XI.

123 10 0
                                    

- Você está em silêncio. – Concordou com Cisco, enquanto pegava um conjunto de fraldas para recém-nascidos e displicentemente jogava no carrinho que o porto-riquenho empurrava. No entanto, ele parou bruscamente e voltou-se a ela como uma das mãos na cintura. Embora não parecesse muito ameaçador naquela manhã pós-ressaca, ainda fazia uma boa tentativa, reconheceu. – Caitlin, o que tanto a incomoda?

- Não há nada que...

- Oh, por favor, você já foi uma mentirosa melhor. – Suspirou, percebendo que o mesmo chamava a atenção de algumas pessoas que passavam. – Há dias você tem esses momentos em que fica completamente aérea, em que parece concentrada em algo muito importante e, então, você sempre desconversa quando pergunto o motivo. Por que não está me contando?

- Cisco, apenas... – Fechou os olhos por um momento, tentando ignorar a sessão de produtos para bebês onde estavam e toda a loja de departamento, completamente movimentada naquela manhã de sábado. – Não é tão simples assim. Eu... Eu mesmo ainda não sei o que está acontecendo ainda, se é que está acontecendo algo.

- E é para isso que estou aqui. Sou seu melhor amigo, posso te ajudar a entender o que quer que...

- Barry e eu nos beijamos ontem à noite.

Soltou antes que pensasse demais e o desconversasse ou continuasse o chateando. Então, viu todas as reações possíveis o atingirem, desde a incredulidade até o pequeno sorriso presunçoso, como se esperasse por isso. No entanto, Cisco não teve não teve a oportunidade de dizer qualquer coisa.

- Oh meu deus. – A voz completamente indesejável soou às suas costas fazendo Caitlin arregalar os olhos para o latino e voltar-se para Ralph, que parecia apenas chocado.

- De onde você surgiu?!

Não sabia se estava completamente mal-humorada ou se, simplesmente, deixava as coisas acontecerem. Ainda não havia se decidido consigo mesma sobre seus sentimentos e os acontecimentos daquela noite e, então, Ralph e Cisco já estavam a par do que acontecia. Era sempre mais complicado quando havia mais gente envolvida. Dibny, por sua vez, pareceu ofendido, aproximando-se com uma garrafa d'água em mãos.

- Eu acabei de chegar! – Ele a encarou de cima abaixo. – E você, mocinha, tem muito que explicar.

- Você está brincando, não é?

- Não. Desde quando isso vem acontecendo?

Revirou os olhos vendo que Cisco deixava que o outro seguisse em frente com seu interrogatório. Por isso, tomou o carrinho para si e começou a empurrá-lo por entre as prateleiras de cores pastéis e infantis para se distanciar dos dois, tentando identificar os itens da lista que Iris lhe dera mais cedo. No entanto, ambos seguiram logo atrás, enchendo de perguntas das quais não tinha a resposta.

- O que ele disse?

- O que você disse?

- Por que se beijaram assim, do nada?

- Não é como se estivesse beijando um parente?

Parou no último questionamento de Ralph, respirando fundo e voltando-se aos dois. Cisco já havia até retirado os óculos escuros e podia ver o brilho ávido por respostas em seus olhos, ainda que encarasse o mais alto com uma careta.

- Não seja nojento, Ralph. – Cisco estacou ao seu lado, virando-se para o outro. – É claro que Caitlin e Barry nunca se viram dessa forma.

- Okay, vocês querem conversar? Vamos conversar. – Apoiou-se no carrinho juntando as mãos, falsamente entusiasmada, lembrando em muito a má vontade de Frost. – Não queria que soubessem por que sabia que iriam, no mínimo, reagir dessa forma a algo que não é... Nada. Nós não somos nada e nem seremos, essa é a questão que deve permear tudo isso e vocês estão, simplesmente, fingindo que não.

- Cait... – Cisco tentou interrompê-la, mas não conseguiu mais parar de falar, afinal vinha guardando consigo há semanas tudo que sentia.

- Não é legal ou saudável ficar fantasiando sobre algo que sei como vai terminar. – Resfolegou tendo a leve impressão de que se encontrava corada, enquanto ambos a encaravam de forma séria, pois não era comum que explodisse seus sentimentos dessa forma. Caitlin, geralmente, guardava para si. – O destino de Barry é Iris. É a maldita Crise que está chegando, é lidar com sua ausência como pai de Nora. Essa deve ser a preocupação dele e eu entendo, realmente entendo... Então, não vejo motivos para criar expectativas sobre algo onde, claramente, sou uma intrusa.

Terminou mais baixo, deixando de encará-los, embora ambos já parecessem sensibilizados ao perceberem, finalmente, terem ultrapassado alguns limites. Os sentimentos de Caitlin nem o que havia acontecido entre ela e Barry eram uma atração, embora houvessem agido como se fosse, afinal parecia muito interessante que, depois de anos de amizade, depois de anos cultivando a paixão desenfreada de Barry por Iris, fossem eles ali.

- Caitlin, tenho certeza absoluta que Allen não a beijaria, se acreditasse correr o risco de machucá-la.

- Eu não disse tudo isso a ele. – Informou, meneando a cabeça. – Sei que Barry não faria algo do tipo de propósito, mas... Sabemos como ele pode ser imprudente e egoísta, às vezes.

Pensou no que Barry dissera no dia anterior, sobre darem um jeito, no que quer que fosse aquilo entre eles. Tinha certeza que o velocista acreditava nisso, realmente, mas quando notasse que não havia qualquer jeito de tentar driblar a Força de Aceleração novamente, sua vontade ruiria e Caitlin se tornaria oficialmente aquela que estava interferindo na história.

- Eu só... Não quero que criem ou me incentivem a criar qualquer expectativa sobre isso, okay?

Encarou-os praticamente implorando, no entanto, o ruído alto de vidro explodindo atingiu toda a loja, causando gritos e histeria. Os três se voltaram para a direção de onde vinha o som, já em alerta, percebendo que todo o vidro que cobria vitrines e portas de entradas, nos três grandes andares da loja, havia sido quebrando, deixando o local completamente aberto.

- Acho que é uma boa hora para deixar Killer Frost sair e descontar toda essa frustração.

Imediatamente concordou com Cisco, o qual colocava seus óculos e seguia ao lado de Ralph na direção contrária às pessoas que passavam correndo por eles pelas prateleiras. Sentiu Frost agitando-se, como aconselhado, o gelo habitando-a de dentro para fora, até mostrar-se na cor de seus cabelos tão brancos quanto, nos olhos exageradamente azuis e nas mãos, onde duas estacas rapidamente cresciam. Sim, precisava fincá-las em alguém. 

SutilOnde histórias criam vida. Descubra agora