Light - Wenclair

23 - Correndo

2/4

Música para o Cap.: Naughty Boy ft. Beyoncé, Arrow Benjamin - Runnin'

Boa Leitura!

<3

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POV Enid Sinclair

Um ano depois...

Eu ainda não consigo acreditar que concordei com isso. Sinto minhas mãos sobre o volante, controlando a direção do carro. Passo pela placa de boas-vindas de Cape May e adentro à cidade, ruas atingindo-me de memórias boas e outras nem tanto. A única coisa que quebra a serenidade do carro são as músicas da estação da rádio local. Isabel apenas observa a paisagem pela janela, enquanto Liam encara o chão do veículo com os braços cruzados. O silêncio criando nossos diálogos.

Viro algumas ruas e passo por cruzamentos, notando a tranquilidade de Cape May. Poucas pessoas estão de pé às seis e meia da manhã, apenas alguns comerciantes começam a abrir seus respectivos estabelecimentos. A quantidade de carros também é mísera, tendo alguns estacionados no acostamento e outros circulando pela cidade. O cheiro do mar cumprimenta nossas narinas, contagiando-as com o odor salgado. Sinto minha pressão cardíaca apressurar-se, porém, logo a estabilizo em questão de segundos.

Continuo o percurso e em menos de minutos chegamos ao nosso destino. Estaciono o automóvel em frente ao local mórbido e retiro o cinto de segurança. Liam e eu saímos do carro sendo atingidos pela brisa da primavera. Abro o porta-malas e retiro a cadeira de rodas pertencente à Isabel do compartimento. Em pouco mais de um minuto ajusto-a e Isa acomoda-se na mesma. Pego as flores favoritas de nossa mãe, orquídeas, enquanto Liam empurra a cadeira em uma velocidade moderada, fazendo com que Isabel se locomova.

Andamos lado a lado, sentindo nossa união crescer gradativamente. Passamos pela entrada do cemitério, nos encaminhando em direção à lápide de nossa mãe. Inspiro profundamente, sentindo o oxigênio entrar em meus pulmões em uma espécie de conforto solitário. Expiro e tenho em mente o meu objetivo de ter concordado em visitar minha mãe. Tenho em mente o motivo de estar aqui, de estar de volta a uma cidade que, nos últimos anos, apenas trouxe melancolia e desordem.

"Eu preciso seguir em frente" penso silenciosamente. "Eu preciso que algum progresso seja feito. Eu preciso fazer isto por mim. Eu preciso fazer isto por minha mãe. Eu preciso fazer isto para o bem de minha família. Eu preciso fazer isto por Wednesday. Eu preciso fazer isto por Rowan. Eu preciso fazer isso pelas pessoas que amo."

Acredito que a noite do casamento de Bianca nunca sairá de minha mente e, de certa forma, não quero que as memórias das mesmas desapareçam. Lembro-me claramente do que Wednesday pronunciou quando tudo entre nós foi de mal a pior. As palavras dos olhos negros fincaram em meu coração como uma estaca de madeira. Elas permaneceram insaciavelmente em meus pensamentos e sonhos por semanas que mais se parecem como anos, atuando como se fossem feitiços ou hipnose. Eu sabia que ela estava certa. Ela estava muito certa. Wednesday tinha razão quando disse que estávamos um caos. Ela tinha razão quando disse que havíamos nos distanciado. Ela tinha razão quando disse que estávamos nos destruindo. Ela também tinha razão quando disse que precisávamos melhorar, quando disse que precisávamos nos concertar.

Mas eu também estava certa. Na mesma noite, quando proferi as frases que rasgaram meu peito, eu sabia muito bem que era a coisa certa a se fazer. Eu sabia que a decisão correta fora a que eu tomei, mesmo significando destruir-me e magoar alguém que eu amava. Wednesday me disse que, crescer é como olhar os dois lados antes de atravessar a rua e ser atingida por um avião. E ela, mais uma vez, tinha razão. Nos últimos tempos, senti que um avião havia me atingido, marcando o lado esquerdo do meu peito com cicatrizes incuráveis. Diversos fatores trouxeram estas marcas. a morte de minha mãe, a falta de raciocínio do meu pai, o casamento desastroso que tive com Ajax, minha separação de Wednesday. E, claro, o adoecimento de Isabel.