Capítulo 8 (pt. 2)

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POV NATHAN 

Acordei no meu quarto sem saber como eu fui parar lá. Sentia cada músculo do meu corpo doer e meu lençol estava molhado de suor como se eu tivesse feito exercícios a noite toda. Ter tido um pesadelo justificaria, mas também não conseguia lembrar se isso aconteceu.
Fui pro banheiro tomar um banho e tirar aquele peso do meu corpo, mas não importa quanto tempo eu ficasse debaixo da água quente de chuveiro, o peso que eu tinha na consciência por ter feito aquelas coisas com Scott jamais iria embora. Eu nunca pensei que fosse capaz de fazer aquilo. Pressionar a cabeça dele com as mãos até fazê-lo perder a consciência ou jogar uma chaleira com água fervente em cima dele só porque ele tem coragem de fazer o que eu não tenho... Se aproximar da Harley.
Meus ataques de raiva nunca foram tão intensos como estão sendo nas últimas semanas e isso me preocupa. Eu não sei o que e nem porquê isso acontece comigo, mas percebi que quando se trata da Harley eu me transformo em algo que não me orgulho de ser.
Ignorei o ronco do meu estômago me lembrando que precisava me alimentar. Não queria sair do quarto pra não correr o risco de encontrar com Scott. A reação dele ao me ver poderia não ser das melhores e seria compreensível se ele quisesse arrebentar minha cara, afinal eu dei a ele todos os motivos pra querer fazer isso e eu deixaria que o fizesse se tivesse controle sobre meus sentimentos e certeza de que não iria revidar.
Meus amigos voltaram a me ligar e me mandar mensagens querendo notícias minhas. Eu deveria respondê-los pra que ficassem mais tranquilos, mas não estava com vontade de conversar com ninguém. Queria ficar no meu canto pensando nas minhas atitudes e tentando descobrir uma outra maneira de diminuir os efeitos da minha raiva que não envolvesse nunca mais me aproximar da Harley. Coloquei o celular no modo silencioso pra não ser incomodado e me concentrei em fazer o trabalho que a Sra. Thompson pediu. Consegui me distrair por algumas horas até o meu estômago voltar a roncar. Não pude mais ignorar a fome e me obriguei a sair do quarto.
Cheguei na escada e vi Scott deitado no sofá de barriga para baixo, sem camisa e com as costas cobertas de pomada. A imagem dele se contorcendo de dor me veio a memória me deixando paralisado no meio da escada. Eu podia ouvir seus gemidos como se estivesse acontecendo de novo.
_ Se sente melhor?_ Voltei a mim ao ouvir a voz da minha avó falando com Scott.
_ Não está mais ardendo tanto!_ Se sentou e pegou das mãos dela um remédio e um copo com água._ Isso tem cura instantânea?_ Brincou antes de tomar o remédio.
_ Continue pensando nisso, talvez funcione._ Percebeu minha presença e me olhou assustada.
_ O que foi?_ Scott se virou para saber o que ela tinha visto.
Senti o clima pesar e tive um dejavú. Aquilo já tinha acontecido antes do meu pai ser preso. Quando Scott e ele se encontravam dentro de casa ficávamos apreensivos sem saber o que esperar. De tudo o que esperava acontecer comigo, ser como meu pai era a última delas.
_ Eu só quero comer alguma coisa._ Assegurei-lhes de que não queria arranjar confusão e fui direto para a cozinha.
Ficar dentro de uma casa com pessoas que sentem medo de você não é nem um pouco agradável. Eu quebrei a confiança que minha avó tinha em mim e vou ter que conviver com isso até eu conseguir reconquistá-la e não é um simples pedido de desculpas ou a promessa de que nunca mais vai acontecer que vai fazer isso.

A imagem de Harley olhando pro Scott como se quisesse devorá-lo não me deixava em paz. Não conseguia acreditar que ela foi capaz de fazer aquilo. Durante aquele tango ela se transformou em outra pessoa. Não era a Harley meiga e tímida que eu conhecia. Ela me lembrou daquela menina de 9 anos que perto de Scott mudava da água pro vinho. Ele exercia essa influência sobre ela desde sempre e sabendo quem Scott é logo ela vai deixar de ser a garota por quem eu sou apaixonado pra se tornar alguém que só de pensar me embrulha meu estômago.
Meu irmão nunca foi e nunca será uma boa companhia pra Harley e eu tenho que fazê-la enxergar isso antes que seja tarde.
_ Assim você vai poder ficar perto dela, mas como cunhado._ Joguei o copo vazio na cabeça de Tyler que só estava ali pra dizer que foi pois não saía do celular._ Falei algo errado?_ Não consigo entender como ele não percebe.
_ Acha mesmo que ele vai conseguir mudar a cabeça dela?_ Brandon se sentou do meu lado depois de fazer um strike no boliche._ A Harley não parece ser o tipo de garota que você convence fácil. Eu acho que o seu irmão só está tentando te provocar.
_ Tentando te provocar ou não, todos nós temos que concordar que Scott tem toda razão de querer levar ela pra cama._ Virei a cabeça como a menina do Exorcista para olhar para o Jacob atrás de mim._ Harley é linda e aquele corpinho dela é..._ Parou quando Caleb deu um tapa na sua nuca.
_ Seu bom senso foi junto com a última bola de boliche?_ Criticou sua falta de noção.
_ Vão me dizer que vocês nunca pensaram nisto?_ Eles se entreolharam e eu percebi.
_ Que belos amigos vocês são, hein?!_ Não fiquei nada feliz por saber que meus amigos já olharam pra Harley de forma inadequada.
_ Isso não quer dizer que nós a desejamos._ Brandon os defendeu._ Nós só achamos ela bonita.
_ Fale por vocês._ Novamente Jacob me fez olhá-lo com raiva._ Nem vem com esse olhar pra cima de mim que eu jogo uma bola dessas na sua cabeça._ Me ameaçou._ É a sua vez.
Me levantei pra jogar e fiz um strike. Cumprimentei Caleb que fazia dupla comigo.
_ Tem uma garota no balcão que não para de olhar pra você._ Sussurrou e mais que depressa eu olhei._ A de cabelo preso e blusa vermelha.
_ Ela é bonita!_ Por mais que eu tente me interessar por outras garotas, não consigo tirar a Harley da cabeça. Ela é a única que eu quero beijar e ter em meus braços._ Mas eu passo.
_ Qual é Nate?! Não acha que seria uma boa pra você começar aprender a se controlar? Talvez assim você consiga falar com a Harley._ Tentava entrar na minha mente.
Eu tinha que concordar com meu amigo. Não vou poder chegar perto da Harley se eu não conseguir me controlar. Não posso nem imaginar o desastre que seria se ela ao menos me tocasse. Pensando bem, tentar ficar com outra garota não seria de todo ruim.
_ Eu não sei, Caleb._ Me imaginei com ela e a lembrança do que aconteceu no carro com a outra garota me veio a mente me deixando com medo._ E se eu não conseguir me segurar ou perder o controle?
_ Se algo começar a dar errado, você para. Mas nunca vai descobrir se não tentar meu amigo._ Caleb olhava pra mim esperando uma resposta.
_ Tá legal!_ Concordei e ele comemorou sutilmente pra que a garota no balcão não percebesse._ Me deseje sorte.
_ Boa sorte!_ Respirei fundo criando coragem e fui até o balcão.
Não tivemos uma conversa muito longa. Ela disse que já me conhecia da escola, mas nunca teve coragem de falar comigo. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa além do meu nome, ela segurou meu rosto com as duas mãos e me beijou, mas não me empolgou muito porque não era quem eu queria.
_ Vem comigo!_ Pegou minha mão e me levou para fora do boliche.
_ Por que me trouxe pra cá?_ E novamente ela me mostrou que não queria conversar.
Eu não estava me sentindo a vontade beijando uma garota que eu nem conhecia em um beco escuro, úmido e sujo. Eu até tentei pedir pra irmos pra outro lugar, mas ela não parava de me beijar e estava nitidamente querendo outra coisa. Fiquei surpreso por eu estar conseguindo me controlar apesar dos beijos quentes que ela distribuía pelo meu pescoço e as investidas que seu corpo fazia ao tocar no meu. Eu consegui relaxar e deixar acontecer. O problema é que eu relaxei demais.
Em poucos segundos eu comecei a imaginar a Harley no lugar dela. Eu consegui até mesmo sentir o seu perfume e seus cabelo cacheados entre meus dedos. Aquilo me assustou e eu interrompi o beijo.
_ O que foi?_ Abri meus olhos quando ouvi a voz dela e já não era mais a garota do balcão que estava na minha frente e sim a própria Harley._ Você está bem?_ Juntei novamente nossos lábios sem querer perder tempo.
Meu coração, que já estava batendo rápido, parecia querer saltar para fora do meu peito. Minha respiração ficou ofegante e o fogo começou a me consumir. Não entendia como aquilo poderia estar acontecendo, mas eu queria mais. Finalmente eu estava matando minha vontade de estar com a Harley e não podia desperdiçar. Segurei sua cintura com mais força e a empurrei até a parede. O beijo ficou mais intenso e minhas mãos queriam tocar cada parte do seu corpo. O desejo por tê-la da maneira como Scott havia descrito, estava me consumindo. Ouvi sua voz abafada me pedindo para esperar, mas eu ignorei e continuei tocando seu corpo sedento por mais.
E aconteceu outra vez.
Ouvi a voz do meu irmão me chamando de longe e uma dor insuportável na minha cabeça indicava que eu havia levado alguma pancada. Abri meus olhos e vi Scott agachado na minha frente e meus amigos atrás dele assustados. Eu estava sentado no chão daquele beco e não me lembrava do que tinha acontecido.
_ O que aconteceu? Por que você está aqui?_ Tentei me levantar, mas senti dores no abdômen e me sentei novamente._ Cadê a Harley?_ Procurei em volta e ela não estava.
_ Harley?_ Scott estava confuso assim como os outros atrás dele que se entreolhavam com os olhos esbugalhados._ Você não estava com a Harley, Nathan.
_ Eu estava sim..._ Me ajudou a ficar em pé._ E porquê parece que eu fui atropelado por um ônibus?
_ Você não se lembra?_ Caleb segurava no nariz um guardanapo de papel ensanguentado.
Todos eles, exceto meu irmão, estavam como se tivessem se envolvido em uma briga. Me lembrei de quando eu ataquei Scott e depois não lembrava de nada.
_ O que aconteceu?_ Perguntei de novo, mas desta vez com mais preocupação.
De tudo o que pudesse ter acontecido, brigar com meus amigos era a ultima coisa que eu pensaria ter feito.
Não me lembrava de ter estado com a garota de moletom vermelho. A presença de Harley foi tão real que só o que eu conseguia lembrar era do seu cheiro e do quanto eu a queria. Os meninos não sabiam o que tinha acontecido com a gente depois que saímos, mas me contaram que, quando vieram me procurar, viram uns caras batendo em mim e se envolveram na briga pra me defender. Chamaram Scott porque não sabiam o que fazer comigo. Eu entrei em estado catatônico e eles ficaram apavorados.
Depois que me contaram o que aconteceu, tudo o que eu queria era por um fim naquilo. Entrei em desespero e queria ficar o mais longe deles possível pra não correr o risco de machucá-los. Aos prantos eu tentava me livrar deles que me seguravam me impedindo de cometer uma loucura.
_ Você precisa se acalmar._ Scott pediu segurando meu rosto com as duas mãos.
_ Como pode me pedir isso depois de saber o que eu fiz?_ Ele me abraçou forte tentando me acalmar._ Eu sou uma ameaça pra todo mundo Scott...
_ Você não teve culpa._ Me segurava em seus braços mesmo eu fazendo esforço pra sair.
_ Me solta... Não posso ficar perto... Eu não quero machucar vocês._ Balbuciei entre um soluço e outro.
_ Você não vai!
_ Como sabe se daqui a pouco vai me abandonar como fizeram minha mãe e meu pai?_ Eu não sei de onde saiu aquilo, mas senti um alívio no peito por ter dito.
_ Eu não vou abandonar você._ Parei de me debater._ Eu prometo!_ Passei meus braços em volta da cintura dele e o abracei.
Meu coração se aquietou, meus músculos relaxaram e meus pensamentos desaceleraram. Nunca pensei que um abraço do meu irmão pudesse ser tão importante. Ter o apoio dos meus amigos também, fez toda a diferença.
Já em casa e com a cabeça no travesseiro, não conseguia parar de pensar no que aconteceu e me assusta saber que a Harley é o motivo. Meus amigos e meu irmão estão certos. Se só por pensar nela eu já perco o controle, eu vou ter que fazer de tudo pra que ela continue longe de mim.

Te Amo no Meu RitmoOnde histórias criam vida. Descubra agora