Can't help falling in love

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A percepção do mundo de quem tem TEA é um pouco diferente dos neurotípicos. Tudo é mais intenso, é mais sentido e vivido. Coisas que para nós quase não fazem diferença, podem ser um desafio para quem tem autismo, o mundo não é tão receptivo com quem é um pouco diferente.

Para Meredith, todos os dias eram um desafio, não só pelo TEA mas também pelas questões pessoais que possuía. A loirinha conseguia disfarçar muito bem várias coisas que lhe incomodavam e até enganar quem estava na volta achando que tudo estava bem com ela, mas não era bem assim. Todos os dias pela manhã, seu celular despertava vibrando já que acordar com qualquer tipo de barulho a assustava, Mer era super sensível a qualquer barulho alto, era uma de suas peculiaridades mais acentuadas no espectro. Ela se levantava e ia para o banheiro, mas só dava a descarga pouco antes de fechar a porta porquê até o barulho que a descarga fazia lhe incomodava. Prendia seus cabelos em rabo de cavalo, vestia uma roupa quente e confortável e pegava suas coisas para o plantão. Deixava tudo organizado um dia antes para garantir que não se atrasasse, depois descia e tomava o mesmo café da manhã de sempre. Morangos, duas panquecas e um copo de água, não conseguia gostar de sucos ou qualquer outro tipo de bebida, o máximo que fazia era tomar um chá quando estava doente. Depois ia com seu pai para o hospital, normalmente iam conversando no caminho, Mer gostava bastante de conversar com seu pai e ouvir as mesmas histórias contadas por ele várias vezes, isso lhe trazia segurança e conforto.

-Você não me disse como foi sua aula na sexta com o Derek. Quer me falar?- perguntou o mais velho enquanto dirigia.

-Foi bom. Consegui entrar um pouco mais fundo na piscina.- disse olhando para o lado de fora, observando o céu nublado de Seattle.

-Que bom, fico feliz.- sorriu olhando para a menina ao seu lado. Richard suspirou olhando para ela. Meredith estava tão crescida e tão independente, anos atrás ele achou que não daria conta de criá-la sozinho. Achava que talvez Mer não conseguisse ficar sozinha nesse mundo e não sabia até que ponto seu espectro atrapalharia no seu desenvolvimento, mas a loirinha superou toda e qualquer expectativa dele. Richard apenas sentia por Ellis, por ela abandonar a filha tão friamente como se fosse um nada. Ela era tão pequena quando aconteceu e era apegada na mãe, só ele sabia a dificuldade que foi para acalmar Meredith durante as crises que sentia falta de sua mãe e ter que explicar que ela não voltaria mais.

Assim que chegaram no hospital, Meredith foi se despedir do pai e depois foi direto em direção ao vestiários, já colocando seus fones de ouvido para poder abafar o som da volta e ouvir algo que gostasse. Amava músicas dos anos 80 e 90 que fossem de ritmo continuo e tranquilas. A loira foi até seu armário e depois começou a se trocar, quando terminou pegou um saquinho de pano com um cordão na mochila e o deixou consigo enquanto se sentava na frente dos vestiários, nos bancos apenas esperando por Derek. Fazia isso todas as manhãs, era sua rotina.

Estava de olhos fechados quando sentiu um cutucão no ombro. Abriu os olhos para ver um de seus colegas a olhando e pedindo para que tirasse os fones. Era Karev, tinha se sentado ao lado dela.

-Sim?- perguntou estranhando.

-O que tem aí?- perguntou apontando para o saquinho que estava no colo dela.

-Coisas antigas encontradas no mar.

-Legal. Eu posso ver?- perguntou gentil e ela estranhou, ele não era de puxar assunto com ela. Meredith negou com a cabeça.- Tudo bem então.- deu de ombros e puxou algo do bolso do jaleco, era uma barrinha de chocolate.-Quer?- ofereceu para ela.

-Não como doces pela manhã. Obrigada mesmo assim.- disse e viu ele suspirar, guardando de volta.- Por que está falando comigo? Precisa de algo?

-Estou falando com você porquê tive vontade de falar com você. Sabe, você tem que se enturmar mais com a gente, já fazem meses que estamos trabalhando juntos todos os dias e você é a única que não interage.- disse sincero. Dentre todos, ele era o que mais se preocupava com ela e gostaria de conhecê-la, mesmo a achando um pouco estranha.

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