Capítulo 2

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POV NATHAN

Foi difícil levantar de manhã. Fui ver meu pai na prisão no fim de semana e sempre volto de lá sentindo mais raiva do que sentia antes. James Gray nunca foi um homem muito amável, mas agora ele só não se mostra amável como também não sente nenhum arrependimento pelo que fez. Eu continuo indo vê-lo porque sou o único a fazer isso e penso que ele pode mudar e me fazer acreditar que ainda existe bondade dentro dele.
Eu vi meu pai ser algemado e levado pelo FBI de dentro da nossa própria casa no meio da noite. Depois da morte da minha mãe, aquela foi a pior coisa que me aconteceu. Não sei descrever como eu me senti ao descobrir que meu pai era um criminoso, mas na hora eu soube quem havia feito a denuncia.
Harley Nathalie Edwards. Foi ela quem denunciou o meu pai por desvio e lavagem de dinheiro. Meu pai errou, e eu soube que ele era culpado quando foi provado no tribunal. Como se isso não bastasse, ela espalhou coisas horríveis sobre mim pra escola inteira. Foi humilhante. Discutimos na frente de todos, nos afastamos e a nossa amizade acabou. Depois disso as coisas só pioraram para mim.
Não sou o tipo de cara que foge de uma briga. Já fui parar na delegacia várias vezes por isso. Teve uma vez que eu me meti em uma briga de rua só porque um cara esbarrou em mim me fazendo pisar em uma poça de lama. Outra vez que eu e meus amigos estávamos saindo de uma festa e uns caras começaram uma briga bem do nosso lado. Um deles foi jogado pra cima de mim me fazendo bater a cabeça na quina da lareira. Mandei aquele cara pro hospital. Essa é uma parte de mim que não me orgulho, mas não consigo controlar. Eu perco o controle quando passo por momentos de muito estresse, mas o que mais me faz perder a cabeça não é o que, e sim quem.
Eu sei que eu deveria odiá-la mais do que qualquer coisa pelo que fez, mas não importa o que eu faça meus sentimentos por ela nunca diminuem. Em alguns dias que eu não quero nem sair da cama, é só eu pensar que vou ver aqueles olhos azuis e o sorriso radiante que minha vontade de viver volta de repente e eu só consigo pensar em como é bom sentir meu coração acelerar quando eu a vejo. É por causa dela que eu perco a minha razão e torno a encontrá-la. Harley é a única garota que me faz conseguir odiar e amar ao mesmo tempo. E foi por esses motivos que durante as férias de verão, eu me dei conta de que estava sendo infantil em culpá-la pela prisão do meu pai, afinal de contas, se ele não tivesse feito nada de errado não estaria onde está agora. O que eu mais quero agora é poder recuperar nossa amizade. Mas como nada na minha vida pode ser tão simples, existem dois grandes obstáculos nessa história.
: Meu irmão, Scott:
Desde criança ela sente algo pelo meu irmão e eu sei disso porque sempre que ele chegava perto ela começava a agir estranho, como se quisesse que ele a notasse. É claro que, ao contrário de mim, Scott é um conquistador e fazia ela acreditar que ele se interessava por ela, mas o que ele gostava mesmo de fazer era me tirar do sério porque sabia que, eu sim, gostava dela.
: A raiva:
Minha psiquiatra disse que eu preciso aprender a me controlar, caso contrário eu posso acabar machucando quem eu amo, e não quero fazer isso com a Harley. E é por isso que, desde que as aulas retornaram, eu não consigo falar com ela. Penso que é melhor que eu continue fazendo-a acreditar que eu a odeio pra mantê-la segura de mim.

Estava com os meninos na entrada do prédio da escola quando Harley chegou. Eu ensaio algumas coisas pra dizer pra ela na minha cabeça, mas nunca digo o que eu quero. Mesmo meu coração vibrando sempre que a vejo, eu acabo agindo de uma forma completamente diferente do que eu sinto. Queria conseguir bloquear todos os pensamentos que me impedem de me aproximar dela, ir ao seu encontro e beijá-la como eu me imagino fazendo todos os dias.
Ela subia as escadas quando Brian ( um troglodita do terceiro ano), a abordou e a convidou pro baile. Trinquei o maxilar e cerrei meus punhos dentro dos bolsos da blusa de moletom pensando que ela aceitaria, afinal de contas é o Brian, o garoto que, segundo as meninas, "É o mais lindo da escola".
Comemorei internamente quando ela recusou.
Brian não é do tipo que sabe lidar com rejeições. O título que as meninas deram a ele subiu a cabeça e ele anda para cima e para baixo se achando o gostosão e age com as garotas da maneira que tem vontade. Já brigamos várias vezes por causa das suas atitudes, principalmente porque ele acabou levando seu egocentrismo pra dentro de campo e como eu não tenho sangue de barata o coloquei no seu devido lugar.
Eu não ia interferir no que estava acontecendo, mas quando ele tocou nela, senti o sangue ferver nas minhas veias e não pensei duas vezes antes de defendê-la. Harley entrou rapidamente no prédio quando ele a soltou.
_ Seus pais não te ensinaram como se deve tratar uma mulher?_ Indaguei e ele continuou estático sem dizer nada.
_ Foi muito feio o que você fez._ Brandon completou se colocando do meu lado. Os que estavam em volta ficaram nos olhando apreensivos.
_ Você não tem nada a ver com isso, Gray._ Brian respondeu tentando manter a postura e subiu um degrau na escada ficando de frente pra mim ignorando a presença do meu amigo.
_ Tá tentando me intimidar com o seu tamanho, Andersen?_ Precisei levantar os olhos pra olhar no seu rosto. Senti o calor da adrenalina começar a dominar o meu corpo._ Você é um idiota. Um nada que merece servir de tapete pra Harley passar por cima._ Precisei me controlar pra não empurrá-lo escada abaixo._ Então, eis aqui o que você vai fazer, Sr. Importante._ Fui sarcástico._ Vai parar de agir com arrogância, tomar uma postura de homem e se desculpar com a Harley.
_ E se eu não fizer? Você vai fazer o que, Sr. Esquentadinho?_ Continuava tentando me intimidar com o maxilar trincado e sangue nos olhos. Me aproximei mais fazendo ele recuar um degrau.
_ Sugiro que você entre em contato com o cirurgião plástico da sua mãe._ Notei ele engolindo em seco._ Vai precisar de um quando eu terminar.
_ Você não ousaria...
_ Paga pra ver?_ Brian desviou o olhar e desfez a postura de machão._ Brandon vai te acompanhar pra ter certeza de que você vai fazer tudo direitinho._ E ele se foi antes de eu terminar. Brandon foi atrás dele.
_ O que aconteceu?_ Tyler perguntou colocando a mão no meu ombro._ Pra onde o Brandon foi?_ Olhei incrédulo para o meu amigo que apesar de estar por perto, nem se ligou no que estava acontecendo.
_ Vamos entrar!_ Segurei ele pelo braço e o fiz me acompanhar.
Brandon e Tyler são dois dos meus melhores amigos e estão sempre comigo não importa o que. Brandon é aquele amigo que me faz pensar antes de uma decisão. Ele é o mais racional do grupo e nunca se mete em confusão, mas quando precisa ele não arrega. Se fosse pra defini-lo em uma palavra seria "Paciência". Já o Tyler está sempre no mundo da lua. Somos amigos há anos e eu ainda não consigo entendê-lo. Apesar de ser incrivelmente inteligente ele não entende nada de sentimentos e nem consegue demonstrá-los. Ele não entende sarcasmo e leva tudo ao pé da letra. Fora isso ele é uma pessoa incrível. Caleb é o engraçado e aquele que fica bêbado no primeiro copo de cerveja, e Jacob o mulherengo que adora se aventurar. Somos muito diferentes uns dos outros, e é isso que torna nossa amizade ainda mais especial.

_ Oi!_ Estávamos aproveitando o sol atrás do refeitório durante o intervalo quando Ashley surgiu atrás de mim me surpreendendo com um abraço._ Oi, meninos!
_ E aí?!_ Eles não gostam muito dela e não fazem questão de esconder isso torcendo o nariz quando ela chega.
Ashley era a melhor amiga da Harley, mas quando brigamos ela escolheu ficar do meu lado, e em todas as direções. Foi ela quem me contou as coisas que Harley estava falando de mim.
_ Vamos ao cinema hoje?_ Me convidou animada._ Tem um filme ótimo em cartaz e eu quero muito ver.
_ Eu não sei se vou poder ir...
_ Temos treino._ Jacob entrou no assunto percebendo meu desconforto.
_ A noite?_ Questionou confusa.
_ O treinador está bem exigente._ Brandon também estava tentando me salvar.
_ Ele disse que enquanto pudermos ver a bola, nós vamos ficar no campo._ Caleb consegue ser bem criativo quando quer. Eu segurava meu riso mordendo o lábio inferior.
_ Tudo bem, então!_ Se afastou com os ombros caídos e olhar triste._ Mas vou poder te ver depois da aula, certo?_ A animação voltou.
_ Claro..._ Me sentia mal por ela.
_ Por cinco minutos!_ Brandon continuou e Ashley o encarou fuzilando-o com o olhar._ O treinador esta exigente._ Repetiu reforçando a mentira e fazendo os meninos esconderem o rosto com vontade de rir.
_ Te vejo depois._ E saiu em direção ao refeitório.
Enquanto a acompanhava com os olhos, Harley entrou no meu campo de visão me fazendo estremecer.
_ Por que você está com ela?_ Caleb perguntou me tirando do transe.
_ Ela é legal!
_ Ela é um pé no saco._ Jacob disse com a boca cheia de snacks.
_ Parece uma réplica mal feita da Harley._ Comentou Tyler me deixando confuso. Eu jurava que ele estava viajando nos pensamentos de novo._ Se você quer ficar com a Harley, porquê não fala com ela?_ Olhei na direção da ruiva novamente e nossos olhares se conectaram de tal forma que eu não consegui desviar, era como se estivesse sendo atraído por magnetismo.
_ Nathan, fala com ela._ Brandon me encorajou.
_ Não posso!_ Respondi pensando no que poderia acontecer se eu me aproximasse dela.
Ouvimos o sinal anunciando o término do intervalo e voltamos pra aula.
As vezes eu acho que Harley sente algo por mim. A maneira como ela me olha, como fica nervosa perto de mim me faz acreditar nisto, então eu lembro de como ela era com Scott e de como eles quase se beijaram há três anos, e aí eu percebo que eu não sou o tipo de cara que ela gosta. Pensando nisso, é melhor mesmo que continuemos afastados. Não sei se saberia lidar com a rejeição.

Já em casa, depois de um dia exaustivo fugindo dos meus sentimentos e tendo que aguentar o mau humor do treinador, minha avó me disse que Scott está vindo de Londres pra passar uns dias com a gente. Eu não tenho uma relação boa com ele por motivos óbvios. Cada vez que vinha na minha casa a gente brigava e alguém acabava no hospital. Era sempre pelo mesmo motivo, a Harley.
_ Só peço que você se controle!_ Pediu, servindo-se de uma fatia de pizza, a senhora de cabelos tingidos de um louro acobreado.
Minha avó pinta o cabelo desde que eu aprendi a diferenciar as cores. Ela não gosta de deixar a mostra seus fios de cabelos grisalhos, então os camufla com química, mesmo eu dizendo a ela que os fios brancos lhe caem muito bem.
_ Eu vou me controlar se ele se controlar._ Respondi com a boca cheia.
Estou ciente de que eu sou culpado por sua idade ter sido revelada tão de pressa através das rugas que ela esconde com procedimentos estéticos, e dos seus cabelos platinados por baixo da tinta. Sei que preciso tomar jeito e parar de me meter em confusões, mas quando se trata de Scott, eu não consigo ter sangue frio.
_ Nate, vocês são irmãos, não acha que está mais do que na hora de vocês serem amigos?
_ Eu não prometo nada vó._ Limpei meus lábios como guardanapo._ Se ele ficar longe dos meus amigos..._ Pensei se deveria acrescentar mais alguém à lista._ Não vamos ter problemas._ Virei o copo com refrigerante na boca.
_ Dos seus amigos ou da Harley?_ A encarei por cima do copo que eu segurava a minha frente.
_ Harley e eu não somos mais amigos._ Afirmei pondo fim a discussão.
Não gosto da ideia de ter meu irmão por perto. Meu pai era o único motivo que nos mantinha próximos, agora que ele está preso não tem porquê Scott vir nos visitar. Temo que ele tente se aproximar de Harley antes de mim e acabe roubando minha garota como sempre tentou fazer. Eu quero acreditar que ele só ficava em cima dela pra me provocar e me fazer perder o controle e agora que não somos tão próximos, talvez ele não se interesse mais. Mas se eu estiver enganado e ele gostava mesmo dela, desta vez ele vai conseguir o que sempre quis.

Te Amo no Meu RitmoOnde histórias criam vida. Descubra agora