006. SUPRESA?

3.2K 214 11
                                    

— Parabéns pra você, nessa data querida... — Mayara cantava animadamente, após Melinda abrir a porta de sua casa. Carregava consigo uma cesta de café da manhã e também um embrulho.

— Obrigada, meu amor. Entra! — Dejour agradeceu e ordenou, pegando o presente das mãos de Botelho e indo com ela até a cozinha para organizar a mesa.

— Abre, tenho a suspeita de que você vai gostar. — Mayara disse, Melinda assentiu e deu um gritinho ao abrir e ver que havia ganhado da amiga uma camisa nova do Flamengo com o número 14 na parte de trás. — É uma forma de se sentir mais pertinho dele, gostou?

— Se eu gostei? Eu amei, muito obrigada. — A aniversariante respondeu, a abraçando. — Já vou usá-la quando formos ver o jogo hoje e...

Mayara a olhou confusa, Melinda como sempre falando mais do que a boca mas felizmente conseguiu reverter a situação que seria constrangedora.

— Aqui em casa, se quiser!

— Claro que quero, mas é só isso que vai fazer? Nada de sair pra fazer compras ou de ir pra alguma baladinha mais tarde? Você já foi melhor, Mel...

— Bom, na verdade... — Como Dejour iria levar Botelho até o Maracanã sem ela desconfiar? Isso, inventando um compromisso de última hora em algum local próximo. — Não vai rolar, surgiu uma sessão de fotos pra você fazer hoje.

— Mas eu posso remarcar, amiga, hoje meu dia é dedicado a você! — Melinda sorriu com aquela pequena declaração, pensando que dali algumas horas o sentimento mudaria.

— Não dá, o contratante precisa dessas fotos pra hoje a noite. — Mayara não estranhou, pois isso já acontecera outras poucas vezes. — Então, posso confirmar com a equipe? — Botelho assentiu. — Ótimo, agora vamos comer essas coisinhas gostosas que você trouxe!

Além do café da manhã, o almoço também seria na casa de Melinda que tentava ao máximo esconder que tudo não passava de uma mentira e que na verdade estavam se arrumando para irem ao Maracanã ver Flamengo e Vasco pessoalmente, no camarote que Gabriel já havia reservado para elas. Só o que os dois não sabiam é que foram enganados: Mayara por acreditar estar indo realizar mais um trabalho e Gabriel que achava que tudo era uma ideia de Botelho para surpreender Dejour.

— Ficou pronta antes de mim? Que milagre... É, novo ano, nova vida! — Mayara falou, brincando enquanto terminava de fazer uma maquiagem leve que o briefing pedia. Briefing falso, dessa vez.

— É isso aí! Vamos? — Melinda perguntou, com a chave da porta de casa e a do carro em mãos, sendo seguida pela amiga que não questionava nada, nem o fato de Dejour ir para o trabalho com a nova camisa.

Minutos de trânsito depois...

— Vamos nos atrasar e se o contratante desistir? — Mayara perguntava para uma Melinda despreocupada que dirigia contando os minutos para chegar ao estádio.

— Não vão, os dois sabem que o trânsito daqui é caótico.

— Dois? Já os conhece?

— Sim! Já acertei tudo com um deles e fique tranquila, não vamos perder tempo muito menos dinheiro. — Até porque não vamos ganhar nada porque não tem nada a se fazer, Melinda pensava consigo. — Já estamos chegando, posso ver o local daqui.

Mayara olhava na mesma direção que Melinda e tudo ali era familiar, até perceber onde estavam: a quatro quadras do Maracanã, que já estava cheia de pessoas com camisas dos dois times.
Melinda estaciona o carro próximo ao estádio e antes de descer, abre sua mochila e empresta a Mayara uma camisa do Flamengo que faz parte de sua ainda pequena coleção, essa com o número 10.

— Vista isso! — Mayara a olhava confusa. — É pra dar sorte, boba.

Assim que Botelho vestiu, ambas abriram a porta do carro e saíram, Mayara colocou um óculos escuro para não ser reconhecida e com isso evitar dar margem a mais fofocas.

— Por que não disse logo que não existia sessão de fotos? — Mayara perguntou, seguindo Melinda sem se dar conta que estavam indo para um dos camarotes.

— Se eu contasse toda a verdade você não viria! — Dejour respondeu, pegando uma das credenciais e dando a outra para Botelho.

— Toda? O que mais está me escondendo, Melinda Caroline Dejour? — Mayara parou na frente da amiga, impedindo a passagem e a visão para o estádio. — Como conseguiu isso?

— Não tirei apenas selfies com seu celular, tá? Abri sua rede social e mandei mensagem pro Gabi como se fosse você! Ah, também falei pra ele pedir pro Arrasca fazer um gol pra mim, será que rola?

— Eu é que devia fazer você rolar pela arquibancada, garota! — Mayara respondeu, furiosa. — E me lembre de botar além de uma senha mais forte, desbloqueio pela minha digital.

— Se eu saio rolando arquibancada abaixo, eu morro e você fica sem sua melhor amiga e também assessora pra te avisar e orientar dos compromissos de trabalho, ou seja, perdidinha!

Mayara revirou os olhos e sorriu sem humor, odiava como Melinda tinha resposta pra tudo e em situações como essa odiava não conseguir odiá-la.

— Tá bem, você venceu. — Botelho disse, com as mãos pra cima em forma de rendição. — Vamos assistir ao jogo daqui, tá feliz?

— Vou ficar ainda mais se o Giorgian fizer um gol pra mim! — Melinda respondeu, sentando-se ao lado de Mayara que a essa altura do campeonato apenas ria da situação.

Depois de alguns minutos de espera e muita cantoria de ambas as torcidas, o jogo começa. As duas assim como todos os presentes estavam animadas, mas se chatearam quando após uma falha de Rodrigo Caio, Gabriel Pec abriu o placar aos onze minutos.

— Não foi isso que eu pedi de aniversário, puta que pariu. — Melinda disse, emburrada.

A posse de bola resultava nas poucas ações no lado Flamenguista que muitas vezes se expunha aos contra-ataques, até Arrascaeta empatar com um golaço aos vinte e cinco minutos para alegria da torcida e de Melinda, que estava aos berros.

— MEU DEUS, ELE FEZ! — Gritava, abraçando Mayara que gargalhava. — GANHEI MEU PRESENTE, NÃO ACREDITO!

Dejour chamou tanto atenção de quem assistia o jogo quanto do próprio Arrascaeta, que na comemoração sorriu e fez um coração com as mãos pra garota que por pouco não desmaiou na frente de todos, na verdade, foi impedida por Mayara que aconselhou a amiga para focar no restante da partida.

Os Vascaínos até chegaram a comemorar o gol de Léo após um bate e rebate mas o mesmo foi anulado por um impedimento. Impedidos não estavam os Flamenguistas de comemorar, pois após um erro de Capasso, Pedro virou o placar faltando poucos minutos para o fim do primeiro tempo.

Já no segundo tempo, depois de mais um erro agora de tabela entre Arrascaeta e Vidal, o Vasco empatava após um contra-ataque chegar até Alex Teixeira que fez de peixinho.

— Culpa do seu uruguaio, viu? — Mayara provocou, brincando. Melinda mostrou a língua em resposta.

— Ele vai fazer a gente ganhar e calar sua boca, só observe!

E Melinda tinha razão, Arrascaeta cobrou uma falta na medida para Fabrício Bruno escorar sem precisar pular e fazer o gol da virada. Pedro deu trabalho para o goleiro e Matheus Gonçalves foi expulso depois de três minutos em campo, mas nada que tirasse a alegria da torcida após a vitória em um jogo pra lá de movimentado.

— Viu só, ele decidiu o jogo e você tá como? Caladinha! — Melinda provocava, fazendo careta.

— Hoje é seu dia, literalmente. — Botelho se limitou a dizer, rindo.

A conversa entre elas foi interrompida com um segurança as chamando a pedido de Gabriel.

podcast, gabigol.Onde histórias criam vida. Descubra agora