CAPÍTULO 13

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    - Ôooh! Se não é o meu vizinho com cara de bunda, há quê devo sua doce presença em minha casa? - ele falou enquanto fumava um cigarro segurado por uma de suas mãos e uma carteira do mesmo na outra, sobre suas roupas, apenas a cueca modelo tanga constava em seu corpo.

    - Velho... você é o pior sujeito cujo o planeta nutre, se esse for o meu futuro, eu me mato... olha o estado dessa mesa, bituca de cigarro por todo o lado, um cheiro de freiada na cueca grudado nessa sala... que merda cara! - falei enquanto tapava o nariz e tentava achar alguma janela para diminuir aquele mau cheiro.

    - Tempos difíceis Johnny-san... tempos difíceis. - ele falou enquanto olhava para a mesa e tragava mais uma vez o cigarro de sua mão.

    - Tempos difíceis o caralho, bota pelo menos uma bermuda... ou então fecha a porta do teu apartamento, ninguém quer acabar vendo a última arma da guerra do Vietnã em seu estado mais crítico, credo... e meu nome não é Johnny-san. - respondi enquanto abria a janela da cozinha.

    - Quanto mau humor muleque... a propósito, meu nome é Murphy, e o seu, qual seria? - ele perguntou.

    - Rubiel... satisfeito? - respondi enquanto me aproximava do sofá no qual ele estava sentado.

    - Hummm, e o que um cara como você anda fazendo por aí essas horas da noite? Gosta de invadir casas de idosos? Fique sabendo que eu não curto essas paradas e nada contra quem curte, hahaha... bem que você me pareceu meio afeminado. - ele disse derrubando a cinza do cigarro em um prato velho sobre a mesa.

    - Se você tem tanto ânimo pra fazer piadas, poderia pelo menos usar isso pra colocar uma calça. - respondi irritado me sentando no sofá.

    - Vai saber, eu não tô na sua cabeça, e deixa minha cueca, tô na minha casa. - ele disse.

    - Eu não tô aqui pra isso, apenas estava voltando da faculdade quando vi a porta entreaberta, pensei que tinha acontecido algo, então resolvi checar. - falei enquanto passava a mão na cabeça e observava a casa dele.

    - Faculdade? E tem alguma funcionando no final de dezembro? - ele perguntou avaliando minhas palavras.

    - Não era pra ter, mas o professor conseguiu abrir uma excessão com a direção alegando ser uma penalidade por alguma coisa, provavelmente foi pelo fato de que quase todos os alunos não atingiram a média esperada por ele. - eu respondi.

    - Complicado... bem, já que está aqui, vamos jogar algum jogo e beber um pouco, vou vestir uma roupa e você pode ir na adega que está na cozinha e buscar alguma bebida forte pra gente. - ele disse já se levantando e indo para o quarto.

    Nem me deixou responder se concordaria com a proposta, naquele momento também já não me importava se tivesse um pouco de distração, então segui o que ele me indicou, levantei do sofá e fui para a cozinha procurando as tais bebidas, estavam próximas a geladeira, garrafas que nunca tinha visto, algumas pareciam artesanais e outras com umas descrições escritas em línguas nada parecidas com o inglês britânico, mesmo eu que não entendia nada sobre bebidas sabia que aquela parecia uma adega sofisticada, a coleção de alguém que conhecia vários lugares ou pelo menos suas bebidas, o que me despertou curiosidade por não combinar com as impressões que tive do Murphy, que ao meu ver parecia mais um velho rabugento qualquer.

    Em todo caso, peguei a que aparentava ser a mais forte e voltei em direção a sala, coloquei a bebida sobre a mesa e sentei aguardando ele voltar do quarto. Do pouco tempo que estive alí, deduzi que a adega era o canto mais interessante da casa, a bagunça e a sujeira em que tudo alí se encontrava era notória.

    - Pronto garoto, eai, qual o cardápio dessa noite? - ele perguntou se sentando na poltrona de frente para mim.

    - Não conheço muito sobre bebidas, então peguei essa vodka. - respondi olhando para a garafa escura que estava na mesa.

    - Hummm... vejamos... pera, pera... você não conhece a Shanghai Strength? Não acredito, rapaz, você está diante de nada mais nada menos que uma das sete maravilhas já feitas pelo homem! - ele respondeu entusiasmado.

    - Pra mim, só me parece uma vodka qualquer. - eu respondi.

    - É por isso que você é um careta sabia. - ele disse em um tom mesquinho.

    - Se é tão rara assim, por que bebê-la com um desconhecido? - perguntei a ele.

    - Foi você que trouxe ela, então se prepare para as consequências... essa belezinha é um chute no estômago, agora pega dois copos alí naquele armário. - ele disse apontando para o canto da sala.

    Coloquei os copos sobre a mesa e ele serviu ambos com um sorriso no rosto.

    - Brindemos! Por todas as vezes que caírmos, pois estas nos lembrarão que sem dúvida estamos vivos... - ele disse enquanto virava aquele copo em sua boca.

    Tomei aquela dose e depois me arrependi profundamente, era como ter toda a garganta e estômago em chamas sem conseguir apagar o fogo, acabei tossindo horrores e quase passei mal.

    - Hahahahaha! 88% álcool garoto, não vai morrer... agora que tal um joguinho? - ele disse com um sorriso suspeito.

   

Não Me Leia, Julieta Onde histórias criam vida. Descubra agora