XII.

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Horas depois, já se encontrava em seu laboratório. Com a blusa manchada de sangue e levantada até a altura dos seios, deixava à mostra a ferida do tamanho do palmo de sua mão, onde fora atingida pelos cacos de vidro refeitos em forma de lança por aquela maldita Meta. O fato de conseguir curar-se rapidamente era ótimo, mas o vidro encravado fundo em sua carne daquela forma não deixaria seu corpo agir corretamente.

Tentaram contê-la rapidamente, mas o fato da loja de departamento ser completamente envidraçada jogara contra eles, pois a Meta conseguia controlar essa matéria, e sequer poderiam agir sem qualquer cuidado com tantas pessoas no lugar em pleno sábado. Não haviam conseguido pegá-la e fizera um bom estrago, tanto no lugar, quanto em Caitlin.

Estava completamente desconcentrada, se precisasse colocar a culpa em algo além de si mesma. Barry a desestabilizava como ninguém, fora assim desde o começo. Ele estava sempre machucado, ela estava sempre cuidando para que não o perdesse, assim como fora com Ronnie. Inconscientemente, o colocara praticamente no mesmo patamar, por que... Barry fora o primeiro a fazê-la sorrir, como Ronnie fizera uma vez. E escolhera ficar em Central City por ele, invés de seguir uma vida com seu próprio marido, porque cuidara dele por nove meses e não podia conceber uma vida onde não estivesse fazendo isso.

Merda! Apesar da prática, apertou a pinça médica com mais força, fazendo o vidro fincar ainda mais na carne e, com raiva, jogou o objeto na mesa suja à sua frente. Olhou para cima, respirando fundo. Sabia que Barry não a colocara nisso por querer, sabia que, talvez, se houvesse pensado racionalmente, não os colocaria em tal situação, mas não podia deixar de irritar-se, porque ela não precisava disso, depois de conformar-se com a amizade. Não precisava ter parte dele para depois perdê-lo, como sabia que iria.

- Ei, precisa de ajuda? – Fechou os olhos, ouvindo a última voz que gostaria naquele momento.

- Não. – No entanto, Barry estava ao seu lado no momento seguinte, olhando criticamente para o ferimento. – Eu só... Estava tremendo e não consegui alcançar um dos cacos.

- Você estava tremendo? – Os olhos verdes a encararam de forma cética.

- Deve ser a adrenalina ou algo do tipo.

- Venha aqui. - Ele segurou sua mão sem esperar por resposta e a direcionou até a maca que, geralmente, era dele. Com cuidado para que os movimentos não agravassem ainda mais o estado do ferimento, a ajudou a se deitar e buscou os materiais que já vinha usando. – Não será nada como quando me conserta, mas isso eu posso fazer por você.

Continuou a observá-lo enquanto tentava ignorar a dor de ter os cacos sendo lentamente tirados do ferimento. Barry ainda vestia o uniforme do Flash, com a máscara para trás, o que costumeiramente deixava seu cabelo revoltoso. O rosto estava corado por todo o esforço das horas anteriores, onde tiveram de correr contra o tempo para deixar todas as pessoas a salvo e tentar pegar a Meta que atacara a loja de departamentos. Parecia completamente concentrado, uma vez que não se tratava de uma tarefa comum a ele.

Meneou a cabeça, não conseguindo evitar um pequeno sorriso lacrimoso ao notar a inversão de papéis e, possivelmente, os motivos dele para empenhar-se naquilo. Barry continuava a querer estabelecer aquele laço, mostrar que estava ali, cuidando dela, se fosse necessário. Ele queria impressioná-la e, talvez, esse fosse o fator crucial para rachar seu coração. Mordeu os lábios, levando uma das mãos ao braço dele assim que começou a ajeitar o curativo com gases e esparadrapos.

- Barry, precisamos conversar. Realmente precisamos. – Sussurrou sob o olhar solícito. No entanto, ele voltou a se concentrar no curativo, mais lentamente do que antes. O velocista a ignorou por alguns momentos, apertando os lábios em uma linha tensa e formando uma pequena ruga entre as sobrancelhas. Os olhos deixaram de lado a paz e a segurança que ostentava ao chegar ali e ajudá-la. – Por que está evitando?

- Não quero saber como a conversa termina. – Ele murmurou de volta, colando a última parte do curativo, apesar de agora não se importar minimamente com isso.

- Sempre conversamos sobre tudo. – O viu sorrir amargamente, apoiando-se no colchão, logo ao seu lado.

- Sim, por isso sei que estará certa e eu não quero que esteja. Eu conheço você, Cait.

- Não podemos agir como duas crianças inconsequentes, não é? – Tentou ajeitar-se na maca, mas não conseguiu fazer muito além de somente perceber que a dor continuaria ali por algum tempo. – Eu não costumo deixar acontecer o que não planejei. Aquela noite na casa do lago foi atípica e inesperada. Então, preciso ter certeza da sua certeza, por que... Não quero ter que me arrepender de nós dois, se realmente formos a algum lugar.

- Você sabe que, independente do que está escrito no jornal do futuro, Iris e eu...

- Sim, mas... Sem Iris, como você está? Sabia o que estava fazendo quando me beijou ou era só um teste? – Meneou a cabeça, não conseguindo impedir-se de conjecturar sobre. – Parou pra pensar sobre nós dois, realmente, ou ainda está sob esse impulso incerto? Por que eu não quero ser um...

- Cait, você não é um ato impensado. – Ele se defendeu rapidamente, arregalando um pouco os olhos, quase ofendido. – Nunca tive a intenção que se sentisse assim.

- Eu sei, conheço você. Mas não acha que há muito que colocar em ordem agora? Você será pai, há uma crise chegando. – Sem pressa, acariciou-o sobre a barba por fazer, tentando tranquilizá-lo por um instante.

- Viu? Eu disse que teria razão. – Ele forçou um sorriso, antes de buscar a mão que estava em seu rosto e entrelaçar seus dedos.

- Não estou te afastando, Barry. – Insistiu sussurrando. – Apenas... Se continuarmos assim, você terá meu coração antes que eu possa perceber.

O viu encará-la com surpresa, como se não esperasse a sinceridade e fosse novo o fato de querer se proteger. No entanto, Caitlin era assim desde que se lembrava. A diferença é que sempre fora de guardar tudo em si mesma, exceto que ele a fazia honesta demais apenas com um olhar. Não via sentido em não sê-lo de qualquer forma, pois ainda era Barry, ainda era o seu amigo antes de tudo, um dos melhores. Eles superariam, se fosse necessário.

Barry não soltou sua mão, como achou que iria, mas continuou a encarar aquele ponto em específico por alguns momentos, cultivando o silêncio, que, apesar de tudo, não era desconfortável. Pela primeira vez, desde que o beijara na casa do lago, conseguia pôr em palavras o que sentia a respeito. Além disso, o fato de Barry ainda estar ali a tranquilizava; as coisas haviam mudado, mas nem tanto, certo? Então, ele calmamente levantou os olhos, conservando ali alguma ressalva, buscando as palavras certas enquanto a encarava firmemente.

- Não nos incluímos em todas essas coisas que devem ser colocadas em ordem. Nós dois apenas... Somos, independente do que esteja acontecendo ao redor. Sempre foi assim e sempre será, nem tudo é novo entre nós. – Ele sorriu rapidamente, como que se lembrando de algo, e inclinou-se para mais perto, ajeitando seu cabelo. – Entendo sua vontade de dar um passo atrás, porque o futuro é incerto e, se estivesse em seu lugar, talvez fizesse o mesmo. Mas Cait, eu não tenho qualquer dúvida sobre nós. Ao contrário, pela primeira vez em bastante tempo, finalmente tenho certeza sobre algo.

- Barry...

- E não me surpreendo que minha única certeza no momento esteja ligada a você. – Caitlin sorriu de volta aos olhos verdes, mais calmos a cada palavra. – Porque estou uma bagunça completa por inteiro e, de alguma forma, você sempre vêm e dá um jeito de me consertar.

Suspirou quase inconformada pela persuasão daquele sorriso pequeno e dos olhos brilhantes novamente. Não queria ser a pessoa que o perderia, porque tudo sobre a ideia deles dois a agradava. Se acostumara a cuidar de Barry e, inconscientemente, com o passar do tempo, passara a fazer muito mais do que consertar a parte física. Ele se quebrava facilmente, não apenas de maneira externa. Quando se quebrava internamente era denso, complicado e imprudente. Apenas esperava que Barry soubesse a recíproca quanto a ela.

- Então, iremos com calma, certo? – O observou concordar, ainda sem tirar o pequeno sorriso do rosto e se abaixando para depositar um beijo calmo em sua têmpora.

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