Entrei pela porta dos fundos seguindo o Han, passamos por um corredor com luzes de neon e algumas portas até chegar a cozinha, era pequena se for comparada com as cozinhas de restaurantes, mas era bem sofisticada e organizada, nem de longe lembrava o apartamento do meu vizinho.
- Que portas eram aquelas lá atrás? - perguntei a ele.
- A primeira dá acesso a sala dos funcionários, também usamos como dispensa, mas não é tão ruim assim, tem até banheiro. - ele disse.
- Deus salve a América. Mas e as outras? - eu perguntei.
- A segunda é para alguns clientes especiais, e a terceira é o escritório do chefe. - ele respondeu.
- Entendo, mais alguma coisa que eu precise saber? - perguntei.
- Hoje você vai começar lavando e mantendo a cozinha limpa, aqui dentro trabalha eu e outro cara, o nome dele é Adolf, ele é gente boa mas não fala muito, talvez seja coisa de russo, daqui a pouco ele chega e você o conhece. Lá na frente quem comanda é o Sebas, ele é o barman e também gerencia o bar. Bora lá falar com ele sobre a sua chegada e ver se ele tem algum assunto pra trocar contigo.
- Bora - eu respondi.
Fomos até o balcão aonde o Sebas estava e vi um homem de terno quadriculado cinza claro e adereços em cor pêssego, parecia usar sapatos de couro branco detalhado em azul, cabelos grisalhos e um olhar castanho, lembrava-me um norueguês da mais alta classe, bem diferente do Han que mais parecia um emo asiático. Além disso, não era apenas um barman, era o barman, se é que vocês me entendem.
- Olha quem eu achei perdido por aí, Sebas. - o Han disse.
- Do que se trata? - Sebas perguntou.
- Esse é o tal conhecido do S.Murphy que queria trabalho. - Han respondeu.
- Humm, entendo, presumo que já o tenha familiarizado com a cozinha. Prazer, me chamo Sebas, te auxiliarei no aprendizado como garçom. O senhor Tazif chegará as três da tarde, oferecemos almoço caso não deseje ir até sua casa e voltar. Por hoje você irá ficar a disposição do Hanzo na cozinha. - explicou Sebas.
- Muito prazer, me chamo Rubiel, e almoçar aqui seria ótimo já que é quase meia hora de busão até chegar em casa. - respondi a ele.
- Ótimo, te deixo agora nas mãos do Hanzo. - ele disse.
- Pode deixar comigo! - disse Han.
Voltamos para a cozinha e o Hanzo me mostrou aonde estavam os materias de limpeza e onde seria minha área no resto daquele dia. Tudo me pareceu bem até alí, sinceramente não achava que seria daquela forma já que quem havia arrumado o trabalho foi o Murphy, esperava um bar cheio de velhos bêbados e paredes mofadas.
- Esse tal Sebas parece ser um cara bem sério né? - perguntei ao Han enquanto preparava um balde com água para limpar o chão.
- Ele? Ele é de boa, só é meio reservado com pessoas novas, mas acima de tudo ama cumprir o seu trabalho e tem um ótimo gosto pra bebidas. - ele respondeu.
- Acima de tudo classe né, classe com certeza ele tem. - disse ao Han já torcendo o pano e colocando do rodo.
Por mais fechado que eu fosse, talvez apenas o que me faltava era um lugar assim, com pessoas totalmente distantes do universo de cada um e ainda assim naturais a cada interação, mesmo precisando do trabalho para pagar a faculdade tenho a sensação que jamais conseguiria lidar com um ambiente abusivo ou no mínino tóxico. Por alguns instantes desejei fazer parte daquele lugar bem mais do que estar trancado no meu quarto. Talvez eu só precisasse trabalhar em lugares estranhos com mais frequência.
- Olha aí ele! Já terminou quase tudo e até deixou a pia um brinco, hahaha. Precisávamos de você, cara, sou péssimo na limpeza, sinceramente a única coisa que sei fazer de bom são os pratos daqui. - me elogiou o Han sentado em um dos bancos próximo a pia.
- Não foi nada demais, afinal tenho que mostrar serviço no meu primeiro dia ou talvez não existirão os próximos aqui dentro. - respondi enquanto guardava algumas panelas.
Marcava 11:07 horas no relógio que estava fixado em uma das paredes da cozinha, já iniciava-se o horário de almoço quando escutei a porta dos fundos no bar abrir, até que apareceu um cara de estatura mediana, era branco e tinha algumas olheiras, de cabelo social curto e um olhar vago, talvez esse fosse o tal Adolf, já que estava com uma vestimenta de cozinheiro igual a do Han.
- Fala aí Adolf, quero te apresentar o novato, esse é o Rubiel, Rubiel esse é o Adolf. - disse o Han se aproximando do parceiro de cozinha.
- Opa. - disse o Adolf para mim.
- Eai, como o Han disse, eu sou o novato... fiquei sabendo que você é russo né? Legal. - tentei criar um diálogo já que ele parecia estar perdido nos pensamentos.
- Sou. Então... bem vindo, agora eu assumo por aqui enquanto vocês vão lá comer, bom almoço. - ele disse já preparando seu posto na cozinha.
Realmente parecia ser como o Hanzo disse, o Adolf não era uma pessoa de falar muito, confirmei essa ideia em minha cabeça enquanto seguia com o Han para a sala dos funcionários.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Não Me Leia, Julieta
RomanceRubiel busca se entender dentro de uma crise existencial na qual o acompanha por quase uma vida. Nesse meio tempo ele conhece alguém que lhe desperta novamente grandes emoções inesperadas. Porém, ele não imaginava que sentimentos maiores do que este...