CAPÍTULO 22

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    Acordei no outro dia pensando nas coisas que haviam acontecido naquela serra, meus olhos ainda estavam embaçados quando o meu gato fofo subiu para cima da cama buscando atenção, provavelmente atrás de um cafuné e um pouco de comida. Sentei sobre a cama e o coloquei no colo enquanto passava a mão em sua cabeça, olhei para a janela e tentei desviar meus pensamentos como se quisesse esquecer as lembranças da noite anterior. Já seriam umas sete horas da manhã e alguma coisa me dizia que aquela sensação não iria embora tão cedo.

    - É, Astoufo... as pessoas são complicadas. Seria muito mais fácil se elas fossem como você. - disse passando o polegar sobre as suas bochechas.

    Haviam outras coisas que eu deveria realmente me preocupar naquele momento, então balançei a cabeça tentando manter o foco e fui para o banheiro. Tomei um banho bem demorado e escovei a boca, vesti uma cueca limpa e caminhei em direção à cozinha para preparar o meu café, enquanto isso o meu gato não saía de cima dos meus pés, provavelmente porque estava com fome também, então coloquei sua comida e um recipiente com água para ele beber. Voltei para o meu quarto com uma xícara de café e sentei na cadeira próxima à uma mesa pequena, e enquanto o tempo ia se passando me veio na memória a conversa que tive com o S.Tazif sobre a minha faculdade, precisaria resolver isso logo.

    - Tenho que trocar meu curso para aulas à distância logo, espero que a faculdade flexibilize pelo menos 70% em EAD. - falei enquanto colocava a xícara sobre à mesa e pegava o meu notebook.

    Após fazer a solicitação de troca, resolvi visitar o apartamento do Murphy para ao menos agradecer sua ajuda com o meu novo trabalho, estaria com sérios problemas caso ficasse mais algumas semanas sem dinheiro, e por mais enjoado que ele fosse, tinha que admitir, com apenas uma indicação o emprego já era meu, o velho definitivamente tinha um nome de peso, pelo menos naquele bar.

    Acabei de tomar o meu café e vesti uma roupa simples mas que pudesse usar para ir até o trabalho, já que sairia à noite e não desejava voltar ao meu apartamento durante o almoço para escolher outra roupa. Saí de casa e fui até o meu vizinho de porta, imaginando que estaria acordado pois era 08:00 da manhã e algumas pessoas de maior idade costumam acordar bem cedo. Bati em sua porta e o chamei pelo nome, entretanto ele não respondeu, deduzi então que ele havia saído de casa, afinal não provinha som algum do outro lado da porta, como o das suas botas irritantes e barulhentas. Porém, antes de ir embora uma curiosidade pousou sobre a minha cabeça, resolvi verificar se o local estava aberto, e para a minha surpresa ele estava.

    - Velho... espero que você não esteja morto... ou dormindo só de cueca em cima de uma folha de jornal. - murmurei enquanto empurrava a porta para entrar.

    A sala parecia vazia, não havia nenhum sinal do meu doce vizinho, então caminhei pelo cômodo até a cozinha analisando melhor a casa. Sobre o seu fogão tinha uma peça de roupa suja, a pia estava lotada com embalagens de comidas processadas, nada convidativo aos olhos de uma visita. Entrei em seu quarto e logo um cheiro de peixe morto se impregnou nas minhas vias respiratórias, concluí que sem dúvidas aquele homem não se interessava pelo conceito de higiene.

    Quando estava finalmente aceitando a ideia de que ele não estava em casa ouvi um barulho provir do que parecia ser a dispensa, certamente não era um rato, pois o som era de algo grande, e o Murphy não trancaria um cachorro dentro de um lugar fechado como aquele, então me aproximei com cautela para verificar aquela situação, quando abri a porta e visualizei aquela cena o resultato foi o pior possível quando o assunto é aquele velho.

    - Mas, que, porra!! - exclamei visualizando o meu vizinho de quatro, só de cueca, virado com a bunda para a porta enquanto fazia algo no chão. Essa com certeza seria uma das cenas mais horríveis qual tinha presenciado, jamais vou esquecer aquelas pelancas cabeludas.

    - Não te ensinaram a bater na porta antes de entrar? - perguntou ele virando-se e ficando de pé.

    - Eu bati... várias vezes por sinal... quer me explicar o que você estava fazendo aí de quatro no chão? - disse levantando as sobrancelhas.

    - Negócios, Johnny-san... negócios... - ele respondeu batendo uma de suas mão sobre o meu peito enquanto eu tentava não imaginar aonde ele poderia ter enfiado ela durante esses tais negócios na dispensa.

    - Poderia lavar suas mão antes de me tocar? - disse me virando e observando ele passar.

    - Essa é a forma que você trata a pessoa que te arrumou um trabalho? Esses jovens de hoje em dia... - balançou a cabeça em descontentamento. - Mas diga lá, há que devo sua presença em minha casa? - perguntou ele.

    - Vim agradecer a ajuda e quem sabe jogar um pouco, mas pelo visto você está bem ocupado. - respondi tentando ignorar a bagunça no seu quarto e retornando para a sala.

    - Nunca estou ocupado demais para jogar, meu garoto. - ele respondeu se direcionando para a sala.

    Nos sentamos e iniciamos uma rodada de pôquer enquanto eu tentava aliviar o atrito que havia se criado na minha mente, quando sugeri à mim mesmo que talvez pudesse desabafar com o meu vizinho, e talvez isso tenha sido uma péssima ideia.

    - Murphy? Posso te pedir uma sugestão em como lidar com as mulheres? Não é nada muito importante. - perguntei à ele

    - Mas é claro! Qual o seu tipo? Brancas, pretas, ocidentais ou orientais? Tem algum fetiche em específico? - ele perguntou entusiasmado.

    - Já vi que foi uma péssima ideia esperar um bom conselho vindo de você. - respondi enquanto ele caía em risos.

Não Me Leia, Julieta Onde histórias criam vida. Descubra agora