CAPÍTULO 14

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    - Jogo? Não sei jogar quase nada que não precise de um console. No máximo eu diria que sei fazer pares com o baralho. - eu respondi.

    - Então você é um amante de cartas... isso é perfeito Johnny-san, era exatamente o que iria te propor de início. - ele falou com uma cara duvidosa.

    - Pera, você pelo menos ouviu o que eu quis dizer? - tornei a perguntar enquanto pensava sobre quantos parafusos faltavam naquele velho.

    - Não se apegue aos detalhes, garoto... você precisa ser um visionário para atingir novos horizontes cheios de bons extímulos, me siga. - ele respondeu enquanto puxava um baralho velho do bolso traseiro em sua calça com um ar de mistério.

    Sinceramente não sabia o porquê ainda estava entrando na onda daquele cara e também me perguntava se talvez o meu futuro seria tão exótico daquele jeito, ser sozinho depois dos sessenta deveria trazer aqueles aspectos, mas de alguma forma eu gostei do sujeito. Foram nessas interações quase sem sentido que descobri um grande amigo, e eventualmente um irmão.

    - Você parece aqueles personagens de ficção que todo mundo ama por ter algumas características marcantes como por exemplo o Merchant de Resident Evil, mesmo parecendo repulsivo as vezes. Mas qual jogo vamos jogar mesmo? - perguntei enquanto observava ele embaralhar as cartas com um cigarro apagado na boca.

    - Residir o quê? Tá me xingando ou falando outra língua? Em todo caso... garoto, vou te falar uma coisa, não há outro jogo merecível de atenção além desse quando se toca em um baralho, o inabalável pôquer... - ele respondeu dando um sorriso com aquele cigarro no canto da boca.

    - Já deveria ter imaginado, além de velho maluco, agora vai querer me extorquir dinheiro também. - eu falei.

    - Que extorquir o quê, seu idiota... vou te ensinar a jogar uma raridade, deveria pelo menos agradecer. - ele disse colocando duas cartas para mim sobre a mesa.

    - Tô vendo aí. Mas e agora? O que eu faço com essas cartas? - perguntei para ele.

    - Vamos pelo básico, o ás é a maior carta, depois o reis, e de forma decrescente até chegar no dois que é a menor carta. Segundo, o que se vale nesse jogo são as combinações que você pode fazer com cinco cartas, sendo assim, a cobinação de maior valor vence. - ele disse como se fosse um monge culto passando ensinamentos de vida para o seu pupilo.

    - Tá, mas eu só tenho duas cartas, como vou fazer uma combinação de cinco se só tenho duas? - perguntei incrédulo.

    - Compra com a tua mãe! Mas que... vai me deixar explicar esse negócio ou não? - respondeu ele sem paciência.

    - Tá bom, tá bom, esquentado... - eu respondi.

    - A primeira rodada ou a mão como alguns chamam é onde se começa as apostas, o jogador da vez deve iniciar apostando um valor mínimo se já estiver estabelecido ou um valor superior, e os outros jogadores devem igualar ou cobrirem o valor, se caso todos igualarem, a mão de apostas cegas se encerra e três cartas viram sobre a mesa, a partir daí você já pode fazer as combinações de cinco cartas e depois disso ainda sairão mais duas cartas individualmente... compreendeu até aí? - ele me perguntou.

    - Acho que eu tô começando a entender, mais alguma coisa que eu precise saber? - perguntei enquanto olhava minhas cartas.

    Então ele me explicou todas as combinações que dava para se fazer desde a menor para a maior, achei um tanto complicado mas toda aquela aula foi fazendo sentido depois de jogar por horas, e quanto mais jogávamos, mais me interessava em saber quem era aquele velho que simplesmente já tinha ganhado duzentas pratas da minha carteira. Se pelo menos alguém tivesse me avisado que jogos de cartas poderiam te causar tanta raiva assim, teria evitado desde o começo.

    - Espero que esse dinheiro volte pra mim depois dessas aulas. - eu disse em tom desgostoso para ele.

    - Todo bom ensinamento tem seus custos Johnny-san... não se preocupe, a sorte uma hora irá lhe favorecer. - ele respondeu fazendo uma cara de quem queria rir mas não podia.

    - Já disse que meu nome é Rubiel, não Johnny-san. - retruquei irritado.

    - Ok, vou te chamar de Rub-san agora, o que acha? Paro de te chamar assim quando você me zerar no pôquer. - ele respondeu com uma cara de provocação enquanto acendia o cigarro em sua boca.

    - De onde você tira esses nomes tão idiotas, se eu preciso ganhar de você pra isso termine, é um bom acordo, aí sim você me deverá respeito. - eu disse.

     - Só no dia de São Nunca sabichão. - ele respondeu e deu uma tragada no cigarro.

    - Agora acho melhor eu ir dormir, porque amanhã preciso procurar um trabalho novo ou não vou durar um semestre na faculdade. - disse a ele.

    - Tá precisando de emprego? Só um momento... - ele respondeu, se levantando e indo até o quarto. Até que voltou com algo na mão. - Aqui, pode pegar, é o cartão de um conhecido meu, ele pode te arrumar um cargo de garçom em um bar na zona sul.

    - Sério? Cara, isso vai me ajudar demais. - respondi sem acreditar que ele havia me ajudado com isso.

    - Sem problemas, outro dia você me paga. - ele disse.

    - Com a alma né? Porque o dinheiro você já tirou. - eu falei.

    - Todo entretenimento tem um preço, até a próxima. - ele respondeu como se já esperasse o nosso próximo jogo.

Não Me Leia, Julieta Onde histórias criam vida. Descubra agora