As vezes o problema de indecisão sobre quem devemos escolher para conhecer melhor, digamos assim, é que você se torna extremante cauteloso com quem se aproxima da sua vida, isso em teoria é muito bom, mas na prática você confunde grande parte das coisas e no fim adota uma cisma de tudo, sempre descobrindo formas de julgar as interações do seu dia-a-dia e esperando algo dar errado. Um pessimista, tal vivência baseada em ideias que na maioria das vezes jamais acontece por algo externo, somente pelo seu descaso. Onde eu quero chegar é que, fiz exatamente as mesmas indagações e definições sobre você antes mesmo de conhecê-la, mas, algum motivo no meio do caminho me fez parar de acreditar nesse final ruim, quem sabe foi na hora que falou aquilo, ou no momento que pulou, alguma coisa chegou em mim, e eu desejei que continuasse.
Pulou aonde eu estava e nem cogitou que se machucaria, acompanhar aquela emoção não tinha preço aos seus olhos, quando subiu, seus cabelos molhados eram os mais escuros que já tinha visto e mesmo que aquela água estivesse gelada, você sorriu, quem sabe o fato de estar gelada foi a causa do sorriso, ou a minha estranha companhia. Pediu desculpas por me machucar pela segunda vez, precipitada como pensou ou empática como foi, acabou por abraçar aquele desconhecido, e mesmo que fôssemos desconhecidos, aquelas águas já não pareciam tão frias como quando pulei.
- Você tá bem? - ela perguntou, abraçada em mim.
- Acho que sim, sua tentativa de assassinato continua dando errado, então, sim. - eu respondi.
- Culpa sua por ficar parado me secando. - ela disse.
- Pelo menos agora eu tenho um motivo pra te secar - olhei para os cabelos dela.
- Aaah não, meu cabelo, vai ficar tudo duro! - ela falou.
- É um preço à se pagar pela felicidade, hahaha! - eu falei.
- Preço uma porra, prefiro a tristeza então. - ela respondeu.
O acaso proporcionou aquele momento interessante, ou talvez não seja acaso para aqueles que acreditam em destino, minha opinião é que se houver destino ele não possui só uma linha grifada do início ao fim, mapeando todas as escolhar que tive e fiz, então qual seria esse tal que acredito? Estragaria toda uma expectativa romancista se eu te contasse.
Nadamos até uma escada que dava acesso de volta ao porto e subimos, me falou que nunca mais faria uma coisa daquelas, entretanto, por algum motivo eu jamais acreditei naquelas palavras, que seriam verdadeiras, acabava sendo lindo o jeito que você mentia sabendo exatamente que eu perceberia. Só foi quando saímos que reparei o quão frio estava, tentava me aquecer soprando as mãos enquanto você pulava que nem um pintinho, achei fofo aquela cena, mas ainda tinha algo que sentia vontade em te perguntar, o porquê de fazer o que fez, sobre estar alí naquele estado, quase morrendo, queria entender como aquela mentalidade bonita chegou em seu ponto extremo.
Cheguei próximo ao seu corpo pegando em uma de suas mãos enquanto você me olhava esperando alguma coisa, foi então que te roubei um beijo, por alguma razão talvez o inconsciente de ambos desejaram aquele ato em uma fração de segundos, não entendi exatamente qual foi o motivo e minha finalidade era outra, a de perguntar o que estava acontecendo, entretanto de alguma maneira troquei os papéis ou senti que naquele momento um toque teve o preço de pelo menos 100 porquês, ou quem sabe eu só tenha me aproveitado da situação, então tentei me desculpar. Uma cena assim pode parecer romântica aos olhos de apaixonados mas, você sabe exatamente que não se beija ninguém sem o seu consentimento certo? Talvez ela o tenha me dado em leitura corporal, todavia, já disse que sou um pessimista?
- Olha, tá tudo bem, você foi mais gentil comigo do que a maioria das pessoas foram na minha vida. - ela falou.
- Mas eu não fiz nada, e mesmo que tenha feito, acho que essa não era a ocasião pra isso. - eu disse.
- Sim, você fez, mesmo que não tenha notado e relaxa, acredite, se eu não quisesse isso, antes de me tocar você já estaria no chão segurando suas partes íntimas. - ela respondeu.
- Menos mal. - eu disse.
- Então, o que um cara como você faz em um lugar como esse? Certamente não é pelo clima. - ela perguntou.
- Essa era exatamente a pergunta que eu devia ter feito pra você momentos antes daquele beijo. - Eu respondi.
- Boa soldado, mas a pergunta aqui não foi pra mim, então é contigo. - ela falou.
- Então. Houve um apagão no meu condomínio e isso acabou me obrigando a sair de casa, no fim das contas turistar no escuro desse porto foi bem mais interessante do que em qualquer outro lugar iluminado da cidade. - eu disse.
- Então porque não mora no mato? Seria bem mais interessante, presumo. Hahaha! - ela respondeu.
- O conforto da cidade e a beleza do campo só entram no mesmo ambiente quando você tem dinheiro, uma coisa que eu não tenho. - eu falei.
- Reclamemos ao presidente! - ela disse enquanto apontava para a frente como se fosse uma líder protestante.
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Não Me Leia, Julieta
RomanceRubiel busca se entender dentro de uma crise existencial na qual o acompanha por quase uma vida. Nesse meio tempo ele conhece alguém que lhe desperta novamente grandes emoções inesperadas. Porém, ele não imaginava que sentimentos maiores do que este...