XV

101 11 2
                                    

Horas depois, quando haviam se alimentado à mesa, como uma família normal – exceto que seus assuntos não o fossem – quando a casa já estava silenciosa e escura há algum tempo, desceu as escadas suavemente para que as tábuas lisas não regessem embaixo de si.

A TV estava ligada em um filme de ação famoso e Barry estava completamente enroscado em um cobertor vermelho. Levantou as sobrancelhas, prendendo um riso, pois para ela não estava tão frio assim. Supôs que o velocista estivesse dormindo, tão quieto se encontrava, mas não fizera qualquer ruído para anunciar sua presença, visto que usava meias nos pés. Assim, aproximou-se calmamente e levou os dedos aos cabelos macios. No entanto, o sono de Barry era leve e logo revirou-se no sofá para encará-la pacificamente, como se soubesse quem era.

- Eu ouvi a TV ligada. – Sentou-se no espaço que ainda restava no sofá, de frente para ele, explicando-se em voz baixa. Então, o viu olhar a TV de maneira confusa para, então, suspirar.

- Fazia um tempo que queria ver esse filme, mas é uma droga.

- Julia Roberts e Hugh Grant são sempre a melhor opção.

- Tem razão.

Sorriu sugestiva, porque ouvia isso algumas vezes no decorrer da semana. O silêncio instalou-se enquanto os dedos dele percorriam um caminho desconhecido por seu braço e seus olhos mantinham-se concentrados um no outro. Barry era charmoso mesmo ao acordar, com os cabelos bagunçados, os olhos inchados e a voz mais rouca pela falta de uso. Então, com um suspiro rendido, inclinou-se, apoiando-se no ombro dele, juntando suas testas. Não de maneira provocativa, apenas... Aconchegante.

- Quando disse para irmos com mais calma, não imaginei que seria impossível tentar manter distância. – Fechou os olhos, levando a mão aos cabelos macios novamente. – Por que não consigo ficar longe de você, Barry Allen?

Seus narizes se enroscaram e logo seus lábios estavam juntos novamente, ocasionando aquela sensação bem vinda de estar no lugar certo, aprofundando o beijo que tiveram de esconder horas antes. Beijá-lo era quase como chegar em casa e poder tirar os saltos depois de um dia cansativo de trabalho – exceto que muito melhor. Era... A coisa certa a se fazer e Barry estava bem ali, sob ela, deixando-a perpassar por toda essa dimensão que eram.

Sentiu-o correr uma das mãos por sua barriga, rodeando-a e então a puxando por cima de si para que se deitasse entre o corpo dele e o encosto do sofá. Foi tão rápido que, mesmo seu pequeno susto deve ter passado despercebido dos ouvidos alheios. Ajeitou-se embaixo do cobertor vermelho, contente que o sofá era espaçoso o suficiente, ou seja, tanto quanto um sofá caro podia ser e, ainda que não fosse dependente de calor, contente por senti-lo quente ao ser puxada para perto.

- Não fomos feitos para manter distância um do outro.

Murmurou Barry, perto a ponto de sentir sua respiração. Lembrou-se de quando Cisco a procurou para que o tirassem da Força de Aceleração. Sabia que sequer precisava insistir, pois viver em um mundo onde ele não estivesse era um tanto... Desanimador. Às vezes, pegava-se atordoada com a forma fácil como Barry entrara em sua vida, quebrando suas barreiras todos os dias sem muito esforço. No entanto, estando entre os braços dele naquele momento compreendia sua falta de vontade em evitá-lo.

- Provavelmente tem razão.

O beijou novamente, dessa vez com mais afinco, pois tê-lo tão próximo era apenas tentador demais. Sentiu a mão pressionando sua cintura, enquanto se aconchegava contra ele, os pés se enredando da mesma forma, ambos de meia, e desejou que o tecido apenas sumisse milagrosamente.

Deslizou as unhas pelas costelas, embaixo da camiseta preta, buscando mais contato, mais urgência e rapidamente foi atendida ao ter suas costas contra o sofá, o corpo do velocista parcialmente sobre o seu e a boca em seu pescoço. O perfume com notas amadeiradas a levava a outro nível e quase não a deixava pensar na barba rala que a arranhava de maneira excitante. "Deus, que ele nunca tire essa barba", pensou brevemente, segurando seus cabelos.

- Estou quase arrependido por ter convidado todos pra vir. – Caitlin riu baixinho, quando Barry voltou a encará-la após um beijo rápido. – Eu faria todo o serviço de arrumação com tranquilidade e, depois, teria você apenas pra mim.

- Em um lugar apropriado. – Complementou sinalizando o sofá que ainda dividiam.

- Eu não sei, gosto do sofá. – O viu dar de ombros, sorrindo tranquilamente enquanto a mão escorregava pra cima e pra baixo em sua cintura. – A primeira vez que dormiremos juntos será nele.

Ainda o encarou por um momento, chegando à conclusão de que era apenas uma das verdades contra a qual não lutaria. Por isso, o viu desligar a TV e acomodar-se novamente, dessa vez na completa e bem vinda escuridão da casa do lago. Barry puxou o cobertor sobre eles e apertou Caitlin contra si, seus dedos juntos sobre sua barriga, enquanto aspirava o aroma de seus cabelos castanhos, mais claros que o comum. 

SutilOnde histórias criam vida. Descubra agora