VI.

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 - Café?

Encarou o copo de café e subiu os olhos em direção à pessoa que o estendia, em um gesto de paz.

- Com leite desnatado, açúcar duplo, chantilly e canela? – Barry confirmou e Caitlin finalmente pegou o copo, meneando a cabeça em agradecimento.

- Como médica, sabe que não deveria ingerir essa quantidade de açúcar a essa hora da madrugada, não é? – Cisco adentrou o laboratório utilizando óculos escuros e, praticamente, jogando-se contra a uma das cadeiras da mesa de operações.

- Como ser humano que sou, concedo-me o luxo de possuir um vício.

Ambos sorriram ferinamente um para o outro e Caitlin tomou o líquido, fechando os olhos e praticamente gemendo ao sentir a açúcar derreter-se em meio ao gosto de café. Deus, nunca deveria ter experimentado aquele café.

- Ei. – Barry inclinou-se em sua direção, diminuindo o tom para que a conversa ficasse particular. – Podemos conversar?

Caitlin respirou fundo, considerando que esperançosamente supôs que nunca mais fosse revisitar aquele olhar caloroso demais ao sair do flat dele. No entanto, ali estava aquele brilho novamente, naqueles olhos verdes, claramente cuidadosos dessa vez, mas repletos de algo a mais que não sabia/queria identificar.

Felizmente, passos e vozes apressados soaram pelo corredor, chamando a atenção dos três primeiros habitantes do laboratório naquela manhã. Segundos depois, Iris adentrou o córtex seguida de praticamente toda a sua família e seguiu exatamente em direção à Caitlin.

- Caitlin, ainda bem que está aqui. – A negra pareceu aliviada, retirando o casaco e guardando a bolsa.

- Onde mais poderia estar?

- O que está acontecendo? – Barry questionou lentamente, encarando Iris, Joe, Cecile e então Caitlin, que deu de ombros.

- Não tenho um horário decente para vir aqui por toda a semana que vem e todos insistem que não devo procrastinar mais.

- Mas... Não faz um mês que fizemos os primeiros exames. – Pegou o I-Pad a fim de verificar a data correta.

- Eu sei! – Somente sua constatação fez Iris encher os olhos de lágrimas, o que fez Barry e Joe franzir o cenho em completo estranhamento, pois Iris nunca chorava. No entanto, a mulher respirou fundo, levando as mãos à têmpora e quase a encarando em súplica. – Será que você pode, sei lá, apenas... Ver como as coisas estão? Para deixá-los mais tranquilos, sobre a questão do bebê herdar ou não os genes meta-humanos e...

- Claro que sim.

Apontou seu laboratório, deixando Iris seguir à frente e voltando-se rapidamente para encarar a todos muito incisivamente, como que avisando que se comportassem. Viu Cisco sorrir, observando muito tranquilamente o desenrolar da cena típica dos West, enquanto Barry apenas os seguia, pois também não estava esperando a invasão de sua ex-esposa grávida. A relação entre eles parecia melhor, passadas algumas semanas. Mais natural, talvez, e sem tantos tatos quanto antes.

Iris se deitou na maca acolchoada, levantando a blusa e exibindo a barriga de pouco mais de três meses. Caitlin seguiu os procedimentos normais, perguntando a ela sobre os sintomas sem realmente escrevê-los, pois gravava tudo que fazia ali, mesmo quando se tratava de uma emergência.

- Os enjoos estão sumindo, gradativamente, mas me sinto constantemente fraca e sonolenta.

- Bem... – Caitlin conjecturou consigo mesma, lançando um olhar a Barry.

- O quê?

- Está esperando um filho de Barry, precisará dormir e se alimentar melhor. Ingerir mais calorias por dia será importante para que mantenha a você e ao bebê saudáveis nos próximos meses. – Declarou de forma genérica, sem realmente adentrar a fundo a questão que o próprio pai da criança notara. Iris a encarou com o cenho franzido por um momento, incrivelmente conseguindo ostentar sua aura autoritária mesmo deitada naquela mesa, onde deveria parecer mais frágil.

- O que quer dizer com isso?

- O metabolismo de Barry é muitas vezes mais rápido do que o de que uma pessoa comum e, possivelmente, está gestando um bebê que, talvez, herde essa característica. – Espalhou o gel pela barriga da mulher, voltando a olhá-la, incisivamente. – Mas é uma análise preliminar. Agora que podemos fazer isso sem riscos e entramos na época propícia, vou realizar um exame não-invasivo. Então, terei resultados concretos sobre tudo que podem querer saber.

- Tem certeza de que isso é seguro? – Joe perguntou, cruzando os braços de maneira preocupada, enquanto Caitlin sorriu.

- Fetos são mais fortes do que as pessoas pensam e já ultrapassamos o período de maiores cuidados. – Ligou o computador, relevando a imagem confusa do útero de Iris. Todos encararam tentando ver algo, embora soubesse que certamente não conseguiriam enxergar mais do que um ponto borrado. – Além disso, o material é colhido assim como em um exame de sangue.

Apontou a eles o pequeno pontinho que era o bebê West-Allen, deixando-os encantados e fez todos os procedimentos necessários, a fim de determinar a normalidade de desenvolvimento do feto. Joe parecia aflito e Barry, simplesmente, sem palavras, agora que estava ali. Iris, no entanto, parecia somente irritada por ter tido seus planos mudados para ir ao laboratório fora da data que haviam combinado somente porque comentara com Joe que poderiam verificar as questões práticas assim que ultrapassasse os três meses.

- Então, Caitlin, está tudo certo com o bebê? – Cecile questionou, tentando conter a ansiedade. A mulher tinha Iris praticamente como uma filha, além de ter tido alguns imprevistos na própria gravidez.

- Na análise pelo ultrassom, os dados aparentam estar normais. Mas podemos considerar, devido à situação extraordinária, que são informações preliminares. O que irei descobrir com esse novo exame é muito mais valioso. – Pegou um lenço de papel e limpou o creme gelado da barriga de Iris, enquanto Barry a ajudava a sentar-se e Caitlin afastava-se a fim de pegar o material correto para colher o sangue da mulher.

- Sabe, é ótimo que estejam preocupados com a saúde do bebê. – Barry começou lentamente enquanto Caitlin aproximava-se com os materiais sobre uma bandeja. – Mas seria bom que mantivéssemos os ânimos mais calmos.

- Iris não pode sofrer picos de estresse ou adrenalina. – Informou,limpando a área do braço, onde encontraria uma veia adequada. – E, enquanto ela gesta uma vida, é nossa parte fazer com que os problemas não cheguem a ela.

- Ouviram isso? – Iris perguntou de maneira presunçosa à sua família, no instante em que enfiou a finíssima agulha, perfurando as camadas de pele, até sentir que atingira uma veia e retirar lentamente o sangue.

- Acho que não precisa utilizar isso para vantagem pessoal. – Constatou Joe, no que a outra revirou os olhos.

O êmbolo do estojo se encheu e Caitlin retirou a agulha, pressionando o algodão molhado no pequeno furo. Barry anunciou que assumiria dali em diante, o que pareceu ter deixado Iris um pouco retraída, mas não poderia simplesmente expulsá-lo dali. Então, enquanto depositava seu material em um frasco e o lacrava, ele limpava o braço de Iris e colocava um algodão com esparadrapo.

- Bom... – Iris pigarreou enquanto ajeitava suas roupas. – Já que estou aqui, acho que devemos... Começar a planejar algumas coisas.

De costas, organizando seu material pós-consulta, não viu Barry concordar, mas pôde ouvir os passos de ambos saindo da sala. Antes que pudesse conter-se, percebeu-se encarando-os insistentemente pela parede de vidro, enquanto saíam do córtex e adentravam o corredor lado a lado. Era estranho vê-los juntos naquele ambiente novamente, como se tivessem voltado a ser o que eram.

Observando-os, não pôde deixar de sentir aquela sensação, que não deveria ser sua, de superproteção quanto ao velocista. Como no começo, Caitlin ficava aflita quando ele saía para combater um meta qualquer, bem como quando pisava em ovos ao redor de Iris, exatamente como naquele instante. As coisas pareciam ter melhorado, mas ver os dois juntos era como ler na testa de Barry que pertencia à outra, incondicionalmente.

Então, seus olhos recaíram em Cisco, sentado à mesa de operações, analisando-a sem disfarçar. Era como se lesse seus pensamentos, o que a fez voltar tremulamente à sua própria tarefa.

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