XVI.

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- O que está comendo?

- Swedish Fish.

Levantou as sobrancelhas para as gomas de vários sabores, que deveriam ser para crianças, mas que, por algum motivo completamente desconhecido, Barry e Cisco adoravam. Então, apenas sentou-se em sua estação de trabalho, procurando o que fazer. Como não estavam lidando com nenhum novo meta e havia adiantado tudo que precisaria fazer no laboratório durante o início da semana, enquanto esperava o resultado de algumas análises, viu-se entediada.

- Então... – Começou o porto-riquenho lentamente. – Você e Barry parecem bem.

Gostaria que houvesse algum meta atacando a cidade nesse instante. Detestava falar sobre sua vida, mesmo com seus amigos. Caitlin nunca fora a pessoa que se sentava na frente deles e começava a desabafar. Eles recorriam a ela pra isso, não o contrário. Por isso, era esquisito que estivesse em tal posição dessa vez. Ao mesmo tempo, não era como se conseguisse esconder muito de Cisco.

- Estamos indo com calma. Passos de bebê.

Mentiu. Para Cisco e para si mesma, pois ela e Barry não conseguiam manter as mãos distantes um do outro. Via-se ansiosa o tempo todo antes de vê-lo nos últimos dias, seus olhos o buscavam assim que entrava num ambiente e estava sempre esperando pelo sorriso, ainda que pequeno, que ele levantava assim que a via.

- E... Colocou a cabeça no lugar sobre tudo que nos disse antes? – Abaixou os olhos, mordendo os lábios, enquanto o outro se levantava de sua própria estação de trabalho para se aproximar. – Ouça, não quero deixá-la mal, só quero saber se está... Consciente de tudo que pode acontecer.

- Eu mentiria se dissesse que não penso em tudo aquilo o tempo todo. Não quero ser uma intrusa na vida de Barry, muito menos fazê-lo escolher porque sei... – Interrompeu-se, respirando fundo. Ele meneou a cabeça, sabendo exatamente o que diria. – Me sinto insegura, é claro, afinal sabemos sobre o futuro, mas... Barry sempre parece dar um jeito de me levar pra toda essa loucura e eu apenas não consigo lutar contra, porque estar com ele é...

Soltou um sorriso que, provavelmente, deve ter parecido uma careta sem graça quando não encontrou palavras para definir o que era ficar com Barry. Ele a fazia se sentir especial, mas era tão além disso, que era impossível definir. Cisco também sorriu e sentou-se ao seu lado.

- Pare de pensar que é uma intrusa na vida perfeita de Barry. Cait, ele está escolhendo você. Isso é mais importante do que qualquer informação do futuro que, talvez, tenhamos. – O olhou em dúvida, apesar de dizer a si mesma o tempo todo que não deveria viver com os pensamentos no que sabiam sobre o futuro.

- Eu só... Não quero ser deixada de lado, entende?

Se ele precisasse vir a escolher no futuro. Embora não houvesse completado, Cisco sabia a que estava se referindo. Quase fechou os olhos, sorrindo amargadamente, condenando a si mesma por alegremente entrar na confusão que era a vida de Barry e a que viviam como um todo, mas não pode deixar de considerar que se vitimizar seria o auge da insensatez no momento.

- Sei que deve ser complicado lidar com o pacote fechado que é Barry Allen, mas... – Ele deu de ombros, cruzando os braços. – É fácil imaginá-los juntos, sempre foi. Houve um tempo... Vocês eram tão infernalmente compatíveis. Mesmo quando o repelia por estar machucada e fechada para o mundo, você deixava essa pequena brecha para que ele pudesse entrar e curá-la.

- Ele fez, não é? – Concordou em tom baixo, o olhar perdido nas telas à sua frente.

- Por isso pensei que pudessem ver o que estava bem nas suas caras, mas então...

- Iris? Jornal do futuro? Destino? – Sugeriu, não podendo evitar um gracejo sobre a própria tragédia, mas Cisco não sorriu, então voltou a encarar suas mãos se retorcendo em nervosismo com um suspiro. – Acho que estava me apaixonando por ele, em algum momento. Fácil como cair, certo? Então, as coisas aconteceram, ele se acertou com Iris e eu... Segui em frente. O que construímos até hoje, nossa amizade, sempre será mais importante e é o que mais temo perder.

Percebeu o nó na garganta a partir daquela verdade. Queria apaixonar-se por Barry, amá-lo, romanticamente falando, mas não queria correr o risco de não poder amá-lo como um de seus melhores amigos por uma escolha incerta que fizeram em um momento de fragilidade. Ainda sentada, sentiu o abraço de Cisco ao redor de si, deixando-se ser consolada. Ainda que Cisco não fosse bom em manter relacionamentos, era ótimo com seus amigos.

- Caitlin, isso é impossível. Você e Barry gravitam ao redor um do outro desde o primeiro instante.

O alarme meta soou alto e o engenheiro afastou-se, resmungando que "isso teria que ser melhor do que a vida amorosa de Caitlin", o que a fez rir enquanto enxugava uma lágrima que, inevitavelmente, escorreu por sua bochecha. Levantou-se para postar-se ao lado se Cisco, de frente para a estação que comandava toda a ação do time, no mesmo momento que Barry chegou, colocando rapidamente o traje.

- O que está acontecendo?

- Assalto no centro. – Cisco informou concentrado, rapidamente buscando informações. – É uma galeria de arte. Estão se preparando para uma exposição hoje à noite.

- Okay. – Ele ia sair, mas desacelerou, analisando seu rosto e, possivelmente, sua postura. – Você está bem?

- Sim, conversamos mais tarde.

Barry sinalizou em concordância e colocou a máscara para correr. Não pode evitar um pequeno sorriso e nem o olhar prepotente de Cisco, como se dissesse "eu não disse?".

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