CAPÍTULO 18

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    Grande parte das pessoas se sentiriam ofendidas por receberem tantas análises direcionadas ao seu círculo social e a sí próprias sem o seu consentimento prévio, mas ele em contrapartida não demonstrava estar incomodado com isso, apenas aparentava facialmente uma certa admiração. Talvez por enxergar em sua frente alguém que consegue absorver e supor o que o ambiente retrata em menores intervalos de tempo. Porém, eu nunca tratei isso como uma qualidade, mas sim como o básico necessário para uma mente humana lidar com as situações que vivenciamos diariamente. Ser admirado não era algo tão relevante para mim, entretanto, naquele momento senti um grande conforto, algo próximo a um afeto paterno, e talvez entre poucas palavras trocadas aquele homem havia me cativado.

    - Se me permita oferecer um último conselho, evite criar situações que poderiam desagradar algumas pessoas que frequentam esse bar, o emprego é seu, mas a segurança que oferecemos aos funcionários também precisa da colaboração dos mesmos. - Tazif acrescentou.

    - Obrigado pelo conselho, senhor. Vou me lembrar disso. - respondi assentindo com a cabeça.

    - Você vai assumir a minha carga horária e vai trabalhar tanto como garçom, como na área da limpeza, seu turno começará as 10:00 da manhã, com pausa das 11:00 até as 13:00 para almoço, depois ficará aqui até as 21:00 da noite. O valor somado ao mês que você receberá será este. - Tazif empurrou com uma das mãos um carderno de anotações aberto sobre a mesa e dentro dele havia um valor escrito à caneta. - Parece bom pra você? - ele perguntou.

    - Parece ótimo pra mim, o único problema seria a minha faculdade, provavelmente terei que estudar online agora. - respondi enquanto segurava seu caderno de anotações.

    - Se caso precisar, poderá usar o início da tarde como tempo de estudo para a sua faculdade, desde que a demanda de serviço não se torne grande ao ponto de causar problemas ao meu estabelecimento. - ele falou de forma serena enquanto começava a preparar um charuto para sí mesmo. - Agora já pode ir, sua aprendizagem ficará sobre os cuidados do Sebas. - Tazif concluiu.

    - Obrigado, senhor. - agradeci e retornei para o meu posto.

    Continuei o meu trabalho e recebi dos meus veteranos algumas orientações sobre questões de limpeza e atentimento ao cliente, como também começei a me familiarizar com o cardápio e os drinks que eram servidos. A tarde se passou e logo se aproximava o fim do meu expediente, naquele horário a demanda de bebidas era grande e os pratos do cardápio quase não saíam, o que me fazia ficar mais tempo dividindo o balcão com o Sebas.

    - O que achou do seu primeiro dia aqui? - ele cortou o silêncio se dirigindo à mim.

    - Acho que foi bem melhor do que eu esperava. Vindo do Murphy, pensei que aqui seria um lugar caótico cheio de bêbados e confusões. - respondi enquanto organizava alguns copos.

    - Não posso negar que não tenha, mas aqui é um ótimo bar comparado à muitos outros dessa região. - ele respondeu preparando um drink. - Tome, esse é por conta da casa, para comemorar o seu primeiro dia. - acrescentou.

    Agradeci sua hospitalidade e tomei a dose que ele havia preparado. Se passaram alguns minutos e já havia acabado o meu expediente quando me despedi de todos e fui embora para a minha casa, as ruas não estavam tão movimentadas e somente algumas lojas estavam abertas enquanto outras continuavam a fechar. Caminhei sem pressa até o ponto de ônibus enquanto observava os estabelecimentos, até que deparei-me com uma loja de eletrônicos que provavelmente estava perto de fechar e rapidamente sem pensar duas vezes adentrei o lugar com o objetivo de comprar o meu celular.

    O atendente me recebeu e felizmente pude escolher um aparelho para comprar, não foquei em nenhuma qualidade expecífica sobre a questão do desempenho do telefone, já que o único motivo de estar comprando-o era para se aproximar de uma garota. Por mais melosa que fosse essa atitude, ter um meio mais simples para me comunicar à distância com outras pessoas poderia facilitar significativamente minha vida, até sobre questões relacionadas ao meu trabalho.

    Quando acabei de realizar o pagamento para que eu pudesse seguir para o ponto de ônibus um pequeno costume de observar as coisas fez com que minha atenção se voltasse para o lado de fora da loja, foi quando notei aquela silhueta, de uma mulher extremamente parecida com a qual tinha encontrado naquele porto. Meu coração acelerou as batidas como se estivesse à um passo da linha de chegada em uma corrida de 100 metros, criando uma euforia que esquentava o meu peito na mesma medida fazia o meu corpo quase se inclinar para os lados, como se naquele instante todo o meu ser não soubesse mais realizar uma simples cognição motora. Naquele exato momento uma parte da minha mente se sentiu como o mais desesperado dos homens, por não conseguir racionalizar o que antes conseguia, por não saber administrar o que antes se conhecia. Se apaixonar foi o diabo mais quente que já me abraçou.

    Sem pensar duas vezes eu caminhei de encontro para interceptar aquela pessoa, poderia ser qualquer outra mulher e isso não passar de apenas outro simples engano orquestrado por um jovem apaixonado que acaba vendo a pessoa amada sob a sombra de outras mulheres. Mas não arrancaria pedaço algum verificar essa possibilidade, ou talvez arrancasse alguma decepção. Foi esse turbilhão de pensamentos a companhia para os meus passos desajeitados em sua direção.

Não Me Leia, Julieta Onde histórias criam vida. Descubra agora