Depois de limpar e vestir Nora com Barry em seu encalço perguntando tudo que era possível, Caitlin deixou que a família aproveitasse o momento. Cecile ajudara a cuidar de Iris, levando-a para o banho assim que se sentiu mais forte para se levantar e lhe dando uma nova e limpa camisola hospitalar. A jornalista detestava, claro, mas não estava no auge de sua vaidade, pois estava apaixonada demais pela filha.
Barry não se encontrava em um estado diferente, pois Joe, Wally, Harry, Cisco, Ralph e Gipsy iam e vinham e ele nunca saía da cabeceira da cama de Iris. Era como se o fato de afastar-se um pouquinho fosse fazê-lo perder qualquer coisa, o que entendia, considerando o que sabiam. Ele queria tudo de Nora e faria o possível para garantir, tinha certeza. Por isso, fora até seu apartamento para tomar banho, pegar algumas roupas e comer algo descente antes de voltar ao laboratório e verificar se estava tudo bem.
Iris já dormia no laboratório quase que completamente às escuras, exausta após o trabalho de parto, além de toda a movimentação durante à tarde e parte da noite. Era tudo novo. Somente após o parto, amamentara três vezes com sua orientação e ajuda de Cecile: Nora era parecida com Barry mesmo na fome. Mal podia imaginar como seriam os próximos anos, quando ela começasse a descobrir e entender seus poderes, pois ela faria isso, se dependesse de Caitlin, constatou encarando a pequena em seus braços de verdade pela primeira vez.
Sorriu passando os dedos pelos ralos cabelos negros, pois olhando seu rosto tão de perto enquanto caminhava lentamente pelo córtex, ela era uma mistura perfeita de seus pais. Mesmo poucas horas após vir ao mundo, já podia detectar os olhos mais verdes que os de Barry em feições de Iris. Aquele sorriso, meio sem jeito, meio em expectativa, que ela viria a ter, era completamente dele. Então, Nora começou a resmungar em seu colo e Caitlin se lembrou da música que Carla costumava lhe cantar quando seu pai viajava a trabalho.
- Hush, little baby, don't say a word, papa's gonna buy you a mockingbird. – Sorriu ao vê-la quieta novamente. Embora sua voz não fosse a melhor, funcionava para a canção de ninar quase falada. – And if that mockingbird don't sing, papa's gonna buy you a diamond ring.
- Oh...
Ouviu o murmúrio de Barry e virou-se para vê-lo parado sob o portal de entrada do córtex. Ele a encarava de um jeito estranho, como se houvesse lembrado ou percebido algo somente naquele instante. Levantou uma sobrancelha, sem entender, no que ele aproximou-se em silêncio ainda sustentando aquele olhar até desviá-lo para Nora, em seus braços, e voltar a olhá-la com um pequeno sorriso.
- O quê?
- É como se... – Ele pensou por um momento, meneando a cabeça para encontrar as palavras certas. – Como se não fosse a primeira vez que a vejo com um bebê nos braços.
- E não é?
- Eu quero dizer... Esquece.
Barry se interrompeu novamente, balançando a cabeça para afastar-se qualquer pensamento e tirando seus cabelos do ombro, jogando-os para trás, antes de indicar o caminho da área de descanso a ela. Acomodaram-se no sofá de meia-lua, praticamente grudados, os olhos de ambos incapazes de deixar Nora, imperturbável em seu sono no colo de Caitlin.
- Nem acredito que é sua filha, Barry. – Sussurrou vendo-o passar os dedos suavemente por entre por entre os olhos dela.
- Acredite, eu também não. Não queria ter que desapontá-la tanto. – Virou a cabeça para encará-lo de perto, vendo novamente aquela face temerosa que presenciara pouco antes do parto. – No futuro, apesar de tentar aparentar estar bem, Nora é tão... Machucada por não ter crescido comigo. Todas essas coisas que acontecem... São exatamente pelo fato de que não vou poder criar a minha filha, como deveria ser, porque estarei...
- Pare. – O cortou, fazendo menção de se levantar, mas ele a segurou e esperou pacientemente que o encarasse novamente, de maneira contrariada. – Pare com isso.
- Caitlin, é aqui que tudo muda, sabe disso. – Os olhos deles eram tão conformados que a irritaram. – Não é o nascimento de Nora, é uma contagem regressiva.
- Você foi ao Cofre do Tempo ou...?
- Não, apenas... Sinto que está chegando o momento. – Ele deu de ombros, encarando o chão. Caitlin não podia deixar de sentir o aperto por dentro, como se algo de ruim estivesse chegando, pois a eles não era permitido desfrutar dessa única e rara fagulha de tranquilidade. – Eu não quero deixar vocês para trás.
- Nós não vamos deixá-lo ir. Nunca, Barry. – Declarou firmemente. – O futuro acabou de ser mudado: Nora está entre nós antes do tempo, antes do que a história conta. E nós não vamos deixá-lo desaparecer apenas porque o jornal do futuro diz que é assim que será. Não vai acontecer. A linha do tempo é maleável.
- Em alguns pontos, sim... - O encarou insistentemente, como se estivesse provando um ponto, no que o velocista apenas forçou um sorriso e inclinou-se para beijá-la no canto dos lábios. – Obrigado.
- Nós somos um time, certo? - Ele meneou a cabeça, percorrendo os olhos por todo seu rosto, enquanto acariciava seu pescoço calmamente.
- Eu devia ter contado a Iris. Sobre nós.
- Isso não é importante agora.
- Não, é importante pra mim. Porque você foi incrível lá dentro. – Não se impediu de sorrir pelo elogio, gostava quando as pessoas reconheciam seu profissionalismo, mas Barry continuou insistentemente. – E, por um instante, passou pela minha cabeça que queria que todos soubessem que quem estava fazendo tudo aquilo, por Iris e por Nora, era a mulher que eu escolhi antes de saber que estava escolhendo.
Caitlin inclinou a cabeça para apoiar-se na dele em um suspiro, ao mesmo tempo encantada, cansada e temerosa, exatamente como Barry, pois sabia que o futuro, breve ou não, seria muito complicado para todos os lados.
- Fiz por você também. Sempre faço por você, desde o início, por que... – Ajeitou a manta ao redor do bebê em seus braços, hesitantemente.
- Eu sei.
Ele sorriu, sem exigir qualquer coisa, pois estava em tudo que dizia, em todos os seus gestos e nela inteira. Assim, Barry juntou seus lábios antes de depositar um beijo em sua têmpora e encarar Nora novamente, pois era tudo que conseguia fazer nas últimas horas.
"A mulher que eu escolhi antes de saber que estava escolhendo", seus pensamentos nem puderam ser tão vaidosos quanto a isso, porque parecia ecoar em sua mente, seu cérebro começando a de forma lenta trabalhar, ligando os pontos.
- Barry? – Se voltou a ele, franzindo o cenho e encarando os olhos verdes atenciosos. – Acho que sei o que ocasionou a mudança na linha temporal.
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Sutil
RomanceQueria se apaixonar por Barry, amá-lo, romanticamente falando, mas não queria correr o risco de não poder amá-lo como um de seus melhores amigos por uma escolha incerta que fizeram em um momento de fragilidade