguma coisa que eu possa usar.
Me arrependi de ter tido a ideia. Tinha um milhão de caixas naquele quarto e eu não fazia ideia de por onde começar. As cinco primeiras tinham apenas livros e recordações de todos os meus anos na escola desde o jardim de infância. Até que foi divertido relembrar daquele tempo. Eu desenhava muito mal. As pessoas eram bolas com pernas e braços de palito e olhos desiguais. Eu não entendia sobre o que eram os desenhos, mas minha mãe estava em todos eles, disso eu sei porque tinha a palavra "mãe" escrita do lado de uma das bolas que usava um vestido vermelho com bolinhas brancas. Foi inevitável sentir saudades.
Com os olhos cheios de lágrimas eu continuei minha busca pelo brinquedo. Era melhor eu me concentrar nisto pra não ficar chorando igual um bebê sentindo saudades da mãe. Não era o momento pra isso. Uma caixa maior do que as outras me chamou a atenção e eu ignorei todas as outras e abri aquela que por coincidência tinha o meu nome no topo. Assim que a abri eu encontrei o tal kit de química ainda dentro do plástico. fiquei feliz por não precisar abrir as outras 990 mil caixas que ainda restavam. Deixei o brinquedo do lado e quando voltei meus olhos para dentro da caixa eu vi um álbum de fotos feito a mão com uma foto da Harley abraçando eu e Ashley, nós três com dente faltando na frente, e escrito com strass azul e prata ( porque éramos da Corvinal), estavam nossos nomes seguidos das iniciais M.A.P.S., que quer dizer melhores amigos para sempre. Assim que peguei o álbum, de baixo dele estava as sapatilhas e o colant que eu usei na minha ultima apresentação com a Harley. Decidi levar a caixa toda para o meu quarto. Senti que precisava fazer isso e tirar um tempo pra relembrar das coisas boas.
Enquanto eu ria e chorava com as lembranças daquele álbum de fotografias que tiramos com a polaroid da minha avó, me dei conta do tempo que eu fiquei sem lembrar daquelas coisas. Eu estava tão ocupado sentindo raiva e culpando a Harley que eu esqueci que foi ela quem me ajudou sempre que eu precisei. Eu me esqueci de todas as vezes que ela me fez rir mesmo estando no seu pior dia. Vendo aquelas fotos eu senti uma paz que eu não sentia há anos. Era isso que ela transmitia e pela maneira como Caleb falou dela, ainda é a mesma.
Entre as fotos em que estávamos nos divertindo na piscina e as de fantasias de halloween, eu encontrei uma em que Harley e eu estávamos nos preparando pra entrar no palco para apresentar "O lago dos cisnes". Lembro como se fosse ontem, a Harley estava muito nervosa, eu a abracei forte e disse que ela podia confiar em mim que daria tudo certo. Com a testa apoiada na minha ela respirou fundo três vezes antes de abrir os olhos e me agradecer. Senti meu peito pesar lembrando do dia em que ela veio me pedir ajuda e eu nem quis ouvir o que ela tinha pra me dizer. Como eu pude ser tão insensível? Harley nunca se sentiu confortável com a plateia e isso deve estar sendo aterrorizante pra ela já que vai fazer um solo e atenção vai ser voltada unicamente pra ela.
Pensei em uma forma de poder ajudá-la e liguei pra Srta. Hargrove torcendo pra que o numero não tivesse mudado. Não percebi que hora era, mas já estava tarde pois ela me atendeu com voz de quem tinha acabado de acordar.
_ Pensei que tivesse me esquecido._ Reclamou sonolenta quando disse quem era.
_ Não te esqueceria nem em um milhão de anos.
_ Sempre muito encantador, mas vamos direto ao assunto. Porque me ligou a essa hora?
_ Eu..._ O nervosismo ficou preso na minha garganta. Tive medo de estar sendo impulsivo e acabar estragando tudo._ É muito tarde pra eu querer voltar?
_ Você não faz ideia do quanto ouvir isso me deixa feliz, Nathan, mas infelizmente eu não posso te aceitar agora._ Eu não estava esperando uma rejeição e isso me deixou em choque._ Estamos em cima da apresentação e eu..._ Fez uma pausa misteriosa._ Por favor, não diga isso a Harley. Eu fechei um contrato hoje com um estúdio em Paris.
_ Não pode fazer isso._ Disse num impulso._ Harley precisa de você, isso é a vida dela.
_ Harley é muito boa no que faz e tenho certeza de que ela vai encontrar alguém que possa dar a ela muito mais estrutura e apoio pra explorar mais o talento que ela tem._ A conversa estava me deixando estressado. Respirei fundo me acalmando pra não dizer nada errado._ Eu já deixei tudo organizado pra que ela continue no balé com alguém que vai fazer ela decolar._ Eu não conseguia dizer nada. Fiquei decepcionado com ela por estar enganando não apenas a Harley, mas todas as alunas dela._ Já que ligou eu preciso que faça algo por mim.
_ Eu não vou te ajudar a prejudicar as meninas se é isso que vai me pedir.
_ Quero que ajude a Harley.
Claro que conversar com Harley não foi algo tão simples. Ela passou o dia me evitando. Mudava o caminho nos corredores quando me via e se afastava cada vez que eu me aproximava durante as aulas. Eu não tinha um script pronto pra saber o que fazer, o que dizer ou como por em prática essas duas coisas. Eu só tinha que fazer e não importava como.
_ Como jogadora de futebol ela é uma ótima bailarina._ Comentou Jacob assistindo o péssimo desempenho da Harley na educação física.
_ Ela vai ser esmagada._ Brian parecia preocupado e a cada minuto se levantava do banco como se quisesse ir ajudar.
Todos os meninos estavam apreensivos com aquela partida. Harley era de longe a mais pequena no campo, mas pra sorte dela era a mais ágil e conseguia desviar dos ataques das meninas do time adversário com facilidade. Foi engraçado quando ela pegou a bola com a mão e saiu correndo. As meninas ficaram bravas por que isso custou um pênalti pro outro time, já pra quem estava assistindo foi engraçado.
_ Seria melhor jogar bolinha de gude, não acha?_ Brian provocou a Harley que passou por nós vermelha de raiva mostrando o dedo do meio pra ele.
Não entendo como um garoto tão confiante quanto o Brian tem medo de mostrar o que sente e se declarar pra ela. Em vez disso ele age como um idiota fazendo ela odiar ele ainda mais.
_ Por que você não diz logo que gosta dela?_ Josh parecia ter lido meus pensamentos._ Fica aí agindo como um imbecil em vez de conquistar a garota.
_ O Brian também?_ Jacob estava inconformado por não saber o que essa garota tem de tão atraente._ Tudo bem que ela é bonitinha, mas ter tantos admiradores assim já é demais._ Ele conseguiu deixar um clima desagradável entre nós._ Eu vou conversar com ela um dia desses só pra saber o porquê...
_ NÃO!_ Dissemos em coro assustando nosso amigo.
Jacob é o Don Juan de Nova York. Ele é divertido, tem um ótimo porte físico e tem experiência quando se trata de conquistar alguém. Com certeza ele conseguiria conquistar a Harley fácil se quisesse.
_ Vocês se sentem ameaçados?_ O idiota se levantou sorrindo e tirou a camisa fazendo as meninas pararem de jogar pra ficar olhando pra ele._ Não se preocupem, ela não faz meu tipo._ Teria ficado ofendido, mas já que era o Jacob, eu me senti aliviado.
_ E qual é seu tipo?_ Quando Leslie passou correndo na nossa frente chutando a bola, ele olhou pra ela respondendo nossa pergunta._ Vocês não são dupla para o trabalho de química?
_ Ela está fazendo tudo sozinha. Disse que faz isso pra não ter que ficar perto de mim. Mas isso só me deixa ainda mais apaixonado._ Ele parecia mesmo apaixonado. O que era novidade pra todos._ Eu ainda vou conquistar essa menina.
_ Gostaria de te ver tentar._ Brandon desafiou._ Leslie nunca ficou com nenhum garoto da escola e sabemos que ela tem alergia de você. Acredita mesmo que consegue chegar nela?
_ Nada é impossível para o poderoso Jake.
_ Então mostre._ Tyler, que nunca liga pro que acontece a sua volta, desafiou o amigo.
_ Veja e aprenda, meu amigo nerd._ Tirou a camisa e foi pra dentro do campo interromper o jogo das meninas. Claro que elas não reclamaram.
Ficamos assistindo ele conversar com a Leslie e eu daria qualquer coisa pra ouvir aquela conversa. Pensamos que ele tinha obtido sucesso por ela estar se aproximando dele com olhar sedutor, mas a joelhada que ele recebeu nos mostrou que não. Ele mal conseguiu jogar depois que elas saíram do campo, mas ter visto ele levar um fora compensou ter perdido o jogo.
Estava saindo do prédio quando eu vi a Harley no estacionamento conversando com a Jessie e o Brandon. Esse era o momento pra eu conseguir falar com ela. Me aproximei como quem não quer nada, mas por dentro eu estava surtando. Minha presença foi completamente ignorada por ela e era compreensível.
_ Duas semanas?_ Me assustei descobrindo que a apresentação seria em dois dias e Joane nem se quer comentou esse detalhe durante a nossa conversa.
Era como se eu nem existisse pra ela. Continuou me ignorando. Até o Brandon ela tratou melhor do que eu. Poderia deixar passar se Harley não estivesse atrasada com os ensaios e se a apresentação não estivesse tão em cima da hora.
_ Harley!_ Tentei chamar a sua atenção quando ela foi embora, mas foi inútil. Além de me ignorar ela apressou o passo e precisei correr pra alcançá-la._ Podemos conversar um pouco?_ Neste momento eu estava interessado apenas em ajudá-la com a coreografia._ Por que não me disse que adiantaram as apresentações? A coreografia está pronta?_ Eu sabia a resposta e só queria que ela olhasse pra mim._ Joane, ao menos te ajudou com o grand jeté?_ Minha insistência não estava adiantando._ Pode, por favor, parar e me responder?_ Segurei sua mão fazendo-a se voltar pra mim.
_ Por que se importa?_ Pude ver o quanto ela estava magoada comigo._ Você mesmo disse que não era da sua conta, então por que quer saber?_ Me lembrou das minhas próprias palavras._ O que você quer Nathan?_ Seus olhos estavam marejados e estava prestes a desabar. Eu estava magoando ela outra vez e aquilo não podia continuar.
_ Eu quero v..._ A vontade de dizer a verdade me consumia,mas eu sou covarde demais pra admitir._ Quero te ajudar.
_ Você não pode me ajudar._ As lágrimas começavam a escapar dos seus olhos._ Não pode continuar me fazendo acreditar em você e de repente jogar em cima de mim todas as suas frustrações como se tudo fosse culpa minha._ Me pergunto há quanto tempo ela estava guardando esse sentimento. Um caroço se formou na minha garganta por finalmente perceber o estrago que eu causei no coração dela._ Eu não consigo mais, então faça um favor a nós dois, siga o conselho que me deu e esquece que eu existo._ Me deu as costas e se afastou soluçando.
Queria impedi-la de entrar naquele carro e prendê-la no meu abraço. Dizer o quanto estou arrependido pelo que disse e pedir perdão de joelhos, mas ao invés disso eu fiquei olhando ela ir embora levando junto todas as esperanças que me restavam de nos aproximar novamente.
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Te Amo no Meu Ritmo
Подростковая литератураEm um mundo repleto de passos delicados e sentimentos emaranhados, adentramos a história cativante de uma jovem bailarina de cabelos ruivos, cuja dança é uma expressão de sua alma apaixonada. Em meio a sapatilhas desgastadas e sonhos cintilantes...