Aqueles olhos vazios e mesmo assim cheios de alguma coisa por algum motivo me atraíam mais do que poderia imaginar, talvez eu gostasse de coisas sem cor, quem sabe é nessa falta que se esconde a grande essência de uma alma, coisa que prensenciei naquela madrugada em que nos proporcionamos. Estávamos bem próximos um do outro e você não parava de me olhar como se esperasse alguma coisa de mim, não era só uma sensação comum como a que temos quando nos sentimos atraídos por alguém, busquei várias vezes enxergar o mundo que você criava enquanto fitava sua visão em mim mas nem se eu desse quinhentos passos poderia te encontrar na sua mente. Poderia chamar isso de paixão, ilusão ou falta de raciocínio, porém, me fale quais são os casos mornos que funcionaram no final? Grande parte da vida nos dopamos de hipocrisia dia após dia e somos viciados nisso, aguardando realidades que nunca existirão por falta de posicionamento, ou desistindo de todas elas, e a grande verdade é que não há solução constante para nada, nem para a hipocrisia. Assim como era um pecado aos meus olhos, se doar completamente para alguém e aceitar a possível variável de que tudo ainda pode dar errado, ainda senti que deveria ignorar a mim mesmo, já haviam monotonias demais para uma vida mal vivida, então que se dane o morno, naquele momento não fez diferença quais eram minhas opiniões lógicas, sua presença parecia mais valiosa que isso.
- Ei... quer ver uma coisa legal? - eu penguntei pra ela.
- Olha, depende, mas me mostra. - ela respondeu.
Puxo um isqueiro do bolso e digo que vou fazer uma mágica, mas por erro dos bastidores não me avisam que ele estava molhado.
- Seria o Houdini? Meu Deus! Maravilhoso! Hahaha... - ela me falou rindo.
- Besta... deveriam ter uma placa avisando que quando pula na água os pertences se molham. - eu respondi.
- Mágico e piadista, seria ele um galã de novela? Hahaha, parei, desculpa. - ela continuou.
- Pra você ver, até isso o universo me tira. - é tão fácil colocar a culpa em coisas externas quando o culpado é você.
- Você ainda não me disse seu nome? - eu perguntei.
- E você ainda não tinha me perguntado. - ela disse.
- Qual seria então? - tornei a perguntar.
- Talvez um dia eu te conte, hahaha... outro dia. - ela respondeu.
Dei um sorriso, me virei e fui saindo lentamente, minha mente queria consumí-la, como aquelas chamas em folhas secas, porém, eu sabia que ela era tão exótica quanto aqueles animais raros em filmes que são dignos de prêmio, e eu, se fosse me comparar com algum seria apenas um guaxinim, sempre os achei observadores e fofos.
- Você vem? Não quero ter que lidar com um corpo amanhã, estragaria o meu dia. - como se eu já não estragasse.
- Coincidentemente eu estou indo para o mesmo lado. - ela respondeu.
- É a única saída, certamente que seria... - meu deboche ainda vai me colocar em situações difíceis.
- Talvez... Talvez... - ela disse olhando para o lado.
Saímos caminhando para fora daquele lugar, te fitei e você estava começando a ficar ser cor de novo, como se estivesse apagada pela vida, não sabia se era por conta do que eu tinha dito, então, voltei a me questionar sobre o porquê havia me tornado assim, percebo muito sobre o que se passa ao redor, mas... sempre diminuo minha empatia sobre todas coisas, e se para continuar sendo dessa forma teria que machucar cacos de vidro, digo, magoar quem já estava quebrado, seria melhor nunca ter saído do meu quarto, você lembrava isso, um amontoado de cacos quebrados, pelo menos se eu guardasse isso para mim, já seria uma bem que eu faria pela sociedade.
- Olha, desculpa... acho que eu disse coisas sem necessidade em um momento como esse, e foi meio arrogante. - eu disse a ela.
- An? Sobre o quê? Sobre o tal corpo? Relaxa, acontece. - ela me disse.
- Mesmo assim, deveria guardar esse jeito tóxico pra mim. - eu respondi.
- Você é um cara legal, mesmo que se ache ruim, acho que esse é o seu forte, ter empatia. - ela continuou.
Aquelas foram palavras doces demais para uma primeira impressão, não acreditei que as merecia. Quando estamos interagindo com alguém, dependendo da intimidade e tipo de relação que temos com essa pessoa, escolhemos que parte nos convém mostrar, não é que somos bons ou maus indivíduos, é que possuímos a capacidade de se adequar ao ambiente caso seja nosso desejo. O problema da sociedade é escolher uma dessas personalidades e ignorar que você é uma caixa de mudanças, como se apaixonar e acreditar que seu parceiro é incrível, quando na verdade ele apenas mostrou um lado bom, no meio de tantos outros jeitos que ele tem. Por essas e outras que eu desconsidero primeiras impressões e volto a ser um vilão por aparência.
- Você não deveria dizer isso, nos conhecemos tão pouco e hoje em dia todo mundo guarda um pouco de maldade. - eu disse.
- Nunca disse que você não guardava, seria tão errado ver bondade em uma pessoa ruim? Talvez minha mente não esteja em um momento saudável, mas, ainda acredito na minha intuição. - ela respondeu.
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Não Me Leia, Julieta
RomanceRubiel busca se entender dentro de uma crise existencial na qual o acompanha por quase uma vida. Nesse meio tempo ele conhece alguém que lhe desperta novamente grandes emoções inesperadas. Porém, ele não imaginava que sentimentos maiores do que este...